"Capítulo 17"
Já se passaram uns dez minutos e o Miguel ainda não voltou, mas já sei porque ele está demorando tanto, ouvi minha mãe chegar a alguns minutos e o Miguel com certeza está sendo vítima do furacão de carinho da dona Ana Paula. Desço as escadas em direção à cozinha e pelo visto eu estava certa, porque encontro minha mãe dando o que parece ser o milésimo abraço em Miguel.
- Ah querido, tem certeza de que você está bem?- Ela dá uma conferida em Miguel.
- Sim, tia Ana.- Miguel diz com as bochechas coradas.
- E sua mãe, como está? Preciso ver a minha amiga.
- Ela está bem, ela também sentiu muito a sua falta. A senhora precisa ir fazer uma visita.
- Claro que vou, meu bem. Não vou hoje ainda porque preciso ir ao escritório e já estou de saída.
- Mãe. - Interrompo.- Você poderia devolver meu amigo? Ou ainda vai dar outros mil abraços nele? Assim não vai sobrar nenhum para mim.
Minha mãe sorri e diz:
- Ah, claro querida. Me desculpe.
Olho para a mesa e vejo as tigelas com o sorvete que já começou a derreter.
- Castellan! Você é um idiota, olha esse sorvete, já está todo derretido. E você colocou muito pouco para mim.
- Catarina, sempre reclamona, não é, tia Ana?
Minha mãe dá risada e confirma, fuzilo Miguel com o olhar e aponto o dedo na cara dele.
- Não...me... chama...de...Catarina.- Digo pausadamente.
- Me desculpa, Catarina.- Ele diz com um olhar malicioso.
- Babaca.- Digo, mas não consigo conter um sorriso.
Encho as tigelas de sorvete um pouco mais e pego vários doces no armário, Miguel me ajuda a levar tudo até o quarto. Ficamos alguns minutos em silêncio e então ele diz:
- Eu ouvi seu recado.
- An?- Pergunto, pois não entendi direito.
- O seu recado. Eu ouvi, não respondi porque achei que voltar para cá e te fazer uma surpresa te alegraria mais. Aquilo partiu meu coração, ver você sofrendo e não estar perto. Me desculpa.
Fico sem reação ao ouvir o que ele acaba de dizer, não imaginei que o Miguel tinha voltado por minha causa.
- Guel...eu... Nossa, muito obrigada por ter feito isso por mim. - Me aproximo dele e o abraço mais uma vez. Ele prolonga o abraço, mas então diz:
- Kit Kat, você manchou minha blusa de sorvete.
- Iih, desculpa.
- Desastrada. - Ele ri e tira a camisa, perco o fôlego por um minuto ao perceber que ele andou malhando enquanto esteve fora. Desvio o olhar e digo:
- Então você voltou por mim?
- Ah, qual é! Não seja assim tão convencida, eu realmente senti saudades da aula da Srta. Bathory.
Não consigo conter a risada, Florência Bathory é a professora de inglês que nunca suportou o Miguel e eu, e para falar a verdade eu acho que ninguém nunca suportou ela. Jogo uma barrinha de chocolate na direção dele.
- Você é um completo imbecil.
Ele apenas sorri.
- Mas e quanto aos seus pais e a Clarinha, como eles estão?- Pergunto.
- Bom - Miguel suspira- estão bem, na medida do possível. A mamãe tenta se manter forte o máximo que pode, mas eu ainda escuto ela chorar agarrada à alguma coisa que era do Nick, meu pai é mais durão, mas eu sei que ele também sofre muito e parece ter envelhecido dez anos. Quanto a Maria Clara, ela ainda é muito pequena, então não entende as coisas muito bem, mas ela sempre fala que também sente falta do Nick, além disso, com toda essa nossa situação ela acabou se tornando uma criança muito introvertida, não interage muito com as crianças e quando encontra alguma não sabe como reagir e isso sim acaba comigo, Kat. - Miguel passa a mão pelos cabelos ondulados e percebo o olhar cansado do meu amigo, me aproximo dele e me aconchego no seu abraço.
- E quanto a você Miguel? Como VOCÊ está?
- Eu estou bem, Kate.
Ergo a cabeça e o olho nos olhos, mas antes mesmo de fazer isso sei muito bem que ele não está sendo sincero.
- Miguel, você não precisa mentir para mim.
Miguel suspira fundo e olha para mim.
- Você realmente me conhece né, Kit Kat?!
- Sim Miguel.
- Para falar a verdade Kate, eu não estou nada bem e eu tô muito puto, eu tô com raiva por o mundo ser tão injusto, por meus pais terem perdido o filho deles, por terem perdido o filho incrível deles. E eu tô puto com o Nicholas, por mais egoísta que isso possa parecer, com raiva porque ele não tinha que ter ido para aquela rua sozinho, por ter sido tão imprudente, por ter morrido e me deixado aqui, isso não devia ter acontecido com ele Kate, antes tivesse acontecido comigo. E eu tô puto porque eu sinto que não ajudo meus pais e cuido da minha irmã o suficiente e eu sei que ele conseguiria fazer isso bem melhor que eu. - Miguel cerra os punhos com força e algumas lágrimas escorrem pelo seu rosto, enxugo aquelas lágrimas delicadamente e o abraço forte.
- Miguel, me escuta bem, eu fico feliz que você tenha desabafado sobre isso comigo, mas você precisa parar de se cobrar tanto, não é nada egoísta você sentir falta do seu irmão e não é errado que você também esteja sofrendo. Eu sei que o Nick deve estar muito orgulhoso de você lá de onde ele estiver e eu sei que você está fazendo o melhor que pode, mas você não precisa carregar todo esse peso sozinho Guel, eu estou aqui, de verdade, e você sempre pode contar comigo. O que eu posso fazer pra te ajudar?
Ele me abraça ainda mais forte e encosta o nariz no meu cabelo.
- Só de estar aqui você já está me ajudando Kate, acredite. Mas sabe - ele afasta um pouco o rosto do meu cabelo-, eu acho que a mamãe e a Clarinha ficariam felizes em te ver. Vamos, levanta. A gente vai lá para casa.
- Miguel, você acha que é uma boa ideia? É claro que quero ver seus pais e a Maria Clara, mas eles devem estar cansados demais. Não quero incomodar.
- Claro que não Kate, você não vai incomodar, eu juro. Tudo que eles mais querem é ver gente, te asseguro. Agora vamos.
- Tudo bem, tudo bem. Mas calma aí né garoto, você acha que eu vou sair assim? - Aponto para a calça moletom e para a camiseta folgada que estou usando.
- Para mim isso está perfeitamente aceitável. - Miguel diz, me observa e dá um sorrisinho.
- Ai, claro que não garoto! Me espera lá embaixo que já desço. - Empurro um Miguel relutante para fora do quarto.
Sorrio quando ele sai do quarto, pela primeira vez em dias estou realmente feliz.
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