Epílogo

Desde pequena, sempre sonhei em poder visitar um planeta que não fosse a Terra. Marte, talvez, mas era realista o suficiente para ter a certeza de que a não ser que eu me tornasse astronauta, seria impossível fazer desse sonho uma realidade.
Eu não era milionária, e conhecendo o mundo em que vivemos, sabia que provavelmente também não me tornaria uma tão cedo.
Viagem espacial estava fora de cogitação.

Mas em todo o universo, com tantos astros e corpos celestiais, logo eu, Celeste Spellight, fui destinada a salvar uma civilização desconhecida de uma guerra interplanetária. Logo eu, uma mera poeira estelar, sou fruto da reencarnação de uma rainha com poderes, e agora, em outra vida, posso usufruir destes, como ela um dia também pôde.

Nunca duvidei da vida fora da Terra, até porque penso que acreditar que estamos sozinhos ou que somos os únicos seres inteligentes numa vastidão universal preenchida pelas mais variadas formas de matéria, sejam elas galáxias, nebulosas, planetas ou estrelas, é no mínimo uma subestimação da capacidade do desconhecido de nos surpreender.

Acho que as melhores coisas são aquelas que nem a nossa mente é capaz de criar.
Acreditei por 17 anos que o imaginário era mais atrativo que a realidade, mas na verdade, eu não conhecia totalmente o mundo real, os mundos reais, e sei que uma vida não é suficiente para conhecer todos.
Há coisas que vivi e que muitos não poderão viver, assim como há uma infinidade de universos que nunca serei capaz de conhecer. Universos esses que podem estar ou não em nosso planeta, porque afinal, todos somos e temos um universo só nosso, que podemos ou não compartilhar com alguém.

Carl Sagan acredita que somos "criaturas insignificantes", e apesar de admirá-lo incondicionalmente, esse ponto sempre me pegou.
Hoje, tenho a absoluta certeza de que cada ser existente tem sua devida significância, e mesmo que o universo não esteja nem aí pra gente, algo ou alguém, em algum lugar dele, com certeza está.

- Ei, Celly, você tá me ouvindo? - Kleen, que estava deitado na cama de seu quarto, despertou-me da profundidade de meus pensamentos.

- Eita, desculpa, estava só pensando em algumas coisas, mas nada demais. - ajeito-me na cadeira confortável. - Você precisa de algo, meu bem?

A cirurgia para retirar o projetil elétrico fora complicada e ele estava bastante debilitado ainda. O ocorrido com Estela piorava tudo, mas Kleen estava esperançoso quanto a encontrá-la. Como os remédios para dor que ele estava tomando eram fortes e o deixavam meio "desligado", talvez também contribuíssem para que não sentisse o impacto de tudo tão intensamente, mas sabia que assim que parasse de ingeri-los, as coisas não seriam tão fáceis de encarar.

Eu não estava nem um pouco positiva, muito pelo contrário, sentia que meu peito se rasgaria a qualquer instante por simplesmente não aguentar mais engolir toda aquela situação sem ao menos poder chorar, porque apesar de tudo, eu não deixaria os meus conflitos transparecerem. Não queria ser um peso a mais para Kleen, queria ser aquela que ele pudesse se segurar firmemente para não despencar no abismo, e eu estava me esforçando pra isso, ao mesmo tempo que lutava para não deixar que eu mesma caísse em meu abismo interior.

Eu não descansaria até achar Estela e os outros soldados desaparecidos, mesmo que custasse uma eternidade, e pensando na pior das hipóteses, mesmo que já não estivessem vivos.

- Na verdade, eu gostaria de ler algo pra você. - Kleen, com um pouco de dificuldade, sobe seu corpo, tentando sentar-se na cama - Poderia pegar meu diário em cima da escrivaninha, por favor?

- Claro. - levantei-me e fui em direção ao objeto.

Kyle trouxe nossas coisas do alojamento para o castelo de Kleen, mas havia uma em específico que eu ainda precisava recuperar.

Por consequência da aliança entre o exército platequiano com parte do exército sartano, um dia após a morte de Caleb, um armistício nomeado de "Tratado de Paz entre Sart e Plateno" foi assinado, dando fim a guerra. Os poucos que restaram e que ainda apoiavam Caleb renderam-se, já que os próprios soldados de seu exército viraram-se contra eles.
Eu e todos os outros sabíamos que aquele documento garantia uma paz temporária, pois Francesco continuava desaparecido, e vendo do que ele fora capaz de fazer durante todos esses anos, com certeza não deixaria que a situação ficasse daquele jeito.

Tinha a ciência de que ele era mais esperto do que imaginávamos, por isso, a segurança de Plateno foi redobrada, e quem tomaria conta do planeta a partir de agora seria eu.

A coroação aconteceria em algumas horas, e Kyle e Samanta iriam me acompanhar até a cerimônia, aproveitando para trazer o caderno de desenho da Aisha. Eu não tinha me esquecido da promessa que fiz à ela aquela noite, e mesmo que não fosse fisicamente, ela visitaria todos os lugares que um dia desejou.

- Prontinho. - entreguei o diário em suas mãos, sentando-me novamente na cadeira ao lado da cama - Tô ansiosa pra saber o que quer me mostrar.

- Eu queria muito ler isso na sua coroação, mas como sei que você não vai deixar eu sair daqui, né...

- Isso mesmo. Recomendações médicas, gatinho.

- Ai ai, tá bom, tá bom. - ele revirou os olhos - Eu fiz um poema há um tempinho e acho que você não chegou a lê-lo, então gostaria de recitá-lo, se me permitir.

- Sou toda ouvidos. - minhas bochechas estavam coradas e eu sabia disso pelo calor que elas emitiam.

Ele então prepara a garganta para começar a falar:

- "Todos os seus traços completam uma sublime e peculiar obra de arte.
Seus cabelos negros e esvoaçantes brilham em companhia às estrelas,
e eu apenas vejo de longe,
como um verdadeiro amante do inalcançável, algo completamente impertinente a mim. - ele faz uma pequena pausa e olha para mim, percebendo o sorriso de orelha a orelha que eu carregava e que não fazia nenhuma questão de esconder. Ele soltou um pequeno sorriso e prosseguiu com a leitura - Seu ser é tão magnífico como uma obra de Monet,
peculiar como os escritos de Allan Poe
e deveria ser tão contemplado como as pinturas de Van Gogh.
É admirável conseguir enxergar tudo o que há de melhor na profundidade de seu olhar, como um universo desconhecido que carrega uma infinidade de emoções e segredos,
segredos que só quem reconhece sua extraordinariedade é capaz de desvendar, e eu espero ser digno um dia.
Entre o amanhecer ao entardecer,
uma mesma certeza permanecerá:
mesmo que nosso vínculo seja extemporâneo,
eu sempre te admirarei,
até que todas as estrelas esbajem seu brilho por uma última vez."

Dessa vez, não hesitei em deixar que as lágrimas escapassem. Tentei colocar a mão no rosto para encobrir a vergonha, mas falhei totalmente.

- Não acredito que te fiz chorar. - através dos espaços entre os dedos que tapavam meu rosto, pude vê-lo sorrir.

- Agora eu tô sem graça, - eu disse, ainda com as mãos no rosto - Ninguém nunca fez algo assim pra mim.

- E eu nunca fiz algo assim pra alguém. Sei que não ficou lá essas coisas, mas eu...

- Tá brincando, né? - tirei minhas mãos do rosto e franzi a testa - Foi um dos poemas mais lindos que eu já vi! Se houvesse uma competição entre você e Sofia, eu realmente não sei quem ganharia. - sorri - Eu amei muito, de verdade mesmo.

- Essa era a intenção.

Sentei na beirada da cama ao lado dele, tomando o maior cuidado para não acabar machucando-o. Ele fechou o diário e o colocou ao lado oposto onde eu estava. Seus olhinhos brilhantes me encaravam, e os meus retribuiam, navegando naquele universo azulado que suas íris carregavam.

Aproximei meu rosto do dele, levando minhas mãos até as maçãs de seu rosto a fim de acariciá-las.
Nossos olhos foram se fechando ao mesmo tempo que nossos lábios se aproximavam, e quando já não havia mais nenhum centímetro separando-nos, nos beijamos.
Seu toque, seus lábios, sua respiração tranquila e a forma como nossas línguas dançavam em um ritmo único a cada beijo que dávamos eram como uma recarga à minha alma.
Sentia que precisava daquilo mais do que necessitava de ar pra respirar, porque sei que há oxigênio em mais lugares, mas aquele beijo, aqueles olhos azuis e aquele garoto eram únicos, e mesmo se eu ousasse ir à busca de alguém que fosse minimamente parecido, não importa o planeta ou galáxia, sei que nenhum átomo seria capaz de preencher outro ser como aquele.

- Com licença,- a Sra. Feyre disse do outro lado da porta, após dar pequenas batidinhas - o senhor Kyle já está a espera da senhorita.

- Hum, obri...gada, - eu tentava falar ao mesmo tempo que beijava Kleen - já estou indo.

- Eu não quero ficar longe de você. - ele fez biquinho assim que nossos lábios por fim se desgrudaram.

- Eu também não, mas logo logo tô de volta, e qualquer coisa que precisar, não hesite em avisar o pessoal, tudo bem? Você promete que vai fazer isso?

- Pode deixar, juro de dedinho - ele levanta o mindinho para enfatizar a "promessa". - Já disse que você tá linda hoje?

Ele já havia dito umas mil vezes, mas não me importaria de ouvi-lo dizer outras mil.

- Humm, na verdade não - me fiz de boba.

- Que babaca que eu sou, então! Como não pude elogiar a garota mais linda do universo?

- Bobinho.

- Por você? Sou mesmo.

- Sabe o que tá faltando pra eu ficar mais linda ainda?

- Sim, me levar como acompanhante.

- Apesar de eu querer muito, infelizmente não é isso. - levantei da cama e fui até a gaveta da escrivaninha, abrindo-a. - Gostou? - peguei a faixa de karatê que Kleen havia me dado e coloquei na testa - Dessa vez coloquei do lado certo!

- Você não vai se apresentar assim, né? - ele riu.

- Vou sim, algum problema?

- Claro que sim. Eu não estarei lá pra ver! - ele simula um chorinho.

- Não se preocupa, vou mandar filmarem pra você.

- Ha-ha-ha, engraçadinha.

- Agora eu preciso ir mesmo. Fica bem, ok? - dei um selinho rápido.

- Boa sorte, minha princesa. - ele sorri.

Agradeço e sorrio de volta, abrindo a porta para, com muito custo, deixá-lo ali.

Desci as escadas com meu longo vestido preto de alças finas, e na testa, a faixa de karatê.
Sabia que os empregados ficariam com Kleen caso precisasse de ajuda, mas mesmo assim me doía o peito ter que deixá-lo naquela situação. De qualquer forma, não podia faltar à cerimônia. Plateno precisava de mim, e eu ficaria ali por ele. Pelo menos por um tempo.

A Sra. Feyre abriu a porta do castelo para mim e desejou-me uma boa sorte. Eu sorri, agradecendo gentilmente, e fui em direção a nave onde Kyle e Samanta me esperavam.

Ambos estavam com os braços entrelaçados. Samanta usava um vestido vermelho até os joelhos e Kyle trajava um terno elegante.
Eu sentia uma leve química entre eles, e acho que os dois sentiam isso também.

- Que demora, hein! - Samanta reclamou. - E que coisa ridícula é essa na testa?

Coitado do Kyle, tinha é que ter muita paciência, caso realmente gostasse dela.

- Você está divina! - ele elogiou-me.

- Obrigada, KYLE. - sorri ao enfatizar seu nome - Ahh, você gostou da minha faixa, Samantinha?? O Kleen que me deu - dei um sorriso forçado e ela revirou os olhos.

- Ok, ok, meninas, vamos logo.

Subimos à nave e sentei no banco verde almofadado de Kyle. Em Plateno, todas as naves pareciam ser iguais, mudando apenas uma coisa ou outra, como as cores ou os tipos de banco.

- Kyle, sobre a Estela, você fez o que te pedi? - indaguei.

- Sim, já contatei uma boa parte dos marechais das tropas para ajudarem na investigação. Hoje mesmo fui ao alojamento também, e olha, - ele me entregou o pequeno caderno de Aisha - consegui trazer isso também. Vamos ao cemitério e depois direto pra cerimônia.

- Não sei nem como te agradecer - dei um sorriso em gratidão.

- Sabe que não precisa, nós quem agradecemos infinitamente pelo o que está fazendo. Minha prima com certeza estaria muito orgulhosa...

- Estela é um dos motivos de eu escolher ficar e aceitar governar o planeta. Não vou desistir de buscá-la.

- Não vamos.

- O Kleen está melhor? - Samanta perguntou - Imagino que deva estar surtando por conta disso tudo.

- Ele tá melhorando, os remédios estão ajudando a ficar mais calmo, ele dorme bastante e acorda sempre tranquilo, o médico disse que seria assim mesmo. O meu medo é quando ele não precisar mais tomá-los.

- Fica tranquila, vamos te ajudar com isso.

A nave avisou que havíamos chegado em nosso destino: Cemitério Estelar.

Kyle me contou que as cerimônias de velório e sepultamento em Plateno eram bonitas e bem diferente das da Terra, mas em consequência de toda a situação, no momento seria tudo bem simples.
Iriam apenas enterrar os corpos, colocando suas identidades em cima das covas, e caso alguém quisesse homenageá-los, deveria colocar algo no túmulo, como flores, fotos e demais recordações.

- Precisam de ajuda? - um jovem rapaz se aproximou.

- É... Estou procurando o túmulo de Aisha Fly. - respondi.

- Claro, ela foi enterrada hoje pela manhã. Me acompanhem.

Seguimos o homem até chegarmos a um túmulo onde não havia absolutamente nada, com excessão apenas do nome.
Os túmulos próximos estavam rodeados de fotos, flores, pulseiras e demais objetos que provavelmente tinham algum significado.
Não sabia se os pais dela não sobreviveram ou apenas não quiseram visitá-la.

- Se importariam em me dar licença por um instante? - perguntei.

- Não, claro que não. - todos responderam.

Depois de se afastarem dali, levei meus olhos até o nome de Aisha, sentindo um vazio imenso por pensar que quem deveria estar ali era eu.
Aisha tinha uma vida inteira para desfrutar, um planeta inteiro para conhecer, mil paisagens para desenhar, mas a guerra tirou isso dela. Dela e de milhares de pessoas. Tirou milhares de pessoas de outras milhares de pessoas. Tirou Estela de mim e de Kleen.

O que eu tinha em mãos era mais que um simples caderno, era o universo dela. Isso se encaixava na minha teoria de que somos sim capazes de conhecer milhares de universos, desde os pequenos até os (quase) infinitos, e mesmo assim, vivemos pouco tempo para conseguir conhecer o resto.

Coloquei-o sobre o túmulo delicadamente, bem ao lado de seu nome.

- Espero que faça uma boa viagem. Obrigada por me permitir estar aqui. - pronunciei baixo o suficiente para que ela, onde quer que estivesse, conseguisse me ouvir.

Uma delicada flor, de cor púrpura e centro amarelado, caiu sobre meu colo no exato momento em que disse minhas últimas palavras à Aisha.

É, acho que de fato ela conseguiu me ouvir.

Sorrio e vou ao encontro de Samanta e Kyle, carregando a flor comigo.

- Que amor, você ganhou uma flor da paz! - Samanta exclamou.

- Como assim?

- É que existe uma lenda aqui em Plateno que diz que quando o falecido tem um carinho ou respeito muito grande por sua visita, ele a presenteia com uma flor. É a primeira vez que presencio isso.

- É... Aisha salvou minha vida. - soltei um sorriso - Serei sempre grata por isso.

De volta ao lugar onde me apresentei à Plateno pela primeira vez, um dos poucos lugares públicos que não ficaram tão devastados pela guerra, estava eu novamente.
Dessa vez sem Estela para me ajudar, sem Kleen para me apoiar, sem Francesco para me manipular. Apenas eu por mim mesma.

Devido a situação em que ainda nos encontrávamos, a cerimônia de coroação seria, assim como os velórios, mais simples do que de costume. Sem festas, comemorações, petiscos ou música. Ninguém ali estava preparado pra isso, muito menos eu.

Jane, por ser a chefe do exército, executaria a cerimônia junto a mim, sendo ela quem colocaria a coroa em minha cabeça após meu discurso.

Novamente, eu não tinha planejado nada para falar. Todas e quaisquer palavras que dissesse viriam diretamente do meu coração, e pra falar a verdade, achava que seria melhor assim.

Respirei fundo e segurei o microfone que estava posicionado em minha frente. Havia, mais uma vez, milhares de pessoas, um pouco menos do que da primeira vez, mas ainda assim estava cheio.
O silêncio era tão profundo que conseguia ouvir claramente o balançar das folhas nas árvores.

- Boa tarde a todos. - suspirei - Bom, queria começar pedindo gentilmente à Samanta Fireworts que dessa vez não atire seu salto em mim, se não for muito incômodo.

A plateia deu risada, enquanto Samanta revirou os olhos.

- Mas agora falando sério, eu gostaria primeiramente de parabenizar a todos que deram o máximo de si para conseguir vencer essa guerra. Não é porque tenho mais poderes que a vitória foi minha. Ela é nossa, dos que se foram, dos que estão feridos, de todos nós.
A participação de todos foi essencial, e eu não poderia deixar de agradecê-los e lembrá-los o quão importante vocês são nisso tudo. - dei uma pausa para prosseguir com meu discurso - Isso também me faz pensar na única coisa que Caleb disse e que eu concordo. Vocês são uma civilização extremamente sortuda, nativos de um planeta que parece ter vindo de um livro de fantasia. Eu amo a forma como todos vocês se preocupam com a Terra, como batalham praticamente todos os dias para deixarem Plateno o mais aconchegante possível, só para um dia nós terráqueos usufruirmos dele. Isso é lindo e tão, tão importante pra mim. - abro um sorriso de orelha a orelha - Mas eu acho que está na hora de começarem a viver um pouco mais por vocês também. Aproveitem mais a cultura de vocês, se divirtam com seus amigos, valorizem esses pequenos momentos. Claro que podem continuar utilizando e amando as coisas da Terra, longe de mim querer ditar regras assim. A questão é que somos uma raça que ainda tem muito a aprender. Se maltratamos nosso planeta sem nem termos a certeza de que podemos migrar para outro lugar, imagina se soubessem da existência de Plateno? O ser humano é egoísta, ambicioso, mas não há nada que o tempo não mude, não é? Eu mesma posso dizer que sou outra Celeste, uma completamente diferente da que chegou aqui, e tudo graças a vocês. Sinto que daqui uns anos...

- CELESTE!! - os gritos vindos da multidão tiraram minha concentração. Tentava buscar sua origem, mas não encontrava.

Inopinadamente, vejo Kleen subindo as longas escadas do coreto com dificuldade, carregando uma sacola nas mãos.

- O que houve?? Por que você tá aqui? Meu Deus, olha a sua situação!! - eu estava tão nervosa que nem conseguia assimilar as coisas.

- Senhorita Celeste, me desculpe! - Feyre vinha correndo atrás de Kleen - Tentei impedi-lo, mas como sempre, ele não me deu ouvidos. - a senhora punha as mãos sobre o rosto, aflita.

- Celeste, me desculpa, me desculpa, me desculpa - ele chorava enquanto se desculpava, e eu não entendia o porquê.

- O que aconteceu, Kleen? Por que está se desculpando??

- Eu deveria ter contado antes sobre isso, eu ia te contar aquele dia na batalha, mas eu não consegui... - ele falava enquanto chorava incessantemente.

- O quê??

Meu corpo tremia de nervoso.

- A Sofia, sua amiga, ela...

- FALA LOGO, POR FAVOR!! - gritei, temendo por suas próximas palavras.

Ele respirou fundo até finalmente dizer as palavras que mais me surpreenderam durante toda a minha vida.

- Sofia é uma de nós. Bom, mais ou menos, é uma longa história que agora não vem ao caso e...

- O QUÊ? COMO NÃO VEM AO CASO??? CLARO QUE VEM. COMO VOCÊ ME ESCONDEU ISSO ESSE TEMPO TODO?? VOCÊ TEM IDEIA DO QUE...

- CELESTE, A SOFIA TÁ COM CÂNCER.

Eu senti meu corpo enfraquecendo desde o momento em que ele cuspiu aquelas palavras, até as incontáveis vezes que elas ecoaram em meu cérebro. De novo, de novo e de novo.

Minhas pernas pareciam incapazes de sustentar meus pés no chão, sentia como se uma tonelada de dor fosse jogada em mim de uma vez só, sem dó.
Eu tentava assimilar o que acabara de ouvir, mas simplesmente não aceitava que aquilo de fato estava acontecendo.
Qualquer coisa, menos isso. Com Sofia não, com ela não.

- Por que... por que você não me disse antes? - meus olhos marejados e a voz fraca não escondiam o que sentia naquele momento.

- Ela acabou de entrar em contato comigo, eu também não sabia, por isso vim correndo até aqui. Ela quer te ver uma última vez... - Kleen tentava engolir o choro para falar - Precisamos voltar à Terra agora.

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