Capítulo VI

Um barulhão vindo de fora do quarto despertou-me de meu sono.
Pensei estar vindo da cozinha, já que o som se assemelhava a panelas caindo.

Quando acordei, a primeira coisa que invadiu minha cabeça - depois daquele som horrível - foi o fato de que eu ainda não estava em minha casa.
Não tinha noção do tempo, mas sinceramente não aguentava mais estar em um lugar desconhecido e com pessoas bizarras que me contavam histórias mais viajadas que teorias terraplanistas.

Levantei e fui até a cozinha, deparando-me com um monte de panelas espalhadas no chão, enquanto Estela as recolhia.

- Ah, bom dia, Celeste! - ela diz depois de rapidamente recolhe-las.

- Bom dia, tá tudo bem aqui?

- Sim, sim, eu só estava procurando a panela que faz bolo sozinha, mas acabei fazendo a maior bagunça. Desculpa se te acordei.

- Quê? Vocês têm uma panela que faz comida sozinha? - perguntei, tentando segurar uma risada.

- É... Na verdade é só bolo, mas temos sim. Quer ver como funciona?

- Claro.

Estela pega uma panela roxa aparentemente normal e coloca todos os ingredientes em seu interior. Depois, clica em um pequeno botão ao lado esquerdo, fazendo com que a panela asse e misture tudo sozinha.

Eu fiquei boquiaberta com a funcionalidade daquilo.
O sabor escolhido foi chocolate arco-íris, já que, segundo ela, era "o melhor sabor do universo".

- Eu já tô começando a ter alucinações ou isso aconteceu mesmo? - perguntei incrédula à Estela - Como isso cozinha um bolo sozinho?

- Ahh, isso não é nada comparado a todo o resto de Plateno, tem cada coisa doida e legal aqui. Quando Kleen terminar de resolver algumas coisas sobre o seu treinamento pra guerra, vou pedir para que te leve a alguns lugares.

- É tudo tão estranho... Como há um planeta desses e os astrônomos desconhecem?

- Nós tememos que nosso planeta seja usado antes da hora necessária. - ela explica - Não sabemos o que os astrônomos podem fazer caso descubram um planeta tão similar a Terra, fora que também estamos muito distantes, o que dificulta um estudo aprofundado da nossa galáxia. Mas fica tranquila, a ciência é esperta o suficiente para conhecer Plateno no tempo certo.

- Realmente, a cada ano avançamos mais um pouco nessas pesquisas espaciais.

Estela e eu conversamos um pouco sobre os habitantes de Plateno e sua habilidade em comum: o poder de velocidade.

Também descobri que o atual rei de Plateno era meu primo, o único parente vivo que eu tinha ali, já que meus supostos pais platequianos morreram dois anos após minha partida.
Mas, por algum motivo, eu fui a rainha mais poderosa, dedicada e amada dali. Por isso, minha presença nas futuras batalhas era muito importante. Meu primo não se importava muito com a população, segundo Estela. Aparentemente, o que agradava ele era ser rei, não agir como um.

Eu gostaria de conhecê-lo, porque mesmo que não fosse de fato meu primo, poderia me dizer algumas coisas sobre Estela e Kleen.

- O bolo tá pronto. - ela diz quando o alarme da panela começa a tocar - Eu espero que você goste, garanto que não vai ter o mesmo sabor do jantar.

Já estava com medo antes mesmo da primeira garfada, apesar do cheiro ser maravilhoso e a aparência estar agradável.
Respirei fundo e reuni toda a coragem que tinha dentro de mim para conseguir provar aquilo.

Enquanto mastigava, notei que o chocolate não tinha um gosto normal, se é posso que chamar assim. Era algo milhões de vezes melhor do que qualquer coisa que eu já provei na vida. Os pedaços coloridos tinham uma textura fofinha, fazendo com que derretessem na boca.

- MEU DEUS, ISSO TÁ MUITO BOM! - falei com a boca cheia.

- Que bom que gostou! Eu amo os doces de Plateno, são maravilhosos. Meu sonho é aprender cozinhar todos sem a ajuda de panelas como essa. - ela sorri.

Comi uns cinco pedaços grandes para depois (finalmente) ir tomar banho. Estela disse que me emprestaria um vestido dela, mas que logo compraríamos algumas coisas para mim.

A cozinha e a sala eram dividas por um pequeno murinho, e os quartos ficavam no canto esquerdo. O meu era o primeiro ao lado da cozinha, seguido pelo de Kleen e o de Estela.

Por dentro, o meu dormitório e o dela eram iguais: simples, pequenos e amarelos.

Quando Estela abriu seu armário para que eu pudesse escolher o que vestir, vi que as roupas eram muito lindas, exatamente do meu estilo. Lembravam a moda dos anos 90 que eu tanto gostava.

Escolhi um vestido jeans preto e voltei ao meu quarto para pentear meu cabelo. Por estar bastante embaraçado, a escova se prendeu em alguns fios e não queria soltar. Que droga!

Eu tentava puxar ao mesmo tempo que não queria quebrar os fios, e pra situação ficar pior, alguém bateu na porta.

- Pode entrar. - eu disse, apesar de não querer isso.

- Licença, - Kleen entra - Tá tudo bem aí? - ele pergunta ao ver minha situação.

- Tá sim - respondi enquanto tentava tirar a escova pendurada em meu cabelo - são só uns fiozinhos rebeldes. Veja, consegui. - levantei minha mão pra cima enquanto segurava a escova, que ainda por cima me arrancou um tufo.

- Meu deus. - ele arregalou o olho, assustado ao ver o estado do objeto - Ok, lembra que te falei que iria mostrar as fotos de quando você ainda era rainha? Eu consegui duas, estão no meu quarto. Quer ver?

- Com certeza.- provavelmente ele havia forjado alguma edição, mas estava curiosa.

Fui com Kleen até o quarto ao lado do meu, mas parecia que não havia saído do lugar, já que os dois eram exatamente iguais.

- Os quartos aqui são bem parecidos, né? - digo quando sento-me na cama.

- Ah sim, aqui é bem pequeno. Eu prefiro minha outra casa, mas por segurança, é melhor continuarmos aqui.

- Outra casa?

- É, na verdade essa daqui é da Estela. Ela acha que a minha casa é muito exagerada, prefere algo mais simples e tal. - explica -Mas enfim, aqui estão as duas fotos que consegui achar, ambas do ano em que você morreu. - ele se senta ao meu lado e tira do bolso duas pequenas fotos em formato polaroid.

Na primeira foto, a garota, que realmente era bem parecida comigo, usava um vestido verde florido com as alças caídas nos ombros. Ela estava em um campo com algumas árvores e folhas espalhadas pelo chão.
Havia uma data indicando quando a foto foi tirada, "20 de abril de 1994".

No segundo polaroid, que estava em preto e branco, a mesma garota estava próxima a um lago, vestindo um lindo e longo vestido rendado.

- Caraca, realmente essa garota parecia mesmo comigo.

- É porque ela é você - ele solta um riso. - Como eu tinha dito, só algumas coisas mudaram, como a cor do seu cabelo, sua altura.

- E quem me garante que isso não é apenas uma foto editada?

- Como eu editaria uma foto assim? Por acaso você se lembra de ter usado algum desses vestidos ou ido nos lugares da foto lá na Terra?

- É, você tem um ponto.

Eu tinha milhões de perguntas sem respostas na cabeça, mas decidi aproveitar o momento para perguntar algo que estava quase me matando de curiosidade.

- O que aconteceu com seus pais? Tipo, eles estão vivos?

- Não, morreram quando eu tinha 10 anos.

- Poxa... O que houve?

- Celeste, - ele faz uma pausa - acho que certos assuntos realmente não são da sua conta.

Fiquei boquiaberta com aquela resposta, mas antes mesmo de conseguir responder algo, ele se levanta e sai do quarto, deixando apenas as fotos sobre a cama.

Será que eu não deveria ter perguntado?

Parece que pra essa gente é super normal ser abduzida por alienígenas branquelos que dizem que você é a rainha do planeta deles.

Estava de saco cheio daquilo.

Deixei as fotos em cima da cama e fui pra cozinha, onde provavelmente Estela estaria.

- Onde o Kleen está? - pergunto ao vê-la cozinhando algo que eu não conhecia.

- Ele acabou de sair, bateu a porta e tudo. Aconteceu alguma coisa?

- Eu preciso falar com ele. Desculpa, mas vou ter que sair por um instante.

- Mas Celeste, espera!

Vou rapidamente até a porta e saio correndo da casa pela extensa rua reta, torcendo para ele não ter ido muito longe.

Quando eu já não aguentava mais correr, vi Kleen próximo a uma árvore... Beijando uma garota?

Normalmente eu não atrapalharia alguém em um momento tão íntimo como aquele, mas já que ele tinha sido um pouco babaca, não hesitei.

Ninguém havia notado minha presença, então o cutuquei.
Ele se vira, um pouco assustado, e sua parceira também.
A garota de longos cabelos castanhos lisos me encarava com seus olhos cor de amêndoa.

- Celeste, o que houve? A Estela sabe que você saiu de casa de novo?

- Eu preciso falar com você.

- Nossa, essa garota é a cara da Liana. Quem é ela? - a garota pergunta, mas antes mesmo de Kleen responder, puxo-o e caminho com ele até um local mais afastado.

- Desculpa atrapalhar seus amassos, mas eu preciso de uma coisa.

- Se for pra conhecer Plateno, a gente vai mais tarde ou...

- Olha, eu acho o cúmulo vocês me "abduzirem" e me deixarem presa naquela casa sem ao menos me mostrarem as coisas daqui ou testemunhas que comprovem que realmente estou em outro planeta. - o interrompi, jogando as coisas na cara dele - Eu quero conhecer o rei daqui. Agora.

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