p r ó l o g o

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I stay up all night

Tell myself I'm alright

Baby, you're just harder to see than most

I put the record on

Wait 'til I hear our song

Every night I'm dancing with your ghost

— Dancing With Your Ghost | Sasha Sloan

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11 de novembro de 2019


Naquele dia, quando voltei para casa, tarde da noite, não consegui sentir absolutamente nada além do mais intenso vazio. Tudo estava completamente silencioso. Nem os pássaros, que volta e meia cantavam sua alegria, pareciam interessados em compartilhá-la comigo. Talvez até eles se compadecessem por mim.

Soltei a bolsa preta em cima do balcão claro da cozinha, observando tudo inundada em tristeza. Vê-lo daquela forma, dentro de um caixão de pinus pintado de marrom com diversos detalhes em prata. O rosto limpíssimo, sem barba ou espinhas, completamente sem vida. As sobrancelhas volumosas e naturalmente definidas - o que sempre me deu inveja - posicionadas de uma forma que me levava a crer que ele estava em paz.

Eu havia perdido aquele que eu mais amava e no momento não parecia ter absolutamente nada que eu pudesse fazer para remediar aquilo. Meu salsichinha cor de chocolate ao leite, Holmes (sim, do Sherlock Holmes), estava com meus pais na casa deles. Sentia falta de suas patinhas batendo no chão em minha volta, mas amanhã eu poderia buscá-lo. Hoje eu ainda não tinha cabeça para isso.

Liguei o chuveiro e separei uma toalha felpuda branca. Mergulhei na água do jeito que estava, com o vestido preto liso, que possuía um lindo recorte quadrado no busto, o cabelo loiro e curto solto e a maquiagem feita lentamente enquanto eu tentava aceitar o que havia acontecido. A água quente escorria por tudo, o som da queda agora se apoiando em alguns soluços que soltava. As lágrimas finalmente começaram a cair em uma cascata tão grande que eu poderia ser o chuveiro.

Eu perdi tudo o que eu tinha hoje. Meu amor. Meu melhor amigo. Meu apoio.

Não sei quanto tempo fiquei embaixo daquele chuveiro enquanto a água caía sobre minhas costas, mas imagino que tinha se passado mais de uma hora. Lutei para tirar a roupa pesada encharcada do corpo, com raiva, chorando, todos os sentimentos mergulhados em loucura e luto.

Se você nunca passou por uma situação parecida, talvez eu possa te explicar com poucas palavras: é como se um trator tivesse passado por cima de mim, depois por dentro de um triturador. Cada pedaço do meu corpo simplesmente quer se descolar de mim e nada faz sentido. É como se eu estivesse perdida mesmo com um mapa, uma bússola e um GPS na mão.

Ele foi meu tudo por muito tempo. Há quase uma década, estávamos construindo nossa vida juntos, devagar, mas com garra. Lutando para comprar uma casa, nossos pertences e tudo mais que um casal precisa para viver junto e feliz. Fizemos tudo o que podíamos para manter nossa chama acesa e mesmo depois de tanto tempo, todo santo dia falávamos o quanto amávamos um ao outro.

Esse tipo de amor nos consome por inteiro, nos faz ter vontade de viver intensamente. Aproveitar cada instante com pura alegria e emoção.

É óbvio que também passamos por diversos perrengues e dificuldades, mas nada era grande demais para brigarmos por aquilo. Na verdade, se existe uma coisa que nunca fizemos foi brigar por besteira. Isso era o que eu mais admirava entre nós. Não havia ciúmes, mentiras ou desconfianças. Tudo era feito às claras e ninguém ficava bravo sem motivo.

Seu sorriso brilhante enorme com alguns dentes tortos (apesar de eu sempre indicar um dentista ele odiava ir nesses profissionais) não sai da minha mente. O som divertido que saía de sua risada ainda ressoa em meus ouvidos e a forma como seus olhos se apertavam quando sorria. As piadas medíocres que me faziam rir todos os dias e os pequenos momentos em que ele me trazia doces que eu gostava só para me ver feliz. O brilho em seus olhos azuis, claros como céu de verão, ficarão pra sempre comigo.

Éramos felizes. Tudo parecia na mais perfeita harmonia e alegria. Eu tinha tudo pra viver meu grande conto de fadas, a fanfic dos meus sonhos, cheia de romance, diversão e crescimento de cada personagem. 

Então... Tudo aquilo aconteceu e eu o perdi.

Se eu conseguiria superar essa perda, provavelmente seria uma grande dúvida que só o tempo diria. Hoje faz apenas um dia que ele se foi, mas já sinto o primeiro dos cinco estágio do luto entrando em meu peito e fazendo parte de quem eu sou.

Negação.

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