c a p í t u l o - 2
I'm going through changes
But I swear I'm the same
Could you show me some patience
Along the way?
— Changes | Hayd
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Aterrissei na Califórnia pela manhã, com o sol nascendo no horizonte, brilhando em um tom dourado alucinadamente lindo. Suas luzes irradiavam sobre fofas nuvens cheias e brilhantes em um show de cores pastéis de rosa, laranja e amarelo. Aquele era um recomeço. Por isso, ao sair do avião, por um pequeno instinto bobo, dei o primeiro passo naquela terra desconhecida com o pé direito.
O processo burocrático foi uma chatisse, com o controle de segurança, a busca pelas malas, falar com a imigração... mas quando percebi, já estava em um SUV prata com o adesivinho da Uber indo em direção ao apartamento que aluguei à distância. Meu cunhado já havia morado nos Estados Unidos e sabia o que eu precisava fazer, por isso, me ajudou com tudo o que eu precisaria de lá.
Eu consegui um lugar na Ashton Avenue, consideravelmente próximo da universidade onde poderia cursar meu mestrado e praticamente ao lado da tão famosa Hollywood. Eu estava apenas à meia hora de distância do conglomerado de famosos atores, atrizes, cantores e cantoras mais ricos do país.
Eu iria trabalhar na CAA Marketing, uma das maiores agências internacionais, o que me dava uma grande oportunidade de alavancar minha carreira no setor. Eu só precisava entregar um trabalho perfeito. Eu esperava muito, muito, muito mesmo, que aquele fosse um lugar incrível para trabalhar.
— Tenha um bom dia — disse o motorista, um senhor na casa dos cinquenta e poucos anos com um sorriso bonito, após me ajudar a tirar as três malas do porta-malas.
— Obrigada senhor, tenha um bom dia também — retribui antes de caminhar para frente do meu novo prédio.
A construção era moderna e muito bonita, pintada com um tom arenoso de um jeito minimalista que eu amava. As janelas tinham um tom de branco off white que tornava a vista muito bonita. O lugar em si era bem calmo e arborizado, com poucos carros passando e por alguns segundos me peguei sentindo o perfume do meu novo lar.
Encaixei as malas uma na outra e as puxei até o hall de entrada. Estava no endereço correto (conferi pela enésima vez) e minha chave já estava na mão. Eu moraria no quarto andar, um dos últimos, em um apartamento decorado.
— Precisa de ajuda? — um homem apareceu no corredor, loiro e alto, muito bonito, me olhando com curiosidade.
— Ah sim, por favor, só até a entrada do apartamento — aceitei. Era horrível andar com todas aquelas malas e mais a mochila em minhas costas.
Ele veio até mim e pegou duas malas, a verde maior e a média, puxando para o elevador aberto. Fui atrás dele e apertei o meu andar, enquanto ficava em silêncio por alguns segundos de forma constrangedora. Como nova aqui, confesso que mesmo meu TOEFL, tinha vergonha do meu inglês.
— Então, é nova no prédio? Ou está de passagem? — o homem me perguntou, me olhando com seus olhos castanhos cor de mel.
— Me mudando oficialmente, não só de casa, mas de país — falei, com um sorriso.
— Ah, uma imigrante! Seja bem-vinda aos Estados Unidos. De onde você é? — ele puxou assunto com um pequeno sorriso de lado enquanto o elevador subia.
— Vim do Brasil — falei, afirmando com a cabeça.
— Joga futebol? — perguntou-me ele eufórico.
— Por Deus, não — eu ri alto. — Eu sou um completo desastre, nisso, em samba e qualquer outra coisa.
— Ah, jura? — respondeu-me ele retribuindo a risada.
— Na verdade, venho do lado sul do país, uma parte um pouco desconhecida pelos estrangeiros. Sou de Santa Catarina — contei.
As portas do elevador abriram com um sininho.
— Qual o número do seu apartamento? — perguntou-me ele.
Olhei o papel por alguns instantes antes de falar, tentando decifrar a letra do meu cunhado João.
— Quatrocentos e quinze — respondi, olhando para as portas.
— Ah, é por aqui — ele apontou para o lado direito do corredor puxando as malas consigo. Então parou. — Aqui mesmo.
Coloquei a chave na porta e a girei, a informação bateu e dei um sorriso abrindo a porta. Novamente, dei o primeiro passo com o pé direito, esperando as boas lembranças que se formariam naquele lugar.
— Muito obrigada por me ajudar... — fui agradecê-lo então percebi que nem sabia seu nome ainda.
— Olha, eu sou um pouco desastrado, então nem me apresentei — disse o louro balançando a cabeça. Ele me estendeu a mão direita. — Meu nome é Matthew, seremos vizinhos. Moro com meu namorado no quatrocentos e dezessete.
Ergui as sobrancelhas levemente, aliviada por conhecer uma pessoa da vizinhança, o que era muito agradável para uma boa rotina em qualquer lugar.
— Então obrigada Matthew. A propósito, sou Isabela — agradeci corretamente, agora que já o conhecia.
— Talvez podemos marcar alguma coisa, um jantar ou um almoço, Thomas vai adorar conhecer você também — disse ele, ainda sorrindo. Ele adorava sorrir, ao que parece.
— Com certeza, vou adorar! — falei.
— Você tem telefone? — perguntou ele, puxando o celular do bolso.
Fiquei pensativa por alguns milissegundos antes de fazer uma cara um pouco triste.
— Ainda não comprei um chip daqui, só tenho o número brasileiro — respondi. — Mas pode me chamar no Instagram, arroba bell.a.marques.
Ele teclou por alguns segundos e percebi que mexia na rede social que indiquei.
— Achei! — exclamou ele, feliz. — Pode deixar, vou te incomodar bastante! Agora preciso ir, vejo você logo.
— Até logo, Matthew — respondi enquanto ele saía caminhando pelo corredor.
Então, fechei a porta e parei para observar minha nova casa. O apartamento não era dos maiores, mas claramente era muito bem estruturado e planejado. Com uma decoração boho que eu amava, quase todos os itens eram de tons terrosos ou brancos. A cozinha possuía uma ilha branca de porcelanato com uma torneira mega chique (daquelas que no Brasil custam um rim) e uma mesa de jantar simples, de madeira bruta.
A sala tinha um sofá marrom claro que parecia super macio e um tapete felpudo escuro contrastando com a mesa de centro branca. Também tinha um nicho com uma televisão não muito grande, mas parecia ser smart, e algumas prateleiras brancas vazias. Segui para o banheiro, um espaço grande coberto por azulejo branco, com vaso, pia e banheira com chuveiro, daquelas para tomar um banho de espuma à luz de velas. Já conseguia me ver fazendo isso. Havia algumas prateleiras vazias por ali também que eu provavelmente encheria de plantas em breve para dar mais cor.
O meu quarto era simples, mas lindo. Havia uma cama box no meio com dois travesseiros e algumas almofadas cor de creme. O edredom tinha um tom parecido, um pouco mais claro, o que combinava com o tapete nos dois lados da cama. O espaço tinha um closet e uma escrivaninha de trabalho, pedido especial que fiz ao pedir um decorador para o espaço. Muitas das coisas nesse apartamento ainda não estavam aqui, mas meu cunhado conhecia quem podia me ajudar a construir. Então, estava praticamente pronto para morar.
Olhei para fora da janela e me vi um pouco mais feliz, observando o sol subindo enquanto os pássaros cantavam. Aquele seria um dia maluco para organizar minhas coisas, revirar e conhecer minha casa e fazer compras. Mas tudo começa com um pequeno passo.
Respiro fundo e então começo.
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