Capítulo 4

  Parte I.

    O tempo passou, o resfriado ainda me acompanhava, porém com menos intensidade. Durante esses poucos dias, Léo não tem falado muito, veio algumas vezes ver com eu estava e só, achei estranho, mas não questionei.

   O importante é que o dia havia vindo, estava me arrumando para a entrevista que fora marcada para às sete da manhã.

   Me vesti com uma calça jeans não muito justa, uma blusa formal branca, um simples colar. Maquiagem quase nada, apenas delineador, rímel e batom rosa. Peguei minha bolsa e desci a escada. O povo ainda tomava café da manhã, era bem cedo, passei os olhos e não encontrei Léo.

- Bom dia. -falei.

- Bom dia. -somente Isadora respondeu.

   Fui pra cozinha, tomei uma xícara de café e saí rápido daquela casa.

- É, eu vim em busca de liberdade e me aprisionei à uma família nada agradável.-suspirei e saí andando.

   Cheguei ao ponto final dos ônibus, não fazia idéia de como chegar em Copacabana,   mas como dizia minha mãe: "Quem tem boca vai à Roma ", eu tenho e falo à beça, não seria tão difícil chegar em Copa.

- Oi, bom dia. O senhor sabe me informar qual ônibus  pega pra ir à Copacabana? -abordei um senhor que lia um jornal sentado ao banco de espera.

- Segue nesse corredor aqui e ao final tem. -explicou.

- Obrigada. -falei e segui.

   Andei um monte e o final não chegava, já estava estressada com isso. 

- Oi, bom dia. A  senhora sabe me informar qual ônibus  pega pra ir à Copacabana? -tentei mais uma vez.

- Já passou minha filha, volta um pouquinho que você encontra. -disse fraca.

   Saí sem agradecer, esse povo carioca só pode estar de palhaçada com a minha cara! 

   Finalmente encontrei a droga do transporte e como se não bastasse o meu mal humor matinal, teria que esperar dez minutos.

- É sempre assim? -perguntei para uma loira grávida que estava à minha frente na fila.

- Em vista do que é aos fins de semana, isso aqui ta Ótimo! -exclamou.

   Onde eu fui me meter? 

   Passado os minutos, mais que dez é claro, embarcamos, assim lembrei que era pra mim estar nervosa por causa da entrevista, daí comecei a suar frio e ter as mãos gélidas. Verifiquei no papel o local qual eu teria que descer.

....

-Obrigada! -gritei e desembarquei.

  Observei aquele belo cenário, um mar imenso e um dos mais bonitos prédios o observando, o restaurante era ao lado de Copacabana Palace, já funcionava. Não sabia nem o que fazer, não tinha idéia de quem me entrevistaria, só sei que me mandaram ao restaurante.

- Oi. -cheguei ao balcão. -É que eu vim para uma entrevista de emprego, mas estou meio perdida. -dei um risinho pra descontrair.

- A claro, o chefe está te aguardando no escritório dele. -a moça respondeu.

- Hã... E onde seria esse escritório? -perguntei.

- Vem, vou te levar. -ela saiu detrás do balcão e pegou na minha mão.

   Passamos pela cozinha e adentramos num corredor estreito.

- É  aqui. -ela falou rápido e me deixou em frente à uma porta.

  A legal, o que eu faria?  Bater,ou não bater, bater ou não bater? ...

- Pode entrar. -eu bati!

- Com licença. -o homem quando me viu ajeitou o terno e tirou os pés de cima da mesa. -Bom, eu fui chamada para um entrevista de emprego e a moç...

- Já entendi, entre. -ele me interrompeu. - Como se chama? -indagou.

- Ester Dias. -respondi séria.

- Certo, Ester Dias.... -ele mexia em alguns papéis. -Aqui está! -tirou o meu currículo. -Seu currículo  não tem nada demais, porém resolvi chamá-la.

- Sim. -respondi sem nexo.

- Está nervosa? Pode sentar, garota. -disse.

- Obrigada. -Falei e me sentei na cadeira à frente da mesa dele.

- Seu primeiro emprego? -perguntou.

- Sim. -respondi, ele já sabia disso, se leu meu currículo.

- Sabe cozinhar? -perguntou.

- Sim, o básico. -menti.

- Tá certo, mas não vai precisar. -ele falou e eu suspirei de alívio.     

   O homem saiu de sua cadeira e me rodeou, parecia procurar algo.

- Venha até aqui. -ordenou.

   Cheguei em outro canto da sala, qual tinha uma mesa de vidro, com vários legumes, facas, vasilha e outros utensílios.

- Preciso que você corte esses legumes em cubos. -pediu.

   O encarei séria.

- Ok. -falei e já peguei a faca.

   Removi a casca de algumas batatas e comecei a cortar, vi o homem olhar o relógio e logo me olhar de novo. Caramba!  Ele estava me cronometrando!  Acelerei mais, ganhei vários cortes superficiais no dedo.

- Ok, Pode parar. -ele anuncia.

   Soltei a faca que quase caiu no meu pé.

- Desculpa. -falei e me abaixei para pega-la. Emprego perdido.

- Eu sou o senhor Dênis, dono disso tudo aqui, apartir de hoje  você trabalha pra mim. -meu interior pulava de alegria. -Não admito atrasos, você serve no horário da manhã, o café, e é ajudante de cozinha a tarde. Bom pra você? -finalizou.

- Ótimo! -falei animada demais o que gerou um olhar de repreensão.

- Peça a dona Vilma na cozinha seu uniforme. -disse. -Hoje você fica só na cozinha.

- Ok.

- Pode ir.

- Obrigada. -estendi a mão e me despedi.

   Saí da sala com uma leve vontade de gritar, me contive dando um esbarrão em uma moça.

- Desculpa. -sorri fraco.

- Ester? -indagou. 

- Sim, sou eu. -afirmei.

- Sou Vilma a chefe de cozinha. Venha comigo. -pediu.

   Fui. Me entregou uma roupa branca que no peito tinha escrito "Ester Dias ".

- Obrigada. -sorri.

- Vamos, tem muita coisa pra fazer naquela cozinha. -ela sorriu simpática.

   Eu tremi por dentro mas a acompanhei, depois de me apresentar para as cozinheiras, me pôs numa máquina de fatiar   presunto, presumo que fatiaria meus dedos, mas Ok.   Ainda era hora dos trabalhadores tomar café, então lá fui eu descobrir como funcionava a máquina.

   Estava concentrada de cabeça baixa, "fatiando", não era difícil, ouvi uma voz conhecida.

- Di. -eu tinha certeza que o dono da voz carregava um sorriso. Ele falava na minha direção.

- Di? -olhei e era Léo. -Léo?!  Você trabalha aqui? -me surpreendi.

- Sim, porque não me disse que era aqui que tinha entrevista? -perguntou rindo.

- Eu lá sabia que aqui era seu trabalho! -fiz um gesto vago.

- Que bom que conseguiu o emprego. -disse e sorriu.

- PEDIDO, MESA 03! -pude ouvi uma voz gritar e Léo se alarmar.

- Vou indo, até qualquer hora. -falou rindo.

- Tá, mas Léo. O que é Di? -perguntei franzindo a testa.

- Você. -ele sorriu de canto.

- Eu me chamo Ester. -esclareci.

- Ester Dias. -ele apontou pro emblema no meu peito.

- A. -suspirei rindo. -Entendi.

- Todo mundo te chama de Ester, eu vou te chamar de Di. -falou tocando a máquina.

- Tá aí, gostei! -ri.

- Deixa a moça em paz Léo! PEDIDO, MESA 03! -Outra berrou.

- Fui! -ele riu e saiu correndo com a bandeja na mão.

   Nossa quem diria eu vir parar no mesmo lugar que Léo duas vezes.

- Ta bom aí , vem cá cortar essas coisas aqui. -dona Vilma tocou meu ombro e começou a embalar as fatias.

- Ok. -concordei.

   Não era tão ruim, só que eu parecia uma pessoa amargura, de tanto choro por causa das cebolas. É, já estavam cozinhando para o almoço.

- Léo, que horas eu posso embora? Ninguém me informou. -perguntei num sussurro.

- Às seis. -ele riu.

- Caraca. -falei. -Mas Ok.

   Seria assim sempre, de sete da manhã as seis da noite, pelo menos me manteria ocupada e longe da cruel Divina.

*****

- Gente Obrigada tá?  Vai ser um prazer trabalhar com Vocês. -me despedi tirando o avental.

   Elas se despediram com beijinhos e eu fui ver Léo, ele ainda recolhia as coisas da mesa, resolvi sair pra ver o lugar.

   Já escurecia e tinha uma brisa fraca, fui em direção ao mar, tirei minhas sapatilhas e senti a macia areia entrar entre os meus dedos.

- Nossa! -exclamei encantada com o lugar.

   Soltei meus cabelos e deixei que eles voassem com o vento, me sentei na areia e fiquei pensando. Eu já estava no Rio de Janeiro, meu emprego era até que bacana e era isso, simples, eu sei. Mas Talvez era essa simplicidade que eu buscava mesmo, sem ter que ficar sendo cobrada pra trabalhar na empresa do meu pai, sem ter que viver presa aos muros de Goias.

- Oi. -uma voz masculina interrompe meus pensamentos.

- Oi. -olhei para o lado e vi um cara lindo de pé ao meu lado.

- Posso sentar-me? -ele perguntou.

- Senta aí. -falei informal.

- Estava te vendo de longe, você parecia tão perdida. -ele deu um risinho.

- É... -corei. -Não  conheço a cidade. -informei.

- Veio de onde?

- Goiás.

- Legal.

- Qual seu nome?

- Nossa eu nem me apresentei, foi mal. Me chamo Arthur. E você?

-  Ester.

- Bonito o nome... Como você.

- Obrigada.

   A essa hora eu já estava acanhada com os elogios, mas não deixei de observar seus belos músculos, olhos pequenos e negros, o bronze de seu corpo  entregava o praieiro que devia ser.

- Então, você mora onde? -interrompeu minha análise.

- Longe... -dei uma risada. -Campo grande.

- Longe... -concordou rindo.

- É, e você onde mora? -indaguei.

   Ele se virou para o lado e apontou, dei vista à um imenso morro decorado com várias casas grudadas e coloridas.

- Nossa deve ter uma visão boa de lá né? -impolguei.

- É sim, dá pra ver tudo isso aqui. -riu, parecia gostar de lá.

- Que máximo!

- Qualquer dia você sobe lá.

- Pode ser.

-DI!! -ouvi a voz de Léo gritando ao longe.

   Ergui a mão e fiz sinal, enquanto ele corria descalço até a mim  Arthur falou.

- Seu namorado?

- Não, imagina. Meu amigo. -expliquei mais rápido do que gostaria.

- A.-murmurou.  -Eu vou ralar. -disse e eu demorei entender que avisou que iria embora.

- Tá, tudo bem. -respondi.

- Me passa seu número?

- Arrã. -concordei e ele me deu seu celular pra anotar.

- Tchau, morena. -falou com uma voz rouca, pôs uma mecha de cabelo meu atrás da orelha  e beijou minha bochecha.

- Tchau, Arthur. -sorri envergonhada.

   Ele saiu andando, fiquei observando ele indo levantando areia com suas havaianas brancas. Olhei pro lado e Léo me encarava de braços cruzados.

- Oi. -ri pra ele.

- Te procurei por toda a parte. -disse. Parecia aborrecido.

-Resolvi vim ver o mar, e ia te mandar uma mensagem, mas lembrei que não tenho seu número. -sorri.

- Mas por quê não me esperou? Podia ter vindo contigo. -ele disse ainda com aquela cara de poucos amigos.

- Sei lá Léo, agora já estamos aqui. -falei

- Hum. -murmurou.

- Mas que coisa em!  Você deveria ser gentil e caminhar na areia comigo. -reclamei.

- Tá, foi mal. Vamos. -ele finalmente sorriu  pôs a mão envolta em meu ombro.

   Caminhei sentindo a areia macia invadir meus pés, encarei o alto daquele morro e sorri imaginando se Arthur já estava lá, cogitei a possibilidade dele estar me vendo. Mas foi idiota demais.

- Gostou do emprego ?-perguntou.

- Sim, a Vilma é ótima. -sorri.

- É sim, mas Neusa, aquela que tava me gritando, é mais implicante   que dona Divina. -ele disse rindo.

- Nossa. -gargalhei. -Até agora ela não disse nada comigo.

- Espera até conhece-la melhor. -ele disse.

- Já tô ficando com trauma dessa mulher. -brinquei.

   A noite avançou, depois de passar um tempinho jogados na areia, só sentindo a brisa fresca do Rio de Janeiro, decidimos ir embora.

    Fazia um calor tamanho longe do mar, o ônibus já estava cheio, o gentil Léo me cedeu o único lugar vago.

- Obrigada. -sorri pra ele, que assentiu.

   Prendi meu cabelo num coque mal feito e logo peguei a bolsa de Léo para segurar.

****

- Nossa é todo dia assim? -perguntei quando descemos da condução.

- Não, tem dias que é pior. -falou e eu torci para que fosse uma gozação.

- Ô... -reclamei.

    Entramos em casa e como de costume, dona Divina  foi cumprimentar e mimar somente Léo.

- Boa noite. -passei na sala e falei.

   Ninguém respondeu. Ô gentinha!.  Fui para o meu quarto, peguei uma roupa de dormir, toalha e tornei a usar a escada, pude ouvir Léo contando a novidade do meu emprego para a família, eu agradeci mentalmente, pois agora Divina não me alfinetaria mais no quesito grana do aluguel.

   Entrei no banheiro e dei de cara com a tampa da privada erguida, olhei e lá não tinha nenhum surfista gostosão como no meu banheiro de Goias.

   Liguei o chuveiro e tomei um banho ligeiro, tudo pra evitar a reclamação da dona da casa e estragar o meu dia que tinha sido tão bom.

   Me vesti com um conjunto de dormir, passei na cozinha e carreguei uma maçã para o quarto, não tinha fome e uma fruta iria me saciar até o dia seguinte.

   Deitei na minha cama e pus meus pés pousados na parede, comecei a comer a maçã, meus pensamentos foram até Arthur, ele era tão bonito, simpático. Me perguntei se o veria novamente.

.  Algum tempo depois...

- Di. -ouvi a voz de Léo me chamar . Ainda tinha que me acostumar com esse apelido.

- Oi, entra. -falei.

- Não vai comer? -perguntou.

- Não. -respondi.

- Por quê? -perguntou.

- Tô sem fome. -mostrei os restos da maçã pra ele.

- A, então tá. -ele disse e saiu.

   Meu celular apitou, verifiquei e tinha uma mensagem.

  " Boa noite,morena. -A. "

   Eu sabia que era Arthur, sorrir imediatamente.

" Boa noite. -E."

   Respondi , eu não tinha um apelido pra ele, então...

   Trocamos mensagens por algum tempo, ele disse que estaria na praia Amanhã no mesmo horário, falou pra passar lá que queria me ver. Concordei.

   Fui dispersa pelo "toc toc" na porta.

- Entra. -falei.

- Sou eu de novo. -Léo disse rindo.

- A Oi. -mal o olhei, pois fitava o celular.

   Ele se sentou na minha cama.

- Amanhã tem mais trampo. -puxou assunto.

- Arrã.

- O que tanto faz nesse celular que mal me olha? -indagou.

- Desculpa, é só umas mensagens. -falei jogando o celular de lado.

- Sei. Com o cara da praia? -adivinhou.

- É. -falei.

- Hum. -me olhou sério.

- Que foi?

- Nada. Só acho que não é legal ficar trocando telefone com desconhecido.

- A desencana, Léo! A gente tá se conhecendo ué.

- Sei. -ele parecia chateado. - Eu vou dormir tá?  Tchau.

- Léo!  Espera, o que tá acontecendo? -segurei em seu braço.

- Eu tô com sono e vou dormir. -falou grosso.

- Disso eu sei, mas você parece bravo. -disse.

- Impressão sua. -falou sério. E aquele não era o Léo.

- Tenho certeza que não. -retruquei.

- Amanhã a gente se fala, Di. Boa noite tá. -falou calmo.

- Boa noite. -falei triste.

- Tchau.

- Credo, não vai nem me dá um beijo de boa noite? -brinquei tentando faze-lo sorrir.

- Chata. -ele resmungou rindo e depositou um beijo na minha testa.

- Agora sim!  Desculpa qualquer coisa, tá? -me desculpei não sei pelo quê, mas acho que devia.

   Ele assentiu e eu fui dar um beijo em seu rosto, quando o danado se virou selando nossos lábios. Me afastei e o encarei confusa.

- Desculpa qualquer coisa,tá? -ele riu de canto e saiu  apressado.

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