Capítulo 10 - Por Léo

Léo...

    Eu tento não odiar ninguém, mas tem gente que dificulta isso, como por exemplo o cara que a Di resolveu namorar, é duro ter que sorri ao ver quem você ama de mãos dadas com outro.

   Eram três horas da manhã, e eu ainda estava acordado, perturbado por pensamentos, tentando achar uma melhor forma de contar tudo pra Di. Ela pode não acreditar em mim, e não querer mais nem falar comigo, porém eu ainda acho que ela deve saber  a verdade sobre aquele cara.

   Fui disperso por uma batida na porta, me assustei.

- Oi. -abri a porta estranhando a presença dela.

- Léo, achei que já estivesse dormindo, mas... É que eu não consigo pregar os olhos. -Di falou num fio de voz.

- Por causa do que aconteceu, né? -perguntei só pra confirmar, pois já sabia que sim.

- É, aquela cena... Não abandona a minha mente. -disse com os olhos levemente marejados, o que confirmava seu temor. 

- Você pode dormir aqui. -falei realmente sem malícia.

- Tá doido, Léo?! -exclamou.

- Não. Você está com medo e com insônia, talvez aqui se sinta melhor. -falei sério me encostando no batente da porta.

- Não sei...

- Eu não vou fazer nada contigo. -afirmei.

- Tudo bem. -ela cedeu e adentrou no meu quarto. -Por que ainda estava acordado?

- Talvez pelo mesmo motivo que você. -disse, era uma meia verdade.

- Você não precisa se preocupar comigo, até acho um incômodo, eu vim aqui à essa hora de perturbar. -falou consertando a pequena blusa, que insistia em manter sua alça caída.

- Tem nada não, agora se ajeita aí. -falei pegando dois lençóis. -É... Você pode ficar com a cama. -sorri fraco.

- Não precisa, eu  fico no chão mesmo. -ela me tomou os lençóis.

- De jeito algum, dorme aí. -peguei de volta.

- Ahn... Tudo bem. Obrigada. -disse com um meio sorriso.

- Boa  noite. -falei e me aproximei para beijar seu rosto. De certa forma eu  odiava isso, uma vez que não era o lugar exato qual eu queria beijar.

- Boa noite, Léo. -ela pôs a mão no meu rosto, me fazendo arrepiar com o toque, e devolveu com um beijinho na bochecha.

   Me aconcheguei no chão, que não deixou de ser gelado com o lençol cobrindo-o, pensei por alguns minutos e fechei os olhos, em vão tentando adormecer.

- Léo? -ouvi Di chamar.

- Oi. -respondi sonolento.

- Por que você não deita aqui? No chão não é confortável. -disse. Eu realmente não sabia qual era a dela.

- Não é certo, Di. -murmurei louco para ir.

- Na verdade eu não tô me sentindo bem aqui sozinha, mas seria egoísta se dissesse isso. -riu fraco.

- Di...

- Por favor. -me interrompeu.

- Ta bom. -bufei e peguei meu travesseiro do chão.

   Me deitei ao seu lado, ela ficou um pouco distante do meu corpo e se virou para o outro lado.

- Melhor assim. -falou baixo e suspirou.

   Me perguntei mentalmente por que ela fazia isso comigo, talvez queria mesmo me chatear.

   Eu desejava chegar mais perto dela, abraça-la e sussurrar em seu ouvido que a amo, mas me controlei, apenas afastei uma mexa de cabelo que caía em seu rosto e me virei para o outro lado. As vezes é preciso sofrer calado, ou quase sempre, né?  

(***)

  Di se mexia tanto que parecia que estava dormindo em cima de um formigueiro, durante a noite um de seus braços foi parar no meu rosto, algumas vezes seu pé me acertou as bolas, e seu cabelo resolveu me fazer cócegas no rosto e ir parar na minha boca também. Mas apesar daquela luta de MMA durante a noite, onde só eu apanhava, consegui dormir.

(...)

  Acordei razoavelmente cedo no domingo.10hs. E estava arrumando alguns CDs/DVDs  de bandas que eu nem ouvia mais, vi Di se mexer um pouco e murmurar algo inaudível.

- Arthur? -ela chamou e sorriu ainda de olhos fechados.

   Arthur?  Puta que pariu!  Ela só pode está de brincadeira com a minha cara. Resolvi não falar nada.

- Bom dia, amor. -ela disse.

- Di, acorda direito e depois você fala, cacete. -falei bravo.

   Olhei pra ela que se levantava, coçou os olhos e me olhou.

- Desculpa, Léo. Bom dia. -falou rindo.

- Bom dia. -a olhei com cara de tédio.

- Dormiu bem? -perguntou.

- Ótimo. -ironizei, e parece que ela não entendeu.

- Que bom. -sorriu e veio até a mim, e me beijou no rosto. Fui um pouco seco e apenas recebi o beijo.

   Logo saiu do meu quarto, eu apenas supirei e joguei alguns CDs no chão.

- Esse Arthur é um idiota. -murmurei sozinho e me joguei na cama. Pude sentir o cheiro dela que ficara no travesseiro. Ah como eu odiava gostar dela.

***

   Eu tinha marcado pra almoçar com Kathy, a moça que trabalhava comigo, eu precisava esquecer a Di, mas com Kathy até então era só amizade, ela era ótima.

   Depois de arrumado, desci a escada e vi todo mundo à mesa.

- Oi gente. Tchau gente. -falei já indo até a porta.

- Ué, não vai almoçar? -mamãe me perguntou.

- Estou indo. -pisquei um olho para ela.

- Namorada? -perguntou sorrindo de lado.

- Até mais, galera. -acenei.

- Tchau, Léo. -Di falou séria.

   Apenas sorri e fui. Não demorei muito pra chegar, mas ela já me esperava.

- Olá. -falei e ela se levantou.

- Tudo bem? -perguntou me dando dois beijinhos no rosto .

- Arrã, e você?

- Bem.

- Já viu o que vai pedir?

- Não, estava esperando por você.

- Eu demorei?

- Um pouco.

- Desculpa, sabe como é o trânsito dessa cidade.

- Sem problemas , Leonardo.

Pegamos o cardápio e escolhemos a refeição. Não era um restaurante mega sofisticado, até porque nem um de nós curtia essa mordomia toda, eramos de fato pessoas simples...

- Você está linda. -falei e notei ela corar.

- Obrigada. -disse sorrindo de lado.

   Kathy era morena, tinha seus cabelos cacheados, lábios cheios e um corpo normal, nem exageradamente magra, nem gorda, apenas bonita.

   Suas sombrancelhas me lembravam a Di, que tinha as mesmas levemente grossas, mas bem feitas.

- O que está pensando? -ela perguntou com um olhar confuso.

- Nada. -ri fraco. Eu estava com certeza com uma cara de lerdo enquanto a encarava atento.

- Parecia perdido. -disse.

- Desculpa, é que não dormi muito bem. -esclareci. E o garçom nos trouxe os pratos.

- Ester mora com você, não é? -perguntou subitamente.

- Eu moro numa pensão que é da minha mãe, e  sim, a Ester também mora lá. -quis deixar claro.

- Entendi. -falou séria.

   Comemos em silêncio, eu estava completamente desconfortável, não tinha o que falar, e vez ou outra ela me lembrava Di, o que complicava.

- Leonardo, você está bem? -perguntou me fazendo sentir-me um idiota.

   Com certeza ela Já tinha saído com caras melhores que eu, e não estava acostumada com a falta de papo.

- É... -olhei no relógio. -Eu preciso ir embora.

- Mas já? -perguntou.

- É.. Desculpa, é que tenho um compromisso agora, mas foi ótimo o almoço. -menti me levantando.

- Ahn, tudo bem. -ela se levantou também.

   Deixei o dinheiro da conta na mesa e me despedi, deixando ela desapontada terminado de comer.

- Idiota, é isso que eu sou. -falei caminhando rápido.

   Eu mal conseguia me comportar de forma normal num encontro, por causa de uma mulher que não tá nem aí pra mim, namora um malandro e brinca com meus sentimentos. Mas que diabos eu fiz pra tá passando por isso?

   Cheguei em casa furioso.

- E aí meu filho. Como foi o encontro ?-minha mãe me abordou quando eu estava entrando.

- Eu não tive um encontro Ester  tá em casa?  -falei assim mesmo, sem vírgula nem pausa, tinha pressa.

- Nossa que nervosinho. -minha irmã, Isadora, implicou.

- Acho que ela tá no quarto,  só vive trancada  lá. -falou minha mãe.

- Devia imaginar. Alias nem sei porque perdi esse tempo aqui. -falei e logo me arrependi. Eu não sou grosso desse jeito, muito pelo contrário. -Ai desculpa, mas eu vou indo. -murmurei e subi correndo a escada.

   Bati na porta do quarto dela, que estava entreaberta.

- Pode, entrar. -ela disse. Parecia comer algo .

- Di, eu preciso falar com você. -falei e ela apenas asentiu com a cabeça e  deu uma mordida na maçã que tinha em mãos. -Aquele seu namorado é um bandido. -fui direto ao ponto.

- O que você disse?! -ela quase se engasgou com o que comia.

- Por que você acha que eles desistiram de te assaltar naquele dia? -perguntei sério.

- Você está louco. -desdenhou se levantando.

- Lembra na hora em que aquele cara que estava te segurando, olhou para trás?  Então, quem acenou para ele foi Arthur. -falei e acredite, era verdade.

- Não pira, vai. -falou sem preocupação. -Arthur é boa pessoa. E você está viajando, porque aquele cara estava encapuzado.

- Já troquei tanto olhar raivoso com ele, que reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. -falei sério, ele havia me lançado o mesmo olhar de sempre que a gente se encontrava.

- Léo, para de falar essas coisas! -ela gritou e parecia perturbada.

- Só acho que deveria te avisar, ele é um cara perigoso. -disse.

- Você não deveria tentar incrimina-lo só pra consegui ficar comigo, cara! -ela já estava com raiva e suas palavras me ofendeu. -Quando a gente quer uma coisa, deve conquistar e não fazer isso aí. Você tá sendo tão ridículo. -cuspiu as palavras. Eu mal podia acreditar que ela estava pensando isso de mim.

- Deixa de ser Idiota, eu tô tentando te proteger! -gritei irritado.

- Quer saber, Léo?  Eu não quero que me proteja!  Sabe quantos anos eu tenho?  Vinte, VIN-TE! -repetiu em alto e bom som, me olhando com fúria nos olhos. -Sei muito bem me defender!  Você tá sempre querendo pagar de paizinho, mas na primeira oportunidade, me beija. Eu. não. preciso. que. me. proteja .-falou assim em pausas, como se quisesse deixar bem claro. Eu sentia vontade de chorar, mas não o faria, não na frente dela.

- Não se esqueça que todos os momentos que você precisou, quem estava do teu lado foi o ridículo do Léo. -enfatizei o adjetivo que ela me deu. -E não o babaca do teu namorado!

- Tudo bem Léo, eu reconheço. Mas se tudo que você fizer por mim for pra jogar na minha cara desse jeito, não faça mais nada!  Se afaste logo de mim,como você sugeriu. Agora saia do meu quarto. -falou um pouco mais baixo.

- Ok. Eu só vim te falar o que sei sobre aquele bandido. Mas acho que você não corre risco, já que ele te poupou de ser assaltada, vai ver ele é o chefe daquela quadrilha. -falei abrindo a porta pra sair.

- ME ESQUECE! -ela gritou e chutou a porta.

- Impossível, você mora na minha casa. -reclamei chateado.

- Por pouco tempo! -gritou e pude ouvi seu choro baixo e confuso. 

   Di não podia arrumar outro rival pra mim? Tinha logo que ser um cara da pesada?

  Pois era exatamente o que Arthur era, ele estava envolvido naquele assalto, eu tinha certeza, tudo bem que existe várias motos como a dele, mas seu olhar é único. Por um tempo eu fiquei confuso, mas não era necessário.

   Fui para o meu quarto e deitei na cama, senti o cheiro dela no meu travesseiro, peguei o mesmo e atirei contra a janela fechada.

- Estou cansado disso tudo. -suspirei tentando conter uma lágrima insistente, de rolar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top