𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 8

O tempo é uma coisa valiosa
Assista-o voar como o balançar de um pêndulo
Observe a contagem regressiva até o fim do dia
O relógio faz a vida passar, (é tão irreal)

Linkin Park - In The End.

━━━━▣━━◤◢━━▣━━━━━

𝑀𝑖𝑙𝑙𝑒𝑛𝑛𝑎 𝐴𝑙𝑏𝑢𝑞𝑢𝑒𝑟𝑞𝑢𝑒

Que não tenha sido um erro. Que não tenha sido um erro. Repeti várias vezes a mesma frase enquanto arrumava minhas coisas; a sensação de medo e ansiedade era tão grande ao ponto de me causar enjôo e impedir que eu tomasse ou comesse qualquer coisa. 

Recebi uma breve mensagem de Pietro dizendo que estava vindo, o que tornou tudo ainda mais claustrofóbico e sufocante, poderia recusar, dizer que me arrependo da decisão e pedir a eles que sumissem de minha vida; por outro lado, eu ansiava por aquilo, não posso discordar que é uma oportunidade maravilhosa, apesar das circunstâncias não terem sido as mais convidativa, quer dizer, me refiro a lidar com mafiosos. 

Devido a falta de sono a maior parte estava arrumado, não tive tanto trabalho, decidi me ocupar com um banho e troca de roupas a fim de aliviar a maldita tensão. Anna achou estranho quando contei tudo a ela, e por pedir "educadamente" provas concretas de que o que eu dizia era realmente verdade, optei por mostrá-la minha conta bancária que antes era uma vergonha e agora, era completamente assustadora. Não vivi inteiramente na miséria, mas também nunca vivi um luxo, tudo foi conquistado com imensos esforços, sempre fui o tipo de mulher esforçada, aceitei trabalhos e turnos extras no qual eu não tinha tempo nem para cochilar por cinco minutos, fora que eu tentei muito intercalar os horários para que a faculdade fizesse parte de minhas devidas obrigações diárias. Foram anos tempestuosos, infernais eu diria, me formar foi uma conquista, uma dádiva que me deu orgulho, era maravilhoso ver que meus esforços tinham resultados, mesmo que eu sentisse imensas dores e insônia que me levou a tomar remédios pesados.

O emprego de stripper havia sido uma ideia de Anna, a mesma sempre me viu dançar, participava da minha vida o suficiente para me indicar algo que eu iria gostar, e no começo havia sido difícil, subir em um palco praticamente seminua exigia uma confiança que até hoje eu não obtive, meu corpo é ótimo, magro, esbelto, curvas e tudo mais, minha aparência não é motivo de vergonha alguma, me sinto uma mulher linda e responsável, esforçada e etc…Infelizmente o preconceito veio para pisar em mim e mostrar o quão pobre eu era, ainda sou.

Há tanta coisa que não cabe colocar em palavras agora, o que devo fazer e aceitar essa oportunidade e torcer para que no final, meu destino não seja uma cova rasa.

Terminei de me arrumar no momento exato em que a campainha soou, minhas malas estavam na sala, ajeitei meu cabelo e me apressei para abrir a porta.

Pietro me olhava como se tivesse se assustado, porém logo se recuperou dando um sorriso largo e caloroso. Esse homem é lindo demais.

—Buongiorno cara mia. ( Bom dia, querida. ) —saudou.

Para meu alívio, eu consegui entender perfeitamente o que havia dito.

—Buongiorno. ( Bom Dia. ) —respondi um pouco insegura.

Estudei Italiano a um bom tempo, tempo demais para eu me sentir nervosa, com medo de dizer algo indevido. 

—Percebo que nosso idioma não será um problema para você. —elogiou. —Está pronta para ir? —perguntou.

—Sim, eu acho. Vou me arrepender de ter aceitado isso? —indaguei lhe dando passagem para adentrar o apartamento humilde no qual eu vivi. 

—Certamente espero que não senhorita. —respondeu conforme seus olhos avaliavam o espaço pequeno. O sotaque do próprio era um tanto charmoso, e muito bom de ouvir, tanto dele quanto de seu chefe. 

—Antes que eu me esqueça. Você está muito elegante. —enalteceu Pietro me olhando entre os ombros.

—Obrigada. —agradeci.

Dois homens que segundo Pietro, eram seguranças a mando de Dante, levou minhas malas para o carro luxuoso que aguardava em frente ao prédio, peguei minha bolsa no quarto e ao voltar olhei para o local que foi o único no qual eu me senti verdadeiramente bem vinda, me senti em um verdadeiro lar.  Pietro esperou pacientemente enquanto eu me perdia em lembranças e despedidas silenciosas.  A descida até o térreo foi silenciosa, deixei a chave do apartamento com o porteiro e pedi que entregasse a Anna, havia me despedido dela através de mensagens, prometendo a todo instante que a manteria informada sobre tudo que acontecesse. 

Pedi demissão do único emprego que havia me restado, o dono por sua vez questionou o motivo por eu estar deixando o local, expliquei pacientemente, o homem já não disse mais nada depois de ver Pietro olhando como se fosse matá-lo,  agradeceu por meus serviços, recusei o pagamento que o próprio insistia em me dar e me despedi da boate, do pole dance e dos funcionários que fiz amizades ao longo do tempo. 

Fomos ao hotel onde estavam hospedados e evitei fazer uma expressão de surpresa ao ver o quão caro era esse lugar, para pessoas importantes como eles, dinheiro jamais seria um problema, diferente de nós pobres que quando vemos isso, ficamos totalmente chocados e reclamando mentalmente até da água, o valor tão alto como se tivesse sido ungida pelo próprio Deus. Dante estava no restaurante do hotel, suas roupas sempre finas com a marca evidente da Gucci, as tatuagens chamativas e um olhar que claramente faria qualquer um se ajoelhar perante si e implorar por sua alma e corpo. 

—É um prazer vê-la novamente, senhorita Albuquerque. —ditou fazendo um gesto para que eu tomasse o assento à sua frente.

—Digo o mesmo. 

Entreguei o documento já assinado, o moreno tatuado o pegou para lê-lo, fiquei olhando o quanto sua aparência era tão chamativa quanto um maldito imã, os dedos longos e tatuados adornados de anéis, a postura impecável e o cheiro amadeirado que pelo amor de Deus, era muito para minha sanidade mental. Por olhar para ele e Pietro eu custava acreditar que tudo era real. 

—É ótimo que tenha aceitado a proposta. —falou enquanto colocava os papéis de volta ao envelope e entregava a Pietro que estava de pé, a feição fechada, o maxilar um pouco travado. 

—Espero não estar me equivocando ao aceitar. Confesso que isso tudo não me parece real. —crispei, meus dedos tremiam um pouco, não sei se por medo, ansiedade ou intimidação.

Dante sorriu, ajeitou o paletó sobre o corpo de modo despojado, seus dedos tamborilam na mesa  e sua voz grossa e arrastada me deixavam arrepiada a cada palavra proferida.

—É real. Pode acreditar.Tem alguma observação a me fazer ou algo do tipo? —questionou tranquilamente.

Pensei por alguns segundos, não nego que milhares de perguntas me surgiram, preocupações com minha segurança principalmente. Pietro se afastou para conversar com outros seguranças mas não tardou a voltar, por incrível que pareça, eu me sentia confortável com ambos, um conforto totalmente estranho.

—Na verdade, sim.Você deixou claro sobre a oportunidade e também o seu favor. Me pergunto. Se eu serei sua noiva de mentira, não acha que seria melhor eu não, bom. —parei por um momento, suspirei e prosseguir. —Acho melhor eu não trabalhar em sua boate, certo? Se precisa de uma imagem a ser passada a seu pai, é justo que façamos direito. 

Dante me observou, através do seu olhar eu afirmo que todos meus sentimentos estão expostos, nunca fui de esconder nada do que sinto ou penso, e isso era um porre às vezes . 

—Como preferir senhorita. Acredito que optou por isso, por estar com medo certo? Eu não vou forçá-la a nada Millenna. Se é o que deseja, então será feito sem precedentes. Caso mude de ideia, estarei a todo ouvidos, não se preocupe. 

Graças a Deus. Achei que ficaria bravo com minha suposição, ou romperia todo o acordo. Paranóia é uma merda, sem sombra de dúvidas. Enquanto tomávamos um café da manhã, já que o horário ainda permitia a tal, Dante checava algo no celular, e o meu vibrou no bolso interno do blazer me fazendo dar um leve susto, coloquei a xícara com cuidado no pires e peguei o aparelho, meu estômago pesou ao ver que era Vincent. 

—Millenna. Está tudo bem? —perguntou Dante tirando minha atenção da mensagem. 

—É...na verdade não, quero me desculpar desde já, senhor Greco. Eu tenho problemas com meu suposto ex. Recebi uma mensagem dele agora. — Minha voz estava trêmula, pude sentir meus olhos marejados. Era o medo, um medo que eu conhecia muito bem. 

—Deixe-me ver.—pediu autoritário, porém não de maneira grosseira. 

Entreguei o celular, sinceramente minha vida precisa ter paz, preciso que Vincent pare de me infernizar. Droga. 

—Estou ciente do que houve com você Millenna. —falou, entregando meu celular. —Ele não chegará perto de você novamente. Jamais estará sozinha, tanto eu, quanto Pietro iremos protegê-la, e era sobre isso que eu pretendia conversar com você sobre. —Dante fez um leve silêncio antes de continuar. —Enquanto estiver sobre meus domínios, terá proteção imediata. Tanto de seu ex, quanto de minha organização e meu pai. Mesmo que eu não esteja por perto, Pietro estará e vice e versa, não precisará ter medo, pois sempre estaremos por perto. 

Concordei silenciosamente, meu corpo ainda tremia, Vincent havia mandado uma mensagem dizendo com toda convicção de que faria de minha vida um inferno ainda maior do que já havia feito, estou ciente de que Dante é poderoso, e mesmo assim isso não me fez ficar aliviada após a ameaça de meu ex.

Minha fome que estava pouca e agora tornou-se absolutamente nula, agradeci pelo chá que foi a única coisa que consegui tomar antes da mensagem, Dante pediu a conta e logo me acompanhou para fora do restaurante.

—Há um quarto que disponibilizei para você. Iremos partir ao anoitecer, pode ficar à vontade para descansar. Tenho outros assuntos agora, não se preocupe, Pietro lhe fará companhia seguido de outros dois por precaução. —avisou o tatuado.

Sua altura era imensa, talvez tivesse uns dois metros, visto  pelo meu que é só um metro e cinquenta e cinco, Pietro também era alto, muito aliás, é intimidador porém muito charmoso e elegante como eu sempre menciono desde que os conheci, esta ficando bem repetitivo, preciso parar com isso. 

—Obrigada. —agradeci.

Uma funcionária do hotel me acompanhou até o quarto que ficava no mesmo corredor que a de Dante e Pietro, fiquei boquiaberta ao ver o quão imenso é o quarto, era maior que meu apartamento, tudo luxuoso e rústico, a cama imensa posta quase no centro do quarto, a vista linda e aconchegante, minha mala estava próximo da pequena mesa que havia ali, como Pietro sabia que ali havia meus pertences necessários eu não fazia ideia.

Era um novo começo. Uma nova vida, diferente de tudo que eu havia vivido antes. Meu medo é justamente esse, tudo que é novo e diferente me causava arrepios, com toda certeza não será só em mim que isso acontecia.

Queria me sentir feliz, no momento sinto só desconforto e medo. Talvez é aquilo de ver para crer, não sei bem. Só saberei quando chegarmos à Itália.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top