𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 56
Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em suas vidas.
Charles Bukowski
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PIETRO BIANCHI
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Pequenas gotículas de água escorriam por uma fenda nas pedras, caindo como se fossem chumbo, o ruído era insuportável. Pietro não estava suspenso dessa vez, o tornozelo estava preso por correntes, estava fraco e ferido ao extremo, Enzo não poupou esforços em fazê-lo sangrar de muitas formas possíveis; o ex loiro perdeu a noção do tempo, perdeu a esperança que quase não tinha, já que não fez menção em tentar fugir.
O corpo seminu estava quase congelado, mas Bianchi mal sentia, estava entorpecido demais para sentir qualquer coisa. — por um milésimo de segundo, sentiu dor, sentiu o peso dos ferimentos, das marcas e das cicatrizes que com certeza carregará para sempre consigo.
A cela era fria demais, escura demais, nem a luz do sol que adentrava o local num certo horário aquecia; pois a escuridão abrupta era invencível, forte demais para que o calor surja e que a luz brilhe. Pietro se via sendo puxado para um buraco negro, de onde não sairia nunca mais, pois tudo se resumiria a nada, incluindo sua miserável existência.
Lembrar da última vez que dormiu, ou comeu algo era complicado, o frio ao menos fazia algo de útil, mantinha as necessidades humanas indetectáveis, imaginava que se sentisse fome, frio, e dentre outras sensações, ficaria desesperado, talvez até tentado a implorar para que Enzo seja um pouco piedoso. — os lumes azuis sendo facilmente abraçado pelo traço verde fitaram os feixes de luz que iluminavam um ponto em específico da cela pútrida, Bianchi estava encolhido na penumbra, o corpo escorado na pedra frígida, o sangue seco cobrindo a pele que antes era tão alva e macia. Os cabelos escuros estavam oleosos e manchados de sangue, o rosto era de fato, um local que Enzo não fez questão de destruir, mas havia sujeira, sangue seco e cortes superficiais.
O restante do corpo estava destruído, sua mente ainda que nublada, dava certo alívio ao homem, pois lembrava-o de momentos preciosos com Dante, entre um flash e outro, lembrava do sorriso gostoso do mais velho, dos olhos azuis intensos num momento e suaves em outros; e nesse mar de memórias, se pegou lembrando de Millenna, do quanto seu surgimento foi uma benção e também uma maldição, Pietro sentia tanto por ela, quanto sentia por Dante.
Era amor.
O sentimento mais genuíno e puro.
Era engraçado porque o ex loiro pensava com afinco que sempre amaria Dante, que o tatuado era e sempre seria seu verdadeiro amor. E de fato é. Mas Millenna havia se tornado o mesmo, adentrou ambas vidas como uma luz, uma esperança que ambos tanto almejou. — Bianchi sentia uma gratidão imensurável pela morena. E a paixão que cultiva pela garota, era ainda mais gratificante.
Passos ecoaram pelo corredor, Pietro mesmo com dificuldade ficou de pé, apoiando na parede com medo de acabar cedendo, a cada passo, a cada ruído dos sapatos absurdamente caros, o ex loiro sentia o coração errar as batidas e o medo agarrar sua garganta, impedindo-o de proferir uma palavra sequer. — Enzo sorriu ao vê-lo, pegou a chave no bolso da calça social impecável, o objeto girou, o ranger infernal fez Pietro travar a mandíbula, pois incomodava-o dolorosamente.
— Buongiorno, uccellino. ( Bom dia, passarinho ). — saudou adentrando a cela elegantemente e fechando-a com uma calma psicótica.
Pietro não moveu um músculo, observou o homem dar passos lentos até si, segurar seu rosto com a canhota e ficar tão perto que Bianchi pode sentir o cheiro amadeirado de um perfume excepcionalmente caro, a palma quente parecia queimar a sua que é tão fria.
— 'Tão deplorável. — murmurou contra a face alheia. — Sinceramente, nunca pensei que o veria desse jeito Pietro. — sorriu ladino. — Vulnerável. Acuado como um passarinho que caiu do ninho. — debochou, soltando o rosto do menor e afastando-se.
Seu olhar denunciava suas intenções, com toda certeza, Enzo voltou revigorado, pronto para fazer da existência de Pietro a mais miserável e degradante possível.
— Você facilita tanto para mim. Cadê o homem firme e imponente? Hum? Onde está Pietro Bianchi. O fiel escudeiro de Dante? — as perguntas eram retóricas, ainda que não fosse, o ex loiro não responderia nenhuma delas, pois já era humilhante o suficiente ter aceitado tudo isso sem pestanejar. Acontece que Bianchi estava cansado demais emocionalmente para ter forças para lutar contra Enzo, e por conta disso, aceitou tudo aquilo e assim o sustentaria.
Até seu último suspiro.
— Melhor começarmos. Estou ansioso. — o tom de voz soou como se o homem estivesse feliz com a tortura. E Enzo estava.
E tal felicidade custaria mais ao corpo de Pietro e seu estado mental que já não era grande coisa.
— Andiamo a ciò che conta davvero, il mio bellissimo uccellino. ( Vamos ao que realmente interessa, meu belo passarinho )
[...]
DANTE GRECCO
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Tudo que era preciso foi posto no porta malas do suv, Millenna se acomodou no banco do passageiro enquanto o moreno assumia nervoso o do motorista, não tardou para que os pneus cantassem sobre o piso frio e avançasse sem pudor, saindo da garagem rumo a saída da propriedade. —ambos estavam nervosos e temerosos pelo que poderiam encontrar, mas nenhum deles estava pronto para ver o real estado de Pietro. Entretanto, compreendiam que teriam que ser fortes.
— Dan. Fique calmo. — pediu a morena.
— Não existe calma, não é possível ficar calmo, quando Pietro está sofrendo. — grunhiu apertando o volante com força.
— Eu sei.
Os minutos seguintes foram silenciosos, Dante estava perdido em sua própria dor, Millenna também, porém parecia que estava mais centrada, visto pelo que fizera com Irina, achou que surtaria, pelo contrário, sentiu alívio, pela primeira vez, sentiu alívio, calmo, mesmo que o que fez fosse terrivelmente errado. Todavia, a morena faria de novo, e de novo, e de novo, se fosse por seus homens, faria com todo prazer.
— Pietro sempre foi o mais forte. — Dante começou a dizer, sem desviar os olhos da estrada que era iluminava pelo farol do carro. —Todos esses anos ele se mantinha firme para que eu pudesse desmoronar, me mantinha em pé quando o que eu mais queria era morrer, era receber a morte como se não passasse de uma amiga de longa data. — as palavras eram ditas conforme pensava, parecia estar falando consigo mesmo, então Millenna não ousou interrompê-lo, queria ouvi-lo.
— Sei o que irá me perguntar Millenna. — ditou ao ouvir o suspiro longo da mulher.
— Fui adotado por Joseph quando eu tinha nove anos. Minha família biológica foi massacrada quando eu tinha apenas oito, vi tudo. — o mesmo parou, mas não tardou a continuar. — Desde então Joseph fez da minha vida um tremendo inferno. Me torturou por anos, pois segundo ele, era assim que eu me fortaleceria o suficiente para assumir seu lugar na máfia. — um sorriso triste formou-se nos lábios finos e rachados do moreno.
Millenna notou uma lágrima solitária escorrer pela feição alheia, que logo foi capturada como se não existisse.
— Pietro foi o único que me deu afago, que me salvou de mim mesmo, me mostrando que eu podia sim sobreviver a Joseph. Sobreviver a máfia. A toda merda que a envolve. — continuou. — Me apaixonei perdidamente por ele, antes mesmo de compreender minha sexualidade. Claro que, ele sempre soube da dele mas nunca, em hipótese alguma, me forçou a algo, pelo contrário, cuidou de mim, me protegeu como podia. — outro sorriso se formou. — Me ensinou todos os esconderijos da mansão, me guiou para um sentimento que achei que não poderia sentir. E eu o amo incondicionalmente por isso. — a voz rouca estava embargada pelas lembranças.
— Sinto muito por tudo que teve que passar Dan. Realmente sinto muito. Porém sou eternamente grata por terem tido um ao outro. E ainda ter. — frisou o mais firme que pôde.
— Não posso perdê-lo. Não posso perder você. — a canhota desligou pela mão da morena que segurou apertando com carinho. — Sou louco por vocês e sinto que destruiria tudo e todos para protegê-los.
— Nós faríamos o mesmo.
— Eu sei. Quando tivermos nosso homem conosco, nunca os perderei de vista. Nunca mais. — prometeu rígido.
Cerca de uma hora e meia depois, o carro foi deitado em meio às árvores altas, para não correr o risco de serem pegos, Dante desligou o farol minutos antes; Millenna saiu do veículo com cuidado, as armas foram pegos, já destravada, pronta para ser descarregada. Grecco deu a volta e segurou a mão de sua esposa para guiá-la diante da penumbra. Caminharam por cerca de quinze minutos até chegarem num castelo em ruínas, não fizeram barulho, por pouco não respiravam, preocupados de surgir alguém.
— Parece não haver segurança. O que indica que quem quer que esteja com Pietro, está sozinho. — Dante sussurrou no ouvido da morena que apertou sua mão, num sinal de ter concordado com o que o homem havia dito.
Juntos procuraram pela passagem que daria para o subterrâneo, segundo o moreno, era ali que eram mantidas as celas. Uma luz tremeluzia no final da escadaria um tanto destruídas devida ao abandono; Dante não fez questão de pegar a arma, já Millenna não excitou ao pegar a dela. Um grito de dor ecoou até os dois que se assustaram de imediato, mandaram para o inferno o plano e correram, rumo a cela de onde o grito veio.
E ali, se depararam com Pietro preso por correntes, novamente suspenso, sangrando e desmaiado, de costas para os dois, estava Enzo, sorrindo ao ver que o ex loiro desmaiara pela exaustão, pois estavam naquela maldita sessão de tortura por horas e horas. — Dante num ímpeto de fúria, chutou as barras de ferro com tanta força que cedeu em instantes e caiu, levantando poeira e fazendo um barulho alto e excruciante.
— SEU MALDITO. — gritou avançando contra Enzo, pegando-o pelo pescoço.
— Como encontrou este lugar? — questionou tentando se soltar, sem sucesso algum.
Quando mais Enzo tentava, mais a mão do tatuado se fechava contra a traquéia alheia.
— Dante! — Millenna chama sua atenção.
— Solte Pietro, tente cuidar o máximo possível dos ferimentos. — pediu enquanto os lumes queimavam sob as orbes escuras de Enzo.
— Lembre-se do que combinamos Dan. Por favor.
Como se fosse uma injeção de realidade, Dante voltou a si, encarou Enzo e o puxou para fora da cela, ignorando a voz do homem que ao seu ver, era detestável.
Millenna correu até Bianchi, soltou as correntes e chorando copiosamente, apoiou a cabeça do ex loiro em seu colo, acariciando a feição ferida e o corpo tão sem vida. — com cuidado, fez o possível com os ferimentos, um era pior que o outro e a falta de uma boa iluminação, dificultava o trabalho, ainda sim, a morena rasgou um pedaço de sua camisa e improvisou um torniquete na coxa direita que notou haver um ferimento mais grave; o restante não tinha o que ser feito, ao menos não ali. A jaqueta foi tirada de seu corpo e posta sobre o peito nu de Pietro, tentando desesperadamente aquecê-lo.
— Me perdoe por demorar tanto meu anjo. — sussurrou a mulher, soluçando e limpando as lágrimas para que não pingasse na testa de seu homem.
Dante voltou rápido, não olhou para a Millena, se agachou, pegando Bianchi nos braços e o apertando contra o peito.
— Estamos aqui amore mio. — sussurrou mesmo que Pietro não fosse ouvir. — Iremos cuidar de você mio angelo. Ficará tudo bem. — prometeu baixinho.
Logo os três saíram do subterrâneo, Dante levava Pietro como se não pesasse nada, a morena não ousou perguntar onde Enzo estava. Tinham algo muito mais importante para tratar.
E esse importante era Pietro, que precisará deles do mesmo jeito que precisa de oxigênio.
A vingança seria adiada.
Mas quando voltar a ativa.
Não haverá um Deus para quem pedir socorro.
Pois há somente um lugar para onde todos deram mandados.
Para as chamas escaldantes do Inferno.
Onde quem rege é aquele que entende muito bem de punição. E ele com certeza ficará grato ao ponto de vir buscar pessoalmente as almas desgraçadas que não demorará para que Dante Grecco e Millenna Grecco as recolha.
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Até o próximo cap ...
Caso aja erros de pontual e erro ortográfico peço desculpas....
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