𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 51

(Tente nos machucar mas saiba que carregaremos nossas cicatrizes)

I Prevail 

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O karma por vezes é quase que uma espécie de anti inferno, pois parece ser uma caminho predestinado a ambos homens que esperavam por alguma resposta na recepção a quase meia hora. Pietro estava atônito, encarando o monitor que levava uma eternidade para mudar os números que condizem com a senha correspondente dos supostos pacientes que aguardavam entediados. 

Dante caminhava de um lado a outro, sentindo as mãos formigarem no mesmo segundo em que uma fisgada de dor atingiu seu coração. — nervosismo e ansiedade têm sido suas sensações cotidianas, e a constatação de que seu aniversário estava próximo, o deixava ainda mais inquieto. 

Como quem ora sem de fato orar de verdade, um homem cuja vestimenta junto a um jaleco, fez de imediato o tatuado o autodenominar médico, ao se aproximar do moreno, o mesmo pode ler o nome e sobrenome e abaixo o que havia notado. 

— Boa noite senhor. Me chamo Maurizio, é o marido da senhora Grecco, certo?

— Sim. 

— Venha comigo, per favore. 

Pietro se levantou para acompanhar, o médico não refutou, apenas os guiou até sua respectiva sala que ficava no primeiro andar do imenso hospital particular. Grecco foi o primeiro a entrar quando assim lhe foi permitido, o ex- loiro foi o último que ao adentrar, fechou a porta, notando as mãos trêmulas e a respiração um tanto fatigada.

— Poderia me dizer o que aconteceu? — o homem de cabelos brancos com fios acidentados perguntou, enquanto se ocupava com a ficha da paciente em questão. 

Dante explicou o pouco que conseguiu notar, Bianchi nada dissera, continuou em silêncio e pertinho da porta que era tão branca quanto a pequena sala, o cheiro de álcool que ardia o nariz, entretanto não alterou o semblante fechado e o maxilar completamente travado. 

— Compreendo. Bom. Nós fizemos alguns exames, uns iram demorar a sair o resultado, já outros estão normais. — Maurizio suspirou. — Ela terá que ficar aqui até o outro exame sair, para que possamos conversar com mais precisão sobre o estado em que ela chegou. — explicou quase robótico. 

Grecco cerrou as mãos em punho, tinha coisa de Vincent no meio, disso não tinha dúvidas, ainda sim, não pensava que estaria novamente em um hospital, aflito, desesperado pela saúde quase inóspito de sua esposa. — o homem trajado num jaleco branco impecável, os conduziu ao quarto onde a mulher estava, infelizmente foi necessário seda-la pois as dores que sentiam pareciam rasgá-la de dentro para fora. 

Minutos depois, apenas o ruído dos equipamentos ligados à mulher preenchiam o silêncio, Dante fitava a rua através da janela enquanto Pietro mantinha-se próximo a porta como um segurança.

Num ato impensado, Grecco acertou um soco na parede com tanta força que seu punho atravessou a primeira camada de concreto, Bianchi se assustou de imediato indo depressa até o mais velho. 

— Per Dio.  Sei pazzo? ( Por Deus. Está louco? ) — exclama Pietro. — Se machucou? Deixe-me ver. 

— Não me toque. Per favore. — pediu com a voz entrecortada. 

Bianchi compreendia, ainda sim, se preocupava muito com o moreno, temia que tudo pesasse demais sobre seus ombros, ao ponto de levá-lo a cometer atos impiedosos e que trariam consequências irreparáveis. — a dor irradiou como um raio pelos dedos, e punho de Dante, que tampouco se importou, apenas colocou o polegar no lugar que havia se deslocado e se sentou na cadeira, encarando o estrago que havia feito na parede pálida. Incrível como nada conseguia se fixar em sua vida; porque tudo precisa ser tão complicado, tão caótico? Pensou Dante, franzindo o cenho e fingindo não sentir a dor que alfinetava seu coração como uma maldita agulha em brasa. 

— Dan. Lembre-se do que sempre lhe disse. —murmurou o ex loiro, baixinho. — Rimani in piedi.  Mostra forza anche se si sta sgretolando. ( Mantenha-se de pé. Demonstra força mesmo que esteja desmoronando. ) — citou sem desviar o olhar do tatuado. 

Anos a fio foram tempos em que a morte era a melhor saída, Grecco sentia que deveria ser sozinho, assim evitaria decepções, evitaria a dor da perda; pois parecia que seu nascimento havia sido regado a dores eternas. Os lumes azuis foram de encontro o leito, onde Millenna permanecia dormindo, o mesmo perguntava-se o motivo para a mulher ainda estar ligada à Vincent. Ou melhor. Não compreendia com exatidão o fato de Genovese obter controle total sobre a garota, ainda que de longe. Tantas perguntas, odiava não ter resposta, detestava não ter controle sobre algo ou alguém. — Pietro secou uma lágrima solitária que não acorreu por seu rosto, umedeceu os lábios e respirou profundamente.

— Irei para a mansão, ver como tudo está. — avisou. — Entro em contato em breve. 

A porta já havia sido aberta, Dante não se moveu, muito menos dera sinal de que ouvira algo do mais novo; contendo o ímpeto de abraçar o mais velho, Pietro apenas saiu fechando a porta devagar. Rumou até a escadaria que o levaria para o andar inferior onde se encontrava a saída. Mandaria outro segurança para proteger seu chefe, pois ainda que seu coração sangrasse, Bianchi era forte como uma muralha. Seu interior sangrava, mas seu exterior se mantinha firme e indestrutível. 

Em instantes, o ex- loiro dirigia em alta velocidade em direção a mansão, havia contado aos seguranças para avisar sobre sua ida. Havia mensagens insistentes de Irina, o que claramente foi ignorado pelo homem. Tinha problemas demais e a maldita mulher era uma delas. 

O veículo diminuiu de velocidade ao estar próximo aos portões da mansão, Pietro esperou os portões se abrirem, dirigiu até a entrada da garagem, seu corpo pareceu aquecer e resfriar ao mesmo tempo, tinha algo errado, seus sentidos jamais o traíram, por isso, pegou a arma no porta luvas, colocando no cós do jeans. Saindo do carro, caminhou atento até as enormes portas, ao primeiro andar para dentro do local, parou ao avistar Enzo o encarar como se visse o próprio Diabo adentrando uma igreja. 

— Ti stavo aspettando. ( Estava à sua espera ) — o timbre grave soou. 

— Posso sapere il motivo? ( Posso saber o motivo? ) — Bianchi questionou.

Enzo sorriu largo, olhando alguém à sua esquerda, Bianchi acompanhou o olhar e fitou Joseph vindo até onde estava. Cogitar pegar a arma não lhe ajudaria agora, o ex- loiro sabia que iria acontecer algo, não era religioso, mas ao ouvir as palavras frígidas de seu antigo chefe, sentiu o chão sob seus pés cederem. 

— Pensavate di ingannarmi per sempre signor Bianchi? ( Pensou que iria me enganar para sempre senhor Bianchi? ) — a voz envelhecida de Joseph demonstrava o que mais temia. 

O que sempre temeu por anos e anos. 

Pietro não conseguia dizer uma só palavra, estava atento demais. 

Senhor Grecco sorriu ladino dando carta branca para Enzo, que sorriu para Pietro enquanto descia os últimos degraus da escadaria.

[...]

Millenna despertou. O quarto já estava bem iluminado, as cortinas abertas permitiam que a luz da manhã adentrasse o quarto. Dante não havia pregado os olhos, portanto levantou-se de onde estava e foi até sua esposa que sorriu aliviada ao sentir o calor das mãos alheias em seu rosto. 

— Como se sente ? — Grecco perguntou em busca de um alívio ainda maior, que pudesse acalentar seu interior desesperado.

— Melhor. 

— Fico feliz piccola. Chamarei o médico para te ver. Volto já . — avisou saindo rápido do quarto.

Não tardou para voltar acompanhado do doutor Maurizio. Que sorriu gentilmente ao se aproximar de Millenna. 

— Sente alguma dor?

— Não.

— Que bom. O resultado do seu exame saiu. E antes que eu explique, preciso perguntar algo. 

A morena encarou Grecco um tanto confusa, sentia medo mas fez um gesto para que o médico prosseguisse. 

— A senhorita já sofreu algum aborto? 

Millenna arregalou os olhos. 

— O que? Não. Nunca engravidei. 

Maurizio franziu o cenho.

— Certeza?

— Absoluta. Porque? 

Maurizio abriu o pequeno envelope onde se encontrava o resultado do exame da paciente.

— Seu útero está muito danificado. Sendo mais específico. Há vestígios de feto em seu útero. 

Dante se assustou de imediato e Millenna ficou tão pálida quanto. 

— Doutor. Isso é praticamente impossível. 

— Está no laudo, senhorita. Me perguntei inúmeras vezes sobre, pois não acreditei quando vi. — com um olhar de pena, o médico continuou. — Precisaríamos colher uma amostra, pois acredito que não foi só um aborto que sofreu. E sim vários. 

A morena começou a chorar assustada. Tentando lembrar de algo, sem encontrar absolutamente nada.

— Mantenha a calma, senhorita por favor. Sua saúde é frágil. — avisou, pronto para chamar algum enfermeiro. 

— Eu não me lembro de nada. Dan por favor, me ajuda. — Millenna súplica agarrada a destra alheia. 

— Respire bambina. Ficará tudo bem, cuidaremos disso eu prometo. 

— Quanto tempo ela precisará ficar ? — Grecco pergunta sem fitar o doutor. 

— Creio que em observação, temos que colher alguma amostra, e depois do resultado, decidimos se será necessário remover ou não o útero. — respondeu. 

Num assentir, o médico decidiu deixá-los a sós, mas prometendo que logo um enfermeiro viria trazer remédios e o desjejum da paciente. Millenna chorou copiosamente, sentindo o coração acelerar e o medo lhe tomar por completo mais uma vez. 

Não tinha resposta para nenhuma das perguntas que foram feitas e outras que ainda serão feitas conforme o procedimento. Algo lhe escapava, entretanto não sabia com exatidão o que era. 

Só o que sabia, era que Vincent tinha algo a ver. 

— Amore mio. Ficará tudo bem. — Dante murmurou enquanto acariciava os cabelos de sua esposa e buscava confortá-la. 

— E se não ficar? E se eu morrer? — a voz falhava confirme tentava falar sem soluçar.

—  Não irá. Não irei permitir amoré. 

Demorou alguns minutos para que Millenna se acalmasse, Grecco a deixou tomando café mas certificando-se de que uma enfermeira ficaria para prestar serviços caso a paciente precise. Seguindo pelo corredor até o elevador, o moreno tentou ligar para Pietro, a ligação caia direto na caixa postar e isso não era normal. Uma sensação estranha queimou em seu peito, a dor que sentia no punho direito se dissipou dando lugar a sensação de luto que o fez chorar sem saber direito o porquê. 

Tentou ligar de novo, de novo e de novo. E quando iria tentar novamente, o celular vibrou mostrando o nome de Joseph na tela. 

Atendendo a contragosto ouviu rápido a voz rouca e anasalada. 

— Dobbiamo parlare.  Vieni a casa, ti aspetto. (Temos que conversar. Venha para casa, estarei à sua espera. ) — ordenou, encerrando a chamada em seguida. 

Dante suspirou cansado. 

Algo estava acontecendo, ou prestes a acontecer.

A guerra bateu por fim em sua porta. 

Agora é lutar ou ser morto. 

E o próprio não sabe qual das duas é pior, visto que o mundo parece estar sob seus ombros. E isso era tão exaustivo que Grecco quis gritar de raiva e medo. 

Sem saída, Dante deixou ordens para que avisassem a sua esposa que voltaria em breve, chamou um táxi e foi para casa. 

No caminho tentava ligar para Pietro, quanto mais tentava, mais sentia medo. 

A sensação que sentiu quando criança se apoçou por seu corpo. 

Era luto.

Era uma sensação de perda. 

E tal sensação doía numa intensidade avassaladora. 

A morte o rondava e o próprio tinha ciência sobre mas não quis de fato se certificar, preferia crer que tudo estava bem.

Mas não está. 

E irá piorar em breve.

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Até o próximo cap

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