𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 44
A gente pode crescer perdendo a batalha
Não deixe a vida escorrer das mãos
Palavras são armas
Estão apontadas pro peito de quem tentar me impedir
…
A gente aprende a viver
No fio da navalha
De que adianta viver em vão
Não deixe a vida escorrer das mãos
Fresno
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A chuva depreciava cada pedacinho da Itália. Millenna se encontrava na sala de treinamento, alguns fios de seus cabelos se soltaram do rabo de cavalo, grudando em seu pescoço onde o suor se concentrava mais. A cada soco no saco de areia, a morena sentia sua raiva se esvaindo, o medo escorria por sua pele, e tudo o que via diante de si eram lampejos de Vincent. Via seu sorriso maldito, seus olhos queimando numa fome sádica por cada gota de sangue de seu corpo. — isso a fazia socar repetidas vezes, chupar e grunhir de raiva e repugnância.
Não se ouvia nada além das gotas de chuva chocando-se contra as inúmeras janelas, e seu punho acertando com brutalidade o saco de areia.
A respiração quase entrecortada foi o gatilho para que lhe desse alguns minutos de descanso, Millenna caminhou para fora do tatame, pegando uma toalha de rosto limpa e a garrafa d'água que deixou em cima da cadeira; a mesma tomou goles longos, sentindo o líquido gelado refrescar e saciar sua sede, algumas gotas escaparam por seus lábios, escorrendo por seu queixo e pescoço. Próximo da porta uma figura se manteve inerte até que a mulher por fim o notasse, um susto a fez tossir com a água.
— Mi scusi per averla spaventata signora Greco. ( Me desculpe por assustá-la senhora Grecco ) — pediu sereno.
— Quanto tempo sei stato lì? ( A quanto tempo está parado aí ? ) — perguntou ainda ofegante.
— Appena arrivato. Ero concentrato e non volevo disturbarla. ( Acabei de chegar. Estava concentrada e eu não queria Incomodá-la )
Uma sensação estranha tomou seu corpo, fazendo-a sentir vergonha e desconforto por estar ali, sozinha, com apenas um short curto e tecido negro e um top da mesma cor, ainda com um dos seguranças. Roupas não eram convite, ainda sim, sentia medo, repulsa e culpa por ter nascido mulher.
É triste tal pensamentos, visto por tudo o que passou durante os anos, era compreensível sua tamanha desconfiança pelos homens, e seu medo avassalador. — por isso, fez questão de sair o mais depressa dali .
— Non devi temermi. Sono una delle guardie giurate e Dante mi ha chiesto di chiamarla ( A senhora não precisa temer a mim. Sou um dos seguranças e Dante me pediu para chama-la ) — tratou de dizer ao ver o nervosismo e a tensão alheia.
— Come ti chiami? ( Qual seu nome? ) — questionou rígida.
— Enzo, signora.
Millenna não ousou dizer mais nada, o olhar que era direcionado lhe deixou com enjôo, com vontade de arrancar sua pele até que não se sentisse mais suja.
— lo troverò. ( Vou encontrá-lo ) — murmurou prestes a sair.
Sua mão foi de encontro a maçaneta da porta quando o homem a segurou pelo punho, a pele quente, quase febril a se assustar. O homem não apertou, mas a pressão que fazia ali por pouco não expulsou o ar de seus pulmões. — a mulher se virou para encará-lo.
— Lasciami andare. Cosa pensi di fare ? ( Me solta. O que pensa que está fazendo? ) — o pânico foi sufocado pelo choro que vinha.
Enzo sorriu, era muito maior que a mulher, visto que não tinha tempo, se aproximou até que seu rosto estivesse a altura do da senhora Grecco.
— Attenzione. Non fidarti ciecamente della persona con cui condividi il letto. ( Cuidado. Não confie cegamente naquele com quem compartilha a cama. ) — o timbre quase sobrenatural se findou no interior da mulher.
Se fixando no coração que já é tão frágil.
— Sta per rovinarlo. ( Vai se foder ) — gritou empurrando o homem que não moveu um milímetro sequer.
O aperto tornou-se intensa e insuportável, Millenna gemeu de dor e Enzo sorriu. A presença do homem subjulgava a sua, se sentir inferior, era uma desgraça sem precedentes. A mulher chorou contido tentando empurrá-lo.
— Quando arriva la verità. Vedrai che quelli che hai fatto come un'ancora saranno la causa della tua morte. ( Quando a verdade vir. Vai ver que aqueles que fez de âncora, serão o motivo da sua morte. ) — rosnou o acastanhado, soltando-a em seguida.
Millenna abriu a porta e saiu correndo, atravessando rápido o corredor, virando a direita, passando pela sala principal rumo às escadas que a levariam para o quarto. Ao adentrar o quarto já arrumado, a porta foi fechada com força, o baque pareceu estremecer, tanto a porta quando as redor; a garrafa que segurava foi jogada no chão, ainda desnorteada, ouvindo a voz maldita de Enzo sussurrando em seu ouvido, Millenna correu para o banheiro, arrancando as roupas rápido e ligando o registro, deixando a água o mais gélida possível. Um trovão rasgou o véu escuro, a chuva aumentou de intensidade.
Enquanto o mundo caía do lado de fora, Millenna chorava debaixo da água fria, tremendo, se encolhendo dentro do box de vidro fumê. Ouvindo os trovões soam como trombetas, enquanto a água fria a cobria.
O dia anterior veio por sua mente, lembrar do que havia feito junto com Dante e Pietro seria arrebatador se não tivesse vindo num momento que estava procurando meios de bloquear a crise de pânico que sorria para si como uma velha amiga. — além de ter que lidar com seus traumas, com o sentimento entre os homens que a protegem, com as ameaças de Vincent. Millenna terá que lidar com as verdades que surgiram pela mansão.
E ainda por cima. Precisa ficar o mais longe de Enzo. Pois sua aparição não foi coincidência.
— S- se concentra Millenna. V-voce prometeu não se abalar. — murmurou para si mesma. — V-voce p-prometeu. Se acalma.
As palavras quase não saiam, a crise foi abafado com muito custo, seu corpo nu tremeria, as mãos estavam roxas por conta da água quase congelante. Millenna tomou banho rápido e saiu em seguida para vestir roupas quentes.
Diante ao espelho, penteeou seus cabelos, o conjunto de moletom a aqueciam devagar, os lumes estava um pouco sem vida, desesperados junto ao seu coração. Não havia lugar seguro para si. Não estava segura junto a Dante, e muito menos junta a Pietro. Enzo a ameaçou, a intimidou porque sabia que ela seria fraca e não diria nada a nenhum dos dois por quem é apaixonada.
Ela era fraca.
Até quando seria ?
Porque a vida insistia em lhe pregar peças dessa maneira? Pensou.
A porta do quarto foi aberta, Dante adentrou despreocupado, caminhou até sua esposa e depositou um beijo no pescoço alheio.
— Pensei que treinaria por mais algum tempo. Está tudo bem, amore mio ? — perguntou, inalando o cheiro que tanto se apegou. Depois dela, não sentiria o aroma gostoso de laranjas sem lembrar da mesma.
A mulher não respondeu no início, estava numa batalha interna que apenas ela podia vencer, portanto, colocou seu melhor sorriso.
O sorriso que sempre usou quando era espancada por Vincent.
— Sim. Está tudo bem. Fiquei cansada então vim tomar um banho .
— Está cheirosa. — elogiou. — Pensei em levá-la para jantar esta noite. O que acha?
— Perfeito.
— Convidei Pietro também. Precisamos passar um tempinho fora desse lugar infernal . — comentou se afastando .
— Concordo.
Grecco murmurou que tomaria um banho, foi em direção ao banheiro e fechou a porta.
— Droga! — Millenna sussurrou, limpando uma lágrima que escorreu por seu olho direito.
O celular que estava em seu bolso vibrou, pegando-o viu pelo ecrã que era uma imagem, como sempre, vinha de um número desconhecido que a morena sabia muito bem de quem era. — engolindo o pavor, desbloqueou a tela e clicou na imagem.
Era uma imagem nítida de uma mulher amarrada, nua, e completamente ensanguentada.
— FILHO DE UMA PUTA. — gritou sofrido.
Abaixo da imagem, chegou uma mensagem.
" Gostou ? Fiz em sua homenagem. "
A promessa novamente foi soprada por seus ouvidos, não se virou para saber que Dante apareceu atrás de si preocupado.
— O que foi?
Millenna não respondeu. Ao invés disso, olhou a imagem e viu algo estranho, a fim de se certificar aumentou até o ponto específico, os lumes se arregalaram.
— Não é a Anna. — sussurrou.
— O que? Millenna?
— Não é ela. N-não é a Anna. — desta vez virou-se. Encarando os lumes azuis de seu marido seminu diante de si.
Dante pegou o celular e olhou a foto.
— Como sabe que não é ela?
— Anna tem uma tatuagem na lombar. Uma tribal, fui com ela no dia em que fez. Não é ela Dante. — explicou, exasperada.
— Tem certeza disso meu anjo? Pode estar nervosa ou em estado de choque.
— Estou ótima. E friso que não é minha Anna. Minha melhor amiga. Não é ela. — repetiu com um sorriso enorme de alívio. — Isso significa que ela está bem, não é?
— Pegue meu celular e tente ligar para ela. — falou sem desviar os olhos da imagem horrível .
Vincent assinava sua sentença cada vez mais. E Grecco não terá piedade quando colocar as mãos em torno do pescoço e que tar sem dó.
Millenna discou tremendo os números e esperou a chamada completar. Infelizmente, só tocou, e depois caiu direto na caixa postal.
— Talvez ela esteja ocupada. Ou perdeu este número. — comentou.
O moreno largou o celular em qualquer lugar e foi até sua esposa, a abraçando por trás.
— Se acalme. Está tremendo.
— Ela está bem, não está?
— Mandarei alguém até os Estados Unidos para se certificar. Mandarei que vá hoje mesmo . Só se acalme amore . Per favore. — pediu envolvendo-a como quem buscava protegê-la de todo o mal que está a espreita, esperando algum deslize para se infiltrar e destruir tudo .
Por um tempo, a morena esqueceu de Enzo. Esqueceu de suas palavras horrendas.
— Ficarei bem. Só fiquei esperançosa demais.
— Eu a entendo. De verdade, piccola. Só por favor, tente ser racional, não deixe seus sentimentos toma-la dessa maneira. É perigoso.
— Tem razão. — concordou por fim.
Num assentir, Dante a soltou, beijando-a rápido e foi para o banho.
Millenna saiu do quarto, não era fã de bebida quando estava uma bagunça emocional, porém hoje abriria uma exceção, na sala principal, serviu de um pouco de whisky e se sentou no sofá, olhando a chuva e pensando em sua antiga vida. Pensou em Anna, e no quanto sentia falta dela. Mesmo num bar de azar, Millenna era grata por ter a garota ao seu lado, sempre a ajudando e dando os melhores conselhos. O líquido âmbar queimou na garganta da morena, o cheiro forte a fez franzir o cenho, estava quase voltando a calmaria quando ouviu a campainha soar, esperou alguns segundos mas sem vontade alguma, se levantou para atender, pois jamais havia feito, era sempre os empregados que recebia as visitas e avisa a Dante ou a ela mesma.
A porta enorme se abriu, uma mulher bela e elegante sorriu ao vê-la. Os cabelos tão negros quanto os dela, os olhos verdes, a altura era desigual por apenas alguns centimentros, o vestido preto delineava o corpo alheio.
— Chi sei? ( Quem é você? ) — perguntou a morena sem esconder o sentimento esquisito que queimou seu peito.
Antes da estranha resposder uma voz estridente e grossa soou atrás de si, que fez seu corpo todo se arrepiar pelo tom dolorosamente frio e ameaçador.
Era Dante.
— Irina ?
— Dante Grecco. — o modo como o nome soou nos lábios vermelhos da suposta Irina, deixou Millenna perto de vomitar.
— Perché sei qui? ( O que faz aqui? )
— Sono venuto a visitare. Non sei felice di vedermi? (Vim fazer uma visita . Não está feliz em me ver? ) — sorriu largo.
Dante ficou em silêncio.
— Dante. Chi è questa donna? ( Quem é essa mulher? ) — Millenna perguntou, engolindo o desconforto, mais uma vez.
O tatuado não respondeu, a morena não notou o quanto o mais velho se continha para não atirar na mulher diante de ambos.
— Me? Sono Irina il mio fiore. Sono fidanzata con Pietro Bianchi ( Eu? Sou Irina minha flor. Sou noiva de Pietro Bianchi ) — o veneno estava explícito nas palavras, junto ao sorriso forçado e desafiador.
Millenna novamente arregalou os olhos, sentindo o sangue fugir de seu rosto e o coração por pouco não parar no peito.
Já Dante.
Trincou o maxilar, cerrando as mãos em punho e pedindo a Deus, se é que exista um. Que o impeça de matar a mulher diante a sua esposa.
Os três estavam parados sem se mover.
Pietro apareceu abotoando os últimos botões da camisa quando parou fitando a visita indesejada.
— Irina? — sussurrou apavorado.
Pelo silêncio excruciante, não precisou aumentar a voz para que a mulher pudesse ouvir.
Um trovão soou e Irina respondeu amando a atenção que estava direcionada a si. Por mais espantado que fosse.
— Ciao amore. ( Olá amor )
.
.
.
Apertem os cintos.
A turbulência começa a partir daqui ...
Até o próximo cap ⛓️🔪
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