𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 32
A solidão era meu ás de espadas. Precisava dela para engrandecer minha realidade. Eu valorizava de verdade o ócio, era viciante. Estar sozinho comigo era o santuário.
Charles Bukowski
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𝑀𝑖𝑙𝑙𝑒𝑛𝑛𝑎 𝐺𝑟𝑒𝑐𝑐𝑜
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Estava saindo do banho quando ouvi um barulho, apertei o roupão contra o corpo e fiquei parada, visto que estava segura, em uma mansão imensa, busquei respirar fundo e sair, Dante e Pietro me encaram como se eu estivesse possuída. Ou assim pensei.
—Quem morreu? —pergunto como quem não quer nada, afinal, os dois estavam ofegantes, como se tivessem corrido por toda a Itália.
—Ninguém. Ainda. —Dante resmunga, franzindo o cenho.
—Ah. Vieram correndo desse jeito porque? —sorri em ironia.
—Sabe bem o porquê. Sua sorte amore, que somos cavalheiros. —Pietro responde me lançando uma piscadela.
—Ah tá bom— Debochei por reflexo.
—Não acha que somos gentis?
—Não foi isso que eu quis dizer. —respondi rápido, senti o corpo tremer e queimar diante os lumes azuis que me fitavam com intensidade.
—Sei. Fanculo. ( Porra ) —Pietro exclama, frustrado.
Foi aí que notei o motivo do desespero. Interessante. Farei mais vezes.
—Conseguiram algo com o Lucca? —pergunto, a fim de mudar o foco principal da conversa.
—Aqui não é lugar para conversarmos sobre. Por favor baby. Se vista e volte, estaremos no escritório. —Dante impõe, rude e autoritário.
—Sim senhor. —digo, passando por ambos.
No quarto, que agora também é meu, visto um conjunto de calça e blusa de moletom no estilo cropped, o celular que uso estava sob a pequena cômoda ao lado da cama, havia deixado algumas mensagens para Anna, porém, nenhuma havia sido lida, tentei ligar também e nada, no começo caia na caixa postal, depois de mais tentativas, a voz computadorizada dizia que o número não existia. O que é estranho, porque a Anna não desgruda do celular nem por um segundo.
Procurei o escritório de Dante, abri várias portas até achar, dei leves batidas e após ouvir a voz grossa e um tanto abalada, entrei; Pietro estava acomodado no sofá de couro, o copo já em mãos e o cigarro queimava no cinzeiro, Dante não estava tão diferente, porém, estava acomodado na cadeira de couro alto, revestido de couro preto, realmente ele era um chefe. E que chefe. Misericórdia.
—Bom. Podem começar a falar. —peço, me sentando ao lado do antes loiro, um sorriso leve se formou em seu rosto lindo, as covinhas já visíveis, me sinto uma sortuda do caralho por tê-los. Ou é sorte. Ou é azar. Fico com a primeira opção e foda-se.
—Vincent é mesmo irmão de Lucca. O restante não é relevante.
—Como assim? Claro que é relevante. Por favor, não me mantenham no escuro com nada disso. —suplico.
—Só queremos protegê-la Millenna. Apenas isso. —o timbre de Dante suavizou, mas sem deixar de me fazer sentir leves arrepios.
—Não sou frágil. Eu aguento. Por favor, não precisa me poupar de nada. —visto por tanta dor que passei, saber do que fazem não é lá muito difícil de ouvir e compreender. Eu acho.
—Ele nos alertou sobre o irmão, e a julgar pelo que mais ou menos sei de quando possuíam algum envolvimento...Não temos escolhas a não ser matá-lo, pessoas como ele não vão parar até causar o máximo de destruição possível. —o moreno explica de modo simples e direto.
—Matá-lo ? Se ele é da máfia isso não vai trazer retaliação da organização? —pergunto já sentindo meu coração disparar.
—Vincent nunca fez parte de organização alguma, sobre isso não devemos ficar preocupados...Fora que Dante fez Lucca arrancar todos os dedos da mão como um último aviso. —Pietro diz com um sorriso demoníaco no rosto.
—Meu Deus! —exclamo surpresa e assustada.
—Só pedimos que tome cuidado Millenna. Irei redobrar a segurança . — Grecco afirma.
— Eu não faço nada além de ficar aqui Dante. —menciono sem rodeios.
— Mesmo assim.
—Tomarei cuidado, não se preocupe tanto.
Pietro aproveitou o silêncio para servir um pouco de bebida para mim, não fumo, e também não suporto o cheiro, entretanto não disse nada a nenhum deles sobre isso.
—Já que estamos conversando...Quero aprender a me defender, não sou uma princesinha indefesa que espera ser salva. —anúncio.
—Iremos ensiná-la . Espero não ter que vê-la em perigo. —Dante travou o maxilar, os dedos tatuados e adornados por anéis estavam sob o copo transparente. Ele assim, me causava um medo do caralho. Cruzes.
—Também espero . —respondo, tomando um gole do líquido e fazendo uma careta. Treco amargo do cacete.
—Sabem de uma coisa. Eu quero sair, passear. Então eu posso ir?
—Sozinha? Não mesmo . —quem proíbe primeiro é Pietro.
—O que é que tem?
—Precisamos nos certificar de que Vincent não esteja mesmo na Itália... É perigoso. — De fato, concordo. Porém discordo também.
—É só uma dessas estátuas irem comigo. Simples assim...Dan, Pietro; por favor! Eu não gosto de ficar sozinha sem fazer nada,quer dizer, antes sim. Mas agora não gosto, porque parecem estar me prendendo aqui. —explico com toda a sinceridade.
—Não é seguro. — Pietro resmunga.
—É quem é você para me dizer isso? —retruco sem pensar. — Desculpa. —peço em seguida.
—Piccola. Non la stiamo privando della vita, la stiamo proteggendo. È pericoloso, perdio! Il solo pensiero che Vincent sia spuntato dove sei tu mi rende nervoso. ( Pequena. Não estamos à privando de viver, estamos á protegendo. É perigoso, por Deus! Só de pensar em Vincent surgindo onde você está, me deixa nervoso . ) —Pietro tremia enquanto falava.
—Tudo bem. Certifiquem disso, e depois vou sair. Com, ou sem vocês. —digo em tom de ameaça.
—Sim senhora. —Dante murmura em tom sarcástico.
—Vá se foder Dante.
—Quer mesmo que eu retruco esse seu xingamento?
—Não! —com toda certeza, meu rosto está pegando fogo nesse exato momento.
—Antes de você chegar, eu e Pietro estávamos conversando. — lá vem. —Porque nos mandou aquela foto? Uh? Queria que estivéssemos aqui?
—Só foi uma brincadeira, Dan. Não pense que fiz com outras intenções. —respondo no mesmo tom sarcástico e debochado.
—Que pena! Queríamos vê-la dançando. Só para nós. —Dan sorria como o Diabo.
—Querem é? Pena que querer, não é poder né . Amore mio. —sorriu .
—Você é tão malvada conosco piccola. ( pequena). —Pietro fala como se estivesse magoado.
Se não fosse mafioso com certeza seria ator.
—Façamos um acordo. Nós a deixamos sair, claro que dois seguranças iram com você. E em troca, você dança para nós. —Dante propõe .
—Justo! Quanto à dança, vou pensar. Tem fetiches com acordos Dante ?
—Meu fetiche é você.
—Não vou dizer mais nada. —no que eu me meti meu Deus do céu.
Sai do escritório batendo a porta, dois cretinos, isso que são. Pelo amor de Deus, querem que eu infarte mesmo. Corro para o quarto e fecho a porta, me sento na cama e tento novamente falar com Anna. Nisto outra mensagem apareceu .
[ NÚMERO DESCONHECIDO ]
Sinto sua falta meu amor. [17:30 p.m]
Ignoro. Maldito seja esse filho de uma puta.
Tinha algo errado, e o fato de meu corpo esfriar e meu coração apertar foi prova disso. E mesmo não querendo, fui jogada para lembranças que tanto luto para esquecer.
𝙵𝚕𝚊𝚜𝚑𝚋𝚊𝚌𝚔
Vincent dormia na enorme cama, levantei-me sentindo todo meu corpo queimar de dor, as marcas roxas e avermelhadas marcavam meus braços, pernas, costela, com certeza havia nas costas, entretanto, não fiz questão de procurar para ter certeza...Caminhei com dificuldade até o banheiro, pois ele odiava acordar e não me ver limpa e em perfeito estado, a noite passava me fez sentir nojo, meu estômago embrulhava e precisei tomar cuidado para não fazer barulho e acorda-lo, pois o mínimo poderia irritá-lo, e as consequências são dolorosas.
Tomei banho, esfregando minha pele com cuidado, lavei os cabelos, e ali, debaixo do cheiro, chorei desesperadamente; chorei por ser uma idiota, chorei por ser ingênua, chorei pelo simples fato de existir. Entre minhas pernas ardiam muito, havia alguns rastros de sangue, e ali, com cuidado lavei, chorando, me odiando cada vez mais e sentindo angústia o suficiente para tentar tirar minha própria vida. Já fora do banho, me sequei, hidratei a pele com o creme que ele ordenou que eu use, segundo Vincent, o cheiro de frutas vermelhas me caiam bem, penteei os cabelos, deixando-os soltos, e durante cada minuto, evitei olhar para o espelho, temendo ver minha aparência, e o quão miserável estava...Me vesti com roupas que ele escolheu no dia anterior, ainda chorando, passei maquiagem por onde os hematomas se sobressaiam na pele, cobrindo-os como se nunca houvessem existido, passei base e pó no pescoço para ocultar os chupões nojentos e mordidas infernais, para meu alívio, meu rosto não foi danificado, entretanto, passei para esconder as lágrimas e o medo que me assolava.
Sai do quarto deixando a porta aberta, só assim, Vincent entendia que eu estava em casa, preparei o café da manhã e arrumei a mesa do jeito que ele gostava. Com certeza me perguntariam. Porque não foge? Você é burra, deveria fugir. Você permite isso então a culpa é sua. Ou ao menos tentar mata-lo. Você é fraca. Burra.
É simples. Por medo. Fora que, Vincent é inteligente, meticuloso de uma forma, que as vezes penso que o próprio Diabo o aconselha, o guia como um deus; e é por tais motivos que a melhor forma de sobreviver a ele, e sendo de seu agrado; e mesmo assim sofro em suas mãos. A morte seria melhor do que essa maldita vida.
—Buongiorno mio amore. ( Bom dia, meu amor) —o som de sua voz me despertou, fazendo o coração quase parar de bater.
Não sabia nada sobre ele, apenas nome e de onde veio, fora isso, o próprio diz que não é da minha conta, que como mulher dele, só tenho que servir e não fazer perguntas.
—Buongiorno mio caro. ( Bom dia meu bem) —digo em tom carinhoso, já robótico.
Aprender a disfarçar meus sentimentos reais, me livrou da morte inúmeras vezes, e em todas as vezes, peço a Deus para me tirar disso, para Vincent esquecer essa obsessão maldita e me deixar em paz. E se Deus realmente existe? Deve me odiar completamente, por permitir tal dor.
Vincent me abraçou por trás, seus braços fortes me envolveram, senti o cheiro de sândalo exalar do maior, a pele quente em contato com meu corpo. Tudo nele, me causava novo. Meu Deus! Como eu o odeio.
— Está tão bella. Uma mulher linda. Tenho sorte em tê-la. —diz orgulhoso, como se realmente fosse um homem apaixonado.
—Obrigada amor. Tu tens sorte e eu também.
—Te amo… Que tal sairmos para um jantar essa noite?
—Irei adorar. —sorri fraco. —Também amo você.
Vincent sorriu satisfeito e me beijou de modo lento, calmo e sereno.
Me manipulando, me moldando ao seu bel prazer.
Que Deus me dê forças para aguentar. Porque estou a um passo de acabar com minha própria vida e me livrar desse maldito.
𝙵𝚕𝚊𝚜𝚑𝚋𝚊𝚌𝚔 𝚘𝚏𝚏
Notei minhas mãos tremendo e minha pele queimar, parecia que eu sentia cada toque, cada suspiro grave daquele demônio. Corri para o banho, arrancando as roupas e me enfiando debaixo do chuveiro, esfregando minha pele, a fim de me livrar da sensação excruciante, esfreguei até a pele ficar vermelha e sensível; as lágrimas se misturavam a água quente, meus batimentos quase a mil por hora, a casa segundo eu repetia a mim mesma de que estava segura, de que eles me protegeriam e não deixariam Vincent me levar.
Odiava ser fraca, chorar por tudo, me sentir um lixo. Quero ser forte. Não ter medo daquele verme, e ter força o suficiente para encará-lo, e fazê-lo sofrer por tudo que me fez.
Me conheço tão bem, que mesmo pensando nisso, me senti culpada e fraca.
Irei melhorar isso tudo, eu confio nisso. E quando isso acontecer, espero que seja eu a matar Vincent.
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Boa noite meus anjos ❤️ Tudo bem com vocês ? Espero que sim.
Desculpem pela demora ... Infelizmente a minha vida não está um mar de rosas então a criatividade demora a aparecer.
Espero que tenham gostado do cap.
Caso aja erros, me perdoem ❤️
Até a próxima att ...
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