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Me sinto só, mas quem é que nunca se sentiu assim?

Um minuto para o Fim do Mundo — CPM22

Raiva. É isso que estou sentindo nesse momento. Raiva de mim  mesmo...

Como fui capaz de transar com Katherine Johnson? Ela é incrível e  uma mulher muito linda, mas não estou falando de beleza exterior, e  sim interior. Sei que ela não é santa e nem perfeita, essa noite ela me  provou isso, mas não justifica os meus atos. Ela é irmã do namorado da  minha melhor amiga. O fruto proibido.

Kath está no meu ciclo de convivência mais frequente, minha família a ama, assim como os meus poucos amigos. Posso estar errado, mas  ela parece ser frágil, mesmo que não goste de transparecer, pelo pouco que a conheci. Kath tem sonhos, ainda quer acreditar que o mundo  não é tão filho da puta. E sei que, se eu me envolver com ela, destruirei  tudo isso.

Passo a mão pelo rosto sem saber o que fazer. O que fizemos não  tem volta, e por mais estranho e perturbador que pareça, não quero  voltar. Pela primeira vez em muito tempo, não quero voltar. Essa foi a melhor noite depois de anos, senti-me vivo e não foi por conta das drogas ou  qualquer merda do tipo.

É como se Kath tivesse se tornado a minha droga, a minha nova  droga por poucas horas. Senti-me vivo e não foi como um monstro  que sou.

Olho para Kath, que está com seus longos cabelos loiros espalha dos pela cama com lençol azul-royal cobrindo a sua bunda, deixando  as pernas e as costas à mostra. Ela está com a boca levemente aberta e  solta pequenos roncos (que se fosse com outra pessoa, já estaria tirando sarro, mas com ela acho a coisa mais adorável do mundo).

Desde a primeira vez que a vi no shopping com a Bella, senti uma  boa energia com ela. Foi como se, por breves minutos, meu velho ''eu''  estivesse de volta. E foi assim em todas as nossas noites de maratonas de filmes ou séries, ou quando brincávamos com o Miguel. Não  vou mentir que não sinto falta dela, dos nossos momentos, pois esta ria mentindo, sinto falta e muito. Kath tem uma energia ótima! Ela faz  você se sentir especial e normal. Coisas tão diferentes, mas com ela fica  perfeito.

Quando a beijei, há quase três semanas, surtei, não era certo, e ao  mesmo tempo parecia a coisa mais certa do mundo. Mas o medo falou  mais alto. Sei o que posso fazer quando estou interessado. E estou super interessado nela.

Sou um cara problemático, com a aparência de apenas um BadBoy  normal, filhinho do papai, mas sou muito mais do que isso. Sou intenso, obsessivo e possessivo. Nunca soube amar. Passo a mão pelos seus  cabelos e, nessa hora, os grandes olhos azuis de Kath começam a se  abrir. Ela olha para mim dando um doce sorriso. O sorriso que, nas últimas semanas, tem me perseguido. Deus sabe como eu fugi dele e da  tentação, mas hoje parece que todo o meu esforço das últimas sema nas falhou.

Kath se vira para frente, puxa o lençol sobre o seu corpo e cola as  pernas no peito. Ela coloca uma mecha do seu cabelo atrás da orelha e  suas bochechas ficam vermelhas. Parece que alguém está tímida, penso  sorrindo internamente.

Ela deve estar assim por conta de eu estar vestido e sentado, olhando com toda minha intensidade. Olho para a parede à minha frente,  pego o meu maço de cigarro no bolso da calça, junto do isqueiro, e o  acendo, dando uma longa tragada, tentando me acalmar.

Ainda estamos na festa, especificamente no quarto. A festa já acabou faz alguns minutos, pelo menos é o que acho, já que o barulho  acabou. Olho no relógio que está na cabeceira da cama e não me as susto quando vejo que já são cinco horas da manhã. Dou outra tragada  no cigarro, sem olhar para Kath, e é quando sinto a sua mão delicada  encostar nas minhas costas. Fecho os olhos.

— Não posso fazer isso, Katherine – falo baixo, ainda de olhos fechados.

Ela pode estar me achando um filho da puta por estar falando isso,  e ela não está errada. Sou realmente um babaca que sabe fingir muito  bem. Sei fingir ser o cara legal e divertido do grupo, sou bom nessas  coisas.

— Por quê? – a pergunta vem, excitante e baixa.

Viro a minha cabeça e vejo Kath com a cabeça no joelho, seus cabelos soltos pelas pernas e costas, seus olhos grandes, marejados, e a  mão ainda se encontrando nas minhas costas.

Jogo o cigarro no chão, sem me importar que não é a porra de um  cinzeiro, amasso-o com o pé, respiro fundo e dou um sorriso fechado.  Coloco minha mão no seu rosto e faço pequenos círculos com o pole gar.

— Não quero te machucar – sou breve e sincero. Kath dá um sorriso  que não chega aos olhos.

— Pensei que já tivéssemos passado dessa fase. – Sorrio.

— Pelo visto não passamos, e sinto informar que não iremos passar.

Kath deita a cabeça na minha mão, fecha os olhos por breves segundos e, quando abre, não vejo nada no seu olhar.

— Tudo bem, Gus, essa noite foi incrível, mas você está certo, não  podemos ficar juntos.

Kath tira minha mão da mão dela e dá um pequeno sorriso.

— Estou sorrindo – dou um pequeno sorriso.

Kath sorri quando falo a nossa frase. Falamos esta frase, pela primeira vez, quando nos falamos por telefone.

— Estou sorrindo!

Levanto-me, dou um beijo na testa dela e, respirando fundo, saio  do quarto, sem olhar para trás. Agora tudo que preciso é superar Kath,  esquecer de como ela é incrível e o quão bem ela me faz. E sempre me  lembrar de como posso machucá-la. Não deve ser a coisa mais difícil do mundo esquecê-la; Kath apenas é super inteligente, gentil, amiga,  engraçada, linda, gostosa... uma mulher incrível!

Sinto o meu celular vibrar e, mesmo não querendo ver quem é,  tiro-o do bolso e vejo o número que venho evitando há dias, mas hoje  estou precisando esquecer tudo e sei que esse é o único jeito.

Pitt: pós festa da neve.

Sei que o que farei é horrível e me matará um dia. Me jogar em  uma festa repleta de drogas e bebidas. Mas não consigo me controlar.

Eu: Estou indo

Sei que estou regredindo todo o trabalho que fiz nas últimas se manas, mas prefiro machucar a mim mesmo do que a qualquer outra  pessoa. Não posso machucar mais ninguém inocente.

Tristeza e raiva são duas coisas que estou sentindo nesse momento.

Nunca, na vida, levei um pé na bunda. Não porque nunca estive  afim de alguém ou coisa parecida, e sim porque só tive um namorado  na vida, quando dei o meu primeiro beijo, amassos e sexo. Sim, Gustavo  é a segunda pessoa com quem transo, e posso garantir que foi muito  melhor do que com o meu ex-namorado. Não que ele não fosse bom,  era só que não me sentia atraída por ele, como me sinto pelo Gustavo.  E, por fim, estou com raiva, porque levei um pé na bunda e não consegui nem sair por cima, como dar a porra de uma resposta foda, dando  a entender que tenho centenas de caras atrás de mim. Mas quem liga?  Apenas ligo para a minha reputação, uma que nem tenho.

Deve fazer uns cinco minutos que o Gustavo saiu, e é quando a  porta se abre, e a merda do meu coração e partes íntimas dão um salto,  uns maiores do que o outro.

E como minha vida é feita de decepção e vergonha, quem aparece  na porta não é o Gustavo e nem ninguém que eu conheça.

— Uau! – o desconhecido diz ao me olhar.

Estou com uma perna dobrada, a outra esticada e o lençol cobrindo apenas as partes mais reveladoras, deixando pouco para a imaginação. Confesso que gosto do seu olhar, faz-me sentir sexy. O olhar do  Gustavo é muito mais sexy, e digamos que ele sabe como fazer uma  mulher pegar fogo. E depois de transar com Gustavo Collins e esse cara  olhando-me com esse olhar quente, sinto-me muito sexy, e ao mesmo  tempo, invadida, por isso me cubro e dou um sorriso tímido. Vai saber  se o cara não é um psicopata! É melhor ser gentil.

— Desculpa, não sabia que tinha gente no meu quarto – diz aparentemente tímido, passando a mão pelos cabelos.

— Tudo bem, o quarto é seu, afinal. – Caraca, não sei quem está  mais desconfortável.

— Sou o Christopher – diz dando um pequeno aceno com a mão.

— Katherine, mas pode me chamar de Kath – falo dando uma boa  olhada nele.

Christopher é um cara muito bonito. Ele tem cabelos encaracola dos pretos, barba por fazer, boca rosada, um corpo malhado e muito  bonito, uns 1,80m e um belo sorriso. Ele é um gatinho.

— Então... tava tirando uma soneca? – ele pergunta e me seguro  para não rir.

— Claro, amo tirar soneca pelada e na cama de desconhecidos em  festas de fraternidade. – Levanto a sobrancelha.

Christopher dá um sorriso envergonhado e balança a cabeça.

— Não quis ser inconveniente – diz com uma carinha muito fofa.  Ele parece ser um amor, mas não acredito em rostinhos bonitos.

Até o Hans, de Frozen, parecia ser fofo.

— Tudo bem... sabe, mesmo estando amando o nosso papo, real mente gostaria de me trocar... então... – falo enquanto não paro de  mexer a mão com um desconforto gritante.

Christopher dá uma olhada em mim, uma boa olhada, e quando  percebe que estou olhando, ele dá um sorriso de gato de botas e abre  a porta.

— Claro, fique à vontade – diz saindo do quarto.

Bom, já posso colocar esse episódio como mico na minha lista de  desastres. Levanto-me, deixando cair o lençol na cama, e faço um coque no cabelo, colocando meu vestido e salto. Não me olho no espelho, porque sei que não estou nenhuma Beyoncé da vida. Abro a porta  e dou de cara com Christopher. Sorrio e ele retribui.

— Foi um prazer! – Tento ser simpática, afinal ele não tem culpa da  minha péssima noite e nem de ter entrado no quarto dele.

— O prazer não foi meu, mas foi bom te conhecer. – Dá um sorriso  de lado.

Não falei? Hans na vida, só muda que ele é safado e não está que rendo roubar o meu trono. Seguro a vontade de revirar os olhos e saio  descendo as escadas, indo para fora da casa que está toda destruída.  Têm pessoas no chão, bebidas, drogas nas mesinhas, cuecas e calcinhas no corrimão da escada... uma verdadeira pós-festa de uma fraternidade, pelo menos foi o que aprendi com os filmes. Minha noite  não foi nem de longe uma das melhores. Finalmente transei com o  cara que tanto desejava, levei um fora e um cara desconhecido quase  me viu nua. Uma verdadeira noite perfeita...

Assim que saio da casa, vejo algo que faz o meu coração acelerar,  como o iludido que ele é. Preciso parar de assistir e ler livros onde o  cara malvado vira o mocinho, porque sinto que o Gustavo não é assim.  Gustavo está encostado no seu carro, enquanto olha para frente da  casa, para mim, fumando o seu cigarro. Ele está um perfeito BadBoy  com a sua calça, jaqueta de couro e seus sapatos pretos, sua blusa  branca, e o seu famoso carro, um Aston Martin, também preto, que ele  me fez decorar o nome. Seguro um sorriso e ando em sua direção.

— O que faz aqui? – faço a pergunta que está martelando na minha cabeça.

Gustavo joga o cigarro no chão, pisa em cima e, desencostando do  carro, dá meia volta, abrindo a porta do passageiro.

— Você não achou mesmo que eu iria deixar você aqui, ainda mais  sozinha, né? – pergunta levantando a sobrancelha.

— Na verdade, sim. – Sou sincera. Gustavo sorri e balança a cabeça.

— Para ser sincero, eu também quis fazer isso, mas você é importante pra mim, Katherine, já deveria saber – diz me olhando com os  seus olhos azuis e intensos.

Sem saber o que responder, ando até ele, entro no carro e, com  isso, não falamos nada no decorrer de toda a viagem. Cada um perdido  em seus próprios pensamentos. Não tem quando você sabe que está  fazendo a coisa mais errada do mundo e que se arrependerá muito no  futuro? Bom, é assim que me sinto com o Gustavo, mas eu realmente  não me importo. Pela primeira vez na vida quero me arrepender de  alguma coisa que realmente desejei. Gustavo para na frente do meu  prédio e o silêncio desconfortante reina no ambiente.

— Bem... obrigada pela carona! – falo já abrindo a porta e saindo.

— Katherine? – paro no lugar quando Gustavo me chama com  uma mão na maçaneta e um pé do lado de fora, sem olhar para ele.

— Sim?

— Você sabe que não pode falar para ninguém sobre o que aconteceu, não sabe? – pergunta com a voz gélida. Uma voz que nunca o  ouvi falar com ninguém.

O Gustavo dessa noite não se parece em nada com o garoto brincalhão e alegre que conheci. Fecho os olhos, respiro fundo e tento, ao  máximo, não demonstrar que as palavras dele me machucaram. Ele  não merece minha dor, ninguém merece. Olho para ele e dou um sorriso  falso.

— Pra quem eu contaria? – Saio do carro sem olhar para trás.

Gustavo pode ser o cara mais gostoso com quem já transei, mesmo que seja o meu segundo, mas isso não significa que ele seja o único. Não preciso dele. Sou forte, já passei por coisas piores.

Sabe quando dizem que se você disser para si mesma que está  tudo bem, você acreditará nisso, e tudo ficará bem? Bom, isso é mentira. Passei a minha vida toda dizendo a mim mesma que estava tudo  bem, que superaria, que era forte, que não precisava de amigos, ou  pais atenciosos, que eu era feliz... mas quanto mais eu falava isso, mais  triste e sozinha me sentia. Tenho o melhor irmão do mundo, o Scott,  que sempre cuidou de mim, mas cansei de ser cuidada. Quero ter a  minha própria vida, ser independente, mas isso apenas está me destruindo. Sinto-me sozinha e não consigo fazer isso assim, preciso de  alguém na minha vida.

Enquanto ando pelo meu apartamento, com as paredes brancas  e vazias, os móveis cinza, bege e pretos, eu me sinto mais obscura do  que o normal. Sinto-me como se voltasse para o meu passado. Por isso,  gostava de ficar com o Gustavo, porque ele me fazia sentir viva. Com  suas piadas sem graça, suas ideias malucas e comentários. Era como se  ele me entendesse. Gustavo parece que vive uma mentira, assim como  eu. Jogo-me no sofá da minha sala e fico encarando o teto. Já são cinco  horas da tarde, mais de quatro horas que levei um pé na bunda. Já falei  com o Scott, com Miguel, mas parece que quando estamos tristes, o  tempo pensa que é o melhor momento para agir como uma lesma.

Ouço alguém bater na porta e, mesmo não esperando ninguém,  sinto-me feliz, eu nem ligaria se fosse um assassino, pelo menos não  morreria sozinha. Ando quase me arrastando para abrir a porta, e  quando o faço tenho que piscar muitas vezes para ver se não é alucinação. Sara está na minha porta me olhando com um sorriso sem graça.

Que merda ela faz aqui? Não a odeio mais, porém também não sou  sua amiga.

— Posso ajudar? – pergunto usando a minha educação. Sara dá  um sorriso e balança a cabeça.

— Sei que é estranho eu estar aqui...

— Magina... – minto.

Estranho seria eu acordar em Marte e casada com o Brad Pitt. Certo, agora viajei.

— Não precisa mentir, Katherine.

Não falo nada e muito menos expresso. Sou boa nisso.

— O Scott disse que estaria sozinha, e eu queria... bom, te pedir  um favor – fala sem graça.

Essa é nova. Sara sem graça? Ela é a mulher e a pessoa mais sem  vergonha que conheço.

— Que favor?

— Queria te chamar para ir à inauguração de uma boate comigo,  meu agente, por engano, concordou que eu fosse. E como você sabe,  não posso frequentar esses lugares, ainda mais sozinha... – diz tímida.

Agora entendo sua falta de jeito. Provavelmente sou a única opção  dela, sem contar que falar sobre os seus problemas não deve ser nada  fácil. Tudo que sei é que ela está em reabilitação e não é recomendado  que frequente boates e lugares com muitas bebidas sozinha.

— Por que não? Tô sem nada pra fazer mesmo – sorrio e Sara retribui, animada.

Minha pior decisão.

Não me encaixo em nada aqui! Diferente da minha última festa,  esta é chique e as pessoas sabem disfarçar mais que estão transando  no meio da pista de dança, ou nas mesas. A boate é ótima! Com luzes  fracas, um DJ muito bom, mesas espalhadas pelo local, um bar digno  de bebidas... tá... quem quero enganar? Eu nem conheço os nomes  desses negócios, nunca fui em uma boate, a não ser com o Gustavo,  mas ele me explicou as coisas. Não conheço as músicas, não sei dançar, não bebo, não conheço direito a minha companhia, tô deprê e com  fome. Se não estivesse com fome, poderia muito bem fotografar a boa te e pesquisar no Google sobre o que são, mas esqueci meu celular em  casa. Deveria ter comido em casa.

— Vamos nos sentar ali! – Assusto-me com a voz da Sara, que falou  bem ao meu ouvido.

Senhor, tinha até me esquecido dela. Mentira. Sorrio, balanço a cabeça e a sigo. Às vezes ser boa é uma merda. Gente boa só se fode!

Sento-me de frente para Sara, que está perfeita. Sério, essa mulher  é muito linda, que dá até vontade de ser lésbica. Ela é morena, de olhos  azuis, alta, corpo de dar inveja, rica e famosa. Eu só não desejo ser ela  por conta das merdas que carrega, mas eu a pegaria. Ainda mais agora!  Ela está usando um vestido vermelho, justo e longo, com um decote  em "V" grande, uma fenda na perna direita, que vai até o meio da coxa,  um colar com um pingente, com uma pedrinha azul, que fica no vão  dos seios, um salto alto preto e seu famoso batom vermelho. Ela está  perfeita!

Já eu estou usando um vestido preto, estilo tubinho, de regata, um  salto alto dourado, cabelos encaracolados e soltos, e meu batom vermelho. Até que estou bonitinha. Mentira, estou uma diva. Autoestima  é tudo, bicha. Hoje percebi que tenho de sobra – pelo menos hoje estou  tendo boa autoestima, o que é um milagre. Porque se você está do lado  da Sara e ainda se sente bonita, nada te abala.

— Katherine? – dou um sorriso sem graça pra Sara.

Senhor, eu e minha mania de viajar. Isso acontece justamente por que fico muito sozinha.

— Sim?

Sara me lança um olhar estranho, mas não fala nada.

— Vou tirar algumas fotos, você vai ficar bem sozinha? – pergunta  atenciosa.

— Claro, vou ficar bem.

Sara sorri e sai com a beleza do mundo nas costas. Olho para os  lados e todos à minha volta estão conversando, flertando, bebendo  ou quase transando. É, vou morrer sozinha! Fico olhando as pessoas  a dançar, conversar e outras a se pegarem, e apenas consigo pensar  em como seria se eu fosse uma pessoa normal, que conseguisse fazer amigos, sorrir, sonhar, e até mesmo ficar sem compromisso. Fecho  os olhos e me deixo ser levada para o sono profundo, acredito que  ninguém chegaria em mim, ainda mais com a minha cara de tédio e  desânimo.

Não sei quanto tempo passou, só que estou sozinha e com vontade de morrer. Já dormi, sonhei, e agora acordada ainda continuo com  um tédio enorme. A vida é tão triste! Sinto uma mão no meu ombro e  só penso que chegou o momento em que morro ou serei estuprada.

— Kath? – a voz atrás de mim fala.

Essa voz, esse sotaque. Olho para trás e vejo outro carinha que  amaria transar se não tivesse já transado com o Gustavo e ainda estivesse com ele na cabeça. Se bem que seria interessante gemer o nome  do Gustavo, enquanto pensava no outro Gustavo. Isso é muito confuso,  o nome dos dois poderia ser diferente!

— Gustavo! O que faz aqui? – pergunto animada. Ou não? Nem sei  mais.

Gustavo Salvatore sorri e se senta na minha frente. Ele é um gato!  Cabelos castanhos-claros, olhos azuis, boca perfeita e rosada, barba  por fazer, um corpo lindo, ainda por cima é educado, meigo, e alto.  Uma tentação!

— A boate é do meu amigo e você? – pergunta sorrindo.

Claro, só assim para Gustavo Salvatore ir a uma boate. Ele é total mente o oposto do outro Gustavo. Enquanto o outro vive em baladas  e com mulheres, este vive nas bibliotecas e com a família, mas, ainda  assim, prefiro transar com o outro, com o problema. Preciso de um tratamento urgente!

— Vim com uma... amiga? – Sim, melhor falar amiga, do que amiga do meu irmão, com quem não ia muito com a cara, mas que ultima mente tenho gostado.

— Legal. – Sorri.

Na hora em que vou falar qualquer merda, uma garçonete aparece, e eu só acho estranho que, desde que cheguei, não tinha vindo ninguém me atender. Só foi o bonitão chegar que já veio, mas não julgo,  faria o mesmo.

— Vão querer alguma coisa? – pergunta com a voz sexy enquanto  sorri para o Gustavo. Reviro os olhos.

— Vou querer uma cerveja, e você, Kath? – Gustavo pergunta. — Uma coca-cola gelada.

Assim que termino de falar, a garçonete solta uma pequena risada,  e eu a olho sem entender.

— Aqui não tem coca-cola, Kath – Gustavo fala visivelmente segurando a risada.

Já posso morrer? Em minha defesa, não sabia, nunca tinha ido em  uma boate e acreditava que todas elas tivessem coca-cola, pelo menos  acredito que é o certo a se fazer.

— É claro, eu sabia. Vou querer uma água, por favor, já bebi de mais!

Tento consertar a minha cagada. A garçonete anota o pedido e sai  rebolando.

— Você nunca bebeu bebida alcoólica antes, né? – Gustavo pergunta.

— Na verdade, já tomei uma garrafa de Whisky uma vez, mas digamos que não acabou bem – sorri tentando mascarar o que de fato  aconteceu.

— Você começou bem. 

— Sim, você não faz ideia. E você?

— Digamos que já tive muitos altos e baixos na minha vida.

Acredito que vou gostar dessa noite. Pelo menos, espero. Quem  sabe eu não transo com o bonitão e tiro o outro bonitão da cabeça?, penso comigo mesma, apesar de saber que isso é impossível de acontecer.  Sonhar não mata ninguém!

Sabe quando dizem: nunca comemore antes da hora? É assim que  estou me sentindo. Eu e Gustavo estávamos conversando e rindo bastante, ele estava do meu lado, com o seu braço nos meus ombros e  falando bem próximo a minha boca, e me senti muito bem. Até que,  de repente, ele cai no chão, quando um maluco o atinge com um soco.

Ajoelho-me ao lado dele e olho para quem fizera aquilo. Assusto- -me quando vejo se tratar de Gustavo Collins.

O que ele faz aqui? Por que ele fez isso? São perguntas sem respostas. Foi tudo tão rápido. Uma hora rindo e na outra ajoelhada no chão  olhando para o Gustavo sem entender nada.

Horas atrás

Viva intensamente, sem arrependimentos! Quem disse isso não sabia a merda que estava falando! Infelizmente precisamos ter arrependimentos, só assim aprenderemos e tentaremos mudar. Pelo menos é  o que penso. Digamos que eu me arrependo de muitas coisas na minha vida, mas isso eu só quero esquecer.

Assim que deixei Kath no prédio dela, fui na casa do meu colega.  Não o chamo de amigo, acredito que amigos não fazem o que ele faz.  Quando se é amigo de alguém e se vê que a pessoa está mal, você  tenta ajudar e não a afundar mais. Petterson é um cara legal, quandonão está vendendo ou usando drogas, assim como eu, tirando a parte  do vendedor.

A culpa é o pior sentimento que poderia existir. Por culpa, você faz  coisas erradas, muda de personalidade, torna-se um babaca, afasta-se  das pessoas que ama e odeia a si mesmo. Você muda a ponto de não  conseguir nem se reconhecer no espelho. Não amo a Katherine, mas isso  não significa que quero que ela veja o meu outro lado. Tenho carinho  por ela, o suficiente para querer preservar o meu outro lado. Até agora  ela só conheceu o mocinho, não o babaca filho da puta.

Quando você já fez tanta merda como eu, aprende a fingir ser outra pessoa. Teve uma época em que eu não fingia que era um babaca  com todos, até que vi minha mãe chorar nos braços do meu pai quando eu estava em uma cama de hospital; então, desde aquele dia, finjo  ser um cara incrível, o cara que minha mãe me criou para ser. Apenas  meu irmão e pai sabem das merdas que faço, e como amam a minha  mãe, não falam para ela. Eles também não querem vê-la destruída novamente. Amo minha família mais do que tudo no mundo, mas apenas  não consigo voltar a ser o garoto que eles conheciam. E acredito que,  no fundo, nem quero.

Por que estou pensando em tudo isso? Porque estou no meu psicólogo, e como não tem nada para fazer, divago, já que não falo com  ele. Apenas aceitei fazer parte disso por causa da minha mãe, mas eu  não disse que falaria algo. Encaro a cara do sujeito barbudo com cabelos brancos e pretos, olhos pretos, pele morena e um pouco barrigudo.  Ele parece ser bom no que faz, mas é como dizem: se seu paciente não  quer melhorar, você não pode fazer nada. Tomo, ou tinha que tomar,  muitos remédios para só assim me ajudar. Para depressão e ansiedade,  mas prefiro tratar com cocaína e maconha. O efeito é mais rápido, mesmo que passe com a mesma rapidez.

Quando dá dez horas, dou um sorriso sarcástico e saio da sala,  indo até a recepcionista para marcar minha próxima consulta; e como  sempre ela dá em cima de mim. Posso ter "problema'' escrito na minha  testa, mas isso não faz com que as mulheres parem de tentar algo comigo. Sou bonito e milionário. São as duas coisas que importam para as  pessoas, pelo menos para a maioria.

Quando estou dirigindo acima da velocidade e me param, eu apenas preciso mostrar minha carteira de habilitação que ninguém me  prende ou dá uma multa. Tenho fama e um nome de peso, isso vale  tudo hoje em dia. Hoje em dia, as pessoas não querem saber sobre o seu  caráter, e sim quantos números você tem na sua conta bancária.

Coloco os meus óculos e saio pela porta da recepção, indo para  o meu carro, com Janis, que me espera com a porta aberta. A parte  ruim de ser rico é, como têm pessoas que querem o seu mal, precisa  ter um segurança/motorista. De quem, de vez em quando, dou uma  escapada. Entro no carro, fecho os olhos, jogo a cabeça para trás e já  vou acendendo o meu cigarro, minha marca registrada. Hoje tenho um  evento para comparecer e não estou nem um pouco animado, mas  pelo menos vai ser em uma boate, e só assim poderei esfriar a cabeça e  esquecer um pouco a Kath.

Já faz umas duas horas que estou na merda da boate e nada me  anima, nem mesmo a bebida, ou as mulheres. A isso eu chamo de res saca pós-Katherine. Sinto alguém colocar a mão no meu braço, olho  para a pessoa e me admiro quando vejo Sara sorrindo.

— O que faz aqui, mulher? – pergunto sorrindo.

— Pergunta pra merda do meu ex-agente – resmunga.

Sorrio. Sara é uma mulher foda, que tem uma vida de merda. Nós  meio que confessamos nossas merdas quando estávamos chapados  demais para fazer qualquer merda. Gosto dela, posso ser eu mesmo  com ela. Ela poderia ser igual a mim se não estivesse tentando mudar.

— Quer que eu dê uma surra nele? – pergunto.

— Qualquer desculpa pra bater em alguém, né, Gustavo? – sorri.

— Você me conhece.

— Você precisa tomar jeito. – Revira os olhos.

— Tô bem assim, mas com quem você veio? – pergunta já sabendo que ela não viria em um lugar assim sozinha.

— Com a Kath – responde sorrindo.

— Essa é boa! – Kath nunca viria com ela em um lugar assim.

— Tô falando sério! O Scott não pôde vir, então chamei ela e cá  estamos.

— Não fode, Sara.

— Virei celibatária, não vai dar, príncipe – debocha.

— Filha da puta – resmungo, mas logo coloco um sorriso no rosto  quando tenho que fazer pose para as fotos.

Sara é a única que sabe tudo sobre mim e sobre os meus senti mentos pela Kath. Ela diz que tenho que tentar com ela e me permitir  ser feliz, mas não acredito nessas coisas de segunda chance. Importo- -me muito com a Kath para machucá-la, e eu apenas me envolveria com  ela se soubesse que posso mudar com ela sabendo tudo sobre mim, o que  nunca acontecerá.

Agora

Estou seguindo Sara depois das fotos e uma pequena entrevista,  acabei a convencendo a me levar até a Kath, e apenas não esperava ver  o que estou vendo.

Gustavo Salvatore. Que porra ele faz aqui? E o mais importante: por  que ele está tão próximo da Katherine? É hoje que eu o mato.

Mesmo sabendo que estou sendo irracional, novamente apenas  vejo vermelho, e quando percebo, ele já está no chão e com a Kath ao  lado dele, enquanto me olha sem entender nada.

— Qual é o seu problema?! – grita.

— Vou te matar, filho da puta! – Avanço até ele, mas Sara se coloca  na minha frente, impedindo-me.

— Respira, Gus, ele não vale a pena. Respira fundo – fala devagar  e firme.

Olho por cima do ombro e vejo Kath me olhar sem entender e Gustavo dando um sorriso de lado. Esse filho da puta. Sinto quando Sara  segura a minha mão e a aperta.

— Vamos embora! Por favor! – pede novamente.

Olho mais uma vez para Kath, e no olhar dela vejo medo e dúvidas,  tudo que eu menos queria. Por isso, dou as costas e saio empurrando  as pessoas. Ando até o beco do lado boate e começo a esmurrar a parede sem me importar com a dor da minha mão.

Tudo que sinto é raiva e muita dor. Sentimento esse que sempre sinto quando o vejo. Passo a mão no meu rosto, sem me importar com  o sangue, e dou um grito. A raiva e a dor juntas não combinam, e a  vontade de usar e matar alguém, de sumir, vem com tudo. Tudo misturado. Ajoelho-me no chão, puxo os meus cabelos e deixo as lágrimas  virem com tudo. Coração disparado, mãos tremendo, ansiedade, raiva,  abstinência...

Sinto quando alguém tira a minha mão dos cabelos, estica os meus  braços e levanta a minha cabeça. É quando percebo se tratar de Katherine. Ela está chorando, os cabelos voando ao vento, de joelhos, e é  quando me abraça. Mesmo que não queira que ela me veja assim, mesmo que queira me levantar e ir embora, não consigo, por isso permito  que ela me abrace, mas não faço o mesmo.

O olhar do Gustavo tanto me assusta, quanto me dá vontade de  descobrir o seu motivo. Sinto que ele não bateu no Salvatore apenas  por minha causa, tem mais coisa nessa história. Já tem uns cinco mi nutos que ele saiu, as pessoas já se dispersaram. Gustavo está com um  gelo no rosto, sentado à nossa mesa, e Sara está do meu lado. Ela disse  que ele precisa ficar só.

— Você sabe o que aconteceu? – não aguento e acabo perguntando para Gustavo, que troca um olhar estranho com Sara e só então  me olha.

— Ele provavelmente deveria estar bêbado. – Dá um sorriso fechado.

Como não acredito nessa história, levanto-me, falo que vou ao banheiro e saio à procura do Gustavo com a esperança de ele ainda estar  por perto. Saio para o lado de fora e pergunto ao segurança, que diz  que ele entrou no beco. Mesmo com medo, vou até lá e confesso que  não esperava ver o que vi. Gustavo está de joelhos no chão, com as  mãos e os cabelos ensanguentados, enquanto chora. Um choro de dor.  Vê-lo assim parte o meu coração. É difícil ver alguém com quem você  se importa nesse estado; sei bem, porque já fiquei assim. E sei como dói  quando não se tem ninguém ao seu lado.

Às vezes, tudo que precisamos é de um abraço. Pelo menos, era o  que eu precisava.

Ando devagar até ele, com lágrimas escorrendo do meu rosto. Tiro  a mão dele dos cabelos, levanto a sua cabeça e seu olhar me faz ficar  mais triste. É o olhar de um garotinho perdido com medo. Abraço-o e  nem me importo de ele não me retribuir. Sinto vontade de pegar a dor  dele e sumir com ela.

Gustavo tem pessoas que o amam, os pais dele são incríveis. Não  sei o que faria se meu filho se encontrasse desta forma um dia. Choro,  lembrando-me do meu passado, da minha dor. Acredito que, afinal, eu e  Gustavo somos iguais. Duas pessoas quebradas, que tentam achar conforto em outras coisas que não seja em nós mesmos. Quero que ele seja  meu, e ele quer a bebida, brigas e mulheres.

Às vezes, fingir que está tudo bem é a melhor opção, porque quando desabafamos, tudo se torna real, nossa dor se torna mais forte, mais  intensa. Afinal, duas pessoas fodidas podem ficar juntas? Ou pelo me nos se ajudar? Ou elas só vão se destruir ainda mais? Não sei, mas estou  disposta a descobrir.











Novamente... Sem palavras....

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