Capítulo 09

BOA LEITURA!!!

Minha cabeça está pesada o dia todo. Mal consigo me concentrar em algo, meus pensamentos fogem, voltam para o passado, vai até Cibele. Hoje foi um daqueles dias... aquele evento foi tão desgastante. Kennedy ronronou subindo no meu colo.

— O que você quer, garoto? — ele miou se aninhando.

O interfone tocou, coloquei Kennedy de lado e fui atender. O porteiro disse que Rebecca está aqui. Não apenas eu que estou de volta a cova dos leões. Permitir sua entrada. Destranquei a porta e voltei para o sofá. Ela bateu na porta.

— Está aberta! — falei alto o suficiente para ela ouvir. — O que aconteceu? Seu ex, não tão ex... — me calei ao ver que não se trata da Rebecca.

— Desculpa ter mentido. — Stella falou fechando a porta atrás de si.

— O que você quer na minha casa?

— Chris, aquilo que tivemos não pode ser nossa conversa de... de... — ela deu alguns passos na minha direção.

— Fique onde está. — ela parou. Seus olhos em mim me fizeram voltar no dia em quê a beijei pela primeira vez. Antes disso, pensei muito em me aproximar, mas quando comentei com meu pai, ele disse para ter cuidado e tive, adiei até não poder mais.

— Decidi que nós não podemos terminar assim. — inacreditável.

— Isso foi resolvido há muito tempo, Stella. O que tínhamos acabou! Então você não tem poder de decidir término algum. — tentei ser firme.

— Eu sei que não tenho poder sobre nada Christian. Mas eu mereço mais do que aquela coisa que você chama de conversa, que foi no estacionamento. Tivemos algo Chris, foi real, foi de verdade. Tivemos um filho e você simplesmente foi embora, acreditando que eu terminaria por uma carta!

Como ela ousa vir aqui na minha casa e me acusar de faze-la sofrer pelo modo que eu arrumei para amenizar a minha dor? Eu tive que ir. Eu tive que ir.

— Eu não fui simplesmente embora, Stella. Você me fez ir. Eu tinha que ir.

— Eu estou aqui por quê... Por favor, não me manda embora. Por favor, só escuta. Me dar uma oportunidade de... — trinquei os dentes.

— O quê? — praticamente cuspi as palavras — O que tem mais para me dizer? Você disse que ficou aqui me esperando, mas eu era tão importante a ponto de espera treze anos, o que duvido muito, porque não foi procurar? Você sabia exatamente onde eu estava. Sempre soube. Não fui tão importante para você depois que ele foi embora. Depois que perdemos nosso filho. Que você falou que foi culpa minha! Eu não tive culpa, Stella. Você não podia me culpar por uma coisa que não estava sob o meu controle. Sei que eu não tive culpa, mas você me fez de alguma forma me sentir culpado. Naturalmente sentir isso porque eu não podia fazer nada para diminuir a sua dor, para que ele ficasse, crescesse e se tornasse um homem maravilhoso. Eu não pude fazer nada. Eu sinto muito, mas você perdeu seu tempo vindo aqui. Não quero e não vou ouvir nada do que você tem a dizer,  porque não há o que você diga que vai mudar o fato...

Me afastei virando as costas para ela. Ouvir seu choro baixinho. Fechei os olhos com força.

— Sei que não é desculpa, de jeito nenhum. Mas estava sofrendo magoada comigo mesma. Não fui capaz de gerar meu filho, meu corpo não foi capaz de ser uma casinha saudável para ele. E se alguém tem culpa nessa história, esse alguém sou eu. Eu sabia disso antes e sei disso agora. Me desculpa, me perdoa se eu te fiz se sentir culpado de algum jeito. Se eu te acusei disso. Você não teve culpa.

— Tudo bem. Só vai embora. Fica longe de mim.

Só de olhá-la e ouvi-la eu já quero morrer. Os meses seguintes da perda de Samuel foram os piores da minha vida. Eu quis morrer diariamente.

— Pelo menos olha para mim, gatinho.

— Não me chame assim. Você perdeu todo direito, Stella. — passei as mãos nos cantos dos olhos, virei-me para ela.

— Eu sou uma pessoa horrível. Você me odeia, mas não me... não me afasta de novo.

— Não te afastar? — rir — Está falando como se estivéssemos tendo algo. Como se tivesse sido ontem o que tivemos! Vamos ser realistas Stella. Nosso relacionamento não era nem de longe saudável. E nos últimos anos, você sempre teve algo a me criticar, algum defeito a ser apontado. Critica "construtivas", você nunca tinha nada de bom a dizer. A respeito do nosso relacionamento, não  estávamos mais dando certo. Algum dia demos certo?

— Nem sempre foi assim. E você sabe porque a nossa relação foi para o lixo.

— Você jogou no lixo. Você me jogou no lixo. De alguma forma eu não era bom o bastante para você. — seu queixo tremeu, suas mãos apertando com força as alças da bolsa. E eu mal consigo me manter de pé. "Não fuja dessa conversa, vai ser pior." Cibele me alertou. — Eu quis muito falar com você. Eu quis muito... Não sei, desabafa colocar uma pedra sobre esse assunto se é que uma coisa dessas é possível... Juro que me obriguei a fazer isso. Mas não consegui, porque eu não sou forte suficiente. Quero que você fique longe de mim. Estou dizendo isso mais uma vez, ficar longe de mim. Porque isso nunca vai cicatrizar, Stella. Sinto muito por isso, talvez você também se sinta exatamente assim. Procura ajuda de outra pessoa, um psicólogo, terapeuta o que for, o que eu não preciso é perdoar pela nossa perda, eu não preciso te perdoar por eu ter ido embora. — já não estou mais conseguindo me manter de pé, nem as lágrimas.

— Não posso simplesmente desistir de você.

Rir e chorei.

— Stella, nós não existimos mais faz tempo.

— Não vejo um fim.

— Porquê? Hum? Me diz.

— Eu não vivi o luto. Não me permitir e mesmo se quisesse era algo nosso. E não aconteceu por que me fechei dentro de mim. Não deixe ninguém entrar. Nada entrar.

— Sinto muito por isso. Mas eu não tenho solução para isso também. Eu não podia fazer nada, uma hora, no nosso relacionamento, uma hora eu tinha que pensar em mim. E quando ouvir você dizer aquilo, quando li sua carta, tive certeza que tinha que pensar em mim e foi o que fiz. Me agarrei a um fio de esperança. Quase não existente. Eu não sou a mesma pessoa, isso nunca vai voltar acontecer, não mudei para melhor muito menos para pior, meio-termo talvez, mas Stella não tem mais nós dois. Você sempre vai ser a mãe do meu filho, eu sinto muito, muito mesmo por ele não está aqui, acho melhor a gente não falar mais sobre isso.

Sai da sala cambaleando para a cozinha, o choro dela me perseguindo. Enchi dois copos com água. Me forcei a tomar. Retornei a sala, lhe entreguei o copo, Stella o pegou com as mãos trêmulas. Me aproximei, segurei suas mãos a ajudando a beber um pouco.

— Me desculpa. — ela sussurrou encostando a testa no meu peito — Me perdoa.

Peguei o copo colocando-o na mesa de centro. Encostei o queixo no alto da sua cabeça e a abracei. Seu choro foi aumentando a ponto de fazê-la se sacudi. Apertei-a mais a mim.

— Calma. Eu estou aqui. — falei lhe confortando.

— Porque você não voltou antes? — demorou um pouco para eu entender o que ela falou, já que todo momento ela soluça.

— Já te falei.

— Nós merecíamos um final melhor. — Concordei. Stella, seus braços em volta de mim. Prendi a respiração por um segundo, estamos muito próximos.

— Foi o que deu para arrumar. Foi o que jogaram no nosso colo. — Stella se afastou um pouco, ergueu um pouco o rosto. Sua maquiagem borrada, olhos e nariz vermelhos.

— Você seria um pai maravilhoso. — sorriu.

— E você uma mãe incrível. — ela negou, seu queixo voltou a tremer.

— Não. Eu não seria. Seria a pior mãe possível, mas meu consolo era que ele teria um ótimo pai. Assim como eu tenho. — a apertei mais junto a mim. Ficamos um tempo assim, quando ela parou de chorar me afastei com calma.

— Eu não acho que você seria uma mãe ruim.

Dona Charlotte não é exemplo de mãe a ser seguido, todo mundo sabe, mas isso não impediria Stella de ser uma mãe maravilhosa. Ela já era, com nosso filho ainda no ventre, ela já é uma mãe incrível.

— Não. Deus sabe o que faz. Pelo menos é o que dizem. — Deu de ombros.

— É o que dizem? — ela sacudiu a mão no ar — Não acredita mais em Deus?

— Não acredito mais em muita coisa. — suspirou. Olhou em volta. — Onde é o banheiro?

— A primeira porta à esquerda do corredor.

— É rapidinho e já estou indo. — apenas concordei.





O evento que Chris cita no início do capítulo, é sobre o evento beneficente da CCH que ocorreu na primeira história da série "promessas".

O que acharam desse capítulo?
Finalmente eles "conversam".

Próximos capítulos na sexta-feira! Até lá!

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