Capítulo 07
Abraçei minha determinação com fervor, erguendo-a como um escudo impenetrável contra os impulsos mais sombrios que ameaçavam me envolver. Firmei meu olhar no vampiro, desafiando-o com intensidade.
— Eu não sou como você. Não permito que a escuridão me consuma — minha voz tremulava, mas era impregnada de convicção.
O vampiro pareceu genuinamente surpreso com minha resposta, suas sobrancelhas arqueadas em uma mescla de descrença e interesse. Ele estudou-me por um momento, seus olhos sombrios mergulhando nas profundezas da minha alma.
— Escuridão... — ele retrucou com uma risada de escárnio — Isso é instinto, é sobrevivência. Você julgaria um lobo por devorar uma corça?
Recusei-me a analisar suas palavras, proibindo-me de absorvê-las.
As palavras de Caius ressoaram em minha mente, ensinando-me o que era certo. Aprendi que poderia sobreviver me alimentando de animais, que utilizar os humanos dessa forma era uma prática abominável.
E talvez, se eu repetisse isso vezes suficientes, meu próprio instinto abraçaria essa verdade absoluta.
Meus pensamentos se concentraram no treinamento que recebi, nas palavras de Caius ecoando dentro de mim. Ele sempre enfatizou a importância de preservar a vida humana, de encontrar um equilíbrio que não envolvesse usá-los de maneira tão desumana.
Fixei meu olhar nos olhos do vampiro, decidida a transmitir minha suposta convicção.
— Não julgo o instinto do lobo por caçar, mas acredito que, como seres racionais, podemos escolher um caminho diferente. Podemos exercer controle sobre nós mesmos e encontrar uma maneira de sobreviver sem infligir dor e sofrimento aos outros. Não é apenas uma questão de instinto, é uma questão de escolha e responsabilidade.
Perguntei-me algumas vezes se essas eram palavras realmente minhas ou apenas uma repetição das palavras de Caius.
O vampiro soltou uma risada descarada, sua expressão revelando um misto de escárnio e descrença. Ele balançou a cabeça, como se achasse minha resposta absurda.
— Eles ficarão bem... apenas um pouco de sangue a menos em seus corpos, uma lacuna em suas memórias. Nada tão terrível assim - explicou ele, de forma simples e indiferente.
O peso das palavras dele se instalou em meu silêncio, ecoando em meus pensamentos.
— E você, então, do que se alimenta? — perguntou ele, com um sorriso sarcástico brincando em seus lábios.
Um rubor de timidez tomou conta de mim enquanto respondia em voz baixa:
— Eu me nutro de animais. Procuro preservar a vida humana e encontrar um equilíbrio respeitoso com a natureza ao meu redor.
O vampiro soltou uma gargalhada debochada, como se eu tivesse contado a piada mais hilária do mundo.
— Animais, é? E eles não merecem o mesmo respeito que você reserva aos humanos? — Ele desafiou, confrontando-me abertamente — Muitas vezes, humanos são mais cruéis do que qualquer ser irracional.
Permaneci em silêncio, digerindo suas palavras. Estava perdida em um turbilhão de pensamentos conflitantes.
Sentia-me tentada a concordar com o vampiro, a considerar suas palavras provocativas e explorar uma nova perspectiva... mas eu não poderia.
Sem dar uma resposta, virei as costas e comecei a caminhar, exausta daquela discussão.
No entanto, meus passos foram bruscamente interrompidos quando o vampiro, com uma força dominante, segurou meu braço. Um arrepio percorreu minha pele e nossos olhares se encontraram, criando uma conexão elétrica.
— Vamos deixar isso para trás e começar de novo — ele sugeriu, sua voz sedutora e suave. — Meu nome é Asher. E o seu?
Engoli em seco, sentindo-me encurralada pela presença avassaladora dele. No entanto, havia algo em seus olhos, algo que despertava minha curiosidade.
— Sou Morrigan — respondi em voz baixa, cautelosa em compartilhar meu nome com um vampiro desconhecido.
Os olhos de Asher brilharam brevemente, e um sorriso suave surgiu em seus lábios.
— É um prazer conhecê-la, Morrigan — disse ele com gentileza. — Você mora por aqui?
Hesitei por um momento, ponderando suas palavras enquanto meus olhos se voltavam para o leste da floresta, apontando naquela direção.
— Resido além da floresta, naquela direção — respondi, indicando com um sutil movimento de cabeça.
Ele inclinou a cabeça, apontando para o outro lado da floresta.
— Interessante. Eu moro na direção oposta, então — respondeu ele.
Um breve momento de silêncio pairou entre nós, até que Asher finalmente se despediu com um sorriso enigmático.
— Bem, nos veremos por aí, Morrigan — disse ele, antes de se afastar rapidamente com sua velocidade vampírica, desvanecendo-se no horizonte.
Fiquei imóvel, parada no lugar, observando-o se distanciar. Uma mistura tumultuada de emoções e pensamentos agitava-se em minha mente. Sentia uma atração estranha por Asher, mas, ao mesmo tempo, uma voz interna insistia para que eu fosse cautelosa.
Enquanto o humano se recuperava, o observei atentamente, avaliando-o. Sopesava as palavras de Asher em minha mente, considerando qual seria o próximo passo a tomar.
Antes que ele recobrasse completamente os sentidos, movi-me rapidamente com minha velocidade sobrenatural, deixando para trás o cheiro do seu sangue, que, na ausência do vampiro, dominava meus sentidos.
No entanto, a curiosidade continuava a me consumir. Quem era Asher?
Enquanto caminhava pela floresta, revivia o encontro em minha mente. Recordava-me dos olhos penetrantes de Asher e do sorriso enigmático que ele ostentava. Havia algo nele que me intrigava profundamente.
A presença do vampiro havia despertado uma inquietude em meu ser, uma necessidade ardente de explorar além das fronteiras que Caius havia estabelecido.
Os ensinamentos ecoavam em minha mente. Ele sempre me guiou na senda da bondade, ensinando-me a controlar meus instintos e a preservar a harmonia.
No entanto, o encontro com Asher abalou minhas supostas convicções. Suas palavras ecoavam em minha mente, desafiando tudo o que eu havia aprendido.
Será que realmente existia uma forma de me alimentar sem causar a morte dos humanos? Será que havia um caminho para conciliar meu próprio instinto com a ética que Caius tanto enfatizava?
A ânsia por sangue que pulsava em meu âmago era instintiva, uma parte inegável de minha natureza. Eu tentava reprimi-la, mas a fome incessante se tornava cada vez mais difícil de ignorar.
Enquanto adentrava a segurança de minha casa, sentei-me em silêncio, mergulhada em conflito interno.
A luz do luar filtrava-se pelas frestas da janela, iluminando meu rosto em uma pálida claridade. Eu precisava encontrar respostas.
Refletindo sobre as palavras de Asher, comecei a questionar se minhas crenças eram tão inquestionáveis quanto eu havia imaginado. Talvez houvesse espaço para uma nova compreensão, uma perspectiva que abraçasse tanto a proteção dos humanos quanto o reconhecimento de minha própria natureza.
Mas como encontrar esse equilíbrio? Seria possível trilhar um caminho que não resultasse em morte, mas sim em uma coexistência respeitosa? Minha mente estava cheia de incertezas e possibilidades.
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