• Try Don't Breathe Through Your Mouth •

Era quase fim da tarde quando Taehyung foi puxado da cama pelos pés, sua bunda já dolorida bateu com força contra o chão e o fez soltar uma sequência de impropérios baixos para o loiro que o encarava com quase descrença, uma das mãos na cintura e a outra segurando uma porção de bolinhos. O ômega nem ao menos teve tempo de se sentir feliz com a presença do amigo já que, bem, estava confortavelmente dormindo em sua cama quente quando o mesmo chegou fazendo barulho como a porra de um estouro de boiada. Porque Jimin tinha que ser sempre tão barulhento mesmo?

- Parece que você foi atacado pela porra de um sanguessuga, cara - o beta falou antes de pegar uma camisa qualquer no guarda-roupa e jogar na cara do amigo. - Vamos, já te demos tempo demais para recuperar os quadris.

Realmente não tinha ideia do que Park estava falando, mas resolveu não discutir já que sabia muito bem o quanto o amigo conseguia ser um tremendo pé no saco quando queria. Então apenas se enfiou na camisa e arrumou o cabelo de qualquer jeito antes de seguir o loiro escada abaixo apenas para se deparar com sua sala cheia e Hyuna servindo chá a todos. Nayeon estava espremida com Mina na poltrona, na verdade a ômega estava praticamente no colo da outra. E, tipo, desde quando a loira fazia parte do grupo? Bem, não era Taehyung que iria ficar gastando tempo demais pensando nisso, não quando Hoseok e Yoongi cochichavam praticamente colados um no outro e Dahyun parecia realmente entediada do outro lado do mesmo sofá. Mas que merda estava acontecendo ali afinal?

Jimin se esparramou ao lado da beta, ele sempre parecia extremamente confortável ali e nem mesmo pestanejou ao jogar uma de suas pernas no colo dela. Nenhum deles realmente notou sua presença de imediato porque pareciam bem em seus próprios mundos, o que lhe deu algum tempo para engolir alguns inibidores que sempre mantinha por perto. Sentiu-se enjoar com o gosto meio azedo e meio amargo do remédio, no final das contas talvez ele devesse mesmo parar com eles por um tempo.

- Podemos conversar? - Min surgiu absolutamente do nada ao seu lado, o cenho completamente franzido para a cartela em sua mão.

- São para dor de cabeça - se viu justificando também do nada.

- Eu não perguntei - deu de ombros, mas os olhos ainda estavam nas pílulas. - Ainda assim, bem, você sabe que isso é uma bomba que te mata aos poucos, não sabe?

Ele sabia, quer dizer, ele podia não ser o melhor aluno da classe mas ainda fazia medicina. Ele conhecia perfeitamente bem as consequências que o uso excessivo de inibidores podia ter sobre o organismo, Kim não era burro. A questão toda é que ele realmente não se importava, tipo, um câncer precosse apenas o mataria mais rápido do que a droga da vida então, de qualquer forma, ainda estaria no lucro.

- Preciso beber água - mudou de assunto completamente, os comprimidos bem guardados no bolso do seu moletom. - Você vem?

Não esperou uma resposta porque era óbvio que Min iria, havia algo em seu rosto muito próximo a uma necessidade sufocante de seja lá o que fosse aquilo. Bem, ambos sabiam exatamente do que se tratava e o ômega sentia seus dedos meio fracos ao pegar o copo e enchê-lo com água de limão, fazendo o mesmo com um segundo copo antes de oferecer a um a Yoongi que parecia tão apreensivo quanto do outro lado do balcão.

- Obrigado - falou baixo ainda que não tivesse intenção nenhuma de beber o líquido, apenas ficou lá encarando a água enquanto batia os dedos nervosos no vidro. - Você sabe sobre o Jungkook e eu, certo?

Apenas assentiu, o corpo encostado na pia e os lábios no copo enquanto sorvia um gole de cada vez.

- Nós somos amigos antes de qualquer coisa - falou devagar, era como se tivesse ensaiado aquelas palavras por horas a fio. Tae não gostou delas. - Eu o amei muito, o tipo de paixão que consome. Mas acabou. Eu ainda o amo, mas não estou apaixonado. Somos quase como irmãos.

- Irmãos não fodem - cuspiu meio amargo segundos antes de se arrepender. Ele e sua maldita língua incoveniente.

- Isso não tem que se tornar uma briga desnecessária, Kim.

- Não é - colocou o copo vazio na pia antes de cruzar os braços em frente ao peito. - Eu realmente não me importo por onde o pau dele anda.

Min pareceu cansado ao bufar audível, havia olheiras profundas em seus olhos e a porra de uma mordida no seu pescoço, Taehyung notou com certo desgosto. O seu estômago fazendo voltas ao pensar na hipótese de que aquelas marcas pertenciam a Jeon. Era certo que alfas não podiam se unir uns aos outros, ainda assim o simbolismo daquilo fez seu peito arder como se estivesse em chamas porque, porra, eles estiveram juntos ainda pela manhã e a marca no pescoço do híbrido era recente o bastante para fazer com que quisesse vomitar tudo o que não havia comido.

No final das contas, talvez ele se importasse um pouco por onde o pau do alfa andava.

- Não temos que nos justificar por algo que aconteceu a anos, Kim - falou depois de um tempo.

- Eu sei, não estou pedindo isso - apenas o mínimo de consideração já era o suficiente.

"Mentiroso" algo gritou dentro de sua cabeça. Às vezes odiava a forma como era sabotado por si mesmo.

- Bem, que seja - o híbrido deu de ombros ao colocar o copo intocado no balcão, o nariz meio torcido como se estivesse fazendo um grande esforço para não jogar a água em Taehyung. - Você é o único além de mim que está a par do que aconteceu, preciso que venha comigo.

A urgência no tom de voz não deu a chances de questionar, apenas o seguiu pela porta dos fundos enquanto mandava uma mensagem a Jimin dizendo qualquer coisa que justificasse sua saída sorrateira com o melhor amigo do alfa que o havia fodido nos últimos seis dias. Do lado de fora, um carro preto do ano os esperava estacionado sob a sombra de uma árvore. O cheiro do Jung estava espalhado por cada centímetro do interior do automóvel, desde os tapetes até os assentos de couro. Havia também o cheiro de sexo recente e, bem, o cheiro marcante de tutti frutti por todo lugar. Torceu o nariz antes de tentar se acomodar devidamente no banco do carona enquanto pensava se alguém tinha sido fodido ali e se esse alguém era Min Yoongi. Bem, ele não podia negar que isso lhe traria algum alívio além de esclarecer algumas coisas também.

- Pode perguntar, se quiser - o híbrido disse ao dar partida no carro, as mãos bem firmes ao redor do volante. - Só não fique me olhando como quem tira suposições de algo porque, sério, quase sempre estão erradas.

Taehyung se mexeu incomodado no banco de couro enquanto pensava como abordar o assunto sem parecer muito emocionado. Quer dizer, ele e Jungkook não eram tecnicamente nada. Que direito tinha de querer garantir que o alfa não de relacionava com mais ninguém quando ele mesmo, provavelmente, seria azedo o suficiente para dizer que quem ele beijava não era da conta de ninguém.

- Esse carro não é seu - não era uma pergunta, nem mesmo de longe. Apenas pareceu a forma certa de se iniciar uma conversa.

- Não, não é.

- É do Jung - mais uma afirmação e, dessa vez, prestou atenção o bastante no híbrido para ter certeza que a forma como suas bochechas ficaram vermelhas não era coisa da sua cabeça. - A mordida no seu pescoço, é dele também?

Yoongi pareceu receoso, ou melhor, pareceu apenas constrangido a ponto de subir o colarinho da jaqueta apenas para esconder a marca. As maçãs de seu rosto pareciam duas bolas de natal, completamente coradas e redondas. É, ele realmente era uma pessoa muito bonita e a forma como a franja caía sobre seus olhos, fazia com que parecesse ainda mais espetacular.

- Eu sinto o cheiro dele por toda parte - continuou quando ficou claro que Min não iria dizer uma palavra sequer. - Inclusive em você, se eu me esforçar o suficiente.

- Ele não está mais com a sua amiga - retrucou na defensiva.

- Não falei nada sobre isso - e também não falaria. Ele conhecia Dahyun bem ao ponto de saber que ela jamais se deixaria abalar por um pau. Quer dizer, pintos vem e vão tão rápido quanto paixões. Palavras da própria. - Para onde estamos indo?

- Preciso pegar umas coisas na casa do JK - deu de ombros meio aliviado pela mudança de assunto. - Depois vamos ao hospital.

- Ah.

Certo, saber que logo estaria no lugar aonde Jeon cresceu e viveu toda a sua vida fez com que Taehyung se sentisse ligeiramente enjoado. Ele se sentia assim com frequência, o enjôo recorrente dos inibidores ficavam cada vez piores mas, bem, essa era uma questão para se pensar posteriormente porque a prioridade ali era o fato de que muito em breve ele estaria pisando o pé no mesmo chão em que um Jeon bebê havia vomitado muitos anos antes. Caralho, por que isso o fazia querer sorrir como um idiota? E, pior ainda, por que ele simplesmente não parecia se importar verdadeiramente com a forma como seu rosto parecia prestes a se rasgar num sorriso estúpido?

O restante da viagem prosseguiu em silêncio, logo as vias movimentadas do centro deram lugares a ruas espaçadas com vasta vegetação e casas simples do subúrbio. O lugar tinha cheiro de natureza, tinha exatamente o tipo de cheiro que Tae gostaria de sentir no último segundo de sua vida. Parecia um bom lugar para se crescer, um bom lugar para ser um menino ainda sem classe definida e poder jogar bola na rua sem se preocupar em estar ou não no cio. Kim praticamente podia ver um Jungkook franzino sendo um mandão enquanto capitão de um time de três numa disputa qualquer na rua sem saída aonde pararam. Assim como podia ver um Jeon adolescente em um encontro qualquer na varanda da casa azul com janelas no estilo vitoriano, um gramado bem aparado à frente e uma jarra com limonada feita pela mãe na mesa de mármore ali. Só que, droga, aquilo provavelmente nunca aconteceu porque o Jeon adolescente estaria gastando suas horas em frente a uma chapa numa lanchonete qualquer ou fodendo ômegas em troca de alguns trocados enquanto sua mãe estaria perdida dentro de si mesma em algum lugar naquela casa velha.

De repente, tudo pareceu mórbido demais.

Min parecia conhecer perfeitamente bem o lugar porque pescou uma chave reserva sob um vaso sem planta na beirada da escada antes de abrir a porta com um rangido agudo e a luz do fim da tarde iluminar o hall vazio. O lugar cheirava ruim. Porra, cheirava realmente ruim. Literalmente como algum animal morto coberto de poeira e um pouco mais de merda. Sentiu o vômito em sua garganta e, por segundos, pensou em se recusar a entrar naquela porra de casa. No entanto, merda, ele apenas parou um segundo para pensar em como Jungkook vivia ali dia após dia com sua mãe doente e em como Yoongi nem ao menos torceu o nariz antes de passar pela porta e seguir escadas acima.

O alfa tinha razão, ele tinha mesmo que estourar a porcaria da bolha em que vivia.

- Tente não respirar pela boca, acredite em mim, só piora - Yoongi gritou do andar de cima. - E não quebre nada, você não vai querer que o JK esteja na suas costas desse jeito.

O ômega apenas deu de ombros enquanto se decidia entre ficar parado ou perambular pela casa mergulhada na penumbra apenas para passar o tempo. Na verdade, tudo o que ele queria era algo pera distrair sua cabeça e aliviar a sensação sufocante de se sentir dentro de um chiqueiro. Sem muita certeza de seus passos, ele caminhou pela sala de estar que consistia em uma televisão velha, um par de sofá cor de ânis cobertos por plástico e uma mesa de centro de madeira nobre. Provavelmente seria um lugar aconchegante se não fosse pelo cheiro de cobria cada centímetro da superfície. Logo depois havia uma cozinha pequena, uma mesa para dois e alguns biscoitos jogados displicentemente sobre o balcão, uma xícara de chá ainda meio cheia estava dentro da pia. Um pouco mais adiante havia uma porta com a maçaneta meio gasta e enferrujada que, bem, era óbvio que Taehyung a abriria.

A primeira coisa que notou no lado de dentro foi o cheiro, ali ficava três vezes pior. Ruim o suficiente para ter que cobrir o nariz com a mão para não vomitar no chão velho. A segunda coisa foi que o lugar era cheio de frascos, backers e tubos de ensaio. Quase se pareciam um laboratório, exceto pela sujeira ali aonde pratos de comida meio cheio estavam espalhados por todo o lugar. À luz baixa, tudo parecia meio doentio. Ainda assim, andou com cuidado pelo espaço enquanto seus olhos capturavam cada detalhe como se quisesse gravá-los atrás de suas retinas. Havia uma caixa com centenas de comprimidos meio azuis e outros completamente brancos que ele, imediatamente, reconheceu como inibidores. Eram bons, aqueles bostinhas, bons ao ponto de tentarem as mãos não ladinhas de a enfiá-los em punhados nos bolsos. E ele realmente o teria feito se a porra da cereja do bolo não tivesse brilhado diante de seus olhos. Era um comprimido meio preto dentro de uma caixinha transparente sobre uma pilha de papéis rabiscados com letras garrafais. Pegou as folhas meio poeirentas entre os dedos e leu algo sobre aquele ser o terceiro teste de um inibidor definitivo, algo forte e eficaz o bastante para tirar qualquer rastro de ômega da sua vida e, porra, claro que ele jamais tomaria aquilo assim mas os cálculos e fórmulas no papel lhe pareceu tão coerentes. Talvez ele devesse levá-los para Jimin dar uma olhada, o beta com certeza conseguiria dizer se era seguro ou não. De qualquer forma não lhe restou outra alternativa além de enfiar a caixinha no bolso com pressa segundos antes de Min entrar no cômodo com uma das sobrancelhas arqueadas e uma mala na mão. Taehyung sorriu inocentemente enquanto seus dedos pareciam queimar nas pontas porque, merda, ele realmente tinha acabado de roubar de uma mulher doente. Uma mulher doente que era mãe do alfa que o havia fodido nos últimos dias. Porra, aonde estava sua consciência?

- Tudo bem por aqui? - o híbrido perguntou meio baixo, ainda parado próximo a porta como se não quisesse ultrapassar nenhum limite invisível.

- Uh, sim - concordou rapidamente, a caixinha pesando no bolso de sua calça. - Isso é...

- Meio bizarro?

- Eu ia dizer genial - apontou para os papéis sobre a mesa. - Realmente revolucionário. Mas bizarro também pode servir.

- É - o outro concordou sem muita convicção. - Miseon era incrível, sabe, antes de todas as merdas. Ela realmente teria feito história na indústria se tivesse tido tempo.

- Eu não entendo - começou meio ansioso enquanto os olhos iam de Yoongi para a folha e trocava o peso do corpo. - Ela tinha um bom trabalho, renda fixa e algum conceito. Pelo menos foi o que Jeon me disse. Então, porra, por que eles vivem assim?

Min pareceu bastante desconfortável, mas não o suficiente para se esquivar da pergunta. Ele apenas balançou a cabeça em desgosto como se houvesse mais merdas enterradas sob as fundações daquela casa do que Kim jamais saberia. Mas, inferno, ele queria saber. Ele queria saber absolutamente tudo que era relacionado com Jeon Jungkook. Talvez, principalmente, as partes ruins porque (como dizia sua mãe) é pelas merdas da vida que se conhece verdadeiramente alguém.

- Você está certo - disse enquanto levava o corpo para fora da garagem, Tae o seguiu sem outra alternativa. - Quando aconteceu eles seguiram com uma vida razoável. Havia sempre uma enfermeira aqui e tanto Jungkook quando Junghyun conseguiam lidar com a nova forma de vida. Bem, até não conseguirem mais. Certa de dois ou três anos depois, ele já não aguentava o cheiro e a forma como sua mãe vivia. Foi ele quem deu a ideia à Bohyuk, ele e o marido não tinham condições de criar um adolescente e, merda, ele queria mais do que qualquer coisa sair daqui.

Taehyung não precisou nem mesmo tentar imaginar o garoto como uma cobra porque ele ainda se lembrava muito bem de como suas palavras soaram naquele dia em sua casa. Ele também se lembrava muito bem de como Jeon pareceu realmente puto da vida ao se referir ao irmão e ao homem que nunca chamava de pai.

- Eles foram a um advogado e editaram um documento que passaria todos os direitos aos fundos de Miseon para filho mais novo - Min continuou. - Fazê-la assinar foi a parte mais fácil disso tudo. Jungkook estava na escola quando aconteceu, estávamos juntos. Quando chegamos Junghyun já não estava mais aqui e tudo o que havia como justificativa era um bilhete sobre como, às vezes, algumas escolhas difíceis precisam ser feitas e como ele escolheu viver fora de um buraco de merda que era sua própria mãe.

- Porra - grunhiu com as mãos em punhos conforme imaginava como ficariam lindos na cara do merdinha.

- É - o híbrido caminhou para fora da porta e Taehyung o seguiu, o ar puro do lado de fora lhe trouxe alguma cor às bochechas e ele tentou mesmo não suspirar aliviado apesar de ter falhado miseravelmente. - Jeon começou a trabalhar logo em seguida, aprendeu a cuidar da sua mãe e, acho, que foi aí que se apaixonou pela medicina. Sabe, Miseon realmente é uma pessoa incrível em seus momentos de lucidez e acho que isso ajuda quando tudo está ruim demais.

- O que aconteceu com ela?

- Achei que você...

- Não antes - interrompeu, a mão na maçaneta do carro e os olhos bem presos em Min. - Agora, o que aconteceu para ela ir para o hospital?

- Mion é consciente de sua própria condição em seus lapsos lúcidos - o híbrido desviou o olhar como se fosse extremamente difícil de continuar sustentando as esmeraldas do ômega. - Ela tentou se curar.

Queria perguntar como, queria mesmo mas, bem, Yoongi não lhe deu nenhuma oportunidade, a forma como jogou a mala na parte de trás do carro e se acomodou sério no volante dizia "fim de conversa" e tudo bem, Kim já estava furioso e triste e totalmente puto da vida o bastante.

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