• I Can't Cure You •

Ele sabia que não era uma pessoa fácil, assim como ele sabia perfeitamente bem o quanto a vida poderia ser uma vadia. Jungkook não era do tipo que romantizava as merdas sobre seus ombros, não, ele sabia exatamente onde pisava e todas as consequências que o seguiria após isso. E, por isso, o alfa sabia que não deveria seguir adiante. Ele sabia que suas melhores chances era apenas rir alto como se tudo fosse uma piada porque, sob certo olhar, era exatamente isso o que aquilo era. Uma piada amarga da porra do universo.

Nunca havia sido sua intenção deixar que as coisas fossem tão longe, nunca havia sido sua intenção fazer com que Kim desmoronasse. Mas era exatamente isso o que estava acontecendo naquele momento. Mesmo que o ômega jamais fosse admitir isso em voz alta, não era preciso em todo caso porque Jeon sabia. Ele era a merda de um alfa lúpus e isso não era apenas a porcaria de uma alteração genética mais forte, não. Ser um alfa lúpus significava saber mais do que outros alfas, significava ser um líder natural. Significava ser forte, inteligente e capaz de mover o mundo com a porra do indicador. Ser um alfa lúpus significava ser tudo o que Jeon Jungkook não era. Porque Jeon Jungkook era uma puta.

E agora ele estava fodendo com Kim Taehyung como nunca antes tinha feito com ninguém.

- E-eu, eu não... - o ômega tinha as bochechas completamente ruborizadas e seu cheiro era tudo o que Jeon sentia.

Kim era tudo o que Jeon sentia.

- Eu não quis dizer isso - o alfa quis rir na cara do outro porque ele realmente era um merda quando mentia. - Eu só fiquei surpreso.

- Tudo bem - as palavras escorriam pelas sua língua conforme tentava ganhar tempo suficiente para que seu alfa parasse que gritar dentro de si. Ah, ele estava agindo como a porra de um merdinha rebelde desde que vira o ômega enfiando um dildo no cu a algum tempo atrás. Seu alfa praticamente uivava pelo ômega à sua frente. - Yoongi é meu amigo e isso é tudo.

- Você... sabe, ama ele?

- Sim - era verdade, Jungkook amava o ômega. Amava como ele sabia conduzir sua vida de merda com tanto talento. - Mas não exatamente como eu deveria tê-lo amado.

Jungkook sempre soube sobre Yoongi, antes mesmo dele próprio aceitar-se. Eram amigos desde sempre, basicamente, e foi em seu ombro que o ômega chorou por não ser um ômega biologicamente falando. Assim como foi para ele que o Min disse ser quem era verdadeiramente, durante uma noite com algum álcool aos dezessete. E então eles foderam. E depois de novo. E mais uma vez até que Jeon percebesse o quão aquilo não soava certo. Yoongi era seu melhor amigo e o alfa moveria montanhas a seu pedido, mas isso era tudo. E, bem, ele realmente iria dizer. Realmente iria dizer isso ao ômega e então eles ficariam bem, eles ainda seriam os mesmos amigos e o alfa poderia focar nos pontos mais fodidos da sua existência. Só que, inferno, no final das contas tudo o que houve foi uma confissão e definitivamente não sabia agir em situações assim. Ele odiava mentir, mas o fez seriamente pela primeira vez. E foi aí que descobriu ser realmente bom nisso.

Quase um ano depois, eles conheceram Hoseok. Duas semanas depois de o conhecerem, Yoongi disse que não poderia mais continuar. E tudo bem porque Jungkook sabia, porra, ele era a merda de um alfa lúpus no final das contas. Era óbvio que ele sabia o quanto Hoseok despertava Min a ponto de seu cheiro ficar insuportável. A única coisa que ele não sabia e continuava sem saber era porque os dois nunca haviam dito um ao outro como se sentiam. Quer dizer, ele sabia porque ele estava lá quando Jung apareceu com as mãos entrelaçadas nas de Jihyo. Ele estava lá quando Yoongi sorriu largo e deu um abraço apertado na garota e também estava lá quando foi a vez de Chaeyoung. E em todas as outras malditas vezes porque Jung era a porra de um namorador de merda. E Yoongi ótimo em mascarar sua dor com a porra de um sorriso grande e modos gentis entre uma carranca e outra.

De qualquer forma, eles não eram mais do que dois amigos que tinham ido um pouco longe demais. E Jungkook queria que Taehyug soubesse disso. E ele queria que Taehyung soubesse disso porque ele queria o Taehyung.

Completamente absurdo, mas era exatamente assim que se sentia. E isso nada tinha a ver com o fato de seu alfa saltar suas presas apenas com o pensamento de tê-lo sob si, não, isso não tinha absolutamente nada a ver com seu animal interno. Era Jungkook, apenas Jungkook e nada mais. O que era uma merda porque não era Taehyung falando.

Saber disso o deixava louco, saber que podia tocar Taehyung se dispensasse algum esforço nisso. Saber que poderia fazer seu ômega ficar de joelhos mais rápido do que um respirar profundo era quase como uma tortura porque Jungkook não queria o ômega. Jeon não queria o animal dentro dele, não queria o cio e não queria a submissão aos feromônios.

Jungkook queria Taehyung.

- Ah - o ômega falou e Jeon quase pôde vê-lo abanando o rabo como um filhotinho feliz.

- O que você disse... - começou devagar como se mexesse em um vespeiro.

- Era uma piada, idiota - realmente admirava o modo como Kim estava se esforçando para parecer tranquilo enquanto seu sangue fervia sob a pele pálida. O alfa quase podia ouvir o som.

- Tudo bem.

Sim, estava mesmo tudo bem. Jungkook não era do tipo que insiste, ele não era do tipo que questiona. Sabia o quão importante era respeitar o espaço e limites das pessoas porque tudo o que ele fazia era ter seus próprios limites ultrapassados dia após dia. Foda após foda.

Aquela não era a vida com a qual ele havia sonhado quando garoto, não era a vida que planejou aos dez anos enquanto brincava no jardim de pique esconde com hyun. Não era o que desejou no seu décimo primeiro aniversário ao assoprar a vela enquanto sentia as mãos fortes do pai em seus ombros. Não. Ele queria ser astronauta e, ocasionalmente, um fotógrafo. O Jungkook pequeno queria desbravar universos e florestas perigosas, queria ser importante para as pessoas e para o mundo. O Jungkook daquela época sentiria nojo de quem ele era agora. Pulando de cama em cama por algumas notas de cem, fodendo ômegas sem nunca nem mesmo se lembrar dos nomes. Fodendo ômegas sem nunca ter tido seu nó em alguém. Fodendo ômegas enquanto tudo o que ele queria fazer era olhar para o céu noturno em uma cidade não poluída e admirar a beleza ali simplesmente porque era simples e a simplicidade o atraía.

- Acho que temos que voltar - Taehyung falou baixinho e seu alfa uivou ferozmente enquanto fazia um esforço tremendo para se libertar e colocar o ômega de bunda para cima.

- Você pode ir se quiser.

Mas ele não foi.

Jungkook o deixou se aproximar e colocar-se ao seu lado, próximo demais para sua própria segurança. O alfa teve que apertar as mãos ao redor do parapeito de ferro apenas para mantê-la longe de Kim porque era sempre assim quando estavam juntos. Mas, bem, Jeon era um bom mentiroso e era ainda melhor em conter-se, em fingir e em se auto sabotar.

- Me conte um segredo - o ômega pediu quase que em um murmúrio. - Um que ninguém mais saiba.

"Eu quero você" pensou quase desesperadamente. "Eu quero adorar cada parte quebrada da sua existência. Mas eu não posso. Eu não posso curar você quando sou a própria doença."

- Eu odeio meu pai - deixou-se falar, o cenho franzido meio raivoso porque apenas se lembrar do homem o deixava puto. - E agora odeio meu irmão também.

Ele sabia que não era aquilo que Kim queria ouvir, claro que sabia. Mas acontece que, a partir do momento em que as palavras saíssem de sua boca, ele jamais conseguiria engoli-las de volta.

- E você? - perguntou.

- Eu não quero mentir, Jungguk - falou, a voz meio quebradiça nas vogais. - Mas também não quero dizer a verdade.

- Está tudo bem.

- Não, não está porra - grunhiu. - Nada está bem, não consegue ver? Não consegue ver o mundo caindo aos pedaços bem diante de seus olhos?

Não, Jungkook não conseguia ver absolutamente nada porque a merda do seu mundo já estava no chão há muito tempo.

- Eu odeio alfas - Taehyung continuou depois que ficou claro que Jungkook não diria coisa alguma. - Eu realmente odeio alfas, merda. Eu odeio!

- Acredito em você.

- Você não está entendendo... - bufou.

Claro que ele estava, mas como poderia dizer a ele que estava tão completamente desesperado para tocá-lo que não se importava com mais nada? Como poderia sequer pensar em tocá-lo quando tudo o que havia sob sua pele lindamente alva eram cicatrizes? Como Jungkook poderia sonhar em beijar cada uma delas até não existirem mais quando ele mesmo não passava da porcaria de um fodedor por encomenda? "Eu não posso curar você" repetiu para si mesmo.

- Diga que também quer - praticamente suplicou. - Diz que também me quer.

Porra!

Caralho.

Tudo o que Jungkook queria era dizer o quanto ele seria capaz de mover as estrelas apenas com um simples pedido do ômega, apenas para vê-lo feliz. Apenas para vê-lo bem. E, porra, era tão certo que Taehyung jamais estaria bem se o alfa estivesse na soma.

Só que, ao mesmo tempo, Jungkook estava cansado de fazer o que era certo.

- Eu quero.

A princípio o céu não se juntou ao mar em uma explosão sem fim porque ambos apenas continuaram lado lado meio debruçados no parapeito, as palavras flutuando ao redor de suas cabeças e a sensação de que havia acabado de assinar sua própria sentença de morte o fazendo querer gritar até o mundo esquecer de sua existência. Mas, bem, não fez nada disso porque tudo o que ele queria era beijar Kim Taehyung. E fodê-lo. E, depois, passar sua língua por todo o corpo de cintura fina apenas porque poderia.

Mas ele não podia. Não podia porque ele não pretendia foder com a vida do Kim mais do que já era fodida. E se não pudesse acrescentar algo bom ao ômega, então não acrescentaria nada.

No entanto, aparentemente Kim não pensava assim.

Foi Taehy quem o beijou. Meio desajeitado e curvado ao encostar seus lábios nos dele. O contato quente fez Jungkook pensar que poderia morrer feliz depois daquilo. Só que ele não iria, não quando todo o seu corpo queimava por Taehyung. Não quando levou suas mãos até o rosto dele e o virou apenas o suficiente para se colocar diante do ômega, sua língua passeando por aqueles lábios macios conforme sentia o outro ronronar e se aconchegar mais ao seu toque sem saber o que fazer com suas mãos pequenas e desajeitadas. Mas isso não era problema. Nada no mundo seria problema enquanto sua boca estivesse na boca dele.

Kim praticamente derreteu-se quando o beijou se tornou uma confusão de línguas, lábios inchados, saliva e ofegos abafados por gemidos suaves. Tae sentiu duas mãos em sua bunda enquanto tinha o corpo completamente preenssado contra a muralha de músculos que era o peito de Jeon Jungkook. Porra! Aquilo era o inferno de bom. Bom o suficiente para o pau do Jeon estar praticamente estourando o zíper do jeans conforme sua língua lambia o queixo do ômega, descendo calmamente por sua mandíbula apenas para voltar todo o caminho até a parte de trás da adorável orelha e depositar beijinhos ali antes de continuar pescoço abaixo.

Jeon sentia a porra de uma supernova no meio do peito conforme passava as mãos por um Taehyung completamente receptivo que o fazia se sentir tão bem aceito quanto jamais pensou antes. O alfa sabia que poderia fazer um estrago fodidamente grande no Kim, sabia que poderia foder sua vida e seria bem mais doloroso do que foder seu cu sem lubrificante fora do cio. Dabia que era errado. Sabia que ele era a verdadeira definição da palavra no dicionário. Caralho, ele literalmente fodia pessoas por dinheiro! Sabia de todos os pormenores, de todos os mínimos erros que poderiam desencadear uma terceira guerra mundial na porra do mundo. Ele sabia que tinha que se afastar tanto quanto sabia que jamais conseguiria, não quando havia experimentado o céu em forma de lábios.

- Junggukiee... - o ômega ronronou aí jogar os braços ao redor de seu pescoço e aconchegar o rosto ali.

Porra!

Jeon pensou que poderia se jogar da porra do Lotte World Tower porque era Taehyunh ali em seus braços, o rosto na curva de seu pescoço enquanto suspirada seu nome baixinho. Era Taehyung sem nenhum efeito de feromônios porque Jungkook havia garantido que não sairia da linha, havia garantido que não haveria culpados para ser apontados mais tarde porque aquele era Taehyung, o verdadeiro Taehyung. O mesmo que quase o enlouqueceu depois de tanto tempo. "Ah, Kim, se ao menos você soubesse" pensou conforme sorria entre seus fios de cabelos e deixava beijinhos ali.

- Você vai fugir e fingir que nada aconteceu? - ouviu-se perguntar.

- Não sei - sussurrou de volta, a respiração quente em seu pescoço causando um alvoroço nas partes baixas do alfa. - Podemos falar disso mais tarde?

- O que você quiser - sim, era verdade. Sempre seria o que o ômega quisesse, em toda e qualquer circunstância porque estar ali com ele já lhe era castigo o suficiente.

Taehyung se aconchegou mais no alfa, seus braços apertando o corpo delicado como se jamais pudesse de desvencilhar. Jungkook queria realmente ser digno do toque.

- Eu tenho que ir no banheiro - Tae falou baixinho. - Mas não quero.

- Não mije em mim novamente, Kim - o alfa podia sentí-lo rir em seu pescoço. - Não há necessidade de marcar território duas vezes.

- Eu não fiz - falou de pressa, os olhos graúdos e brilhantes o encarando. - Não foi de propósito.

- Estou brincando, idiota.

Jungkook deu um beijinho na bochecha direita do ômega, teve que se afastar para isso mas não se importou porque aquilo não significava nada além da quebra de um contato que logo voltou a se formar. Junkook adorava essas quebras, fazia aquele mundo de merda parecer mais real.

- Mas não teria problema, sabe, se quisesse - concluiu.

- O que?

- Mijar em mim - provocou com um riso rouco escapando da garganta. - Marcar território.

- Ew, Kookie.

Kookie.

Caralho.

Jeon teve que respirar fundo para conter-se e não gritar extasiado, porra ele estava tão fodido. Os dois estavam. Desde quando? Bem, Jungkook não poderia dar uma data exata em relação à Kim. Mas a ele próprio sim, jamais se esqueceria do dia em que havia prometido a si mesmo nunca se aproximar do ômega que tentava desesperadamente se provar, tentando ser algo além de sua classe enquanto negava sua existência no processo.

Ah, ele tinha falhado tão miseravelmente.

- Eu nunca me senti assim - Tae falou derepente, os olhos fixos em algum lugar que não era Jeon. - Eu nunca quis ninguém ao ponto de querer vomitar. É assustador e eu não sei lidar com isso, não quando você é um alfa e eu sou... bem, eu sou eu.

- Você não precisa se justificar, Tae.

- E você poderia parar de ser tão condescendente? - bufou fingindo irritação. - Fica completamente mais difícil te odiar quando você é uma pessoa tão boa.

- Eu não sou - definitivamente ele não era.

- Você é.

Não, ele não era. Mas deveria mesmo discutir sobre isso naquele momento? Deveria mostrar todas as suas partes realmente fodidas quando tudo o que queria era beijá-lo e sentir o quanto era recíproco? Não, não deveria. Não naquela noite fresca enquanto Kim o olhava como se ele fosse a melhor pessoa do mundo. Era uma sensação boa, uma sensação que não tinha a muito tempo. Jungkook, às vezes, adorava se enganar.

- Eu quero você e não me importo se tudo vai mudar assim que pisarmos para o lado de fora desse quarto - permitiu-se falar, a voz soando calma o suficiente enquanto uma tormenta o atingia no meio do peito. - Não me importo porque tenho o agora e nada poderá tirar isso de mim, nunca. Então, poderia parar de parecer tão completamente adorável e me deixar beijar você?

Taehyung sorriu com suas bochechas vermelhas completamente apaixonante porque ele era. Quer dizer, às vezes o ômega era realmente um puto de merda, difícil de se lidar enquanto suas cicatrizes ardiam sob a pele. Mas quando não estava tentando lidar com suas merdas da melhor forma possível, ele se mostrava verdadeiramente. E seu eu verdadeiro era gentil a ponto de se arriscar por qualquer pessoa que pareça meramente mais frágil, era doce e bondoso mesmo que não tenha ideia disso. Seu sorriso parecia a porra do sol em fim de tarde, o mais bonito de todos. E esse sorriso estava destinado a ele, a um alfa de merda de sobrevivia pelas beiradas da vida enquanto se dividia entre tentar não demorar muito para chegar em casa e conseguir dinheiro suficiente.

Sua vida era uma balança desregulada que pendia para desgraça e Jungkook jamais poderia arrastar Taehyung para suas merdas, então o beijou avidamente apenas para decorar a sensação. O beijou até que o ômega reclamasse que realmente iria mijar nas calças e o quanto isso seria desagradável antes de sair correndo quase em saltinhos pela porta. Sorriu largo antes de sentir o celular vibrar em seu bolso, era quase duas da manhã e ele tinha um trabalho.

Merda.

Ele tinha acabado de beijar Kim por minutos (horas talvez?) e agora tinha que ir foder alguém sem nome e sem rosto com, provavelmente, algum cheiro ruim que o deixaria se sentindo um completo bosta. Amaldiçoando-se, Jeon pegou o casaco lançando um olhar significativo para Yoongi, um olhar que suplicava por desculpa.

Um pedido de desculpa que não era para ele.

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