• Epílogo: Happy Endings Don't Exist •
Taehyung sentiu-se rasgar, seu corpo parecia se abrir a partir dos quadris conforme o suor escorria de suas têmporas e ele se via obrigado a forçar aquele corpo estranho para fora de seu próprio corpo. Não era um momento bonito de se ver, não era nem ao menos agradável ou qualquer outra coisa como diziam as merdas de livros que ele havia lido nos últimos nove meses. Não, aquilo estava mais perto do inferno do que qualquer outra coisa e, por meio segundo, o ômega amaldiçoou Jeon e a porra de seu pau por fazê-lo passar por aquilo.
Mas, bem, a culpa não era dele.
Havia acontecido há dois anos, vinte e oito de setembro. Um dia frio se outono em um igrejinha silenciosa à beira da praia. Taehyung estava de branco e Jungkook perfeitamente delicioso em seu smoking preto, os olhos incrivelmente escuros combinavam com a gravata. Jimin usava gravata borboleta do tio Patinhas e trazia um livro aberto entre as mãos enquanto permanecia devidamente posicionado no altar como o cerimonialista exímio que era. Yoongi e Hoseok eram os padrinhos. Nayeon e Mina, as madrinhas. Minseo e Namjoon estavam chorosos nas cadeiras da frente, seu irmão firmemente agarrado à mãe enquanto fazia um grande esforço para não chorar. Merda, ele não podia chorar porque se ele chorasse então Tae também o faria. E ele, definitivamente, não poderia se casar completamente arruinado.
O pedido havia sido feito alguns meses antes, no terceiro aniversário juntos. Jeon e Jimin haviam conseguido estender a pesquisa pela quarta vez consecutiva e os avanços eram incríveis o bastante para seus nomes estarem em revistas médicas basicamente mensalmente. Eles estavam comemorando em um restaurante qualquer, Tae sentia-se ansioso porque também tinha uma conquista para contar ao namorado. O ômega havia deixado a faculdade de medicina meio ano antes quando, finalmente, se deu conta de que seguir os passos de sua mãe não era exatamente sua vocação. Ele queria mais do que isso, mais do que salvar pessoas na mesa de cirurgia então havia decidido parar antes que se tornasse o tipo de médico que detestava, aquele sem amor à profissão. Havia levado algum tempo para dar-se conta de que queria ajudar pessoas como ele, pessoas com passado difíceis para lidar, pessoas que precisavam de apoio sem ser manipuladas. Naquela noite ele diria a Jeon que havia conseguido entrar na faculdade de psicologia como o ômega que era, sem mais precisar se esconder e ter medo de sua verdadeira essência. Não teve tempo porque, assim que a primeira taça de champanhe foi servida, Jungkook se encontrava de joelhos com a porra de um anel de diamantes e olhos cheios de lágrimas.
- Eu preparei todo um discurso emotivo sobre como você é o amor da minha vida, Kim - falou com a voz embargada. - Mas eu estou nervoso demais para me lembrar de uma palavra sequer, então... apenas se case comigo e me deixe ser o homem mais feliz dessa terra que, juro, gastarei todos os meus dias retribuindo o favor.
Taehyung o amava demais para negar e, bem, meses depois lá estavam eles diante de todas as pessoas que importavam enquanto Jimin os casava com seus discursos floreados e completamente cômicos como quando ele os pegou fodendo dentro do banheiro quando estava realmente apertado e como, nesse mesmo dia, considerou seriamente se não seria uma ideia de todo ruim ficar cego. E, ainda que Tae se sentisse nervoso a ponto de querer vomitar nos próprios sapatos caros, o cerimônia foi realmente linda e exatamente o que eles precisavam depois de todas as tempestades que tiveram em suas vidas como, por exemplo, o falecimento de Minseon poucas semanas antes. O ômega nunca antes havia pensado que Jungkook poderia ceder às pressões da vida daquela forma mas, bem, eles estavam no meio de uma briga idiota sobre quais flores seriam colocadas nas mesas (Taehyung queria tulipas e Jungkook crisântemos) quando o telefone tocou e tudo mudou num piscar de olhos. Jeon não disse absolutamente nada além do fato de que sua mãe havia dormindo na noite anterior e não acordou, era o fim. Ele ficou sem comer por semanas, basicamente, enquanto se arrastava pelos cantos cumprindo suas obrigações com sorrisos falsos no rosto porque toda a sua vida não tinha mais a porcaria de um propósito, seu trabalho era para curar Minseon e agora ela estava morta. Taehyung realmente pensou que o noivo nunca mais voltaria a ser ele mesmo, realmente pensou que Jungkook havia perdido completamente a luz de sua vida.
- Ei, Guggie - disse uma certa vez enquanto estavam embolados na cama depois de uma noite de sexo árdua o bastante para deixá-lo com as pernas bambas. - Você está bem?
O alfa apenas assentiu conforme arrastava os dedos pela pele branca das costas do Kim, os olhos perdidos em algum lugar no teto e muito mais além.
- As pessoas se vão - O ômega ouviu-se dizer antes mesmo que pudesse controlar sua própria língua. É só que, porra, era tão difícil ver Jeon daquela forma. - As pessoas se vão sem nosso consentimento e isso é realmente uma droga, sabe, mas independente de qualquer coisa a vida ainda continua. O ar ainda entra em nossos pulmões e ainda precisamos aguentar todas as dores dia após dia porque somos feitos de cicatrizes, ainda que elas não nós definam continuam lá nos tornando quem somos.
- Eu estou bem, sun - falou baixinho, a boca encostada nos cabelos que já estavam curtos a algum tempo. - Apenas deixe-me passar pelo luto da única forma que sei. E, apenas, permaneça aqui.
- Você disse que não iria me deixar ir embora - sussurrou ao se aconchegar mais no alfa. - E agora eu te digo que não vou a lugar algum porque toda a minha vida pertence a você, Jeon. Quer você goste ou não.
Em todo caso o luto inevitavelmente passou, tipo, às vezes tinham dias péssimos em que o alfa chorava durante o banho e o ômega apenas entrava no box e o abraçava até que os soluços passassem. Assim como haviam dias em que o alfa passava horas e horas contando como sua mãe era espetacular, como era a melhor pessoa do mundo todo e como, ainda que estivesse doente, continuava brilhante. Tudo era apenas questão de momento afinal a vida se resume a altos muito altos e baixos ainda piores. Com eles não poderia ser diferente e o primeiro veio logo depois do casamento, ainda na lua de mel. Mais precisamente porque Taehyung estava pronto para receber a marca do homem que amava e Jungkook parecia realmente não querer fazê-la. Eles dormiram em quartos separados no hotel, o alfa desapareceu a noite toda e Yoongi, Nayeon e Dahyun (que estava muitíssimo bem com uma garrafa de champanhe caro na mão) passaram horas em sua suíte nupcial estendendo-lhe lenços e garantindo que, sim, Jeon o amava e que ele era apenas um babaca com alguma razão estúpida para não querer fazer o óbvio. Tae sentia-se pequeno demais para fazer qualquer coisa além de chorar e, na manhã seguinte, quando o alfa retornou com olhos de ressaca e se jogou sobre o ômega garantindo que o amava mais do que qualquer coisa no mundo e que, por isso, não podia simplesmente torná-lo seu quando ele ainda era basicamente um nada na vida. O ômega realmente pensou em chutar-lhe o saco mas, ao invés disso, apenas beijou o marido o bastante para fazê-lo entender que não nada mais importava além do fato de Jeon Jungkook ser Jeon Jungkook que ele amava para toda a vida.
A mordida veio naquela mesma noite, Taehyung gritou alto e sentiu pontos escuros na vista e vertigens durante as semanas seguintes. Era uma sensação estranha, era como sempre ter um peso no estômago quando o alfa estava longe e fogos de artifício atrás dos olhos quando ele se aproximava. O sexo era monumental agora, já haviam sido notificados por "barulho exagerado que vai contra a política de boa vizinhança do prédio" uma par de vezes desde que se mudaram para o apartamento próximo da universidade que tinham comprado algum tempo antes. Mas, bem, não durou muito porque Taehyung começou a sentir-se cansado demais para qualquer coisa, sem apetite e seus cios haviam se tornado terrivelmente curtos. Náuseas e dores musculares o atormentava todos os dias e, por muito tempo, ele pensou que estava com algo realmente ruim até que Jimin, literalmente, jogou um teste de gravidez em sua cara (ele tinha mesmo que parar com aquela mania). "Eu não aguento mais a porra do seu marido comendo meu ouvido sobre como o bonito do Taehy está casa dia mais magro e apático. Porra, eu tenho que fazer tudo nessa vida?" gritou enquanto bebia seu chá na mesa da cozinha e digitava furiosamente algo no celular que, quando o ômega perguntou o que era, o beta apenas deu de ombros e disse que tinha um encontro.
- Minha vida romântica não é mais importante que esse filhote na sua barriga, idiota - grunhiu enquanto colocava sua caneca de volta no balcão porque, sim, todos eles tinham canecas na casa dos Kim-Jeon. - Parece uma criança, inacreditável!
Em todo caso, bem, Jimin estava certo.
Taehyung chorou por horas seguidas depois do positivo porque realmente não sabia o que estava sentindo. Tipo, ele amava seu alfa e estavam unidos por toda a eternidade mas, porra, um filhote? Um filhote tão cedo? Enquanto o alfa o abraçava forte, o ômega apenas conseguia pensar em anos antes quando também havia um filhote em sua barriga e em como aquilo havia sido basicamente o fim de sua vida. Quer dizer, as situações eram completamente diferentes mas, para quem não pensava naquilo há muito tempo, bem, era meio dolorido. E, apenas quando a gestação alcançou o sexto mês, foi que Taehyung começou a pensar que realmente poderia amar a criança que crescia em seu ventre redondo. Durante as noites intermináveis em que o filhotinho fazia festa dentro de seu útero e o alfa dormia cansado ao seu lado com os braços firmementes ao redor de seu corpo, bem, naquelas noites Tae sentia que poderiam ser realmente uma família. Uma família diferente da do alfa e ainda mais diferente da sua. Uma família sem mentiras e segredos obscuros, uma família com um final feliz porque seu bebê merecia isso e, se não fosse para oferecer uma vida cercada de felicidade, então preferia não ter um filhote.
Eles estavam jantando em um restaurante padrão médio quando a bolsa estourou e a algazarra se formou por completa. Um mesa com oito pessoas desesperadas porque o amigo deles estava tendo um filhote. Nayeon parecia aflita enquanto suas mãos tremiam e seus olhos muito arregalados olhavam para tudo. Mina, Jimin e Hoseok corriam de um lado para o outro como as baratas tontas que eram. Yoongi acudia um Jungkook completamente pálido que havia, literalmente, caído da cadeira. E Dahyun, a única que estava fazendo realmente alguma coisa ali, segurava Taehyung pela cintura com delicadeza enquanto praticamente tomava as chaves do carro do Jung aos berros. "Seus filhos da puta nem parece que fazem medicina, merdinhas desocupados" falou alto o bastante para se fazer ouvir por todo o lugar antes de lançar um beijo para Jimin (sim, eles estavam juntos) e chutar o calcanhar do Jeon para que a acompanhasse enquanto resmungava sobre como era difícil ser a única pessoa sensata daquele bando de inúteis.
Horas depois e lá estava o ômega meio berrando e meio grunhindo com seu rosto muito vermelho fazendo a porra de uma força sobrehumana para tirar aquela criança do seu corpo. Maldito fosse Jeon Jungkook e a porra do seu pau. Meia dúzias de médicos, enfermeiros e mais algumas pessoas com rostos entediados de quem estava cumprindo apenas mais um dia de trabalho falavam sobre qualquer coisa enquanto Taehyung sentia-se rasgar, literalmente rasgar porque, porra, uma criança estava saindo de seu cu e definitivamente aquela não era uma cena muito bonita de se presenciar e, ainda menos, de se sentir. De qualquer forma se aquilo deu um jeito de entrar então teria que sair, então o ômega respirou o mais fundo possível o ar sem aroma sem nem ao menos perder segundos pensando nisso depois de todos aqueles anos o escuro, quer dizer, Taehyung tinha encontrado uma maneira nova de enxergar o mundo ao seu redor e ele não se resumia a cheiros, assim como as pessoas não se resumiram a suas classes. A vida era muito mais do que isso, mais difícil e real. E, às vezes, surpreendentemente boa porque, não importa aonde se vá, o caminho sempre irá conter rosas e espinhos, só cabe a você escolher aonde pisar com mais força. Portanto, com toda a força que tinha em seu corpo inchado, Kim (agora Jeon também) empurrou o filhote para fora de seu corpo enquanto um grito estrangulado saia de sua garganta e choro era tudo o que se ouvia, um choro fino e alto demais para pulmões tão pequenos.
- É um menino - uma das enfermeiras sorriu enquanto lhe entregava um copo com gelo.
Taehyung sorriu e olhou para o marido do outro lado do vidro, os olhos do alfa nunca estiveram tão brilhantes antes enquanto encarava o pacotinho choroso sendo limpo, medido e pesado. O ômega sentiu seu rosto torcer em um sorriso torcido porque aquela era, definitivamente, a cena mais linda na qual seus olhos já haviam sido postos. Ou melhor, era a segunda porque quando pegou o ser minúsculo embolado em uma manta cor de rosa com a testa franzida com um dos olhos muito azul e outro extremamente escuro, bem, naquele momento entendeu exatamente o que sua mãe quis dizer com "segurar o mundo em suas mãos". O ômega a abraçou com cuidado enquanto passava o nariz em seus cabelinhos finos e lisinhos, sua pele era macia e tinha cheiro de orvalho e grama úmida em manhãs de verão. Cheirava também à maresia em entardecer de primavera. Era perfeito. E, Taehyung só se daria conta de que estava realmente sentindo o cheiro de seu filho quando se encontrasse com Jungkook algum tempo depois. Mas, bem, naquele momento isso não era importante, nada era realmente importante além do fato de que aquele bebezinho trazia uma promessa em seus olhos exatamente como o mar faz quando encontra a Lua em um céu escuro repleto de estrelas. Exatamente como o nascer do sol. E o sol poente. Aquele ser minúsculo e de bochechas rosadas, mãozinhas minúsculas e dedinhos perfeitos era a prova de que finais felizes não existem porque a vida é muito mais do que um conto de fadas assim como as pessoas vão muito mais além de suas cicatrizes. Aquele bebê que se agarrava ao dedo do ômega com toda sua força enquanto os médicos continuavam com sua rotina de trabalho alheios ao mundo parado diante deles, bem, aquela bebê trazia a luz do mundo em seu respirar.
A luz do mundo de Kim-Jeon.
Ele, definitivamente, se chamaria Taeyang.
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