› you're not enough to one styles

ALGUMAS HORAS ANTES
_______________________

Seria uma completa mentira se Louis ousasse dizer que estava bem, seria muito mais do que florear a forma como seu peito parecia arder ao fechar a porta atrás de si. Seria negar que, tudo o que mais desejava naquele momento, era continuar com o ômega e se perder em todas as suas curvas como se não tivesse volta. Às vezes ele pensava que não tinha mesmo. Mas a vida, bem, a vida era uma megera miserável e acontecia inevitavelmente, então lá estava ele se arrastando pelos corredores da grande casa dos Styles enquanto tentava não pensar em sua própria miséria. Quer dizer, não é como se ele tivesse inveja daquelas paredes bem pintadas em texturas complexas e claramente caras, não, a única coisa da qual ele desejava ali era todo o resto. Era Harry e sua família que, definitivamente, não era perfeita mas também não era como a sua própria. Então sim, ocasionalmente ele se sentia meio puto em como a vida podia ser uma vadia em qualquer perspectiva. De qualquer forma, Tomlinson não estava nem um pouco ansioso para ver aquelas pessoas lá, tipo, Zayn havia lhe garantido que sua mãe estava bem o suficiente e fora de risco, isso já lhe bastava. Ele, com toda certeza, não precisava ver Mark ou Charlotte apenas para se lembrar de que sangue que corria em suas veias era igual ao deles e como isso só tornava tudo pior. Dois filhos da puta de merda.

Bem, não é como se tivesse sido uma grande surpresa. Louis não era cego, ele via como a irmã parecia bem próxima ao limite. Dia após dia, um segundo por vez. Ele via como Charlotte olhava para a mãe, ele via todo o rancor ali e a forma como ela culpava Jay por absolutamente tudo o que não funcionava em sua vida, começando pelo fato de ser uma beta. "Nem para me gerar como ômega esse seu útero barato serve", a loira falou uma vez enquanto empurrava a comida na sonda fixa no corpo da mãe que parecia desligada do mundo ao seu redor como sempre. "Louca imprestável", completou com amargor. Naquela ocasião, Louis e a irmã brigaram o bastante para ele sair com o supercílio rasgado por um abajur que o acertou de raspão porque, merda, ele tinha tentado fazê-la entender que não era como se todas as merdas em que estavam atolados fosse culpa apenas da mãe. Quer dizer, Mark tinha tanta culpa quanto, certo?

- Eu vou embora - Charlotte falou uma certa noite enquanto pintava as unhas no balcão da cozinha e observava o irmão de olhos semicerrados enquanto o mesmo se dividia entre fazer o jantar e estudar para a porra de uma prova que teria no dia seguinte. Ele tinha quase dezesseis e ela catorze. Eram apenas crianças tentando lidar com a forma como a vida era escrota ao seu redor.

- Uh, sim, tudo bem - falou sem prestar a devida atenção, os olhos grudados no livro aberto e uma das mãos mechendo o molho até a consistência certa. Tipo, como ele poderia saber que aquilo era a porra de uma despedida?

Mas era.

Dois dias depois ela não estava mais lá. Deixou um bilhete e mandou um cartão de natal algumas semanas depois. Louis não teve um bolo de aniversário naquele ano porque estava ocupado demais tentando conseguir dinheiro para os remédios e alimentação solúvel da sua mãe para pensar em qualquer outra coisa. Nos anos seguintes ele apenas deixou de se importar com isso enquanto pulava de cama em cama e aprendia a cuidar de uma mulher como Jay. Nunca mais viu Charlotte depois daquilo, nem Mark. Nada. Nem mesmo um sinal mísero de vida, nada além do silêncio absoluto. Bem, até aquele dia na casa do Styles. Porra, Charlotte parecia tão bem com um sorriso grudado no rosto como se não houvesse nada que lhe pesasse os ombros. Como se ele e sua mãe não passassem de algo que aconteceu e que não merecia ser lembrado. Merda, era com o dinheiro dela que os malditos sobreviviam em algum lugar com boa ventilação e sem parecer a porra de um esgoto.

O mundo era uma bola de gude, às vezes.

E agora lá estava ele, mais uma vez prestes a encarar seu passado. Tomlinson era realmente muito bom em fingir que estava bem, para falar a verdade, ele era o melhor quando o assunto era apenas sorrir para as desgraças da vida e continuar dia após dia. Mas, porra, enquanto encarava o prédio gigante com cheiro de álcool e gente morta, bem, ele não se sentia tão confiante assim. Não quando seus ossos pareciam doer nas juntas e menos ainda quando sabia que Mark e Charlotte estavam em algum lugar do lado de dentro com suas feições ansiosas esperando para finalmente poderem sumir mais uma vez sem jamais olhar para trás. Poderia ser um pouco de egoísmo de sua parte mas tudo o que ele queria no momento era sentir seus ombros leves por mais alguns minutos. Sabe, sentir que todas as merdas do mundo não estavam em suas costas e, porra, apenas poder respirar com alguma tranquilidade. "Harry disse que tudo bem querer ser normal" pensou enquanto encarava o letreiro bem iluminado do outro lado da calçada e fazia um grande esforço para não pensar no quanto a conta hospitalar seria absurdamente pesada em seus bolsos. "Está tudo bem, isso não me torna o vilão. Isso não me faz como eles porque eu ainda estarei aqui no final do dia e continuarei mesmo quando todos se forem, então me dê apenas mais alguns minutos".

Sim, era exatamente isso que ele queria. Apenas alguns pares de minutos para esquecer quem era, apenas um pequeno tempo para passar sem pensar em como sobreviveria. No entanto, bem, esse tempo nunca lhe iria ser dado. Não enquanto sua estivesse do lado de dentro daquelas paredes e, muito menos, enquanto ela continuasse presa dentro de si própria. Portanto, com as mãos mais pesadas do que jamais admitiria, pegou o celular que vibrava no bolso e o atendeu sem nem ao menos precisar olhar para o visor porque a única pessoa que o ligava, além da agência, era Zayn.

- Eles já foram? - perguntou assim que colocou o aparelho junto à orelha, era sempre assim com o amigo, sempre dispensando saudações.

- Não - o ômega falou do outro lado. - Mas Charlotte perguntou de você mais um par de vezes desde que nos falamos pela última vez.

- Mark?

- Está na cafeteria com o ômega, ainda parece incapaz de olhar para tia Jay - atravéz da linha, o suspiro dele soou quase mecânico. - Não precisa correr, cara, você sabe que não vou a lugar algum.

- Eu sei - é, ele sabia porque aquele era Zayn Malik e não havia pessoa melhor para si no mundo. Mas, bem, ele não tinha o direito de mantê-lo lá por mais tempo. - Estou entrando.

- Certo.

- Certo - repetiu antes de desligar o aparelho e enfiá-lo fundo no bolso mais uma vez.

Tomlinson sentiu que poderia desmaiar ao passar pelas portas duplas. O lugar era bonito e bem iluminado, uma recepcionista beta sorria para todos enquanto digitava rapidamente no computador em movimentos quase robóticos que não combinavam com a forma como seu rosto brilhava. Ela era bonita, realmente bonita o bastante para ele se apaixonar. Antes, não agora. Porque agora, inferno, nem mesmo a porra da Afrodite o colocaria de joelhos mais. Não quando Harry Styles e seus olhos agitados como duas constelações pintadas de esmeraldas existia. Então Louis apenas sorriu o mais amigavelmente possível, sem o comum flerte porque simplesmente lhe parecia errado fazê-lo imediatamente depois de deixar Harry. Merda, ele nem ao menos queria estar ali, não quando o ômega estava mais lindo do que o normal com todas as suas marcas no corpo pálido, exatamente como se o pertencesse.

Mas, novamente, a vida não havia lhe dado muitas escolhas. Ou melhor, não havia lhe dado nenhuma delas.

Depois de alguns minutos gastos em procrastinar enquanto via como a recepcionista colocava os cabelos escuros atrás da orelha a cada dois segundos com seu sorriso de flerte bem preso no rosto, Louis decidiu que era hora de enfrentar o que quer que o estivesse esperando no terceiro andar. Sua pele estava arrepiada e o alfa preferiu pensar que era por causa do ar condicionado e não pelo fato de que sua mãe estava na ala de quarentena e nem que os dois porcos imundos que o deixou com merdas até o queixo estavam a cada passo mais próximo. Em todo caso, não era como se ele realmente os odiasse. Não, Louis não tinha tempo para odiar ninguém. Ele não tinha tempo para perder com aquelas pessoas, não quando sua vida era uma bagunça para se administrar e não quando ele tinha que estudar em intervalos entre uma foda e outra. Então não, Louis não os odiava. Mas também não morria de amores pelos filhos da puta. Na verdade ele, geralmente, apenas ignorava a existência de ambos. A única coisa que ainda mantinha consigo era o velho diário de Mark com folhas meio amareladas aonde continha quase toda a pesquisa de sua mãe. Era tudo o que Mark havia deixado porque, de certo modo, não lhe pertencia. Ele não poderia roubar a genialidade de Jay armazenada naquelas páginas, não quando já havia levado todo o resto.

A primeira coisa que o alfa notou quando as portas metálicas se abriram foi que estava em uma sala pequena e praticamente particular porque não havia ninguém ali além de Zayn encolhido em um canto com os olhos fundos de quem não dormia a tempo demais e Charlotte encarando um copo de café descartável com as unhas bem feitas, cabelos muito loiro e muito longos e a pele bronzeada demais para ser natural. Ela parecia bem com suas mãos sem marcas alguma, pele limpa e olhos muito azuis. Quase tão azuis quanto os seus próprios.

Mark não estava em lugar algum.

E isso era bom, bom o bastante para fazê-lo respirar aliviado antes de pôr o pé para fora e esperar as portas de fecharem atrás de si antes de se mover para o inevitável.

Foi Zayn que notou sua presença primeiro, ele se levantou praticamente num salto e envolveu seu corpo em um abraço apertado o bastante para sufocar, e Louis precisou respirar fundo para não desmoronar ali mesmo porque, merda, o amigo fungava baixinho com o rosto enfiado em seu pescoço. Charlotte ainda permanecia olhando para as próprias mãos quando os dois se afastaram, as unhas raspando na borda do copo enquanto mantinha o lábio inferior bem preso entre os dentes brancos. Louis quis socar seu rostinho bonito mas, ao invés disso, apenas se sentou em uma cadeira do outro lado da sala.

- Vai para casa - sussurrou para Zayn. - Você está acabado, cara. Já fez bem mais do que podia.

- Estou bem - sussurrou de volta. - Eu ainda preciso passar na sua casa e pegar algumas coisas.

- Descansa um pouco antes - retrucou. - Tome um banho e tenha algumas horas de sono, consegue fazer isso?

Zayn assentiu antes de passar os braços pelos ombros do alfa mais uma vez, apertando-o junto a si em um abraço que dizia que ele estaria ali para tudo. Não que fosse necessário, quer dizer, Louis sabia que sempre poderia contar com o amigo. E isso era bom, era realmente muito bom poder ter alguém em quem se apoiar de olhos fechados. Só depois do que pareceu minutos foi que o ômega se afastou e apertou seu ombro em uma despedida silenciosa, deixando apenas os dois irmãos em partes opostas da pequena sala de espera da área de quarentena aonde Jay estava inconsciente depois de engolir qualquer coisa na qual estava trabalhando na vã esperança de tirar o cheiro de cadáver do seu corpo vivo.

Merda, Louis queria tanto chorar.

E gritar.

E dizer à mãe que ela não precisava fazer absolutamente nada porque ele faria por ela. Ele vinha estudando como a porra de um maluco, lendo e relendo e lendo mais uma vez todas as anotações gastas na velha agenda como se isso pudesse salvá-la. Ele fodia ômegas e lia seus livros e conversava com o corpo inerte de sua mãe sobre como, a cada dia, se sentia mais próximo de conseguir algo efetivo. Mas ela nunca o escutou, ela nunca o escutou porque estava perdida dentro de si mesma. Até mesmos os murmúrios meio desconexos que saía de seus lábios em seus momentos de lucidez, Louis anotava. Porra, como ele pôde não perceber no que ela estava trabalhando? Como pôde ser tão estúpido a ponto de não verificar? Tão estúpido a ponto de baixar a guarda?

Tomlinson sabia perfeitamente bem a resposta, ele não notou porque estava cansado. Cansado de viver no buraco mais escuro e fétido que a existência humana podia oferecer.

- Você se prostitui - a voz aguda da beta ecoou no silêncio da sala em uma afirmação cheia de repulsa. - A decadência deve estar no sangue. E na convivência.

Louis teve que respirar para não mandá-la a merda.

- Papai quase morreu de desgosto quando soube - continuou ainda com o olhar tão baixo quanto sua própria personalidade. - Sabe o quão nojento isso é? Sério, Louis, esperávamos mais de você.

- Não, a única coisa que esperavam era que eu a deixasse também - raiva escorria por cada sílaba, mas também havia alguma culpa ali porque, inferno, ele realmente não se orgulhava do que fazia. - Eu nunca faria isso com a minha própria mãe, não importa como ela esteja agora. Porra, ela ainda é a minha mãe.

- Então você sai por aí enfiando seu pau em desconhecidos por algumas notas apenas porque acha que isso o fará mais decente do que apenas reconhecer que ela não é mais a nossa mãe? - a beta encarou o irmão pela primeira vez, não havia nada além de nojo em seus olhos. - O que espera, uma coroa de espinho por isso?

- Espero que vá embora.

- Eu deveria - falou amargamente ao estalava a língua. - Mas prefiro estar aqui e tentar fazer meu irmão ter um pouco mais de senso e parar de ser uma puta.

Certo, Louis não pretendia mesmo brigar com a porra da irmã em um hospital mas, cacete, ela estava provocando o bastante no momento. Quem Charlotte era para dizer o que ele devia ou não fazer quando tudo o que ela mesma havia feito foi ter roubado a própria mãe e ter ido embora em jamais olhar para trás?

- Sabe o que é engraçado? - começou ácidamente. - Você falando sobre decência e o caralho a quatro enquanto até mesmo a porra desse teu bronzeado laranja completamente falsificado foi pago com o dinheiro da mulher que está lá dentro. A qual colocou essa sua cara de bosta no mundo e, definitivamente, foi a pior coisa que fez na vida.

- Não fale como se tivesse alguma moral para isso, Louis.

- Ah, claro que não tenho, eu fodo ômegas para sobreviver - riu alto o bastante para se arrepender, mas não naquele momento. Não quando seu sangue fervia nas veias. - Algumas pessoas têm que comer sem roubar os próprios familiares, Charlotte, não que você saiba algo sobre isso, obviamente.

- Eu não roubei - cuspiu, os olhos faíscantes e as mãos bem firmes ao redor do copo já arruinado de tão amassado. - Não é como se ela fosse usar, em todo caso.

- Não, claro que não - cuspiu de volta. - Ela tem que comer e tem remédios para tomar, mas para quê serve isso, não é mesmo? Para quê colocar o dinheiro dela em sua própria existência quando se pode ser melhor utilizado para custear suas unhas postiças e pôr comida na barriga do amante do homem que a deixou daquele jeito?

- Você não o conhece.

- E, pelo visto, você sim - o alfa suspirou pesadamente antes de se levantar apenas porque suas pernas pareciam doloridas demais ali sentado. - Vá a merda, Charlotte. Todos vocês. Realmente espero que na próxima vez que nos vermos seja na porra do inferno.

- Uma puta como você realmente vai para lá - grunhiu ao se levantar. - Da próxima vez que ela enlouquecer, não nos faça vir até aqui novamente. Dê um jeito de foder os outros sem me foder por escanteio.

- Pode ter certeza que sim - rosnou.

- E pare de ver o irmão da Gem - falou logo após apertar o botão para chamar o elevador. - Eles são pessoas de respeito, apenas faça o que foi pago para fazer e os deixe em paz. Não o afunde na merda que é a sua vida, Louis. Entenda, você jamais será bom o suficiente para um Styles.

- E você é?

Charlotte não respondeu. Na verdade, Louis mal tinha certeza se ela havia sequer ouvido.

Com os punhos cerrados ao lado do corpo, o alfa pensou que poderia socar a porra da parede forte o suficiente para rachá-la no meio. Mas ele não o fez e jamais faria porque, porra, ele sabia que a irmã tinha razão. Ele sentia-se sufocar apenas em admitir mas sabia que aquela era uma verdade que ele nunca poderia mudar. Tomlinson podia sentir seus olhos arderem ao encarar o bebedouro branco exatamente como tudo no lugar, podia sentir-se engasgar com o desespero preso na garganta. Podia sentir-se cair em um abismo fundo o bastante para não ter volta porque, inferno, ele estava apaixonado por Harry Styles e isso doía para um senhor caralho. Doía porque ele nunca poderia lhe dar o mundo, nunca poderia lhe dar o céu e nunca, nem mesmo em um milhão de anos, poderia fazê-lo feliz. Não enquanto seu pau corresse por aí a quem pagasse mais.

Maldita hora em que o viu naquele dia, um sorriso preso no rosto e as covinhas fundas enquanto parecia completamente desconfortável com a mistura de cheiros à sua volta. O nariz levemente torcido e os cabelos ainda curtos, Styles lhe pareceu a verdadeira definição de proibido. E, talvez exatamente por isso, ele se viu caindo de joelhos até esquecer como se pôr de pé.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top