› so you lied

Esse capítulo pode conter cenas de insinuações explícitas à estrupo, se sensível ao conteúdo por favor não leia.
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Ele não estava sozinho e não importava o quanto sentisse seu coração gelado dentro do peito, bem, ele ainda não estava sozinho. No entanto, a sensação de estranheza ainda era presente mesmo depois de todos aqueles dias. Quer dizer, os dedos de sua mão esquerda estavam apertados com força nos dedos da mão direita do alfa enquanto eles olhavam para a mulher no sofá da frente. O toque era reconfortante e completamente novo, quase como um membro crescendo aonde não deveria. Harry se sentia confuso com seus próprios sentimentos porque, certo, aquilo era tudo tão novo. E tão, mas tão fodido. Sentiu um dos dedos do Tomlinson fazer círculos em sua mão e uma onda de tranquilidade inundou seu corpo por segundos antes de desmoronar conforme as palavras de sua mãe tomavam forma em sua cabeça. Gemma permanecia em silêncio, meio encolhida na poltrona da sala de estar dos Styles aonde todos estavam reunidos desde que chegaram do hospital algumas poucas horas antes.

Harry estava bem. Os primeiros dias difíceis haviam sido praticamente superados com grande esforço e apoio de todos ao seu redor, o médico lhe disse que seu olfato poderia voltar com o tempo e alguma terapia, quem sabe, mas ele não se via muito esperançoso. Não. Harry estava ciente de sua nova condição e, bem, ele teria que aprender a lidar com isso porque não lhe havia outra alternativa. De qualquer forma, os últimos dias haviam podiam ser resumidos entre agulhas e sangue e exames de imagem e consultas com a maior variedade de especialistas que o dinheiro pode pagar. É, Anne havia sido meticulosa em garantir que o ômega fosse checado desde os fios de cabelos até a porra da unha do pé. Desnecessariamente, de acordo com ele próprio já que se sentia muito bem, obrigado. Tipo, ele estava mesmo bem. Fisicamente, pelo menos. Sentia-se quase como antes, exceto que tudo estava menos... normal, talvez? Ainda assim estava bem. Louis ajudava sempre que podia, dividindo-se entre andares conforme ia e vinha do quarto de sua mãe ao do ômega. Jay estava bem também, o melhor que poderia ficar. Não corria perigo de vida, mas também não havia mudado basicamente nada de sua condição além do cheiro, de acordo com Louis, estar tão suave que mal se dá para notar, o que era basicamente nada depois de todos os anos vivendo com sua mãe.

Então, sim, ela estava bem. E, por consequência, o alfa também estava. A cor já havia voltado ao seu rosto e ele parecia feliz enquanto ignorava todas as ligações sem fim que seu celular não parava de receber. "Não é importante, sun" dizia sempre que pegava Harry observando. O ômega apenas assentia em silêncio porque eles não tinham tido aquela conversa ainda. Tipo, eles estavam namorando ou apenas agindo como se estivessem? Porque, definitivamente, eles estava agindo como namorados e Tomlinson era o melhor de todos, de longe. Ainda que não houvesse nada oficializado, Harry sentia-se incrivelmente querido e confortável sempre que estava junto ao alfa. Tipo, realmente adorava os momentos em que Louis apenas estava por perto, os toques suaves na base de suas costas sempre que o ajudava a se sentar e a forma como cortava sua carne em pedacinhos pequenos antes de cada refeição com a justificativa de que seria muito mais fácil comer daquela forma. Além disso, bem, ele era carinhoso o suficiente com seus beijos longos e quentes, mas também com os singelos e, principalmente, com a maneira que acariciava os cachos do ômega todos os dias depois do banho, pacientemente tirando todos os nós enquanto os escovava e falava sobre coisas não importantes e, às vezes, sobre as que importavam também. Harry descobriu que adorava o sorriso do Tomlinson, as ruguinhas ao redor dos olhos e a forma como as mãos dele sempre encontravam o caminho até si. Mas, além disso tudo, o que Harry descobriu gostar ainda mais era a maneira como Louis nunca parecia pedir demais, nunca parecia ultrapassar a linha e, bem, ele simplesmente parecia não querer absolutamente nada em troca além do fato de vê-lo bem e isso, porra, isso era o inferno de bom. Então mesmo que eles não tivessem oficializado nada, o ômega sentia-se incrivelmente bem com o que quer que fosse aquilo que tinham.

E ali, na sua sala de estar com os dedos fortemente entrelaçados ao do alfa, Harry ainda sentia-se estranho e ansioso com tudo o que vinha acontecendo e, de certa forma, estar ali no mundo real lhe deixava a sensação de que aquele sonho meio cor de rosa em que estava vivendo nos últimos tempos havia chegado ao fim. Quer dizer, sua mãe o encarava com olhos temerosos depois de lhe oferecer um chá morno e dizer que sua vida era a porra de uma mentira. E, se não bastasse, Louis havia finalmente atendido uma de suas ligações que ambos sabiam muito bem de onde eram apesar de estarem mutuamente ignorando o fato há dias e, merda, ele tinha que ir em algumas poucas horas. Por que tudo estava desmoronando justamente quando ele se sentia bem o suficiente para começar a pôr os tijolos sobre tijolos novamente?

Harry sentia-se meio que prestes a começar a hiperventilar, mas apenas engoliu a seco enquanto tentava entender o que aquela merda toda significava. Tipo, não tinha sentido. Seu pai havia morrido há cinco anos apenas. Ele estava lá, no velório. Ele segurou a mão dele. Harry chorou sobre o caixão, porra, como assim aquele homem não era seu pai? E, inferno, como assim ele tinha desaparecido da sua vida depois de foder com tudo? Depois de foder ele?

- Querido, você... - Anne começou, as mãos bem apertadas uma nas outras sobre o colo enquanto devorava o filho com olhos ansiosos. - Por favor, querido, diga alguma coisa.

Sim, ele iria dizer. Obviamente. Harry iria dizer que aquela merda toda não passava de uma confusão, uma pegadinha de mal gosto que não fazia sentido nenhum porque sua cabeça não era tão fodida a ponto de, literalmente, inventar um pai. Quer dizer, mas que porra...?

- Não era minha intenção deixar as coisas chegarem tão longe - continuou devagar, os dentes raspando nos lábios já quase completamente feridos. - Mas você acordou chorando um dia, absolutamente do nada, e disse que sentia falta do seu pai. E eu entrei em pânico.

- Então você mentiu.

- Sim - admitiu. - Eu menti.

- Cinco anos, mãe - Harry sentiu as palavras saírem por sua boca com um gosto amargo de bile porque era exatamente assim que ele se sentia. - Faz cinco anos que ele morreu, isso que está me dizendo é loucura. Não faz a porra de sentindo nenhum!

- Eu sei, querido, eu sei o quão confuso você deve estar - é, ele estava um pouco confuso para o inferno sim. - Mas ele não morreu, apenas foi para longe o suficiente de você. Ele não era seu pai, Harry. Ele era um homem incrivelmente bom em fingir ser algo que não era, bom o suficiente para enganar a todos nós.

Gemma revirou os olhos com força, ainda encolhida no sofá, como se sentisse necessidade de dizer algo que não era realmente o momento para ser dito. Harry não pode deixar de notar porque ele não era cego e, aparentemente, não era mais tão manipulável quanto antes. Ainda assim não disse nada e não disse nada porque o faria mais tarde, quando estivessem apenas os dois porque Gem parecia realmente ansiosa para cuspir toda a verdade aos ares e era exatamente isso que ele queria, nada de palavras amaciadas como a de sua mãe. Não, ele queria a verdade crua e cruel como era porque estava realmente cansado do fato das pessoas acharem que tinham algum direito de filtrar sua vida como se ele próprio não fosse capaz de lidar com suas merdas. Porra, ele vinha fazendo um trabalho realmente razoável quanto a isso nos últimos tempos, o coração batendo em seu peito era a prova viva dessa merda.

- Meu pai... - começou baixo. - O meu pai de verdade, quem era?

- Um homem incrível - o ômega soube perfeitamente bem que não havia possibilidade de ser mentira porque o rosto de sua mãe se iluminou antes de apagar completamente. É, ela tinha um vínculo com um homem morto. - O tipo de homem inconsistente por quem uma garota presa em sua bolha se apaixonaria. Des era como o sol, Harry, quente e potencialmente pronto para ferir, ainda que fosse a pessoa mais linda que já conheci em toda minha vida. Ambos sabíamos que teria um fim antes mesmo de começar.

- Você sente falta dele - não era uma pergunta porque, bem, estava tudo ali na forma como o rosto de sua mãe parecia partido em milhões de pedaços afiados demais para tocar. - E não parece feliz com isso.

- Seu pai me mostrou uma outra parte da realidade da qual nunca vou esquecer, ele também fez com que eu conhecesse a mim mesmo tão profundamente quanto possível - Anne sorriu mas não havia nada ali além do vazio. - Mas isso não anula o fato de que ele se foi e nunca mais irá voltar.

Harry viu-se estreitando os olhos como se isso desfizesse todas as meias verdades entranhadas em sua própria mãe porque, merda, havia tanto ali para se arrancar.

- Uh - havia algo muito semelhante a uma coceira no fundo de sua garganta, mas era apenas ele tentando engolir aquela merda. - Então depois que ele morreu você colocou outra pessoa no lugar, simples assim?

- Basicamente.

- E fez todos acreditar, inclusive nós, que esse cara era a porra do nosso pai, certo?

- Sim.

- E foi esse filho da puta que fez o que fez comigo e não um alfa qualquer incapaz de controlar o próprio pau?

Conforme dizia essa última parte, o ômega sentiu Louis apertar ainda mais forte sua mão como se quisesse demonstrar todo seu apoio. Algo como "estou aqui por você, babe, e não vou a lugar algum" e, bem, surtiu algum efeito porque ele sentiu-se incrivelmente melhor quase que de imediato, ainda que a sensação não tenha durado muito porque ele estava literalmente meio puto.

Anne assentiu.

- E então você criou toda uma história sobre qualquer merda apenas para que eu não soubesse o quão merda era o homem a quem eu chamava de pai - a afirmação fez seus olhos coçarem mas nem por um inferno ele iria chorar, não pelo homem que fodeu sua vida. - Você é ridícula, mãe. E me subestima. Eu não sou feito de porcelana, porra. Eu aguentei a porra de um pau em mim aos catorze, um aborto e todas as consequências fodidas na minha cabeça todos os anos depois disso. Eu não ia despedaçar se soubesse a verdade, eu só... merda, talvez eu não tivesse perdido tanto tempo odiando alfas e mais tempo entendendo como a porra do mundo é uma merda por si só.

Anne assentiu mais uma vez, ainda em silêncio absoluto enquanto seus olhos choravam quietos e calmos.

- Eu estou puto - falou alto, quase como um grito meio estrangulado nas bordas. - Mas, sinceramente, isso não muda muita coisa a essa altura da minha vida. Eu estou bem, merda, eu estou bem com os alfas. E eu... eu não posso riscar esse homem da minha vida como se na porra da minha cabeça ele não fosse nada. Porque ele é. A fantasia que você criou dele ainda está aqui e eu ainda consigo sorrir com ela. E não posso fazer absolutamente nada em relação a isso. Não agora. E, talvez, não por muito tempo.

- Querido...

- Não, mãe! - a interrompeu bruscamente. - Eu não vou mexer nesse vespeiro, eu não vou procurar motivos para ter que voltar a me entupir de remédios e passar horas semanais naquela porcaria de terapia. Eu estou bem agora e isso é tudo o que importa. Foda-se a porra da verdade, você mentiu para mim por anos a fio, qual a diferença em todo caso?

- Você merece a verdade.

- Eu merecia a verdade a anos atrás, porra - dessa vez o aperto do alfa foi mais forte porque Harry havia literalmente gritado a plenos pulmões enquanto sua respiração permanecia entrecortada. Ele precisou de um par de minutos para recobrar a consistência das palavras antes de continuar. - Eu merecia a verdade há muito tempo atrás e, ainda assim, você não se importou em mentir então não me venha com nenhuma merda de sermão quando não tem moral nenhuma para isso. Inferno! Eu estou bem, mãe. Eu não vou meter uma bala na porra da minha cabeça só porque meu próprio pai colocou um filhote na minha barriga. Eu estou bem, merda.

- Sun... - Louis falou baixinho enquanto se inclinava ligeiramente para mais perto, a mão firmemente agarrada junto a do ômega e, agora, o corpo completamente em contato. E, bem, Harry não precisava de seu olfato para saber que o alfa estava liberando feromônios calmantes naquele exato momento.

Sentiu o peito afundar no meio do corpo porque, porra, ele queria muito poder sentir e queria, ainda mais, estar inebriado pelo alfa nem que fosse uma última maldita vez. Pelo que lhe pareceu a milésima vez desde que se deu conta de sua nova condição, o ômega sentiu-se partir em algum lugar por dentro. Mas, bem, ele não iria se permitir ruir, não quando precisava desesperadamente se agarrar ao restante de sanidade que ainda restava em sua vida para não afundar. Harry precisava se reconstruir porque sabia que estaria perdido se não o fizesse. Por isso, ele se viu na obrigação de tentar se acalmar por si só. Quer dizer, ele precisava deixar toda aquela merda do lado de fora porque, sinceramente, não havia mais espaço do lado de dentro. Não quando haviam tantos escombros para lidar.

- Certo - sua voz saiu baixo e meio falha conforme respirava pela boca e sentia Tomlinson bem próximo de si apensar de não próximo o suficiente. Ele nunca parecia estar próximo o suficiente. - Vamos apenas esquecer que essa conversa de merda aconteceu e então estará tudo bem.

- Negar a verdade não vai fazer com que ela deixe de existir, Haz - Gem soou meio cansada, a voz se arrastando nas vogais. - Ele foi um filho da puta que merecia o próprio pau no fundo da garganta e nada vai fazer os fatos deixarem de ser fatos. Não importa o quanto você queira.

Harry queria dizer que estava realmente pouco se fodendo para o que os fatos eram, ele já estava fodido o bastante para se preocupar com qualquer coisa além de tentar salvar o que restava. Mas, ao invés disso, apenas deu de ombros cansado conforme se aconchegava mais ao alfa, os olhos fechados e o rosto metido na curva do pescoço dele enquanto tentava se lembrar de como era seu cheiro. Contudo parecia tão difícil se lembrar, exatamente como uma realidade alternativa aonde ele nunca havia sentido o cheiro do alfa e isso era, porra, realmente um saco porque tudo o que Harry queria naquele momento era a paz nos braços do Tomlinson até que, bem, até mesmo isso chegasse ao fim. Ele sabia que aquele momento tinha um prazo de validade assim como tudo na vida e ele realmente estava tentando não se importar com isso no momento, quer dizer, porque sofrer com antecedência se poderia aproveitar esse tempo encolhido nos braços do alfa exatamente como estava?

- Lou - susurrou em seu pescoço.

- Uh?

- O que acha de sairmos daqui? - Harry sorriu satisfeito porque pôde sentir claramente o sorriso sorrateiro se formar no rosto do alfa. - Sabe, por um par de minutos.

- Acho essa uma ideia excelente, Styles - o alfa levou suas mãos entrelaçadas e deixou dois beijinhos curtos nela antes de voltar para o colo uma outra vez. - Mas, sun, estamos no meio de algo importante aqui.

É eles estavam.

- Eu não me importo - enfiou mais o nariz no pescoço do Tomlinson em um reflexo antes de continuar, ainda cochichando enquanto sua mãe e irmã pareciam aflitas do outro lado da sala. - Não quero saber dessas merdas, não hoje. Estou cansando.

- E acha mesmo que vai descansar se irmos para o seu quarto?

Não, ele não achava.

- Não é essa a intenção literal, Louis - resmungou.

- Espertinho - deu mais um beijinho da mão do ômega antes de apertar ainda mais seus dedos nos dele. - Vamos, vou te dar uma massagem.

- E...? - Harry praticamente ronronou.

- E estamos na frente da sua família, Styles - sussurrou com um sorriso no rosto.

- Isso é um problema fácil de se resolver.

- É - escorregou o dedo para a palma do ômega enquanto fazia círculos ali. - O mais difícil vai ser você ter que lidar com suas costas depois.

Uh, certo.

Se isso era um promessa de que teria o alfa bem fundo dentro de si então Harry estava mais do que disposto a aceitar as consequências. Portanto não demorou muito para que os dois dessem alguma desculpa qualquer e subissem para o quarto deixando Anne e Gemma ainda meio estarrecidas em seus lugares porque, tipo, eles haviam literalmente interrompido talvez a conversa mais importante de suas vidas para passarem um tempo entre as coxas um do outro no andar de cima?

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