› is my favorite flower

Eles estavam sozinhos, o que era bom porque Harry realmente odiaria justificar a presença do alfa para sua mãe ou irmã. Então, haviam ficado grande parte da tarde na mesa da cozinha enquanto reescreviam todas as anotações em silêncio, não o tipo de silêncio desconfortável no entanto. Quer dizer, Harry estava tão concentrado em fazer o máximo de avanço possível no menor tempo que esqueceu-se quase completamente do alfa ao lado até o momento em que sua mão começou a doer ligeiramente e o ômega se viu obrigado a ter uma pausa. Girando o pulso suavemente, Harry se permitiu a observar Louis enquanto ele continuava escrevendo ruidosamente no papel pautado com um biquinho meio torno nos lábios e a sobrancelha franzida em concentração. No fim das contas ele era um cara legal, aparentemente. E isso era confuso porque Harry realmente acreditava que alfas não eram assim, para ser bem honesto, ele queria acreditar que alfas eram animais estúpidos prontos para enfiar um pau no seu rabo na primeira oportunidade. E ele só queria acreditar nisso porque tornava as coisas mais fáceis de se suportar.

Mas a vida havia decidido enfiar-lhe goela abaixo a realidade e nessa realidade alfas e ômegas e betas eram apenas pessoas completamente conscientes de sua natureza enquanto tentavam lidar com suas próprias merdas. E saber disso o desestabilizava, então afastou o pensamento para longe enquanto arrastava a cadeira para trás e colocava água para ferver em uma chaleira de inox, os dedos batendo no balcão de granito branco depois de separar duas xícaras em uma bandeja, um pouco de leite e saquinhos de chá preto que não era yorkshire.

- Você devia tirar uma pausa - falou quando ficou claro que Tomlinson estava concentrado demais para se dar conta de qualquer coisa.

- Estou quase terminando, Styles - murmurou, o lábio inferior preso entre os dentes. - Me dê mais um par de minutos.

Harry deu de ombros e voltou sua atenção para a chaleira que apitava alto. Ele não era muito fã de chás, para falar a verdade ele não era muito fã de nenhuma bebida além do suco verde que Martha lhe fazia todas as manhãs. Mas não iria tomar aquilo na frente de alguém como Louis Tomlinson porque sabia exatamente sua reação mesmo que fossem basicamente desconhecidos, quer dizer, ele ainda era meio babaca. Mas tudo bem porque Harry também era. De qualquer forma, não iria dar munição para o alfa rir e fazer algumas piadas sobre como aquele negócio era horrível, então apenas o acompanharia com alguns goles de chá.

Levou a bandeja até a sala de estar, colocando-a na mesa de centro e ligando a tv em algum canal aleatório apenas para terem o que fazer enquanto descansavam os punhos, Harry definitivamente não queria que o clima ficasse estranho. Louis apareceu logo em seguida, as mãos enfiadas nos cabelos e bocejando um pouco enquanto se sentava na ponta do sofá parecendo muito familiarizado com a casa.

Harry se sentou na outra extremidade com uma xícara de chá preto com leite nas mãos e os olhos na tv sem prestar atenção nenhuma ao programa.

- Isso é horrível - o alfa falou logo depois do primeiro gole, Harry não precisou olhar para saber que ele tinha uma careta bem presa no rosto. - Vocês são ricos e seu chá é uma merda, não faz sentido.

- Não é porquê você não gosta que é uma merda, Tomlinson - retrucou fingindo estar contrariado apenas porque era divertido. - Individualidade significa alguma coisa para você?

- Só quando importa de verdade.

- E quando é?

- Não sei - deu de ombros. - Ainda não aconteceu comigo.

Minutos se passaram sem que nenhum dos dois dissessem uma palavra sequer porque, aparentemente, o programa havia se tornado inesperadamente interessante. Era algo sobre reformas e os caras eram bons mas não suficiente para impedir Harry de começar a dar palpites sobre a paleta de cores que deveriam usar. Sério, quem escolhia púrpura para cor secundária de uma cozinha? Não fazia sentido algum e o ômega não pôde deixar de expressar isso, apenas não se deu conta de que estava fazendo em voz alta.

- Não tem possibilidade nenhuma no universo disso ficar bom - falou com propriedade. - Escolham o marfim, pelo amor de deus!

- Gosta mesmo disso, uh? - o alfa ria baixinho como se para não ser notado.

- Não, é a primeira vez que vejo.

- Então gosta agora.

- Acho que sim.

Louis deixou sua xícara de volta na bandeja e recostou a cabeça no sofá, parecia cansado e Harry desviou os olhos da tv, mas apenas porque tinha desistido já que os idiotas haviam mesmo ficado com o púrpura.

- Você tem trabalho hoje? - se viu perguntando depois de um tempo.

- Sim.

- Ah.

Era estranho sentir como se seu estômago tivesse levado uma surra, doía em lugares que Harry jamais supôs que poderia sentir dor. Seu corpo todo estava estranho ultimamente, talvez ele devesse seguir o conselho de Niall e procurar um médico.

- Eu não gosto disso, sabe - falou devagar, a cabeça meio virada para cima, encostada no sofá e os olhos fechados. - Não é uma coisa da qual eu possa me orgulhar.

Harry não disse nada porque não sabia o que dizer. Na verdade não havia o que dizer já que ele não entendia.

- Eu nem me lembro bem como comecei com isso - continuou. - Um dia um ômega qualquer, que não me lembro o nome, me convidou para passar o cio com ele. Sai de lá com uma semana de salário nas mãos. Eu precisava do dinheiro.

- Faz muito tempo?

- Mais do que eu gostaria.

- Seus pais...

- Minha mãe - interrompeu meio bruscamente. - E não, ela não sabe. Ela não sabe que o único filho dela fode ômegas por aí, por dinheiro.

- Eu sinto muito.

- Não sinta - deu de ombros e se acomodou devidamente no estofado, os olhos muito azuis carregados de algo que Harry não conseguia compreender. Louis era tão... - Eu fiz uma escolha e toda escolha tem consequências, Styles. Não é como se esse fosse um peso que outro alguém colocou sobre meus ombros.

Era verdade, mas ainda assim Harry sentia. Mesmo que não soubesse os motivos e mesmo que não entendesse o que levava uma pessoa a fazer aquele tipo de coisa, ainda assim ele sentia muito. Sentia o suficiente para se aproximar do alfa e passar seus braços ao redor dele em um abraço meio desajeitado que só se deu conta de que não deveria ter feito aquilo tarde demais. Seu rosto estava enfiado na curva do pescoço do alfa e o cheiro ali enviou tremores através de seu corpo até a porra da unha do seu pé, era um cheiro definitivamente insuportável porque fazia Harry se sentir quente. E ele não queria se sentir quente, ele não queria sentir absolutamente nada em relação a um alfa. Ainda assim, não se afastou porque seu ômega ronronava dentro de si e Louis o havia abraçado de volta com tanta força que seria praticamente impossível se desvencilhar mesmo se quisesse.

- Você cheira a crisântemos - o alfa sussurrou contra seus cabelos.

- Eu sei.

- Na Ásia tem um ditado bem popular que diz: "se queres ser feliz por toda a vida, cultive crisântemos."

Harry pôde sentí-lo sorrir porque ainda estavam abraçados e, porra, não era para ele se sentir estranho? Quer dizer, aquele era um alfa lhe tocando e o segurando com firmeza. Ele não deveria estar tendo um acesso de raiva naquele instante? Então porque tudo o que conseguia pensar era em como se sentia bem? Em como se sentia seguro? E em como... merda! Harry se obrigou a se afastar do abraço antes que sua sanidade não passasse de poeira ao vento, não sem seu ômega reclamar como um cachorrinho mimado e suas as bochechas estarem completamente vermelhas enquanto permanecia sentado perigosamente próximo do alfa.

- É a minha flor preferida - o alfa completou.

"Porra!" Harry gritou dentro de sua própria cabeça enquanto se obrigava a permanecer com os olhos grudados na tv porque sabia que Tomlinson estava com os olhos fixos em si.

- Você disse que meu cheiro era ruim - soltou entre sorrisos apenas porque queria dispersar toda aquela tensão que, para começo de conversa, nem ao menos deveria existir.

- Eu menti.

- Ah.

- É - sorriu.

- Você costuma mentir muito?

O alfa não respondeu, apenas deu de ombros como se aquilo não fosse importante, mesmo que para Harry fosse. Por algum motivo estranho e completamente anormal, tudo relacionado a Louis Tomlinson lhe parecia importante, de onde isso havia surgido? Bem, ele não fazia ideia.

- O Zayn vai dar tipo uma festa na casa dele, no sábado - falou de repente e toda a tensão se estilhaçou como vidro velho, Harry sentiu que poderia respirar em paz. - Ele quer que você vá.

- Não costumo ir a lugares com muito alfas - era verdade, usualmente seus programas de lazer se resumiam a um bom filme com pipoca doce naquela mesma sala de estar. - Mas agradeça por mim.

- É uma reunião apenas, para ser bem honesto. Algo como uma noite dos caras.

- E esses "caras" seriam?

- Zayn, Liam e eu - falou com um sorriso quente no rosto, os olhos demorando em Harry mais do que o necessário. - Convidaram Niall também. E você.

- Três alfas, um beta e um ômega que se passa por beta. Não acho que vá dar certo.

- Zayn não é um alfa - falou meio incomodado, os olhos finalmente deixando Harry. - E Liam está com a Maya. E eu... bem, eu não vou pular em cima de você por causa de algumas cervejas.

É, Louis tinha razão. Ele havia resistido aos feromônios do cio, havia lhe respeitando mesmo quando Harry praticamente suplicou para ser fodido. Talvez merecesse um voto de confiança. Ou dois. Ou, merda, talvez ele merecesse todos eles.

- Eu quero que você vá, Harry.

- Você quer... - repetiu como se as palavras não se encaixassem bem naquele contesto. - Você quer que eu vá.

- Sim.

- Por que?

- Te acho um cara legal.

- Sério? - o ômega soltou uma risada que sabia ser exagerada, mas era essa mesmo a questão. - E desde quando?

- Desde que entendi os motivos para você se esconder.

- Eu não me escondo.

- É, pode ser - deu de ombros. - No final tudo depende da perspectiva.

Harry estava pronto para dizer alguma coisa realmente rude que encerrasse a conversa de uma vez por todas quando as palavras do alfa atingiu seu grau mais alto de compreensão. "Desde que entendi os motivos para você se esconder", o que diabos aquilo significava senão apenas uma coisa?

- Você sabia - não era um pergunta.

Louis não negou.

- Você sabia que eu era um ômega.

Louis assentiu em silêncio.

Certo. Certo. Aquilo era definitivamente uma coisa a se pensar. Harry sentiu-se meio enjoado por algum motivo, talvez pelo fato de que nenhuma vez sequer o alfa demonstrou qualquer mínimo sinal de que sabia de sua verdadeira classe. Quer dizer, o que isso significava? Que Louis sabia respeitar o espaço de terceiros? Que ele não se importava? Que ele estava cagando e andando para quem Harry era de verdade? Bem, o ômega não sabia o que pensar. Também não sabia se queria realmente pensar sobre isso.

Ainda assim as palavras escaparam da sua boca como se tivessem vida própria, rastejando para fora sem pedir permissão.

- Quando soube?

- Não sei exatamente - deu de ombros, os olhos em algum ponto longe de Harry. - Você era absurdamente irritante e tinha alguma coisa errada, alguma coisa que não parecia encaixar. Primeiro achei que fosse porquê não nós dávamos bem, mas então eu senti seu cheiro. Era fraco, quase imperceptível. Mas estava lá.

- Você nunca...

- Não cabia a mim, assim como não é realmente da minha conta a forma como você vive a sua vida.

É, não era. E também não cabia a ele mas desde quando alfas respeitavam esse tipo de coisa? Harry estava tão confuso.

Harry estava prestes a dizer alguma coisa sobre como isso o havia surpreendido de uma forma estranha quando a porta da frente abriu e o cheiro de suco de maçã atingiu seu nariz. "Puta que pariu!" pensou em desespero porque lá estava ele com Louis Tomlinson em sua sala de estar falando sobre coisas relativamente importante e, se sua mãe visse tal coisa, com certeza faria algum escarcéu sobre.

- Você tem que sair daqui - sussurrou o mais baixo possível para o alfa ao seu lado. - Tipo, agora.

- O que? - Louis o olhou como se tivesse cinco cabeças sobre seus ombros.

- Minha mãe chegou - sussurrou ainda mais baixo, se é que era possível, enquanto ouvia os passos da sua mãe subindo as escadas. - Ela não pode te ver aqui.

- Por que...?

Harry bufou alto, os dedos passando por todo o comprimento de seus fios longos enquanto fazia um grande esforço para não arrastar o alfa pelo braço até a porra da porta de saída.

- Você têm ideia do show que ela vai fazer? Capaz da mulher marcar a porra de um casamento. Acredite, ela é louca - juntou as mãos sob o queixo enquanto dava pulinhos sentado, os olhos grandes cheios de súplica. - Por favor, Louis.

- Você vai na festa do Zayn?

- Isso é relevante, tipo, agora?

- Sim.

Harry bufou ainda mais alto e revirou os olhos antes de se levantar em um pulo quando ouviu sua mãe lhe chamar no andar de cima. "Merda, merda, merda".

- Você vai embora se eu disse que eu vou?

- Uhum.

- Isso é inacreditável - bateu com ambas as mãos na coxa apenas para não bater naquele rostinho de filho da puta. - Qual a diferença, no final das contas?

- Eu falei - o alfa se levantou e lá estavam eles novamente dividindo o espaço pessoal, Harry deu dois passos para trás quase como se tivesse sido queimado. - Eu quero que você vá.

"Inferno de cara chato, que porra" pensou realmente meio puto porque tudo o que menos queria era ficar no meio de pessoas que ele não conhecia bem o suficiente para ficar à vontade. E dane-se que Niall provavelmente também estaria lá, ele sabia muito bem que o amigo já estaria agindo como melhor amigo de qualquer pessoa depois de duas cervejas. Aghr, pessoas sociais o irritava tanto.

- Tá, merda - bufou.

Louis sorriu grande e foi pegar suas coisas na cozinha no mesmo instante, parecia incrivelmente satisfeito a ponto do Harry querer lhe jogar o sapato da cabeça. Literalmente insuportável.

Já estavam praticamente na porta quando a mesma foi aberta bruscamente por uma Gemma arfante com o rosto completamente vermelho e sorrindo como uma idiota com as mãos grudadas nas mãos de uma garota. Uma beta. Uma garota beta muito bonita com seus olhos muito azuis e cabelo muito loiro. Ela sorria quase tão grande quanto a alfa. Tudo aconteceu rápido demais, muito rápido mesmo porque os quatro estavam ali se encarando horrorizados. Louis extremamente tenso ao seu lado, Harry confuso. Gemma surpresa e a beta prestes a vomitar, talvez?

- Louis? - Gem falou.

- Quem é ela? - Harry apontou para a beta.

- O que você está fazendo aqui? - a beta perguntou para alguém que não era Harry.

- O que você está fazendo aqui? - Louis devolveu a pergunta.

- Espera... - Gem olhou da beta para o alfa um par de vezes, ainda mais surpresa do que antes. - Vocês se conhecem?

Harry queria muito ouvir uma resposta, mas não tinha tempo para isso já que sua mãe estava descendo as escadas e entre saber o que aquela confusão era e aturar sua mãe falando sobre como e ele Louis deveriam ser... bem, ser qualquer merda que passasse por sua cabeça, tipo, ele não precisava mesmo escolher. Então, apenas empurrou Louis por entre as garotas e fechou a porta com força sob os olhares confusos das duas no mesmo instante em que sua mãe apareceu.

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No final das contas a garota ficou para o jantar. Um jantar esquisito porque as duas lançavam olhares questionadores para Harry a cada meio segundo enquanto cochichavam entre si. Apenas mais tarde quando Anne se retirou para verificar algumas coisas o trabalho, foi que Harry sentiu que conseguiria respirar com mais facilidade enquanto bebia seu suco verde na sala de estar junto com as outras duas garotas.

- Uh, então... - Gem começou devagar, era como se tivesse escolher bem as palavras. - Louis.

- Ele estuda comigo - Harry justificou. - O destino é uma vadia cheia de coincidências.

- É - a beta concordou encolhida praticamente em cima da alfa.

- E você é?

- Minha namorada - Gem respondeu num rosnado baixo.

- Charlotte Tomlinson - falou. - Mas pode me chamar de Lottie, todo mundo me chama assim.

Puta merda.

Harry engasgou com seu suco a ponto do líquido sair pelo nariz e seus olhos lacrimejarem. Depois de tossir por minutos sob o olhar preocupado das duas foi que ele finalmente pôde voltar a si.

- Tomlinson? - perguntou baixo.

- Isso.

- Tipo, Louis Tomlinson...? - arriscou.

- Exatamente - Gem respondeu. - Eu também não fazia ideia.

- Ele é meu irmão - falou como se não fosse importante. - Mas é só isso.

- Como assim é só isso?

- Ah, o mesmo drama familiar de sempre - a beta deu de ombros conforme tirava os longos fios loiro do rosto. - Você sabe, divórcio e essas coisas.

- Na verdade eu não sei - não, ele não sabia.

- Éramos nós dois, eu fui viver com meu pai e ele ficou com... ele quis ficar com ela - justificou amargamente. - Acho que não nos víamos há, literalmente, anos.

Estranho.

- Eu nem sabia que ele era meio que uma puta agora - riu maldosamente e Harry teve que manter a bunda colada no sofá para não dar um chute na canela da garota. Gem torceu o nariz em desgosto. - Sem ofensas, claro. Mas entendo dada toda a situação. Espero que tenha lhe pagado o suficiente.

Ainda era muito cedo para decidir que não gostava da namorada da irmã? Bem, Harry pensava que não.

- De qualquer forma, foi uma grande surpresa meio inconveniente - ela ainda estava falando? Sério, alguém poderia simplesmente fazê-la parar? - Definitivamente não saberia como agir, tão constrangedor.

Harry manteve-se calado (e irritado) por tempo suficiente para terminar sua bebida antes de subir para seu quarto sem se despedir da beta. Porque não havia nada que ele pudesse falar além de um monte de merdas das quais se arrependeria depois, fala sério, que vadia! Gem já teve gosto melhor para namoradas.

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