C A P Í T U L O 62

Da intensidade, a fome

          O meu choque não me permitiu mais do que apenas engolir, forçando o movimento pela minha garganta abaixo, enrubescendo e por muito pouco não me apoiando na mesa, porque as minhas pernas de repente haviam ficado moles sob o efeito da impetuosidade com que aquelas profundezas passaram a me encarar. Suas pupilas eram como as brandas flamas do sol que nascia naquele instante, uma parte do fulgor reconheci como divertimento pela minha reação, ou melhor, pela falta dela, já a outra subtendia-se algo mais arriscado, mais sedutor.

          Espreitando-me como um predador em plena caça, Anton deu um passo para a direita seguindo o contorno da mesa, e eu arfei baixinho sentindo uma ardência suave borbulhar no fundo do meu estômago. Ele deu outro passo e os meus pensamentos já antecipavam o que iria acontecer, então deu outro e outro, muito lento, muito perigoso, cada movimento calculado fazendo a ansiedade me contrair por dentro. Eu não precisava de muito, na verdade, não precisava de nada além da luxúria que consumia aquele olhar para que um crescente latejar surgisse lá embaixo.

          Cada vez mais perto, a sua energia efusiva ia me circundando, o seu cheiro fresco e poderoso me cobrindo e despertando cada um das fibras do meu corpo. E quando Anton finalmente se colocou às minhas costas, eu já não mais respirava, concentrada no sutil e cuidadoso movimentar dos seus dedos afastando algumas mechas de cabelo do meu pescoço, então na sua mão rastejando e abraçando a minha garganta. Por um segundo acreditei que fosse apertá-la, mas ele somente levou sua boca à minha orelha, trazendo consigo sua inspiração quente e intensa.

          ― Você sabe o que pretendo comer, fada? ― indagou, a voz aveludada descendo tal qual um arrepio subcutâneo pela minha carne, como se ele me tocasse em todos os lugares ao mesmo tempo, tremor, desejo, o meu coração subindo à flor da pele ao sentir na base das minhas costas uma ereção longa e grossa pronta para mim.

          Com o corpo grudado ao meu, Anton soltou a minha garganta, mas seus dedos ainda me tocavam, deslizando, descendo sem pressa em direção aos meus seios enquanto sua outra mão escorregava pela minha barriga abrindo o nó do meu robe, devagar, testando os meus limites à cada gesto cruelmente controlado, com aquela promessa oculta que incitava a expectativa e que parecia me queimar por dentro.

          ― Hum? ― insistiu ele, as suas presas arranhando a pele onde minhas veias pulsavam, mas nesse instante eu já nem me lembrava o que havia sido perguntado.

          Alcançando o topo dos meus dois montes inchados, Anton afastou as partes da seda onde se uniam, e eu estremeci, fechando os dentes sobre o meu lábio para reter um arquejo quando a delicadeza do tecido resvalou sobre os meus mamilos dolorosamente eriçados. Expostos ao relento fresco da manhã pareciam ainda mais sensíveis, o frio que de fora castigava em conflito com a calidez da sua mão que distendia, me apertando, me sentindo.

          Àquela altura não havia sobrado muita coisa da minha consciência, toda ela havia se tornado as partes que ele me tocava e marcava, a sua língua úmida e sedenta provando o meu pescoço, a sua mão puxando o meu cabelo e a outra descendo firme sobre a minha barriga nua em direção ao vale entre as minhas pernas. Uma deliciosa dor nascia sob essa exploração escaldante, se espalhando, me revestindo e reduzindo meu corpo a um amontoado de células inquietas e fracas, dissolvidas em sensações. Aquilo parecia loucura, mas com tão pouco eu já me encontrava ausente, tonta, incapaz de dizer algo coerente, senão o seu nome eternamente gravado em mim.

          ― Ant... ― Num repente brusco engoli a súplica, ofegando quando ele alcançou a minha intimidade, o dedo médio escorregando facilmente por entre as minhas dobras molhadas, indo e vindo, me abrindo e encontrando a pequena intumescência que começava a palpitar sob as pontas embebidas dos seus dedos. ― Amor...

          Descerrando do fundo da garganta um ruído baixo num misto de exaltação e êxtase, Anton começara uma sequência de movimentos circulares que me fizeram perder o ar por alguns instantes. "Sempre tão insaciável, sempre querendo dar pra mim, e eu sempre querendo comer você" ele sussurrava, o timbre cavernoso girando ao meu redor como uma bruma entorpecente em meio àquela fricção erótica que violava o meu senso.

          À cada ínfimo roçar dos seus dedos ou a cada pressão mais forte, era deixado um eco de calor, o prazer como fagulhas florescendo no meu delicado nervo e se alastrando como labaredas pelo meu corpo. Puro instinto se apoderou dos meus reflexos, e eu demorei a perceber a força com que eu arqueava os quadris e impulsionava a minha bunda contra o seu membro, rebolando, seguindo o ritmo das suas carícias cada vez mais intensas e precisas.

          ― Merda, você não me ajuda fazendo isso ― praguejou ele, a respiração apressada e o corpo tensionando como se estivesse lutando para se controlar.

          ― Quero você...

          O meu sussurro se desfez no ar dando vez ao meu resfolegar sôfrego e descompassado. Com os olhos fechados, encaixei a minha mão sobre a sua sentindo-o ir cada vez mais rápido, mais urgente, e deixei a minha cabeça cair para trás em seu ombro, com os lábios entreabertos, a garganta muito seca e os sons repletos de necessidade saindo abafados, engasgados, por efeito daquela sensação cada vez mais debilitante que me levava para um mundo afastado, um mundo de fogo, de carne e desejo.

          ― Eu quero você... dentro de mim... ― gemi levando minha mão para trás, tentando alcançar-lhe a protuberância rígida que latejava contra a minha bunda. Mas mal consegui agarrar-me à sua calça, quando, com a mesma pressa, Anton mergulhara dois dedos dentro de mim. ― Céus!

          Era só o que faltava para que o caos em minhas entranhas se tornasse insuportável. Todo o meu corpo cedeu a um frêmito que mais parecia uma vertigem delirante, deliciosa, e eu me abri para ele necessitando tê-lo mais fundo e então sentindo-o ir mais fundo, mais depressa, num ritmo forte, impaciente, seus longos dedos entrando e saindo, entrando e saindo da minha carne cada vez mais febril e inundada, fazendo-me contorcer e soluçar o seu nome cravando minhas unhas na sua calça.

          ― Ai, amor... ― Eu queria mais, o queria todo, queria que ele sentisse as mesmas sensações que me incitava com tanta dedicação e prazer, como se ansiasse pela minha libertação tanto quanto eu. ― Quero você inteiro... eu preciso...

          ― Shhh... ― Seu tom profundo meio grunhido e sussurrante interrompera a sequência de sons ébrios que irrompiam dos meus pulmões. ― Você vai ter o que quiser, mas agora goze pra mim assim.

          Anton aprofundou ainda mais as suas investidas, o outro braço lançado à minha cintura, mantendo os meus quadris fortemente presos ao dele. A cada nova impulsão frenética dos seus dedos, ele alcançava aquele lugar secreto e eu ia me contraindo, me contraindo, os meus músculos internos subvertendo-se à sua vontade e se tornando penosamente tesos, o meu sangue fluindo em desespero e as minhas pernas trêmulas, pouco conseguindo me manter em pé, anunciando o frenesi que antecedia a explosão que me dissolveria até mais nada restar de mim.

          Estava vindo, muito, muito perto, quase...

          A mente, uma confusão tomada pela luxúria, a minha carne, um condutor de todas aquelas emoções afogadas, daquela insanidade latente arranhando as paredes para se libertar. Mais uma arremetida, Anton levou o polegar à minha intumescência e eu gemi alto fechando os punhos em seus quadris, deixando-me levar de vez, me deflagrando em pequenos êxtases, latejando por toda parte, então caindo, me desfazendo, derretendo-me em seus braços estáveis à medida que os espasmos daquele gozo vertiginoso percorriam o meu corpo.

          ― Shhh... boa menina.

          Mordiscando uma pequena porção do meu pescoço, Anton retirou os dedos de dentro de mim, devagar. Abri os olhos, muito úmida, pulsante e com a respiração entrecortada, encontrando-nos embalados por uma névoa suave de luz dourada, que aos poucos fora diminuindo e voltando a ser absorvida pela minha pele.

          Uma brisa leve soprava ajudando a dissipar parte do calor que emanávamos, no entanto, aquele vestígio de desejo ainda persistia, a atração pela qual a sua presença sempre era marcada, e ter Anton abraçado a mim, parecendo satisfeito, mas com o corpo todo tenso de excitação, não só tornava a despertar o meu, mas também me fazia sentir incompleta, porque o meu prazer era o dele, assim como, mais uma vez, ele acabava de me provar que o meu, era o seu.

          Fora com esse pensamento, com o coração afogado em ternura e a carne ainda ardendo de paixão para dar a ele, que me virei o abraçando ansiosa, buscando os seus lábios, e praticamente gemendo ao ter os meus seios sensíveis esmagados em seu tórax quando ele me apertou entre os seus braços. Entreguei-me sem qualquer resistência, sentindo a sua língua apoderar-se da minha boca exigindo que eu cedesse ao seu domínio, sugando-me, eu me deixando consumir com ardor, com pressa e sofreguidão.

          Nós éramos isso, a intensidade de dois em um, éramos aquele desejo, aquela carência que nunca diminuía, que só aumentava e se tornava cada vez mais turbulenta, devoradora, porque céus, sempre que ele me tocava, era como se fosse a primeira vez. Quanto mais eu o tinha, mais precisava tê-lo, mais ele se tornava indispensável ao meu corpo, à minha mente e ao meu coração.

          Anton suspendera as minhas coxas e eu as encaixei em seus quadris permitindo que me carregasse para o quarto. Os seus beijos, ainda mais apressados, agora iam da minha orelha para a garganta, e eu, ofegante em minha própria avidez, puxava-lhe os cabelos, apreciando a sedosidade rígida do seu abdômen em contato com meu sexo escorregadio, hora ou outra resvalando na ereção coberta, novamente sendo absorvida, arrastada, por aquela temeridade primitiva.

          Já no meio do quarto, abandonei o seu colo, os meus pés descalços se enterrando no tapete felpudo de pele animal enquanto Anton, sem descontinuar o nosso beijo, deslizava o robe pelos meus ombros e braços. Movida por aquela necessidade em agradá-lo, em retribuir cada suspiro de prazer que havia me proporcionado, viajei minhas mãos pelo seu torso amplo, pelos braços definidos e articulados, pelas laterais de seu abdômen até encontrar o cordão acetinado que segurava a calça em seus quadris.

          ― Ei... ainda não, safada ― resistiu ele, laçando a minha cintura e me arrastando para o sofá. "Agora sim" gemi em sua boca tentando mais uma vez alcançar o cós de seda. ― Vou meter em você, mas só quando estiver pronta de novo, agora sente-se e abra bem as pernas, quero sentir o seu gosto.

          Céus.

          ― Amor... ― O meu murmúrio choroso ecoou como um protesto, metade desejo, metade frustração, porque ele sabia que eu sempre estava pronta para ele, e por muito pouco não cedi. No entanto, recusei-me a soltá-lo, com o seu lábio preso entre os meus dentes e aquele formigamento na minha intimidade tomando uma proporção incômoda, quase desesperadora. ― E eu quero sentir o seu.

          Levei alguns instantes para me dar conta do que havia falado, e só percebi porque de repente Anton ficara estático, com o corpo todo retesado sob os meus braços. Logo as suas pálpebras subiram e ele separou as nossas bocas, inclinando a cabeça para trás num movimento longo e meticuloso, até aqueles abismos desconfiados tomarem distância suficiente para avaliarem a minha expressão.

          ― O que você disse?

          ― Que eu... ― A minha voz ameaçou falhar, mas Anton havia conseguido dissolver o meu juízo muito mais rápido do que normalmente já fazia, e naquele momento também afetara o meu senso de pudor, pois me recusei a negar minha vontade e deixei de ponderar os efeitos do que estava dizendo. ― Eu quero sentir o seu gosto.

          Mais estranho do que repetir a minha confissão abertamente, foi o modo como ele me olhou, como se estivesse surpreso e até mesmo atordoado. Não entendi o motivo, assim como não entendia por que nunca havia me pedido para realizar nenhum dos seus desejos sexuais, uma vez que eu tinha quase certeza de que gostava de ser beijado lá embaixo, e não podia ser tão difícil acreditar que eu queria retribuir o que ele tanto já havia feito comigo.

          Um ou dois segundos se passaram sem que Anton tivesse qualquer reação. O meu estômago parecia ter tomado a forma de uma azeitona com o peso de uma pedra, e toda aquela excitação precedente, a iminência que havia entre nós, começava a esfriar tornando a situação confusa e muito desconcertante.

          ― Você quer chupar o meu pau, é isso?

          Deuses! Falando assim até parecia que eu era uma devassa tarada qualquer, ao passo que o pervertido ali era ele, do jeito que sempre conseguia me deixar chocada, principalmente porque suas palavras imorais, ditas naquela rouquidão remansada, tinham o poder instantâneo de fazer o meu sexo pulsar como se ele estivesse me penetrando.

          Ainda com o braço preso à minha cintura, Anton deslizou a mão pelo meu rosto, contornando a minha boca com o polegar, e eu olhei para o lado querendo disfarçar e reunir coragem para responder, mas a ardência em minha face provavelmente a deixara tão vermelha quanto as rosas que enfeitava as mesinhas de canto.

          ― Fada...

          ― Eu quero ― apressei-me em dizer antes que ele falasse algo que me fizesse recuar. ― Você nunca me pediu, mas eu quero se você também qui...

          Não tive tempo de concluir, um rosnado vibrou de suas cordas vocais e muito rápido ele avançou sobre a minha boca, a devorando em um beijo furioso e exigente. Tentei acompanhá-lo, mas logo o ar foi ficando pesado, escasso, e eu comecei a arfar em meio àquela crise de desejo violento, de sentimentos tumultuosos e confusão.

          Com resistência, Anton afastou os nossos lábios apoiando a sua testa na minha, os dedos fechados no meu cabelo, nossas respirações ofegantes se misturando e rompendo a quietude do quarto. Suas pálpebras se mantiveram baixas, o torso enrijecido revelando o árduo esforço que era se conter, e assim os segundos transcorreram até que, em silêncio, ele capturou a minha mão e a levou diretamente à sua pélvis com um propósito, uma resposta.

          Ele queria, ele queria tanto que eu podia sentir os pequenos espasmos da sua excitação sob o meu toque, cada um deles refletindo em meu próprio corpo a mesma febre e ansiedade. Sem conseguir esperar mais, desamarrei o cordão da sua calça e a escorreguei pelos seus quadris desprovidos de roupa de baixo, fechando meus olhos e estremecendo ao sentir a extremidade quente da sua ereção repousar sobre a minha barriga.

          Tão breve, os dedos que me seguravam se soltaram e as nossas testas se distanciaram, fazendo-me subir as pálpebras outra vez. Anton agora tinha seus braços caídos ao lado do corpo nu, a postura alinhada e a tensão sexual irradiando através dos músculos contraídos, do sexo rijo exposto em sua abundância e glória apontado para mim, tudo para mim.

          Dando um passo para o lado e desvencilhando-se do amontoado de seda aos seus pés, ele se sentou no sofá; o olhar viajando demoradamente pelo meu corpo e então sustentando o meu numa inteira contradição à indolência presente na pose pacífica, espelhando uma profundidade tempestuosa, o tesão em sua forma bruta, quase uma ameaça, deixando-me tão perdida quanto petrificada.

          ― Vem aqui ― disse ele inclinando a cabeça ligeiramente em direção às próprias coxas. 



+ 💬 = 💓



Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top