Horizonte

Alex e Charlie já estão fora do farol após a tentativa de auto mutilação mal sucedida de Rain a cerca de quatro horas atrás. Eles vão até a orla da praia, perambulando pelo chão úmido. Alexander avisa que vai dar um mergulho na água salgada, mesmo com os avisos do menor sobre como iria sentir frio mais tarde. Alex vai mas Charlie não. Faltavam menos de 50 minutos para começar a anoitecer e não gostaria de pegar um resfriado. O maior acaba insistindo tanto que o moreno acaba molhando apenas as suas pernas. Grace respeita a intenção de não ser molhado e não faz nenhuma brincadeira. Sabia o quanto era demorado secar um moletom, que era o que Charlie vestia. Então, depois de um tempo, sentam na areia, de frente para o mar. Alex estende suas pernas e se sustenta com os braços bem seguros na areia.Charlie, por sua vez, apoia seu queixo no joelho da perna dobrada. O olhar dos dois é voltado para as súbitas ondas de água.

- Eu nunca tinha visto o pôr do Sol - Charlie fala, estupefato com a visão do horizonte.

- Sério? - O loiro pergunta, sem acreditar - Eu já vi muitas vezes. alguns dias eu me deitava no gramado do meu quintal apenas para observar o pôr do Sol. Meu pai ficava assistindo comigo, ás vezes.

A linha de pensamento de Grace vai para o passado. Os abraços e a presença de Sean Grace. Saudades.

- Apenas desejo que ele esteja bem - Finaliza.

O moreno o encara firmemente.

- Ele está, Alex - Charlie diz - Tenho fé nisso.

Alexander fica feliz em saber que Charlie, um garoto que tem todos os motivos do mundo para ser infeliz, ainda acredita nele.

- Vamos voltar para o farol - Grace afirma - Escureceu mais rápido do que eu previa.

Charlie acompanha seu melhor amigo de volta para o "acampamento".

Quando chegam, o loiro vai logo procurar algum tipo de aquecedor ou algo parecido. Realmente estava sentindo muito frio e aquelas roupas molhadas não colaboravam em nada. Encontra uma pequena caldeira de vapor e a liga imediatamente. Sua esperança de que não iria funcionar é dizimada assim que ouve o som de engrenagens se movimentando. Logo, o calor foi se espalhando pelo pequeno ambiente.

- Estou com muito frio, Charlie - O garoto diz assim que pode.

O menino dá uma leve gargalhada.

- Devia ter me ouvido lá na praia - Charlie faz questão de lembrar - Me veja, estou completamente seco.

- Acho que vou tirar a camisa - O loiro continua, ignorando o comentário do menor - Não quero virar um sorvete.

E assim o faz. Tira a camisa numa velocidade surpreendente, jogando-a em qualquer lugar. Deixa a mostra seu corpo definido. Bíceps, tórax e abdômen. Charlie desvia o olhar para a parede, então vai e escora suas costas nela, sentando no chão.

Alexander sai para explorar um ponto brilhante, que refletia a luz da caldeira. Após puxar cuidadosamente de uma pilha de coisas antigas e abandonadas, saca um rádio velho com uma pintura preta desgastada.

- Charlie! Olha só o que eu encontrei! - Grita, voltando para onde o menino estava - Será que ainda funciona?

Alex gira o pequeno e velho objeto em suas mãos. Nota um botão na parte inferior e o pressiona. Um som de estática começou a ser ouvido. Então girou uma pequena roldana na superfície do aparelho até ouvir uma melodia instrumental. Um violão, sendo tocado bem lento.

A música Sea of Love, Cat Power.

Come with me

My love

To the sea

The sea of love

Alexander se afasta um pouco do velho rádio. Chega na frente do menino sentado e estende a mão direita em sua direção.

I wanna tell you

How much

I love you

Era um pedido de dança. Charlie aceita e agarra o punho do garoto, sendo levantado. Alexander posiciona suas mãos na cintura do menor. O pálido apoia suas frias mãos nos ombros de Alex, deixando o curativo de pano de seu pulso tocar a pele do loiro também.

Do you remember

When we met

That's the day

I knew you were my pair

São passos lentos para a esquerda e direita dados pelos dois. Alex realmente não acredita no que está fazendo. A visão de Charlie é para os pés, tentando acompanhar os ritmados passos. Não solta os ombros do maior em momento algum. Então, os olhos castanhos de Alexander Grace encontram um azul, como a cor do horizonte, e outro verde, como a mais pura esmeralda, do menino pálido bem a sua frente. Uma sensação de paz eterna invadiu o corpo do loiro, levando-o às nuvens.

I wanna tell you

How much

I love you

- Seus olhos são lindos, Charlie - O maior declara - Eu não consigo expressar o quanto os amo.

Come with me

My love

To the sea

The sea of love

Então os lábios finos e delicados do moreno se encontram com os de Grace. Um choque de adrenalina e tensão sobe pelas veias do mais velho, tornando seus ombros tensos. As mãos tremulas de Charlie vão para o pescoço de Alex, tocando seus dedos gelados nas bochechas dele, aprofundando o beijo. Alexander tenta se acalmar, pondo seus ombros de volta ao normal, e passa suas mãos por baixo do moletom do rapaz, tocando suas costas lisas.

I wanna tell you

How much

I love you

E, pela primeira vez, Charlie abraça o forte corpo de Alexander, deitando sua cabeça em seu peitoral. Alex então sustenta seu queixo nos cabelos negros de Rain, sentindo seu doce cheiro e envolve o corpo do menor em seus braços.

A sensação dura pouco.

Escutam a queda de um objeto, mais parecido com uma lata de metal, próximo a seus pés. Poderia ser nada de importante, até um densa nuvem de uma fumaça azulada ser expelida pela lata. Seu cheiro era semelhante ao éter. Alex corre logo para o segundo andar, com sua mão presa ao punho de Charlie. Ouve-se sons seguidos de tiro arrebentando o metal desgastado da estrutura do farol. Quando param, sentem uma dor em suas cabeças, seguidas de uma terrível sensação de tontura. Grace tenta usar a sua habilidade de mapeamento, mas sente a dor piorar. Insiste mesmo assim e consegue. Do lado de fora ao farol, haviam quatro carros grandes e quinze pessoas. Dez delas portavam arma de fogo.

Vitae os tinha encontrado.

E os queria de volta.

- Alexander Grace e Charlie Rain - Uma voz jovem e masculina é projetada através de um megafone - Saiam do farol e se aproximem, de forma pacífica, com as mãos acima da cabeça.

Os garotos se entreolham. Não ha como fugir. E se tentassem, poderia ser pior.

- O lugar está cercado - Continua - Iremos invadir em um minuto.

Charlie dá leves passos em direção à entrada. Alex permanece estático.

"Ele desistiu" - Pensa Grace, enquanto observa os passos lentos do menino bem a sua frente.

Charlie para sua caminhada na frente da porta fechada, observando-a. Então Alexander anda em sua direção e toca a mão fria do garoto, entrelaçando seus dedos.

Abre a porta.

- Boa noite, Grace - A voz grave do homem de 54 anos domina todo o ambiente aberto - Como foi seus momentos de liberdade?

Permanece em silêncio.

- Temos um mudo aqui? - O cientista usa um tom de piada.

Theodore levanta a mão, apontando-a para o menino a esquerda de Alexander. Quase que instantaneamente, Charlie grita, soltando os dedos de Alex e pondo suas mãos na cabeça. Grace não entende como isso foi possível.

- Pare! - O loiro grita - Pare agora!

Então ele reconhece um rosto dentre os secretários por trás de Vitae. Um rosto fino, de pele clara e macia. A garota tem longos fios loiros.

E seus olhos se encontram.

- Clarisse? - Alex não consegue acreditar no que sua visão vê - Você foi pega também?

Uma risada rouca contagia o lugar. A risada maléfica de Theodore Vitae.

- Muito pelo contrário, Grace - Ele diz num tom ainda mais alto - Quero que conheça a agente 65. Ela contribuiu bastante para que eu estivesse aqui nesta noite. Clarisse Grace, minha melhor colaboradora.

O queixo de Alexander vai ao chão. Sua irmã. A única pessoa em que podia confiar totalmente, o traiu.

Nada mais faz sentido.

O corpo de Charlie cai desacordado no chão. Alexander tenta se mover mas não consegue. Permanece parado, mesmo pondo o máximo de força possível em seus músculos.

Era Vitae. De alguma forma estava controlando o corpo dos garotos. Alex vê Charlie ler levado por alguns dos policiais. Injetam um líquido de coloração azul clara em seu pescoço e depois, levam o menino para um dos carros fortes ao fundo.

Vitae se aproxima lentamente do garoto estático. Quando está perto o suficiente, injeta o mesmo líquido que foi introduzido em Charlie. A visão de Alex fica turva e o homem soca o estômago dele, dirando-o do estado inerte. O corpo de Alexander vai de encontro com a terra.

- Eu estou a um passo do próximo salto na história e na ciência - Vitae diz - Não serei interrompido por alguém tão insignificante como você.

E Alexander fecha os olhos.


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