C A P Í T U L O 33

    Camilla estava num covil de lobos. Literalmente.

    E não sabia exatamente como se sentir a respeito disso. É preferível não pensar. Não sentir… o pânico ameaça vir toda vez que ela não se concentra, por exemplo, numa rocha.

     Porque tudo era informação.

     Os desenhos de constelações que ela nunca ouviu falar. Gravuras de feras dignas de série de fantasias… e florestas de outros mundos.

     E tudo é real.

     A realidade sempre volta: Camilla está num covil de lobos.

     E seu corpo estremece com um instinto primitivo de sobrevivência: correr. Entrar em pânico, fazer barulho e chamar atenção para seu "socorro". Apenas a lógica tentava controlar esse impulso.

     Sem forma bestial! Prometeram a ela. E cumpriram a promessa permanecendo como apenas grandes homens a perambular aquele ambiente antigo e primitivo.

     Ajuda a controlar o pânico, mas não é o suficiente.

    Nenhum homem lhe atacou. Pelo contrário, foram amistosos por qualquer motivo que seja. Camilla também se apoia nas histórias fictícias e românticas de lobisomens que leu pela internet.

    Mas aquilo é vida real e ela está num covil de lobos.

     Pela décima vez, a bruma respirou profundamente para se concentrar nas funções mais básicas de seu corpo: levar ar aos pulmões, sentir o coração bater e conferir se ainda tem possibilidade de correr caso necessite.

    Camilla se remexeu pela vigésima vez. Ela estava no alto de um rochedo frio que lhe dava visibilidade para quase toda câmara de tráfego lhycan. O covil é como um formigueiro… ou ao menos lembrava um com suas muitas aberturas e corredores escuros.

    Se aquele local fosse uma rua, seria uma avenida de quatro semáforos. Mas naquele lugar dentro do Monte Sukakpak, um motivo em particular atrai os lhycans de toda parte para aquele lugar: comida.

    Havia uma gigantesca mesa circular ao centro daquele lugar. Todo o ambiente gira em torno dela, como os planetas ao sol. Ela era entalhada da rocha daquele monte, grudada ao chão e enfeitada com garras de ouro conforme se ergue a pelo menos três metros acima do chão.

    É como um palco.

    Um altar.

    Quatro estátuas de agressivos lobos rosnando e defendendo aquela plataforma. Guardavam a única coisa que chamava mais atenção naquele cenário todo: uma estalactite. Um espinho de rocha e cristais moldados para que apontasse para o centro da mesa. Nele, havia pinturas e esculturas de algo que provavelmente é venerado pelos lhycans.

    Ao redor da mesa, aos pés das estátuas de lobos estavam a carne sendo assada.

    Grhyamor estava lá, mexendo, preparando e temperando uma coxa de servo que prometeu ser delicioso. Camilla aguardava e preferia manter distância dos demais homens.

    Ao menos uma vez, todos lhe encararam. Buscavam oportunidade de falar algo, perguntar, criar um assunto. Apenas Ikronyx, o Bhetta quem conseguia.

— Você repara em tudo, mas não pergunta — observou ele.

     Camilla já havia analisado aquele lugar tempo o suficiente para poder desenhá-lo se desejasse. As paredes com gravuras de montanhas, castelos e estrelas. As aberturas de corredores contornados com escamas e todo o design centralizando aquele altar.

— É deselegante — ela murmurou. — Se você está em um lugar com história, morda a língua e engula, mas não comente ou pergunte nada.

— Não aparentar ser ignorante por não saber da história e não comentar para passar superioridade. Sei bem das táticas humanas de arrogância e orgulho — zombou.

    Camilla sorriu por pura força do hábito. E Ikronyx acompanhou o gesto com orgulho.

— Vocês parecem saber muito sobre os humanos.

— Somos predadores e predadores observam suas presas — ou seja, humanos. Camila se remexeu incomodada e tal atitude não passou despercebido pelos olhos atentos do chrynnos. — Como acha que sabemos falar inglês mesmo o contato sendo mínimo?

    Camilla estreitou os olhos para o macho, desafios. Sério?

    Ikronyx alargou o sorriso.

— Se eu começar a falar português, meu idioma…

— Em pouco tempo também falarei português — o Bhetta sorriu e, então, desviou o olhar para baixo, vários e vários metros até onde Grhyamor ainda preparava a carne. — O idioma humano é simples demais. Qualquer um deles. Não há como não aprender apenas observando.

— Já o seu parece alienígena! — Camilla murmurou em português. Os ouvidos de Ikronyx captaram cada palavra antes de seus olhos se fixarem nela. A fêmea também olhou para baixo. — Inglês, russo, japonês, espanhol, português… qual o nome do seu idioma?

— Chrynoria e Hyfhytturiano — credo! Pensou ela, entortando o pescoço para ele.

— Isso é um trava línguas? — Ikronyx riu.

— Hyfhytturiano é o idioma antigo que toda criatura de Hyfhyttus fala. É universal para os lhycans, não importa a raça — explicou. — Chrynoria é o idioma que nossa raça, chrynnos, usa. É derivado do hyfhytturiano como um… neto. Algo assim.

— E o Supremo Alpha fala esse idioma? Esse avô aí do seu idioma?

— Alto Hyfhytturiano — ele disse — e Hyfhytturiano. O alto hyfhytturiano é considerado o idioma mais complexo desse planeta. São anos de estudo mesmo para um lhycan que não seja da realeza para domina-lo. Enquanto o hyfhytturiano é antigo e um tanto… simples e antigo, o alto hyfhytturiano é a evolução.

— Não entendi nada — ela murmurou.

— Então vou esclarecer: nosso povo é complexo, nosso idioma é complexo, nossa história é longa. Eu posso aprender qualquer idioma humano porque vocês são simples demais. Mas vocês não são sequer biologicamente capazes de falar nosso idioma.

— Ou seja, você, lobisomem, é superior e eu, humana, inferior! — O tom atraiu olhares para cima. Camilla deu de ombros e soltou: — Tô nem ai. Foda-se. Não lembro de ter voltado pra escola mesmo…

— Camilla, Camilla —  ele suspirou, passando a mão pelos seus longos cabelos e o ajeitando antes de passar para frente do ombro direito. — Humanos temem o que não conhecem. E você nos teme — Camilla o encarou de lado, apenas para ver o sorrisinho confiante do homem. — Você está lidando com bestas e quer manter a boa educação? Vamos Camilla, você é mais do que isso. Pergunte.

— Ok, tudo bem! — A fêmea se virou pra ele. — Sim ou não. Sou uma refém?

— Não.

— Quando for a hora, poderei ir embora?

— Sim.

— Nada vai me acontecer?

— Não.

— Vai me comer?

— Não.

— E gastronomicamente falando?

    Ikronyx piscou.

— Er… como?

— Depois sou eu que sou inferior comparado ao todo poderoso aí, né! — o macho arqueou uma sobrancelha.

    E seu gesto não foi humano.

    Ele dobrou a cabeça para o lado, quase encostando o ouvido no ombro.

    A íris expandiu para os olhos azuis de um lobo num único piscar de olhos. A pupila se ajustou e a fêmea podia observar seu reflexo naquela esfera negra.

    Então o macho avançou contra ela.

    Camilla tombou no rochedo até suas costas sentirem o frio. Dezenas de pares foram em direção ao casal, mas ela só tinha olhos para ele.

    As mãos presas, imobilizadas e sem fuga.

    Ninguém iria interferir.

— Muito bem — ele sussurrou.

    Camilla levantou o queixo, orgulhosa. Mas seu ato expôs o pescoço.

     E foi por onde ele também lhe agarrou.

     O rosto daquele homem se aproximou… lentamente. Os olhos nada humanos estavam atentos. Ele era uma besta, independente da forma e pouco a pouco, essa ninfomaníaca iria entender.

     E como um predador, ele sabia como desestabilizar sua presa.

     Rouco, lento, sensual e intenso… o Bhetta sussurrou ao seu ouvido:

— Como quer que eu te coma?

    Ela arfou.

    Não respondeu.

    O aperto saiu do pescoço para o maxilar. Uma leve mordida foi posta na orelha.

Hm?!

— Quero que me prepare — ela murmurou para seus ouvidos ocultos pelos grandes cabelos — me chupe, me beije e mostre um lado sensual dessa besta que você é. Mas só a solte quando eu estiver de quatro como uma cadela no cio.

— Tenha certeza de que para o lobo aqui ficará na posição que eu desejar, cadela! — Prometeu.

    E caralho! Camilla já estava molhada.

    Rápido demais.

    Assim não é justo!

    Ikronyx agarrou seu cabelo, cheirou profundamente seu pescoço e a puxou, nada delicado para junto de seu corpo. Eles estavam no alto e o macho fez questão de exibi-la ao restante da alcateia quando agarrou seus seios e lambeu a curva de seu pescoço.

    Como um lobo saboreando sua carne.

    Ele é o Bhetta.

    O segundo mais dominante.

    Aquele que mais oferece desafio ao Alpha.

     E ordenou:

Saiam! — o idioma único e estranho, impronunciável por uma humana como ela teve efeito múltiplos de autoridade e poder. É um homem dominante dando uma ordem.

     E cada cachorrinho ali obedeceu.

    Até Grhyamor.

   Camilla tinha a impressão de que se fodeu.

— Agora, minha cachorrinha, vamos ver como você irá uivar para mim!

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