C A P Í T U L O 19
"Qualquer um que se colocar entre você e ele… morrerá", havia alertado Grhyamor.
— O caralho foi isso?
E aconteceu.
— Porra!
Camilla não conseguiu sustentar o próprio peso e desabou no chão.
— E-Ele morreu?
A porta às suas costas era a única coisa que impedia a criatura de entrar.
— Merda!
Entrar e matar todos ali dentro.
— Que coisa era aquela?!
Manchar as paredes com sangue…
— EU NÃO SEI!
Camilla piscou, assustada com o grito de… de… alguém. Apenas palavras… nada de ataque. Ainda.
A mulher mal acompanhava o pânico daqueles homens. Ela estava inerte em sua própria mente, sabendo que provavelmente é a única a saber o que estava acontecendo.
E não sabia se tal conhecimento do motivo daquele ataque deveria tranquilizá-la.
Caralho, aquilo foi um lobisomem em ação! Ela não chegou a ver o estado da casa de Allyna quando foi atacada e embora tenha literalmente estado nos braços de um, nenhum atacou-a.
As instruções de Grhyamor eram simples.
Sair quando anoitecesse. Ele a buscaria e lhe apresentaria ao bando da forma mais cortês possível. O homem prometeu que estariam todos em sua forma humana.
No entanto, se ela resistir, não seria ele quem a buscaria.
O Alpha.
Uma fera albina, com a marca da liderança gravada em sua cabeça.
Mais violento do que qualquer outro lobo, Alpha ou não.
Camilla estava encostada na porta, o coração estava acelerado quando ouviu os gritos do homem morrendo nas garras da besta. Era como se estivesse sendo despedaçado, fatias de carne cortada, ossos quebrados como os de uma galinha…
"Qualquer um que se colocar entre você e ele… morrerá", havia alertado Grhyamor. "Você não irá gostar de nos ver em ação, ninfetinha. Por isso, confie em mim quando digo que não irá querer… ver ele em ação. Nunca!"
Ele estava matando aquele homem lentamente e seus gritos lhe faziam imaginar o que estava acontecendo.
— MEU PAU! — Gritou lá de fora com força mais do que suficiente para espantar os demais. — COMEU MEU PAU! AH!
Camilla estava com os olhos arregalados quando o homem começou a chorar e lamentar a perda do pau. E então seus gritos se tornaram aguados, engasgados.
Um tempo depois, um estrondo acertou a janela. O vidro rachou.
Os demais homens gritaram.
Camilla preferiu manter a seriedade da situação do que compará-los a galinhas cacarejando. Porém, é impossível. Um dos gritos foi fino como o de uma cadela cruzando.
Nada tira as dúvidas e o medo em sua mente.
Se ele quiser entrar, ele entra.
Por que ele não entra?
Camilla estremeceu ao ouvi-lo.
O som de suas passadas, a respiração forte… e o rosnado.
Mais e mais perto.
Um som na porta fez seu coração tropeçar nas batidas. Ele encostou a mão naquele objeto.
Garras brancas, quase transparentes e com brecha do sangue em sua raiz rasparam a porta. Uma marca suave deslizou para cima e para baixo, cortando até que o desenho do contorno dela, sentada e de costas estivesse gravado na madeira. Ele a sentia do outro lado.
Ela tinha um cheiro forte.
Um grunhido foi ouvido.
Camilla já sentia-se tonta, tamanho seu medo. A respiração já começava a falhar e o calor era quase insuportável.
A besta baixou a cabeça para o fim da porta e tocou o nariz no chão. É o mais próximo da bunda daquela humana… ele cheirou.
Mãos fortes se envolveram ao redor do pau duro como aço entre as pernas da criatura. Um rosnado de impaciência a deixou mais tensa.
Entre os membros do bando, o líder era o menos paciente.
Mais forte.
Mais selvagem.
Mais besta.
Tudo uma característica do fato dele ser albino. Por tanto, mais perigoso. Tanto, que já chegou a estraçalhar um membro de seu bando.
Naquele momento, ela imaginou o quão vermelho estava o pelo branco da besta. Se Camilla não obedecesse, Grhyamor garantiu que o líder não viria buscá-la na forma mais amigável.
"Tive um certo… esforço para estar aqui, dias antes, e lhe alertar para que o trauma não seja maior. Eu sinto muito", foi a primeira vez que ela considerou ficar quietinha e obedecer Grhyamor antes do medo a consumir.
A razão, também. O que aconteceria quando estivesse nas garras daquela criatura?
Ele poderia quebrar aquela porta e entrar. Por que não faz?
As janelas não poderiam impedi-los e…
Os olhos de Camilla se arregalaram.
— A janela do quarto está aberta?! — Todos os olhares caíram arregalados sobre ela.
A besta moveu suas orelhas atentas.
— Oh, merda! — E uma correria se iniciou.
Camilla ouviu o rosnado, sentiu a porta tremer e a criatura se afastar tão rápido quanto os homens dispararam para o quarto. Caralho!
Ele entendeu o que ela disse?
A criatura deu a volta na casa a passadas largas, os olhos noturnos estavam atentos a tudo até que vê aquela luz se acender e vazar por um buraco vantajoso. Ele salta, as garras o prendem na abertura, agarrando o homem que tentava fechar a janela. Ele grita.
O som o enfurece e dentes poderosos se fecham em seu rosto. A pressão da mandíbula quebra seu crânio, torce a mandíbula e com mais força, ele desfigura o homem, puxando-o para fora.
Meio segundo depois a cabeça volta para dentro da casa, completamente irreconhecível.
A besta avança novamente contra aquela passagem pequena, sente seu corpo entalar e bate as mãos no ar. Nicolas tomba a tempo de livrar-se da morte, gritando e correndo conforme a criatura faz força para passar seu grande corpo.
As garras se prendem ao chão e ele arranhando com energia, movendo seus músculos e grunhindo ferozmente. A maciez do pelo o faz escorregar para frente e o chão marca toda sua agressividade.
Ele cai para dentro.
E o desespero faz os homens fecharem a porta com toda a urgência possível.
— EI, NÃO ME DEIXE AQUI! — Porém, um fica para trás.
A criatura se levanta, equilibrando-se em suas longas pernas. Os ombros se endireitando como se fosse um homem, os músculos exibidos conforme quase alcança o teto.
Nem homem, nem lobo. Ambos e nenhum.
Tão branco…
Molhado de sangue…
O homem chorou… Não apenas pelos olhos.
— P-Por favor!
Os olhos esbranquiçados refletiam luz, e ele arreganha os dentes num sorriso mortal. Não havia como escapar.
Camilla ouviu o rugido. E então o grito.
Todos dispararam do quarto como se tivessem correndo atrás da própria alma que escapuliu por lugares menos iluminados por luz.
— A COISA ESTÁ NO QUARTO! — Nicolas saiu pálido do corredor, um arranhão profundo estava em seu ombro conforme os demais permaneciam suados e ofegantes, perguntando o que fariam a seguir.
Como sobreviver?
— Ele arrebentou a porcaria da janela e puxou Tony para fora! Ele arrancou a cabeça dele!
Camilla imaginava só podia imaginar a cena.
E ao mesmo tempo, sentia o terror em seu sangue. O medo do desconhecido. A necessidade de mais respostas… e a certeza de que soubesse que aquilo viria atrás de si, ficaria de bom grado parada na neve esperando Grhyamor.
Não é como se ela tivesse tido exatamente uma escolha…
— E-Ele… me entendeu… — murmurou, incrédula.
— O que disse?! — Erick sibilou em direção a ela.
— Quando perguntei do quarto, acho que ele ouviu e… e entendeu.
— Como isso pode ser possível? — Felipe indagou.
— Porque é um lobisomem! — Camilla soltou, finalmente caindo e aceitando sua situação. — Eu disse que havia visto um lobisomem e ninguém acreditou em mim! Foi o que matou aquela vadia da Allyna e o que tá no quarto! É um lobisomem! E não eu não sei como caralho ele me entendeu, mas entendeu! Talvez seja a parte humana ou sei lá, PORRA! Ele vai matar a TODOS NÓS!
Camilla sentiu a falta de ar.
A palpitação.
O peito se fecha e se contrai.
Ela tossiu.
Todo seu corpo trêmulo ficou pálido.
— Ela tá tendo um crise de pânico! — A criatura levantou a cabeça em direção a porta. O coração do humano em sua boca… uma bocada e desapareceu na garganta. — Rápido, ela tá sufocando!
Só havia uma fêmea dentro daquela casa. A dele. "Ela" está sufocando com uma crise de pânico?
Ele rosnou, inquieto e ouviu os homens em cima dela.
— Me fale a tabuada só sete!
— Mané tabuada o meu cu, filho da puta! Agora tá preocupado comigo?! — Ela arfou, bateu no peito e tossiu. Suor escorria por sua testa…
— A tabuada. Agora!
— Sete! — Começou ela. 7+7 — Q-Quatorze. — +7 — Vinte e um — 20+7=27+1 — Vinte e oito… — Camilla tossiu e concentrou a mente imaginando os números. 7=2+5. 28+2=30+5 — Trinta e cinco!
O peito se abrindo.
O ar passando.
A palpitação diminuindo.
Ela foi aos poucos se acalmando.
O cansaço a consumindo.
E a besta ficou quieta, jantando e dando a ela o tempo necessário para se recuperar.
O bem estar dela está em primeiro lugar!
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