C A P Í T U L O 17
Eles não se moviam aleatoriamente. Havia coordenação, estratégia e um mínimo planejamento que deixava claro que lobisomens não agem apenas pelo impulso, pelo instinto, mas também pela razão.
O Alpha se locomoveu para dentro do perímetro que criaram e, para compensar sua ausência, os demais se mexeram.
A cautela estava presente…
E para Camilla, tudo dependia disso.
Seu coração estava disparado no peito quando ouviu batidas na porta e mais homens entraram perguntando se era ali que ocorreria a festa. A mulher teve um início de esperança quando viram seus olhos vagarem pelo ambiente em busca de bebida, decoração ou música.
Mas só havia Camilla entre eles.
— Não entendo — um homem de estatura média, agasalhado e com uma touca para esconder parte dos cabelos compridos se pronunciou. Deveria estar na casa dos trinta, mas ela não tinha certeza com aquela aquela pele pálida e castigada pelo frio do estado.
Mas então Erick sorriu amplamente e abraçou o amigo pelo lado.
— Trouxe a caixa de som? — Perguntou.
O homem assentiu.
Felipe, o irmão caçula, apontou para Camilla.
— Então vamos aproveitar nossa puta! — E o olhar de todos se iluminou em compreensão e malícia.
Camilla recuou um passo.
Ela não tinha chances.
— Ela tá com medinho da gente? — Perguntou outro homem, aproximadamente quarenta anos, a julgar pelas rugas marcando o canto de seus olhos e boca.
Camilla notou estar com a boca aberta, pasma. E tratou de fechar e assumir uma posição arrogante.
— E você quem é?
O homem precisou de um momento para processar o tom usado. Ele respondeu com desgosto.
— Ethan.
— Bom, Ethan — Camilla sorriu e largou sua mala dando confiança o bastante para dar as costas aos cinco homens e passar pelo balcão em direção a cozinha.
Sem movimentos bruscos, sem correria, apenas o andar calmo ecoando pelo ambiente conforme lhes dava confiança de que não planejavam fugir.
A porta foi fechada.
E ela empinou a bunda ao se debruçar sobre a pia da cozinha.
— Eu quero ver se você é realmente homem, ou tem um pau murcho e precoce como Nicolas.
Ela teve a impressão de ouvir Nicolas bufar frustrado quando as risadas começaram. Quando ela se virou, o ex estava vermelho em meio aos amigos.
Mas então a risada parou.
Camilla estendeu o facão.
— Podem até conseguir me estuprar porque eu sei que ninguém aqui é macho o bastante para encarar um garotinha com o braço quebrado sozinho — Camilla jamais se lembrava de segurar uma faca com tanta firmeza. Ela encarou o ex. — Foi por isso que chamou os amiguinhos? Para ajudá-lo depois da surra que te dei no banheiro, amorzinho?
Nicolas ficou mais vermelho. Uma veia saltou de seu pescoço.
O que ele não esperava é que Erick o empurrasse em direção a Camilla.
— Mostra pra ela o que é macho! — Os demais concordaram em uníssono.
Camilla tinha que manter a calma. Dominar e… conseguiu ao mostrar seu belo sorriso.
— Eu te desafio — sussurrou.
E viu o olhar de Nicolas vacilar.
Ele sabia que Camilla não é frágil. Seu belo corpo havia músculos do tipo que não se ganha com musculação qualquer. A mulher tinha que ao menos se garantir com a mulher ciumenta do marido traidor ou de um ex drogado e paranóico. Um preço pelo prazer.
Nicolas avançou.
Camilla se moveu.
Os demais piscaram quando viram Nicolas no chão, de quatro, e Camilla se levantando e se preparando. O chute veio com tanta força que o grunhido de Nicolas pareceu afetar os demais.
E como da última vez, ela não parou no primeiro.
— O QUE eu — ela chutou — eu DISSE — chutou — sobre — TOCAR — em MIM?!
Nicolas ficou imobilizado no chão, com as mãos entre as pernas, a vergonha e a surpresa dos demais. Camilla apontou a faca para eles, direto para o peito.
— Quem vai ser o próximo?
— Como fez isso? — Ethan se pronunciou.
Camilla se recusou a mostrar qualquer sinal de medo ao recuar. Ela enrijeceu a face.
— Minha mãe já defendeu o peso pena em luta livre uns… — ela contou nos dedinhos em volta do cabo — três anos.
Tock, tock, tock!
O olhar caiu na porta.
Por favor, seja a polícia! Implorou Camilla.
Erick girou a maçaneta e abriu, vendo quem é. Camilla ficou inquieta quando um sorriso veio ao seu rosto.
E por lá, mais três homens foram revelados.
— Trouxe a camisinha — falou um engomadinho animado saltando para dentro.
— Eu trouxe mais cerveja e o virjão aqui — Camilla já não tinha cara para ver um moleque ser empurrado para dentro daquele cômodo carregando algumas cervejas.
O garoto olhou para ela. É magro, pálido e parecia desajeitado. O trouxa da turma que soltou uma risada animada.
— Bonita!
— É, meu querido, finalmente vai saber como é o calor de um boceta — Felipe bateu em suas costas e as cervejas quase foram ao chão.
Camilla quase esqueceu da faca na mão.
E a cada minuto que passava, pedia seu vôo.
Ainda assim, olhou para o garoto. Ela deveria se concentrar em não ser estuprada.
— Talvez seu pinto seja menos murcho que o de Nicolas, mas vem cá e me toca que eu arranco seu caralho fora! — E deu ênfase na faca.
O garoto recuou com medo.
Pena que o mesmo não aconteceu com os demais.
— Bravinha, não é?
Camilla tinha que sair dali.
— Vem aqui e me deixa te cortar… — o homem riu.
E foi.
Sua pele pálida quase lembrava de Grhyamor, mas certamente estava ressecada e ela nem sabia exatamente como naquele ambiente frio e úmido. O cara possui sardas em volta do rosto e cabelos ruivos. Ela se arrependeu de chamá-lo para o X1.
Ele veio com os braços abertos para agarrá-la e prendê-la. Camilla moveu a faca para frente com intenção de cortá-lo. Ambos recuaram. Ela para não ter sua arma arrancada de si e ele para não se machucar.
Então ela investiu, temendo Nicolas se recuperar e atacar por trás.
Camilla ameaçava com movimentos perigosos de quem queria espetar sem a mínima misericórdia. Ela não vacilava na ameaça e certamente se o braço estivesse bom, pegaria outra faca.
Ela conseguiu uma vantagem. Uma bem pequena, porém, não conseguiria sair com a porta infestada de homens. Camilla seria encurralada, presa, desarmada e estuprada.
Um dos braços já estava imobilizado para facilitar o trabalho deles.
Camilla não tem chances.
Ela sabe, eles sabem.
Ela podia ver naqueles olhos presunçoso, a pupila dilatada, um certo volume apertando entre suas calças.
— Vamos, largue essa faca e serei gentil — um falou.
— Fale por você — Erick riu. — Eu vou fode-la com força, mas se largar essa faca, vou considerar em não te bater por me apontar esse troço!
Camilla tinha que pensar… e rápido.
Eles moveram os pés. Não um, em individual. Mas três.
— Não aguentam vir um por vez?
— Três buracos, três paus por vez.
— Isso que vocês tem na perna se caracteríza como "pau"? — Ela pergunta, fazendo-os parar com a pergunta. Mesmo que minimamente. — Um pau é duro, do tipo que dói até a mão se socar. Será que essa porcaria aí é guerreiro parar levantar na neve? Se não, vocês não tem paus. É apenas um pinto muchurco!
— Garota, pare de provocar! — O terceiro alerta, já perdendo a paciência.
Ela decide aumentar o clima.
— Pelo menos vocês são resistentes? Não igual o Nicolas, não né? Um precosse demora mais pra gozar do que ele!
Os homens pararam.
Olharam o amigo.
E riram.
— Sério, garota, gosto de ti, mas alivia aí pra nós… — não deu chances de terminar.
Camilla correu.
Disparou para dentro da casa o mais rápido que conseguiu.
Os homens foram atrás quando ela entrou dentro do quarto de Nicolas. A porta foi trancada no momento em que seus corpos de chocaram contra a madeira.
— ABRA O CARALHO DESSA PORTA! — Gritaram.
— PRA VOCÊS COLOCAREM SEUS CARALHOS NA MINHA BOCETA?! Tá com tesão?! Vai se foder, filho da puta!
Os homens praguejaram.
E a porte recebeu um banque.
— Eu vou arrombar essa porta e depois, o seu cu!
— Não sabe como fazer uma mulher querer abrir as pernas pra você e agora quer forçar? Vai aprender ser homem, o desgraçado!
Um novo banque.
Camilla sentiu a tensão em seus nervos. Estavam tentando arrombar a porta, realmente. E quase dez homens, conseguiriam cedo ou tarde.
A única coisa que os atrasa é o corredor tão pequeno que praticamente não lhe oportunidade de impulso.
Camilla só sentiu esse perigo uma única vez em sua vida. E foi naquele lugar, nos braços de Grhyamor, cercada.
Aquele estava sendo literalmente o pior dia de toda sua vida.
Ela não sabia quem temia mais. O que havia lá fora e poderia pegá-la se conseguisse escapar pela janela, ou ficar naquele quarto.
Um novo banque.
E lágrimas de desespero ameaçam sair dos olhos da mulher.
— Vamos! Abre essa porta e eu não te machuco!
"Não vou te machucar" havia sussurrado o homem. Um ronronar havia vindo ao seu ouvido apenas para atrair a atenção dela, naquele momento. Camilla lembra-se de olhar para trás, sentir a brisa sensibilizando seus olhos e, em meio as lágrimas, a besta se abaixou. "Nenhum de nós, vai", garantiu o homem.
Camilla só confiava em si mesma.
Ela olhou ao redor do quarto em busca de algo para colocar na porta. Mas suas lembranças iam para aqueles homens, Grhyamor acariciando seu cabelo e a besta, de repente, parecendo mansa. Um corpo de homem infestado de pelo braço, braços apoiado em joelhos tão humanoide e uma cabeça de lobo.
Não era medonho e, certamente quando parece que não pretende estraçalha-la, é até belo. Os pelos eram tão brancos quanto a neve, o nariz negro e nada exagerado em seu maxilar firme. Todos dentes estavam escondidos.
As orelhas da besta se atentaram em sua direção e ele seu um passo manso. Só no segundo, Camilla se encolheu.
"O que vão fazer comigo?" ela perguntou.
E não teve respostas.
Camilla voltou a realidade quando a porta deu sinais de ceder. Seus olhos estavam vitedros na cama de Nicolas. Ela teria que empurra-la para a porta mesmo com os braços quebrados.
"O que precisa saber é que estará segura conosco", ela recordou de alguém falando no lugar de Grhyamor. Eram os trigêmeos se aproximando, a pele de alabrasto praticamente se comparando a pelagem branca da besta. "Diga o que quer, minha bruma, e eu te darei."
"Eu quero voltar pra casa…", ela havia os respondido.
"Sua casa é conosco", revidou Grhyamor. "E mataremos quem for necessário para mante-la junto a nós".
Camilla sentiu seu coração saltar como se ainda estivesse naquele momento. Mas seu desespero aumentou pela certeza de que os homens do outro lado da porta realmente queriam lhe fazer mal.
Um novo banque.
Camilla fez força e moveu a cama. Pela primeira vez, detestou um móvel não ser tão pesado.
— O que está fazendo?! — Os homens pareceram escutar o ranger.
Ela não respondeu.
Empurrou com auxílio de seu único braço saudável e a cintura.
Quando finalmente a cama barrou a entrada, ela se afastou para ver o quão mais resiste a porta estaria. O armário é preso a parede e não havia mais nada além de uma cômoda para acrescentar peso.
A porta rangeu.
Mais dura. Mais forte. Eles praguejaram.
Ela respirou com um certo alívio, finalmente.
Camilla sabia qual era a única forma de sair intacta dali e não tinha certeza se queria simplesmente… esperar.
"Levarei você até a casa de seu brinquedinho", havia decretou Grhyamor. "Você tem até a noite para sua mente digerir tudo que aconteceu e então, irei te buscar".
"Nós iremos", os gêmeos disseram em unissoro.
"Eu não vou a lugar algum", teimou Camilla.
"Então, não vou conseguir livra-la dele".
"Dele?"
"O Alpha" esclareceu. "Uma fera, nosso líder, o mais perigoso do bando. Chegará hoje e quer você, está vindo por você, e irá devastar essa cidade para obte-la."
Camilla arfou.
Os gêmeos sorriram.
Camilla não sabia se ainda era de noite, mas lembrava das instruções e das promessas. Ela deveria sair a noite de bom grado, agasalhada e com tudo que quisesse levar consigo.
Grhyamor viria lhe buscar. Ele prometeu.
E lhe apresentaria ao bando, para seu terror. Ele prometeu que ninguém estaria em sua forma bestial — chrynnos — para o maior conforto de Camilla.
Um caralho que ela simplesmente iria concordar com isso. Preparou as malas e pretendia sair antes de anoitecer.
E agora estava presa dentro de um quarto com mais de mil homens querendo estupra-la.
Contudo.
Agora ela tinha uma faca e uma porta para impedi-los.
E sabia que não seria suficiente.
E sentia a tensão em seus músculos confome o tempo passava.
Se a noite caísse e Camilla não saísse da casa, não seria Grhyamor a ir pega-la. Ele havia alertado.
"Se considera nós um tanto… volátil, perigoso e impactante… Espere para conhecê-lo. Ele não terá paciência para espera-la sequer terminar de se arrumar, caso se atrase. Ele irá invadir a cidade, a casa e rasgar a garganta de quem se colocar entre ele… e você"
De qualquer forma, não é como se Camilla tivesse opção de sair.
"E o que ele fará comigo?", ela havia murmurando.
As feições de Grhyamor havia suavizado e ele moveu a neve de seus cabelos vermelhos.
"Você não será machucada".
Camilla sentiu a precipitação para o momento. Imaginou as cena, as descrições que lhe foi dada. Ela se intimidou.
A agressividade dele não era por simplesmente ser um Alpha. É por algo em particular em sua genética.
Camilla precisa urgentemente de ajuda.
E a fera branca chegaria a qualquer momento.
Um chrynnos albino.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top