C A P Í T U L O 16
Beatriz sentia o peso do dia em suas costas. Mas naquele início de noite, ela sentia o medo, o arrependimento e a tensão do que a fez sair às pressas da pequena cidade litorânea.
Em Barrow, quando a noite cai e domina o ambiente por todo um mês, a maioria dos moradores viagem em busca de acomodações melhores. A cidade estava praticamente deserta quando eles se aproximaram…
A alcateia Sukakpak estava a poucos quilômetros de chegar ao seu destino.
E Beatriz só pensava em Camilla.
Se tivesse sido informada com antecedência invés de tirá-la da cidade primeiro, ela poderia ter pego aquela mulher e a interrogado com mais segurança. Obter informações que talvez fossem cruciais.
Porém, era tarde demais.
Eles estavam tão mortalmente próximos da cidade que era um imenso risco retornar.
Ela só poderia observar… aqueles pontos de calor na neve captados por drones. O calor que emanam de seus corpos é tão grande que a visão em si é borrado. Praticamente a porra da alcateia inteira se locomoveu até aquela área…
Vários dourados destacavam a imagem azul pela baixa temperatura. A previsão era de -39°C. E provavelmente eles chegam a essa temperatura em positivo facilmente.
Beatriz sentiu suas pernas bambas e se remexeu inquieta.
— Ali! — Ela apontou para um ponto exato do telão à sua frente.
O monitor focou na imagem daquele ponto específico de calor.
Maior.
Passando… e fazendo os demais recuarem.
— O Alpha!
Ninguém sabia ao certo porque os Alphas exalavam mais calor do que os demais membros do bando. Seria a força? A dominância? O tamanho? Maior concentração de energia? Eram muitas teorias, no entanto, é a melhor maneira de identificá-lo. Pelo calor corporal.
O Alpha parou num ponto específico e os demais não se moveram. Ele manda, o restante obedece.
Três pontos menores foram identificados se aproximando do local. Humanos desavisados? Não, estavam indo direto ao Alpha com uma precisão única.
Chrynnos na forma homhydea, o nome dado a aparência humana.
Pararam a alguns metros do líder e, então, seu calor corporal explodiu. Se transformaram.
De imediato, um som foi ouvido. Beatriz deu o sinal e ele foi repassado na sala. Ecoou pelo ambiente, sua forma foi reproduzida e gravada no monitor. Um uivo.
A mensagem tentaria ser interpretada com o tempo.
E mais pontos de calor emergiram do nada em meio a neve ao redor da cidade na mesma medida em que toda a alcateia se separou.
O comando foi dado.
Beatriz cruzou os braços e acariciou seu queixo.
— Meça a distância perimetral de cada membro — ordenou.
E assim foi feito.
Cada lhycan foi contado de 1 — sendo esse o Alpha — até 20. Em seguida, como num jogo de criança, ligaram o 1 ao 2, ao 3, 4 e assim foi indo até a forma que assumiram estar grande na tela. Formaram um perfeito círculo com distância precisa de 50 metros um do outro.
Beatriz desconfiou.
— Mostre o centro do círculo — e então, a casa onde Camilla estava, apareceu.
— Estão caçando — deduziu Camy, ao fundo. — Cercaram o alvo para atacar.
— Não, não estão — declarou Beatriz, para aumentar a dúvida de muitos.
Os minutos se passaram e os chrynnos não se moveram. Pareciam pontos estáticos na neve, predadores aguardando e esperando.
— Afinal, o que eles querem?
— Me lembrem, porque animais migram.
— Predadores? — alguém falou.
— Caça?
— Reprodução?
— Isso! — Beatriz se virou para os profissionais. — Quem disse isso?
No fundo, um senhor levantou a mão, hesitante. As mãos calejadas foram bem vistas por Beatriz.
— Parabéns — ela disse, voltando a olhar para a tela. — Senhoras e senhores, acredito que os chrynnos estão se preparando se reproduzirem.
— Beatriz, tem certeza disso? — Camy se levantou, de sua cadeira, à medida que os murmúrios se instalaram na sala.
O olhar da loira foi para a amiga. Camy tinha alguns papéis na mão e, como os demais, estava perplexa. Surpresa.
A suspeita é arriscada. A informação sobre a espécie em geral são poucas e limitadas, baseando-se principalmente em história do que dados reais. Nunca foi catalogado a procriação de alguma raça e ninguém faz sequer ideia de como seria o processo de acasalamento.
— Senhores, quero que reavalie as últimas ações da alcateia Sukakpak tendo em mente o ato de acasalamento! — Sua ordem ecoou pelo ambiente trazendo rigidez e a sensação de mais trabalho para o fim de semana. — Quero tudo! Desde o início. Os primeiros relatos comportamentais, os ataques. Tudo!
A sala inteira piscou para ela. No ambiente escuro, além dos monitores só era visto as dezenas de olhos pasmos.
Beatriz bateu a mão.
— AGORA! Andem!
E a movimentação começou, mulheres e homens pegando os papéis e mexendo seus monitores em busca dos mais detalhados registros de movimentação.
Camy aproveitou o desvio de atenção para se aproximar de Beatriz.
— Para haver um acasalamento, tem que haver ao menos uma fêmea — Camy se pronunciou.
Não seria dito em voz alta, mas ambas sabiam que Camilla não é uma chrynnos. Ao menos, tudo indica que não. Um exame de sangue talvez comprove, no entanto, que a verdade é que eles não sabem exatamente como identificar um lhycan em meio aos humanos.
E ela parecia tão humana.
Será que é por isso que eles não identificam as fêmeas? Por viverem entre os humanos?
Ou a mulher realmente é humana?
Beatriz tinha quase certeza da segunda opção, mas não poderia jamais descartar a primeira.
Ela entendeu o indicador e chamou Camy para mais perto.
— Humana ou não, acho que ela é a fêmea que querem engravidar — murmurou, certa desse lado. — Não se esqueça que há histórias de humanas que engravidaram de lobisomens.
Camy franziu as sobrancelhas, se recordando daquele pequeno detalhe nas histórias. Então sussurrou:
— Katharyna Demarttel…
Uma das mulheres mais famosa do último milênio pela história que teve com a conhecida realeza dos lobisomens. Embora haja brechas sobre sua vida e como exatamente foi lidar com os lhycans, acredita-se que Katharyna Demarttel foi uma humana entregue como escrava ao Supremo Alpha.
E engravidou ainda humana.
Há muitas especulações sobre o destino da criança e o que se tornou.
Entre as mais famosas de conhecimento comum, o seu fim. Sendo filho de uma humana, nasceu fraco e decrepto, morrendo logo em seguida.
— Eve, Dandara, Alina… — Beatriz citou alguns nomes apenas para refrescar a memória da amiga. — Algumas lendas falam de mulheres mais antigas como Hyra do século XV e Mirella, uma humana albina do século IX, e profecias falam de humanas, como Katharyna, destinada a se relacionar com essas criaturas.
Camy não havia como discordar. Porém, como a maioria dos dados, tudo era baseado em histórias. Lendas. Registros feitos por terceiros de fontes questionáveis ao longo da história. Nenhum era um dado real, comprovado e registrado corretamente.
Muitos dizem que Katharyna foi estuprada e se prendeu ao macho pelo fruto da violência crescente no útero. E por ser escravizada pelo Alpha, foi forçada a dar à luz ao seu herdeiro.
— O fato é que… Camy, humana ou não, acredito que é ela quem eles querem engravidar — Beatriz insiste em sua teoria apesar das lacunas. Por que Camilla entre todas as demais? A especulação sobre ela ser um fêmea chrynnos martela em sua mente. — E por isso, quero que reúna todos os dados possíveis sobre aquela mulher.
Camy respirou fundo e olhou para o monitor, reparando no tempo que havia se passado e como os machos ainda estavam lá, parados, sem fazer absolutamente nada.
— O que você vai fazer se ela for humana? — Beatriz também olhou para a tela. — Se você está certa e eles querem mesmo ela, justo ela entre tantas, eles vão defendê-la de qualquer coisa que consideram uma ameaça.
— Por enquanto — ela suspirou — temos que aguardar.
Uma movimentação atrás chamou a atenção de ambas. A atenção para a tela.
O Alpha se moveu.
Lá vai eu, voltando com mais um desenho! Rsrs
Para quem não sabe, eu comecei a desenhar e fazer uma ilustração de alguns dos personagens. E aqui eu tentei fazer a Camilla. Se você imagina ela de uma forma diferente, não tem problema. As descrições no livro são para imaginar e eu não gosto de pegar uma foto e dizer: esse É o personagem.
O desenho é como eu imagino a personagem.
Cabelos vermelhos, pele morena, lábios grandes, sorriso encantador. Tentei dar um toque mais brasileiro e, como ela usa lentes de contato, tentei representar isso com uma cor lilás.
Espero que tenham gostado!
Com amor, JadeJssica ♥️
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