C A P Í T U L O 42

O tempo se passa e passos são ouvidos através da escada. Firmes e confiantes.

Dan estava perambulando pelo local, observando o berçário. O chão frio por causa da correnteza, mas as paredes eram aquecidas pela energia dos cristais até que o brilho toque a árvore que floresce ao centro. A humana aparecia vez ou outra após tentar a sorte subir as elevações naturais para as mantas onde os adultos gostavam de relaxar enquanto os filhotes bagunçam. Foi um desafio interessante imposto por Capacho.

Mas ao ouvir os passos, ela correu para junto de Cuidadoso.

Quando Pilantra apareceu na fenda entre os braços da poderosa estátua de chrynnos, observou Cuidadoso encostado na árvore. Sua postura preguiçosa, como sempre, porém, afiava uma longa adaga de aço hyffthyturiano.

Dan estava apoiada em seu bíceps quando o olhar do macho se levantou lentamente.

Pilantra fedia ao seu irmão.

Ele não demonstrou nenhuma emoção ao se aproximar da fêmea, quando um rosnando foi ouvido. Capacho demonstrou hostilidade.

O gesto foi aprovado por Cuidadoso.

Ele a quer próximo — Pilantra foi direto.

— O que ele disse? — Dan pergunta ao Capacho.

Cuidadoso percorreu o olhar âmbar pelo macho, sua nudez e seu comportamento. Submisso, mas nem tanto. Obediente!

Pilantra tem um novo Alpha.

Todos obedecem ao Alpha.

Cuidadoso não seria indiferente.

Leve-a — ele sussurrou, a voz ecoando tão delicadamente quanto o brilho dos cristais.

Perante ao olhar questionador de Capacho, Dan quis saber o que foi dito. E quando soube, se afastou imediatamente do homem.

Cuidadoso sequer olhou em sua direção.

Pilantra foi direto, se aproximando com a mesma confiança que usa para ignorar os rosnados de Capacho. Ele nem se importou quando Dan começou a recuar.

Capacho sim.

Seu rosnado ficou mais forte. Como homem, ele exibia os dentes como uma besta e rosnava como um lobo. A mandíbula tremeu e Pilantra ignorou, prosseguindo.

Então Capacho reagiu, saltando sobre o ex aliado que não hesitou em revidar a agressão.

— Aí, meu Deus!

Entre os socos, havia a coordenação de um treinamento que ambos os homens tinham. Capacho é menor e mais esguio, trazendo facilidade ao se esquivar e atacar.

Pilantra bloqueou e atacou. Capacho bloqueou e revidou.

— Parem! — E Dan de alterou. Cuidadoso ficou onde estava.

A briga se tornou uma dança sincronizada. A prova de que são feras em forma de lobo se manifestou no momento em que Pilantra esbofeteou o rosto de Capacho com duas garras. Ele grunhiu quando seu sangue espirrou.

Pilantra se inclinou e por instinto, avançou.

Avançou em Dandara.

A lâmina cortou o ar e atravessou o longo espaço com uma precisão letal.

Pilantra parou.

A adaga de Cuidadoso cumpriu seu objetivo no momento em que se ficou na parede ao lado de Capacho. Só então, Pilantra rosnou.

Cuidadoso se punha em pé, tão preguiçoso que estica os músculos como quem acabara de acordar.

Ele a quer perto! — Pilantra reafirma.

Então pegue-a — repetiu o homem, se colocando entre Dan e Pilantra.

A lealdade ao Alpha é grande.

Mas Mandão não é o Alpha nem de Cuidadoso, nem de Capacho, nem de dezenas de outros machos na península.

O sangue de Capacho gotejava por suas garras quando ele rosnou poderosamente para Cuidadoso. O som reverberou pelos corredores e as orelhas dos machos do lado de fora se agitaram.

A insatisfação fez o macho tremer, mas ele se viu arrastando os pés para trás. E saiu.

A fora, as orelhas ainda permaneciam levantadas. Nas sombras, olhares de desconfiança brilhou. Entre o som da cachoeira, eles tinham certeza do que ouviram.

— Aí, meu Deus! — Dan se agarra ao braço de Cuidadoso. Mas era para Capacho que perguntava: — Você está bem?

Ele acariciou o rosto, cujo sangue molhava sua bochecha e escorria pelo pescoço. Dan nunca viu um rosto sangrar tanto…

— Não — Capacho reconheceu. — Mas ficarei.

— Ele queria me levar pro Mandão? — Dandara questionou quando seu olhar voltou para Cuidadoso.

Ele ainda parecia entediado. A face serena, como alguém que está com sono. A mesma preguiça que o fez se soltar de Dan apenas para envolvê-la em seus músculos e beijar sua testa.

— Diga a ela para não se preocupar.

Capacho disse, bravo e murmurando algo sobre encontrar o diazilla kamal.

— Mas ele ia me levar pro Mandão, não é? Ele vai me machucar?

— Não — Cuidadoso disse simultâneo ao Capacho.

— Então qual o problema? — Dandara foge dos braços de Cuidadoso e volta alternar o olhar entre um e o outro. — Eu passei mal pela dominância dele, mas ele não vai me machucar. Qual o problema?

O problema estava nas atitudes autoritárias de Mandão. Sua postura com uma liderança que não possui, fazendo o que não tem direito.

O problema estava em quem ele estava provocando.

O problema é que Cuidadoso não aceita essas atitudes, assim como dezenas de outros machos. A questão não era de Mandão iria ou não machuca-la.

Cuidadoso deixou evidente quando afirmou:

Meu irmão não chegará perto de você!

Cuidadoso não fala português, infelizmente. E Dandara não esperou a tradução vir em tom desgostoso por Capacho. Ela deu as costas e correu em direção às escadas.

— Dandara!

Mandão é o Bhetta. Ele é a maior autoridade naquele ambiente, naquele momento. Ela não queria enfurece-lo, mas acima de tudo, precisava saber se ele iria ou não machucá-la independente do que foi dito.

Cuidadoso suspirou profundamente antes de ir atrás.

Os machos respiraram fundo antes de descem lentamente das árvores, tão silenciosos quanto cuidadosos a respeito de quem poderia estar espiando pela fenda discreta que é a entrada do covil.

Pilantra escutou os passos apressados da humana antes mesmo que se virar e vê-la surgir tão escandalosamente que o fez se perguntar como ela conseguia fugir no meio da noite para roubar pão. Ele escutou a fuga e a conversa que teve com o Kamal.

Humanos devem ser surdos…

Seus passos ficaram devagar quando se aproximou de Pilantra. Cuidadoso não está mais entre eles e o homem conseguia escutar o caminhar preguiçoso logo atrás. Se ele atacasse, nada poderia impedi-lo.

— Quanta coragem — ele murmurou.

— Você também não vai me machucar — ela afirmou.

Pilantra arqueou a sobrancelha. Não é óbvio?

— Pensei que já me conhecesse melhor, Dan.

— Então por que tudo isso? Essa briga entre vocês? — Ela insiste.

— Coisas de lobisomens — ele abre o caminho para que ela prossiga. — Mas acho que você já sabe a resposta, não? Se você realmente não soubesse, estaria muito mais confusa sobre nossa suposta separação de alianças.

Dan arrastou os pés para frente atraindo os olhos de Pilantra.

— E também, não estaria tão medrosa ao passar por mim, que te defendeu. Nem hesitaria em encontrar o macho que matou por você.

Ela seguiu em frente.

— Mas quero ouvir da sua boca — disse ao dar as costas ao predador com a confiança que ambos sabiam que não tinha. Ela estava toda trêmula!

— Mandão se tornou mais mandão — Pilantra respondeu, simples e direto. Nem zangado, nem debochado, nada diferente do que ele é.

Dan ficou em silêncio.

O primeiro macho avançou silenciosamente. Uma fera menos chamativa, agachada como um cão rente à areia negra da margem do rio. Se mesclando com o ambiente e a neblina. Atrás dele, veio outro macho, pisando exatamente onde ele pisava, se movendo conforme ele se movia.

O caminho a frente não é lembrado por ela além dos pilares perfeitamente bem esculpidos. O ambiente era tão escuro que ela só podia ter uma noção do que estava ali, como as estátuas de chrynnos adornadas por armaduras.

— Eu devo respeitá-lo, independente do desfecho desse conflito. Ele garantiu sua soberania. Sua liderança.

Pilantra então guia o caminho pelas sombras até a luz do próximo cômodo.

— Desde quando está acontecendo essa disputa? 

Pilantra novamente para estende os braços para que ela siga em frente ao novo corredor. Um novo lance de escadas, parcialmente iluminado pelas luzes dos cristais acima.

— O conflito existe antes de você chegar, se intensificou com sua chegada e ficará pior com suas escolhas — Dandara para em meio a escada. As palavras se repetem em sua mente na medida que ela o encara. — E quando se sentir em dúvida sobre alguma coisa, lembre-se: coisas de lobisomens são coisas de lobisomens. Você não é uma lobisomem e não será afetada a não ser que esteja grávida de nós.

Ele aponta o caminho.

— Tenho que chupar o pau dele também? — ela sibila.

Pilantra sorri.

— Pode começar a treinar com o meu, se quiser. Mas cuidado para não se engasgar — os olhos brilham com a malícia quando, mais uma vez, ele aponta para cima.

Dan bufa e segue o caminho.

Mandão está lhe esperando.


Enton…
UQ acharam?

Digam-me! Quem vcs acham que a Dandara deveria escolher e por quê?

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