C A P Í T U L O 39
O invasor foi atirado para fora do covil com uma força brutal.
Seu corpo bateu nas pedras afiadas do precipício antes de ser lançado pela queda d'água. A cachoeira rugia, e a pressão da água tentava arrastar o lobisomem para as profundezas. Mas ele emergiu em fúria, sua pelagem molhada grudando em sua pele musculosa.
Os olhos amarelos brilhavam com uma raiva incontrolável, e sua boca se abria em um rosnado feroz.
Mas a fera não era um adversário fácil de ser derrotado. Ele era forte, rápido e ágil. Seus poderosos membros puxaram a água com força, enquanto ele lutava para chegar à margem.
E então, ele saiu da água, chacoalhou sua pelagem até que ficassem eriçada e seus olhos brilhando raivosos em direção a onde ele sabia que é a discreta entrada para o covil. Ele sabia quem — e o que — ainda estava lá, observando-o.
O macho bufou, saindo em retirada.
O covil tinha uma entrada e duas saídas. A última dos orifícios dá origem a um rio subterrâneo que joga todos no rio abaixo. Assim resta apenas a entrada, fortemente protegida e de difícil invasão.
O macho rosnou uma última vez antes de caminhar em direção a floresta.
Mas então uma brisa assopra… e ele enche os pulmões de ar.
Dandara espiava curiosamente, com mais da metade do corpo exposto. Mesmo com a distância, ela o viu levantando as orelhas, estufando o peito e a reconhecendo.
Ela recuou no mesmo instante, tendo Cuidadoso como escudo.
— Tem mais deles nas árvores! — ela acusa.
O Kamal também espia, observando o macho encontrar outros três que analisam seus ferimentos.
— Foi uma invasão visando o fracasso — Pilantra diz, saindo do corredor mais próximo. Em suas mãos, carregava um novo manto. — Ele queria ter uma prévia da situação que vão enfrentar. Queria saber de você.
E Mandão o expulsou.
Um único macho não vai fazer diferença. Mas eles sabem esperar… sabem que não podem e nem vão sair do covil e arriscar a vantagem que possuem.
— Vista isso — Pilantra então lhe entrega o manto que estava em sua mão. — Tem o cheiro de vários machos e vai dificultar que eles te encontrem.
Dan encara Mandão quando ele próprio arranca o manto de Pilantra e leva ao nariz, respirando profundamente. O desgosto em sua face comprova as palavras de Pilantra, mesmo que ele não as tivesse compreendido. Só a intenção bastou.
Ele estendeu o manto para Dan.
Ela pegou e se retirou para o interior. Cuidadoso já iria acompanha-la quando Dan o barrou:
— Não! — Pilantra quase se esbarra em Cuidadoso. — Vocês ficam aqui!
Cuidadoso e o irmão sentiram o tom autoritário. Mas foi Pilantra que arqueou a sobrancelha.
— Eu já te vi tantas vezes pelada que me é assombroso você pedir por privacidade — ele sibila.
Mas Dandara se trocou sozinha, tendo apenas as luzes como companhia. Ela não fez questão de voltar para onde estavam. A confiança que tinham naquele covil era grande o bastante para também a deixarem a sós.
Num momento de tensão, também não iriam arriscar ferir seus aliados. Capacho, como o mais fraco, não se importou em usufruir de sua compreensão do português e ir distraí-la.
— Sei que é assustador, mas os machos lá fora não vão te machucar — disse ao se sentar à sua frente. Dandara estava encostada na parede, descansando a cabeça em elevações cavernosas. Ela apenas levantou o olhar.
— Vão só me engravidar.
— Não é só engravidar. Tem um ritual cerimonial que deve ser cumprido. Tem um período certo. Precisamos estar na lua correta para estimular nossa fertilidade e acasalar. Se fosse só meter, não haveria essas disputas para te conquistar.
— Eu não posso engravidar… — ela insiste.
— O que te faz pensar isso, Dan?
— Sabe… minha mãe era uma escrava na fazenda do meu pai. Eu sou fruto do estupro dele — ela lhe confidencia. — E foi meu pai que tirou minha virgindade quando eu tinha 10 anos. Eu sangrei o mês inteiro, não consegui andar sem sentir dor. Algums chegaram a dizer que eu estava grávida apesar da minha idade, mas era mentira. Então a esposa do meu pai me obrigou a tomar umas ervas. Nada mudou. Eu fiquei doente… e nunca mais sangrei.
Capacho inclina o corpo. O jovem deveria ter a sua idade aproximada mas, em seus olhos, Dandara viu o brilho que o diferencia dela. Ferocidade.
A certeza de que irá amadurecer e ser, talvez, um homem imponente.
— Nunca engravidei.
— E se pudesse? — Capacho insiste. — Já se imaginou como mãe?
O silêncio foi a resposta.
— Pense como seria — Capacho sugere. — O pai sendo um macho que você escolheu. E a criança… gostaria que fosse um menino?
Um leve sorriso se acendeu em Dandara.
— Se fosse um menino, seria um escravo — o sorriso morre em seguida. — E se fosse uma menina, uma puta como a mãe. Não gosto de imaginar minha filha passando pelo que passei e odeio pensar no meu filho fazendo o que me fizeram.
Dandara da um sorriso sem graça. Afinal… não foram só brancos que já tocaram a força. Vários escravos se aproveitaram de algumas brechas, razão pelo qual até às próprias mulheres lhe detestam.
— E se o pai fosse um chrynnos? — Capacho indaga. O sorriso de sugestão dele apenas aumenta. — Você ficaria surpresa conosco.
— Como você seria como pai? — Dandara inverte as posições.
Mas o macho já tinha toda uma história em mente, abrindo um largo sorriso e olhando para cima, quase como se pudesse deslumbrar sua imaginação.
— Eu quero um menino — ele diz. — Quero ensiná-lo a caçar e a escalar. E se eu tivesse uma menina, talvez eu nunca saísse de perto quando fosse jovem.
— Como assim?
— Você sabe que as fêmeas são de um bando diferente, não? — Dan assente. — Pois bem, as alcatéias femininas sempre mantém território com ao menos quatro alicateias de machos. E na fronteira desses territórios, incluindo o nosso, é formado a união e o acasalamento. Quando a fêmea está grávida, ela fica sob inteira responsabilidade do pai. E diferente dos humanos, somos nós que ajudamos no parto.
— Vocês?
— É desonroso ter outro alguém com a fuça entre as pernas da nossa fêmea parindo o nosso filhote quando somos nós a mete-lo ali, Dandara! — Dandara não se aguenta. Ela imagina a situação e tapa a boca, evitando de rir.
Mas Capacho, por outro lado, amplia o sorriso e solta uma risada baixa, porém sincera.
— As meninas são criadas pela mãe, sob proteção das irmãs da mãe e, por direito pertence a alcatéia e a Alpha delas.
— Elas tem Alpha?
— Alpha, Bhetta, Gaamma, Deltas, caçadoras, guerreiras, curandeiras. São uma alcatéia como todas as outras — ele responde. — A única diferença é que a fêmea Alpha é a fêmea mais cobiçada por todas as alcateias vizinhas de machos. É a mais forte!
— E o que mais? — Capacho se inclina, esperando no interessante a brilhar nos olhos dela. Então, com entusiasmo, diz:
— E os meninos são criados pelo pai, sob proteção e ajuda dos irmãos do pai até, no futuro, se juntar ao bando.
— Igual as meninas?
— Exatamente igual as meninas! Hm… e somos machos muito atenciosos com a nossa prole — em seguida, sua face fica séria. Dandara pisca, recuando perante o olhar mais intenso. — Os pais são extremamente territoriais com eles. Então é melhor que saiba, Dan, caso encontre um filhote e não tenha um de nós para protegê-la… corra!
Hmm… e essas fêmeas, hein?
Gostariam de saber mais sobre elas?
Se sim, o que?
O que mais gostariam de ter mais informações?
Ou será que vamos direto pra briga, pro hot e pra gravidez?
😶🌫️
UQ acham que está por vir nos próximos capítulos?
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