C A P Í T U L O 35
Dandara sentia seu coração bater descompassadamente e sua respiração acelerava enquanto seus olhos percorriam freneticamente o ambiente. Toda a movimentação repentina e o estado ensanguentado de Mandão causavam uma onda de apreensão e medo.
Cuidadoso, nu diante dela, aproximou-se com passos suaves como se deslizasse pelo ar. Seus olhos âmbar, intensos e penetrantes, encontraram os dela, revelando a clara preocupação que refletia neles.
Com um toque delicado, o homem segurou gentilmente os ombros trêmulos de Dandara, suas mãos grandes e fortes oferecendo um apoio firme. O calor reconfortante de sua pele transmitia uma sensação de segurança, fazendo com que um arrepio percorresse sua espinha e amenisasse levemente sua agitação interna.
Os dedos acariciaram, também, o rosto assustado. Ela pôde sentir com mais nitidez a maciez do toque. Cada movimento é tão suave que se tornae amoroso apagando temporariamente as preocupações que a assombravam.
Dandara fitoou fixamente, absorvendo cada detalhe, cada nuance de emoção transmitida por aquele olhar profundo. Ela via a forma como eles brilhavam com uma mistura de determinação e ternura.
Algo está acontecendo…
Enquanto o mundo ao redor parecia desvanecer em segundo plano, a presença de Cuidadoso envolvia Dandara como um abraço protetor e a guiou para o interior do covil.
A entrada é tão bem escondida entre as rochas que nem mesmo reparou no lance de escada íngreme que a levou até o buraco escuro. O interior é grande, amplo como um grande salão, cujas paredes eram adornadas com desenhos detalhados de sua história.
Um único corredor a levaria para o desconhecido. Perante a determinação de Cuidadosos, ela escolheu confiar que ficaria bem.
Somente porque lembrou de sua mãe, a única mulher que lutou ao seu máximo para protegê-la.
É quase um entorpecente inesperado receber tais gestos de um… homem.
E pelado!
— O que está acontecendo? — Mas ela queria saber.
Mandão entrou logo depois e o macaquinho estava agitando, andando de um lado para o outro. A clara preocupação deixavam seus olhos brilhantes em pânico.
Pobre animalzinho…
— Calma, minha pequena — Cuidadoso não se importava se as palavras seriam, ou não, traduzidas. O tom doce deveria fazer Dandara, ao menos, ter uma ideia do que ele pedia. — Nada vai te acontecer. Fique calma…
Mandão pressionou suavemente o corpo contra a parede da caverna e espiou o lado de fora. A suave neblina do amanhecer continuava envolver o cenário, criando uma atmosfera misteriosa e encobrindo parcialmente a superfície serena da água à sua frente. Os cristais já projetava raios luminosos que dançavam sobre as pequenas ondulações, revelando fragmentos brilhantes de reflexos cintilantes.
Com sua visão aguçada, Mandão percebe uma sombra volumosa e imponente deslizar sobre a água, agora negra. Seus sentidos aguçados captaram cada detalhe: o deslocar sutil, a leve perturbação na superfície e a escuridão que parecia se esconder sob aquelas profundezas.
Os predadores aquáticos a habitarem os gordos rios ao redor do Senguell já haviam despertado.
Desde que ficassem lá, não seria preocupação.
Fora isso, não havia nada. Nem uma mera movimentação na copa das árvores ou nos pontos cegos da vegetação onde provavelmente usariam para averiguar o terreno.
— O que está acontecendo? — Ao ouvir a voz de Dandara, ele se afastou da entrada.
— Fique quieta! — Mandão rosna, já sem paciência.
Dandara deu um salto repentino. O olhar de Cuidadoso, sentado em frente a ela, se torna assassino ao encarar o irmão.
Mas a repreensão de Mandão não era para a humana, e sim para o macaquinho que já estava escalando as irregularidades da parede buscando onde se esconder e se camuflar.
No entanto, em resposta, o primata correu em desespero em direção a Dandara, agarrando-se a ela como sua única salvação.
— O que está acontecendo? — Dandara questionou mais uma vez, olhando para todos, qualquer um, que pudesse lhe dar uma mínima resposta.
— E-Estamos cercados! Cercados!
Os chrynnos souberam o momento que o temor criou raízes em Dandara.
— Cercados? Pelo quê?!
— Chrynnos — responde o macaquinho em desespero. A voz mal passava de um sussurro baixo. — Estamos cercados por um grupo de chrynnos!
Novamente, Dandara estava encurralada.
Os ombros caíram como se todos os instintos dela soubessem que não adiantava lutar. Eles eram violentos, ferozes e… e…
— Adolescentes? — como um único lampejo de esperança, uma voz rouca e embargada.
A resposta, no entanto, faz o macaquinho estufar os pelos como se fosse se esconder dentro de si mesma.
— Adultos. Machos adultos!
Ela encarou Cuidadoso. Já não havia como tentar amenizar o medo, pois a tremedeira começou a tomar conta de seu corpo. Chorar… Ela queria chorar, pois já não aguentava mais essas situações.
Cuidadoso, em resposta, encurtou a distância entre eles e pediu calma.
Logo, Mandão diz algumas outras palavras. O macaquinho traduz:
— O grandão disse que não vão atacar tão cedo. Eles não são imprudentes como os adolescentes e vão observar e esperar uma oportunidade.
Cuidadoso consola Dandara ao dizer:
— Ele disse que tudo vai… E-Ele — o macaquinho se atrapalha mas palavras. — Ele… "Eles hesitante porque conhecem nossa força. A força de um Bhetta.”
Uma lágrima caiu dos olhos de Dandara quando ela franziu a sobrancelha.
— Eu… não entendo.
O macaquinho traduziu.
— Alpha — e a resposta veio de Mandão, firme, irrompido e determinado como se um bando de machos adultos fossem formigas a serem pisoteados. Manchado de sangue, na escuridão, ele já parecia pronto para uma batalha. Mesmo que pelado! — Bhetta. Gaamma.
Cuidadoso suspira e passa as mãos pelos cabelos lisos. Então ele se ajeita e pega nas mãos de Dandara.
Uma alcatéia, como a deles, tem um grande número de indivíduos. E o Alpha, sozinho, as vezes não é capaz de manter o controle sobre todo o território.
Alpha, Bhetta e Gaamma.
O Alpha lidera.
Os Bhettas garantem que sua liderança seja incontestável. Eles são machos poderosos que não aceitam ordens de ninguém exceto ao seu único superior.
O Alpha.
Porém, tal como os Bhettas são os maiores protetores, podem também se tornar a maior ameaça ao macho Alpha.
Como Mandão.
Para auxiliar o Bhetta, tal como o Bhetta auxilia o Alpha, há o Gaamma.
Quatro Gaammas para cada Bhetta.
Cada Gaamma lidera um número específico de machos, como esquadrões especializados que compõem o corpo da alcatéia.
Assim se forma a hierarquia extremamente rígida e intolerante de uma das espécies mais violentas do mundo.
De um membro comum da alcatéia até um Bhetta, existe um grande diferença de poder, força, dominancia e habilidades.
— E você é um Bhetta, né? — perguntou Dandara, não porque já sabia a resposta, mas porque queria ter certeza de tudo ficaria bem. — Você é o mais forte, não é?
Perante a ameaça iminente, Dandara teve dificuldades na compreensão.
— Sim — respondeu Mandão, sem hesitar, em perfeito português, pois os confirmações e negativas eram algo que todos sabiam.
Ele é o mais forte dos Bhettas.
Portanto, sua maior ameaça, no momento, é o próprio Alpha.
Ou outro Bhetta…
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