C A P Í T U L O 27

Cuidadoso permaneceu imóvel.

Ele estava debruçado sobre o corpo adormecido da humana. Seu tamanho a protegia e as flores a escondiam.

O ambiente estava em total silêncio.

Ele sentia o cheiro desejoso de Dandara e ouvia a sua respiração em sincronia com o vento suave a pentear a relva.

E principalmente, ouviu o afastar das folhas e visualizou a fera muito antes dela sair de ela entrar em seu campo de visão.

Mas não era um chrynnos.

Uma criatura com escamas escuras e garras afiadas... um linda listra dourada na lateral do corpo reluziu o brilho dos cristais. Ele exibiu os dentes no momento em que percebeu não pode sentir o cheiro de sua caça.

Dandara estava totalmente camuflada afinal.

O estridente é uma das criaturas mais perigosas que existem, dotados de uma inteligência racional e garras capazes de fazerem um completo estrago num chrynnos.

E não andam sozinhos.

Cuidadoso ouviu a passar de outro a direita. E viu o levantar de cabeça do terceiro mais a frente, esticando o corpo até alcançar impressionantes seis metros de altura e olhando por cima da relva.

Cuidadoso não seria capaz de lutar e proteger Dandara ao mesmo tempo caso fosse descoberto.

O predador a sua frente não se assusta facilmente. Ele sabe de sua força. Do seu perigo.

Porém, Dandara se remexeu.

Os pelos de Cuidadoso ficaram quase tão eriçados quanto os do diazilla kamal que mal chegava a respirar. Estridentes não conversam. Eles matam!

Dandara bocejou.

Cuidadoso exibiu os dentes e procurou a melhor rota de fuga. O kamal o encarou com temor de ser abandonado.

Mas também observou a astúcia do macho.

Se uivar e pedir ajuda, os chrynnos virão. Machos ferozes, porém, ansiosos para acasalar. Esse também era o motivo pelo qual o estridente não gritou... aquela área é perigosa para eles.

Tão perigosa que não foi surpresa quando, não três, mas cinco cabeças negras olhou para cima da relva em direção às árvores. Saindo das sombras, um chrynnos se revelou.

Cuidadoso dobrou as orelhas para trás quando ouviu o rosnado familiar.

É Pilantra.

Cuidadoso não respondeu ao uivo. Talvez por estar em situações delicadas ou simplesmente por não querer revelar a sua presença. Pilantra preferiu não arriscar.

Ele estufou o peito e eriçou a pelagem rente a área do pescoço e braço, lhe dando a ilusão de um porte maior e mais robusto. Ele exibiu os dentes afiados, puxou o ar e novamente rosnou num ritmo de alerta.

Uma intimidação.

Ele não poupou silêncio ou hesitou. Outros chrynnos poderiam ouvir.

Os estridentes não recuaram.

Revidaram a ameaça mostrando suas próprias fileiras de dentes. Eles sequer saíram do local, ainda mantendo Cuidadoso numa situação delicada.

Então Pilantra saltou, grudando na árvore mais próxima e a escalando com a mesma habilidade que demonstrou no precipício. Ali ele manteria sua própria segurança até a chegada de reforços. Ele revelou sua total impaciência abrindo a boca e rosnando ainda mais alto.

Quase ao ponto de rugir.

Foi quando os estridentes vacilaram.

É um jogo de ilusão! Pilantra precisa que eles acreditem que não se importa em chamar reforços simplesmente por não saber da presença da fêmea. Ele finge ignorância ao fato de que teria que duelar com seus aliados pela atenção dela.

Ele amplia seu teatro, se inclinando e enchendo os pulmões de ar. Uma preparação. Viria um rugido, ou pior! Um uivo.

Foi quando o menor dos estridentes se impulsionou para a frente, cortando a relva com suas pernas longas e dando um chiado tão agudo que fez Dandara resmungar As demais criaturas olharam para trás.

O primeiro estridente, ou ignorou ou não ouviu. Ele saltou da relva alta, pulando em direção à árvore de Pilantra. O corpo longo e esguio lhe permite alcançar grandes alturas com magníficos saltos. Os braços alongados lhe permitem agarrar e se segurar em pontos difíceis de se manter.

Mas um estridente é feito para correr e não escalar. Com o porte grande, apesar de jovem, a criatura foi limitada pelos galhos e a vegetação. Sua punição foi uma bofetada das garras de Pilantra. A criatura sibilou mas o macho foi mais rápido aproveitando a mínima brecha e mordendo a garganta.

O grunhido alto fez com que outro estridente corresse em direção a árvore enquanto o primeiro fez força para se soltar.

Ele jogou o corpo para trás e caiu. Pilantra se manteve na árvore.

O segundo predador chegou, averigou o estado do companheiro e sibilou para a árvore. Pilantra exibiu os dentes cheios de sangue. Então o estridente atacou, saltando sobre a árvore e se agarrando com mais precisão a madeira e os galhos.

Pilantra atacou com outra bofetada, dessa vez falha antes de se esgueirar para o ponto mais alto da vegetação. Logo, ele saltou em direção a outra árvore e se manteve grudado no tronco.

O estridente tentou segui-lo, mas pisou errado e caiu ao chão. Pilantra, ao contrário, se mostrou completamente à vontade em seu ambiente.

E ainda mais bravo. A mandíbula do chrynnos chegava a tremer com a força de seu rosnado.

Mas um terceiro estridente cercou a árvore confiante perante a suspeita do porque Pilantra não rugiu. Por quê não uivou?

Dois estridentes ainda permaneciam próximos a Dandara e Cuidadoso, se recusando a deixar sua posição.

Pilantra dobrou as orelhas para trás.

Eles não iriam embora. Se Cuidadoso estivesse próximo daqueles outros dois, evitaria o máximo de som. O ataque viria antes que o grupo mais próximo notasse sua presença.

Então os pulmões encheram de ar, os peitos estufaram e um poderoso rugido ecoou em direção a sua principal ameaça. Tão forte e ameaçador que Dandara despertou num pulo no completo perigo.

Os dois estridentes mais próximos sibilaram em sua direção. E Cuidadoso rosnou em resposta.

Perante ao susto, Dandara apenas absorveu aquela grande fera em cima dela e começou a estapear. E o rosnado apenas aumentou, sem perceber o grande salto de outra criatura em sua direção.

Não precisou de muito. Cuidadoso saiu de cima, saltando sobre a relva em direção ao ataque. Ele se enroscou com a criatura. E só então, de olhos arregalados, Dandara percebeu o perigo em que se encontrava.

Cuidadoso não conseguiria segurar dois estridentes.

- Corre! - gritou o diazilla kamal.

Ela correu.

Aqueles que estavam rondando a árvore ignoraram a presença de Pilantra e se lançaram em direção a relva. Pernas longas e fortes os fizeram cortar a vegetação numa velocidade aterrorizante.

Rápido demais para que Pilantra pudesse saltar da árvore e agarrar ao menos um. Ele saltou correu logo em seguida.

Mas apesar das pernas longas e ágeis, não foi o suficiente. Para Dandara, uma humana, muito menos!

As raízes das plantas pareciam dificultar a sua fuga ao se enroscar em seus pés. Ela tropeça várias vezes. Essas mesmas raízes pareciam abrir caminho para os predadores.

Os três que ceraram Pilantra a árvore passaram por Cuidadoso e seguiram firmes em sua direção.

O diazilla kamal sumiu na relva em algum momento sem as mesmas ridículas dificuldades que Dandara encontrou.

A vegetação continuou a abrir espaço para os predadores. Sejam aqueles que queriam comê-la...

Seja para o diazilla, voltando em disparada e se agarrando ao rosto de Dandara.

Ou para aqueles que aqueles que também queriam comê-la, mas sem mastigar. Da relva, de onde o Kamal voltou, saltou uma sombra negra em direção às criaturas.

Um grunhido ameaçador ecoou junto daquelas criaturas. E Dandara não hesitou em correr.

Apenas mais um conseguiu correr em sua direção, cada vez mais perto. Ele saltou vários metros de altura para além da mata e barrou o escape da humana.

Dandara derrapou para não ser pega.

E aquela coisa ronronou em satisfação.

É um criatura escura, com escamas que brilham como pedra polida.

A cauda longa e rígida lhe permite extremo equilíbrio ao seu manter em pé. As pernas são maiores que os braços enquanto as garras tinham três vezes maiores que as dos chrynnos.

E os dentes? Ainda mais afiados, com fileiras intimidadoras.

Dandara sabia que não adiantava correr de volta para a relva. Não com mais dessas coisas em confronto com Cuidadoso e seja mais lá quem!

Mas o estridente não atacou.

Sua satisfação se transformou em frustração. E seus grunhidos foram revidados com rosnados. Eles vieram da floresta, como sombras cautelosas.

Não um, não dois. Sete machos revelaram sua presença. Chrynnos que estavam próximo o bastante para ouvir o rugido de Pilantra e o conflito que se seguiu.

O estridente deu as costas a Dandara, focando unicamente na ameaça a se apresentar.

Meio segundo foi o que bastou para entender a situação.

Eles encararam a humana assustada. Cuidadoso, não em duelo, mas tentando se manter vivo. E Pilantra longe demais para chegar a tempo.

Um segundo foi o que bastou para os estridentes hesitarem.

Um chrynnos não é um bando. Mas sete machos adultos?!

Dandara percebe a diferença óbvia de tamanho. Ombros largos e bíceps grossos. Músculos desenvolvidos preenchem a até do abdômen experiência de combate visível através da simples forma de olhar.

De analisar.

De ouvir.

De decidir!

Seus rosnados são mais roucos. Outros vieram pelas laterais, mostrando os pêlos dos braços estufados. Eles começaram a cercar, se organizando numa estratégia que claramente faltou aos adolescentes quando encontraram Dandara.

Eles sabiam de sua força, tanto individual, quanto em bando.

Rosnados frequentes e intenções de brigar.

Brigar pela fêmea!

O estridente oscilou.

Se atacar, ele será atacado.

A criatura olhou para trás, para o que se desenrolava as suas costas. Ele estufou o peito e grunhiu um chamado forte que fez com que os demais quatro estridente parassem seus conflitos. De imediato entenderam que perderam a chance e preferiram recuar. Orgulho e arrogância definiu cada passo daquele mais próximo da humana.

Os chrynnos lhe deram passagem respeitosa.

Dandara não se lembra de ter encontrado a floresta tão silenciosa assim. E ali, se viu sozinha, cercada por tantos lobisomens... ansiosos para acasalar!

A primeira diferença perceptível além do tamanho, é a experiência vista em seus olhares. Passos mais contidos, cientes do perigo. A astúcia invés da impulsividade.

Eram sete lobisomens e ela, no chão, não tinha para onde correr. Os dentes foram escondidos dentro dos focinhos e apenas um ousou se aproximar.

A gentileza notável para não assustar... As orelhas estavam bem levantadas. O olhar amplia seu interesse e o nariz capta seu aroma.

- Não me machuque...

O macho a sua frente voltou a exibir os dentes.

Mas não para ela.

Seu olhar se levantou.

E Dandara sentiu a sombra de uma criatura meio homem, meio lobo lhe cobrir. Apenas um rosnado foi dado em alerta para que a deixasse totalmente arrepiada.

Ela olhou por cima do ombro.

Dandara reconheceu a face brava do maior lobisomem que já viu!

Músculos tão aparentes que intimidam os demais sete chrynnos. Uma presença tão marcante que os fazem recuar em respeito a sem a mínima intenção de confronto.

Mas estariam perto, visando as oportunidades.

Mas o que realmente tirar o ar de Dandara é o fato de que ela já o viu antes. Ele é a fera que lhe salvou dos adolescentes logo antes de lhe perseguir pela floresta.

- O Bhetta - o Kamal murmurou.

E então, o Bhetta finalmente encarou Dandara

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