C A P Í T U L O 24
Deveria ser meio da noite. As sombras estavam mais densas. A luz mais forte. E tudo que a noite pudesse ocultar, escondido…
Perante o silêncio da noite, Dandara não adormeceu. Já havia dormido demais. E seu corpo, tenso… trêmulo. Ela estava preocupada.
Seu olhar estava sempre fixo nos homens. Em suas movimentações…
Quais movimentações?! A definição de se comportar é não sair daquele local, pois eles a deixaram completamente sozinha!
Apenas ela e o macaquinho.
Onde eles estão?
Ela não conseguiria descansar sabendo o tipo de criatura que são… e o que estão por aí.
Adultos e adolescentes.
— Está pronta? — Dandara gritou.
Rhaeyluan rosnou, tapando os ouvidos.
— O que eu lhe disse sobre silêncio? — Contudo ele não parecia bravo, mesmo com Dandara já em pé, agarrada ao diazilla kamal como se agarrasse seu filho.
Ela não respondeu.
Rhaeyluan suspirou.
— Está pronta?
— Para quê?
— Para descer — Dandara esbugalhou os olhos.
— Quê? — O homem sorriu. — Nas costas dele.
Dandara estava para chama-lo de maluco, mas quando viu a fera se aproximando por trás dele…
— Não!
Capacho também saiu da floresta, carregando cordas. Onde diabos ele achou cordas?!
A fera só podia ser Cuidadoso.
— Vamos te amarrar a ele para te dar mais segurança — o pilantra maluco tentou tolamente convence-la.
— Não! — Ela recuou. — Me matem de um vez! Eu não vou chegar perto dessa coisa!
Depois de muito tempo, Dandara ouviu a voz de Capacho traduzindo suas palavras para a grande fera. Mas foi o diazilla kamal, no colo de Dandara, confirmou o que foi dito.
A criatura se agachou, suave e atencioso como era de sua característica. Mas a sua gentileza se desmancha quando encara Rhaeyluan. É para ele resolver!
— Dan — o homem entendeu bem o recado. — Não vamos te machucar.
— Vocês quem fazer pior! — Ela revida. — Me mata de uma vez!
Os pelos do macaquinho começaram a estufar.
Cuidadoso dobrou as orelhas para trás. A face calma lentamente ficava impaciente a cada palavra traduzida por Capacho e confirmada pelo macaquinho.
Rhaeyluan passou as mãos pelos cabelos, num suspiro profundo.
— Você precisa vir, ou as coisas vão ficar feias — ele lhe alertou com tanto cuidado que um curto silêncio predominou.
— O que vocês vão fazer que já não está óbvio ou não me foi ameaçado?!
Matar? Ah, a ameaça oculta já estava ultrapassada. Estuprar? Já estava acostumada. Dandara tem tanta certeza de que não terá nenhum filho quanto o que acontecerá assim que essa ilusão de fertilidade se for e a verdade for aceita.
— Não nós, caralho! — Rhaeyluan rosnou.
Dandara recuou.
Cuidadoso respondeu num grunhido ameaçador. Rhaeyluan saltou para longe, quase ao lado de Dandara quando o olhar da fera o filmou.
Mesmo que Cuidadoso não compreenda seu idioma, ele compreende o macho ficando nervoso, o tom mudando. Dandara ficando nervosa… e o diazilla kamal ficando cada vez mais felpudo em desespero.
Dandara paralisou, acompanhando o ocorrido apenas com o olhar.
A fera se inclinou de forma a andar de quatro. Os joelhos quase chegavam a encostar o chão. As penas longas favorecem a impressão de maior tamanho ao seu porte.
O macaquinho agarrado a humana estremeceu. Ele e Dandara se tornaram invisíveis perante a aproximação da fera. O ambiente ficou mais fedido. Mais e mais perto ele ficou, conformando a humana e lentamente se colocando entre ela e ele.
Dandara encarou Capacho apenas para não olhar a criatura. O rapaz piscou em sua direção, dando a entender que o movimento de Cuidadoso não é pela negativa dela, mas pelo comportamento minimamente agressivo de Rhaeyluan.
Ninguém intimida sua fêmea!
Quando ela arriscou olhar, Rhaeyluan estava de joelhos e a cabeça curvada em total submissão. Cuidadoso estava tão perigosamente perto que quando voltou a se apoiar unicamente em suas pernas e se manter agachada, Dandara estava a centímetros do peito felpudo.
Ele não a tocou. Mas marcava sua presença.
Ele encarou Capacho. E apenas isso bastou para o mais submisso do grupo revelasse, mais calmo e suave:
— Rhaeáks está atrás de você — ele foi direto.
— Quê?
Isso é o nome ou um bicho?
Cuidadoso respirou profundamente. Dandara se arriscou em se afastar. Ele nada fez.
O macaquinho nos braços pareceu implorar com o olhar para se arriscar um pouco mais. Mas ela parou assim que Cuidadoso desceu o olhar. Dandara e o kamal estavam tão trêmulos que ele duvidava de algum ato de rebeldia.
— Não há fêmeas chrynnos em Ibysah — Capacho decidiu explicar direito. — E interesses amorosos entre os machos se formam.
Não tem mulheres para se apaixonar e eles se apaixonam por homens? Nojento, segundo ela. O que Dandara tem a ver com isso?
— Rhaeáks é um dos machos mais… sorrateiro do bando — ele continua. — Um Bhetta feroz. E não esconde seus interesses por ele.
Dandara não moveu a cabeça, mas arrastou os olhos esbugalhados para Cuidadoso.
— E ele se interessa por você — Dandara já começava a entender… — Isso te faz a principal rival de Rhaeáks.
O estômago de Dandara embrulhou. A garganta secou. Cuidadoso agarrou sua cintura, a impedindo de tropeçar.
— Mas eu não quero nada com ele!
Capacho coçou a cabeça, um tanto nervoso.
— O ciúmes é pelo amado. Mas a violência é para o rival — Ele afirma.
Rhaeyluan, ainda no chão, ousa levantar o olhar.
— Como machos territórios, não aceitamos qualquer tipo de rivalidade — Dandara o encara. — O macho atrás de você só nos tolera porque estamos sendo úteis. Caso contrário, ele não teria nos expulsado. Ele teria nos matado!
Um rosnado baixo deixa a garganta de Cuidadoso, apenas pelo tom usado. Os pelos do diazilla kamal estavam tão estufados que foi fácil esconder o rosto no corpo pequeno quase como se, de fato, pudesse desaparecer perante a ameaça de um conflito.
Ela sentia os olhos sensíveis com a vontade de chorar. Foi Capacho que chamou a atenção de Cuidadoso para a fêmea medrosa.
Então fera fez algo completamente impensável!
Lhe abraçou.
Mesmo agachado, o corpo era grande o bastante para lhe envolver em todo calor que contém. As mãos grandes, com garras retraídas acariciando as costas… e a respiração serena.
Os músculos grandes para lutar e a pelagem macia.
Ela não lutou. Já estava cansada de lutar. Já estava cansada de tanto estresse…
— Eu vou — Dandara disse.
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