C A P Í T U L O 01

     Uma colisão de mundos

     Uma colisão de sensações

     A escuridão da noite era iluminada pelas estrelas, que refletiam nos olhos grandes, negros e hipnotizantes dela. Um universo a ser explorado.

    Seus lábios carnudos e macios pareciam chamar por ele em uma dança sensual e sedutora.

    Mas ele não cai em tentação.

    Ele era maior, mais forte e provocava-a com uma acidez que a deixava sem fôlego.

    Cada toque era uma batalha travada em meio às chamas da paixão. A guerra era intensa, mas a dança era ainda mais envolvente. Os lábios se encontravam em um beijo ardente, as mãos exploravam cada centímetro do corpo um do outro.

    Os corpos dos dois se fundiam instigando a tensão sexual se acumulando em cada movimento frenético. Cada momento mais intenso que o anterior, cada toque mais ardente, mais sedutor.

    A respiração ofegante e os gemidos se misturavam em um dueto sensual.

    É uma guerra.

    É uma dança.

    Uma magia! Um sonho?

    É real…

    Tudo que aconteceu, é real!

    Dandara estava mesmo no topo de uma colina rochosa, entre mantas e tecidos com um homem passando as mãos pelo seu corpo.

    A sensação perfeita só se tornava melhor com a união do pau pulsante invadindo sua boceta.

    Grande e grosso.

     Se esfregando em seu canal apertado, alargando-a até quase sentir dor

    E quando tocava aquele ponto… Ah! Ela gemia. Gemia com vontade e não se importava que toda a floresta bioluminescente escutasse.

    Mas então, ele recuava, causando um suspiro.

    E o homem, igualmente grande com músculos grossos e duros como pedra, sorriu…

     Dentes brancos, mais alinhados do que os de qualquer humano com os caninos levemente alongados

     Ele investiu, dessa vez, indo tão fundo que Dandara arqueou o corpo em sua direção e abriu mais de suas pernas.

     As mãos ásperas agarraram os seios e a boca brincou com seu mamilo.

     Ele usava seu tamanho com rastreia, se movendo de forma a alcançar toda e qualquer terminação nervosa

     Seus braços grandes conseguiam deixá-la ainda menor e Dandara se sentia como uma boneca facilmente manipulável.

    Ele é um macho dominante.

    Alguém acostumado a subjular através da força e da violência

    Então ela não tinha para onde correr. Ele lhe possuía com vigor, obrigando cada músculo do seu corpo a trabalhar até a exaustão

    Não para que Dandara alcance o prazer.

    Mas para que alcance a loucura

    E quando ela sentia que alcançaria o paraíso, o sorriso travesso e malicio surgia e ele fazia algo como deslizar seu tamanho lentamente para trás… saindo!

    Dandara resmungou. Claro que reclamou! Estava dolorida! Tão molhada e suada que talvez não exista mais água em seu corpo e ele fez questão de deixar ausente sua presença.

    E tudo o que fez a seguir foi rir de sua cara ofegante demais para se tornar chorosa.

    E a distraiu com um leve morder dos lábios inferiores. Depois, os umedeceu com sua língua.

    Dandara mal notou a invasão, não do pau, mas de dois dedos… e um terceiro.

    Eles se curvavam em seu interior e acariciaram pontos maravilhosamente sensíveis, os quais a obrigou fechar as pernas.

     Foi inútil

 — Fique de quatro pro seu macho! — ele mandou.

    Ela obedeceu.

    Um segundo se passou até que o macho se agarrasse ao seu corpo como uma fera a sua presa

    Um braço passou por sua cintura e uma mão agarrou seu pescoço, puxando-o para trás.

    Garras negras e curvas roçaram a pele sensível numa carícia perigosamente erótica.

    Ele a invadiu, abrindo espaço por seu canal e arrancando um gemido tanto dela, quanto dele.

    Rouco, sonoro e másculo bem no pé do ouvido

    Ele suspirou em meio ao próprio prazer e investiu.

    Dandara sabia que acordaria sem poder andar e estranhamente… aquilo se formou maravilhoso!

    Ela sentiu suas pernas ficarem sensíveis e os mamilos serem judiados pela brisa. Melhor é o corpo do macho se esfregando ao dela, imensamente quente com todos só músculos trabalhados para combate.

    E seus gemidos despudorados no ouvido, provocando, de fato, cada nervo até que Dandara alcançasse a loucura!

UM ANO E MEIO ANTES:

     Estava doendo… ardia e machucava.

     Mas Dandara permanecia na mesma posição. 

    Humilhante!

    Vergonhoso!

     É questão de sobrevivência fingir gostar de empinar a bunda para que seu senhor pudesse se deliciar com sua vagina. Seu rostinho dolorido permanecia em contato com a madeira, se esfregando como uma esponja na sujeira. A ponta da mesa machuca sua barriga e os gemidos se misturam com o som das águas do oceano.

     Ah! O oceano tão pacífico, tão puro e limpo, cheio de vida e mistério. É algo muito diferente daquele navio. Um sonho que qualquer escravo jamais poderia alcançar. Talvez. Se não estivessem acorrentados no porão, será que algum se jogaria ao oceano? Dandara certamente quer.

    O cheiro sexual se mescla ao salgado, ao de urina e suor. A higienização de um navio não é exatamente… boa. Muito menos é agradável ter o capitão da embarcação esfregando o pinto duro no seu canal seco e sensível.

     O móvel range na cabine cada vez que o movimento da água balança a embarcação, o que faz maior a dor. E quem se importa? Dandara é uma mulher, uma escrava e deliciosa o suficiente para agradar qualquer homem que a queira.

     O ano é 1705 e o seu maior crime é ser negra a bordo de um navio negreiro sendo despachada do Brasil para Portugal. A remessa é grande — a primeira — com mais de 400 escravos amontoados nos porões escuros, úmidos, sujos e fétidos em cada uma das quatro embarcações. Ao todo, deve haver quase 2 mil humanos entre a vida e a morte, marcados pelo sangue e pela cor. Homens, mulheres, velhos e crianças… todos meras mercadorias a ser usados.

    A vida não era fácil para quem tinha a mescla perfeita de sangue africano com os nativos do Brasil. Pior ainda quando se é a filha bastarda de um português. Havia muitos que queriam Dandara longe daquele continente, do estado da Bahia onde nasceu como filha de uma africana.

    Mas ela é uma mulher. Tem peitos e vagina para os homens lhe enfiar o pau e se satisfazer. Ninguém iria impedir, ninguém se importava e muitos a consideram sortuda.

    Dandara não tem ideia do que é pior! Permanecer no porão acorrentada com fome e sede, a deriva de doenças e da morte ou ter que aguentar o capitão do navio lhe usando por mais uma vez… Mais uma vez. Mais uma vez. Mais uma vez. De novo. Mais uma vez. Mais uma vez! Já não há lágrimas para chorar quando os gemidos ficaram mais altos que o som da tripulação e os movimentos mais frenéticos e urgentes.

    Seu cabelo foi puxado para trás até que o pescoço ardesse com a brutalidade. A mesa mais do que nunca está machucando sua barriga, deixando marcas quase tão recentes quanto as das correntes que já prenderam seus pés. O capitão estava quase chegando ao ápice de sua própria libertação. Ele se mexia necessitando da sensação de gozar.

    Palavrões deixam sua boca e ofensas eram proferidas contra o corpo de Dandara. Vadia. Puta. Gostosa. Cadela. E linda. Minha linda.

    O pau pulsa no limite e ele não pretendia tirar do canal vaginal. O homem está embriagado pelo próprio prazer e o vinho.

    Quase…

    Quase.

    Quase!

    Um estrondo grotesco empurrou o navio, os móveis, os mapas e o casal ao completo caos.

— Porra! — Não adianta grunhir e muito menos ter tempo para expressar sua frustração! Não quando o lugar inteiro estremeceu e os gritos de homens nervosos competiam com o do oceano.

    A água é como o sentimento. Quando está calmo demais… uma apavorante tempestade pode irromper das profundezas. Uma tempestade, do qual Dandara queria abraçar e se afogar, pois bem lá no fundo, poderá encontrar a paz. Enfim. 

    O capitão tinha que se levantar e ver o que havia acontecido, mas um novo estrondo moveu todo o navio para o lado e Dandara foi junto, se chocando contra ele e o derrubando antes que conseguisse ajustar o pau dentro das calças. Parecia que o mundo estava do avesso.

— Vai pra puta que te pariu, Dandara!

    O empurrão não foi menos doloroso que o salto do navio sobre uma onda. Era suficiente para os dois saírem do chão e serem novamente puxados pela gravidade. O homem caiu em cima de Dandara.

    O peso a esmagou e a cotovelada que ganhou no abdômen tirou-lhe o ar. Os hematomas devem ter se intensificado pelo corpo dolorido. Finalmente, o capitão fechou a calça e engatinhou sobre o chão instável. Quando estava prestes a abrir a porta da cabine, foi lançado para trás com uma poderosa jorrada de água salgada. O impacto molhou todo o cômodo e levou o português para o outro lado do recinto.

    Mapas foram molhados, vidros estraçalhados e anotações perdidas. Qualquer objeto foi lançado ao chão e muitos se perderam quando a água recuou. O oceano estava furioso chacoalhando o navio como o mais cruel dos terremotos balançaria uma casa.

    Ondas poderosas os fazem pular de proa a popa e homens eram jogados na correnteza do oceano sem oportunidades de sobrevivência. Relâmpagos transformavam noite em dia e os estrondos davam a impressão que o céu estava se partindo. Algo que poderia identificar o fim do mundo.

    Talvez o apocalipse realmente tenha chegado.

    As embarcações são jogados para todos os lados mantendo a estabilidade no limite do naufrágio. A chuva cai selvagem e o próprio ar os afoga. Um navio se choca contra o outro e, ao mesmo tempo, são empurrados para o além onde não passavam de borrões na noite nebulosa.

    A única segurança talvez fosse as correntes que prendiam os escravos no porão… se não estiver alagado, se não estiverem sendo enforcados, se não estiverem feridos pela fúria do oceano.

    Em algum momento, a frota foi lançada pelo breu da noite, perdidos e sem nada para indicar a direção.

    Mas quando o dia clareou, nada foi visto. Um nevoeiro denso caiu sobre a água balançando de lá e cá… ainda acalmando os corações agitados. Quando Dandara saiu da cabine não via nada além de vultos no ambulatório e o ranger de seus passos.

    Então os gritos dos marinheiros começaram… para localizar uns aos outros. Era melhor do que tatear a madeira, o metal ou qualquer outra coisa que pudessem se segurar conforme a água pouco a pouco ficava mais calma. Dandara estava tonta. Seu estômago embrulhava com o cheiro salgado, com luminárias quebradas e óleo de baleia derramado em meio às algas.

   O chão estava escorregadio e o odor de peixe morto se tornava tão pungente quanto o dos escravos no porão. Demorou para que a neblina melhorasse, e quando melhorou, ainda permanecia densa o suficiente para que a água mal fosse vista.

    Contudo, o navio estava se movendo, tomando o seu próprio curso mesmo que ninguém estivesse o conduzido. Os capitães estavam preocupados demais avaliando os danos de proa a popa. Seus gritos eram os mais escandalosos.

    Ao meio dia, quando o sol deixou o ambiente mais quente e retirou mais da metade da neblina, os demais navios foram avistados. Todos igualmente danificados, com velas rasgadas e mastros comprometidos, um grande número de marinheiros desaparecidos e escravos mortos.

    Todos se movendo para a mesma direção como se estivessem assombrados. Ninguém mais conseguia controlar o rumo da frota.

    Na verdade, estavam sendo puxados.

    Abaixo do navio, uma anomalia aquática os puxava.

    Era como uma tromba-d'água deitado debaixo d'água, serpenteando como um rio agressivo no meio do oceano. Uma verdadeira corrente marítima! Tão poderosa que sua ira se tornou perfeitamente visível em meio a espuma que se formava na superfície. É tão larga que arrasta quatro grandes navios lado a lado para o desconhecido do oceano.

     Era o impacto espumoso de dois oceanos. De um lado, o oceano Índico mais azulado e no outro, o Atlântico mais esverdeado.

    Não é comum… mas acontece. De tempos em tempos as correntes marítimas podem sofrer uma deturpação em seu ritmo e, por um momento, mudarem antes de se estabilizar.

    A tempestade provocou tal mudança e antes que pudessem se recuperar, a poderosa corrente os levou como uma canoa sem remo ao rio. Agora… águas não mapeadas os aguardavam e criaturas monstruosas os esperavam. Que Deus os ajude!

     Mas Deus não se importa…

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