Uma Linda Melodia
− Parece que elas têm um certo dom para prever o que vai acontecer. Só que nunca nos contam nada. Às vezes elas agem estranho, assim como hoje. Mas não há nada com o que se preocupar – Abigail não acreditou em tudo que o professor disse, pois quando ele terminou de falar, virou o rosto para o prato com uma cara pensativa e voltou a comer. Ele pelo visto, também soube a pouco tempo que Saci estava sob o domínio do inimigo agora. Ele não parecia triste, mas sim, muito preocupado. Parecia que estava esperando alguma notícia pior. Mas o que poderia ser pior, do que tudo o que já estava acontecendo?
Quando terminaram de jantar, foram para os quartos para tomarem banho. Abigail não se sentiu cansada, ficou sentada muito tempo. Queria um pouco de ar fresco e então saiu junto com Elisa e Miguel.
A cidade das fadas estava bem acima de suas cabeças. Era uma cidade bem pequenina, parecia umas casinhas de bonecas. Algumas das fadas que voavam em volta desceram ao ver os garotos e ficaram voando em volta deles. Se essas fadas fossem vistas de longe, poderiam ser confundidas com vaga-lumes, pois cada uma emanava uma pequena luz branca. Uma delas parecia adolescente, assim como eles. Ela sentou no ombro de Elisa e deu um pequeno sorriso.
− Oi, meu nome é Zin. Querem ter uma aula comigo agora? – perguntou a fada
− Ham? Não é um pouco tarde para se ter aulas? – perguntou Elisa – E o que quer dizer com aulas? Você pode nos dar aulas?
− Acham não temos conhecimento? – perguntou a fadinha, ela não demonstrava aborrecimento – Além do mais, não nos preocupamos com o horário. Estamos dispostos a ensinar a hora que desejarem.
− É...por que não Elisa? – perguntou Miguel brincalhão – Estou curioso para saber o que vão ensinar e não estou cansado. E vocês? – perguntou para as meninas. Todos estavam dispostos a verem como seria essa primeira aula.
− Tudo bem então! Que tal começarmos com camuflagem? – quando Zin viu que os meninos não sabiam o que era isso, ela explicou – É uma espécie de invisibilidade, porém não estarão invisíveis de verdade – quando percebeu que os meninos ainda se mostraram confusos, ela continuou – Não precisam pensar muito a respeito. Na hora que conseguirem vão ver. É muito útil, porém pode ser um pouco difícil de aprender e vai desprender muita energia. Primeiro precisam sentir o mundo ao seu redor.
− E como vamos fazer isso, professora Zin? – Zin deu um risinho ao ouvir o nome professora de Elisa, mas adorou.
− Por favor, sentem-se – assim que sentaram, ela forneceu novas instruções.
Os garotos tinham que fechar os olhos e simplesmente sentir o mundo que os cercava. Cada farfalhar de árvore, ouvir os passarinhos empoleirados nas árvores. Acalmar os corações e manter a mente vazia de todo resto e por fim, sentir-se misturar ao ambiente.
A princípio parecia fácil ficar parada só meditando, mas Abigail percebeu desde que tinha o treinamento de sentir o poder, que não tinha muita paciência pra ficar sem fazer nada por muito tempo. Não demorou nem vinte minutos e ela já estava entediada. Esse tipo de treinamento era o que ela mais odiava. Já Miguel, por ser calmo por natureza, se dava perfeitamente bem com situações como essa e assim aprendia mais rapidamente.
Passaram cinco dias dessa forma. O dia inteiro meditando e por mais que implorassem ao professor para ensinar outra coisa, ele negava.
− A Zin já lhes iniciou em um aprendizado e enquanto vocês não aprenderem isto, não vamos avançar. Então tratem de conseguirem logo se não aguentam mais esse treinamento! – repetia cansado prof. Álvaro pela vigésima vez. Enquanto isso, ele se divertia, conversando e brincando com as outras fadas, parecia ter até rejuvenescido outra vez. Em outros momentos, ficava sozinho, meditando, assim como os meninos, segundo ele, nunca pararia de treinar.
No dia seguinte, enquanto estavam no meio da meditação, Abigail abriu um pouco os olhos para olhar os amigos e ver se algum deles obteve algum sucesso. Foi quando viu Miguel sumindo e aparecendo novamente. Dizer que sumia não parecia ser o termo correto, pois se prestasse atenção, Abigail ainda conseguia vê-lo. Miguel parecia mais como um camaleão, porém ainda melhor. Adquiria totalmente as cores do ambiente e não importava de que ângulo fosse visto, porém quando ele se mexia, denunciava totalmente sua posição.
− Nossa, você está quase conseguindo, Miguel! – Elisa também parara para olhar o amigo e dando um susto em Abi com seu comentário – Dá uma dica aí. Como está fazendo isso?
− Não sei. Acho que ajuda se você pensar que faz parte de tudo que a cerca – falou ele e depois deitou no gramado – Meu Deus! Isso cansa demaaaaisss, vou tirar um cochilo rápido, por favor, não me acordem – fechou os olhos e dormiu ali mesmo, feito uma pedra.
As garotas continuaram tentando. Mais tarde foi a vez de Elisa e tal qual Miguel, ela tombou na grama exausta. Abigail necessitou de muito mais tempo, mas quando ela esvaziou a mente de qualquer outro pensamento que a distraía, conseguiu da mesma forma, e como o esperado ficou ainda mais tempo camuflada e com uma estabilidade melhor a princípio. Meia hora depois, também sucumbiu ao cansaço.
O resto da semana foi extremamente exaustivo. Assim que dominaram o conceito básico do aprendizado, tinham que aperfeiçoar. O professor também informou que usaria essa técnica para aumentar drasticamente os poderes deles, de forma que os meninos só eram vistos treinando, comendo ou dormindo. No final do mês todos já conseguiam se camuflar naturalmente e praticavam fazer isso agora transformados em animais, o que era duplamente cansativo.
Perceberam que a camuflagem possuía sérios pontos críticos que limitavam o seu uso. Além de uma grande demanda de poder, eles não poderiam utiliza-la em movimento, mas ainda assim era uma técnica muito útil, caso necessitassem ficar "invisíveis" por alguns minutos em alguma emergência.
Passaram dois meses dessa forma. Os garotos acordavam, iam ter aulas com o professor, com as fadas ou com os dois juntos. Ao terminar o dia, voltavam para a cabana, tão exaustos que só conseguiam acordar no dia seguinte, comer alguma coisa e voltar para os exercícios. Os meninos mal aguentavam falar ao final do dia.
Segundo o professor, as aulas de camuflagem e lutas não serviam apenas para ensinar-lhes novos "truques", mas também para o aumento de poder, precisão e de reflexos. E por causa disso, eram obrigados a se manterem camuflados pelo maior tempo possível durante todo o dia, até não sobrarem forças. Isso quando o professor não os pegava desprevenidos para um combate.
O aniversário de Elisa aconteceu no final de abril (para a surpresa de todos), pois assim como Abi, ela nem havia se tocado. Abigail e Miguel tinham lhe dado uma cesta com deliciosos doces de uva e o professor, um bolo.
Durante esses dois meses que passaram em Paquevilin, não puderam conhecer o local, o treinamento estava exigindo demais dos garotos. Mas com o passar do tempo estavam ficando muito mais fortes e resistentes aos treinamentos. O professor então os elogiou pelo trabalho e deu uma semana de folga para eles, "vocês merecem", disse. Porém puxou Abigail para um canto e lhe deu uma tarefa nesse tempo de folga.
− Abi, quero que você tente mudar a coloração dos seus olhos durante esses dias – mandou ele.
− O que? Está falando sério? – assim como os outros, Abigail se sentia em frangalhos. Achava que aquela folga iria ajudá-la a repor as forças.
− Devo estar te pedindo demais. Mas acredito que você consiga – ele olhou seriamente para sua aluna e continuou – Seus olhos se destacam muito, mesmo você transformada em qualquer animal, eles ainda continuam prateados, se ainda fossem amarelos, chamaria menos atenção e isso é uma grande desvantagem sua e para qualquer um que ande ao seu lado. Você será facilmente identificada e pode por todos em perigo.
− Como pode ter tanta certeza se consigo, professor? Sei que não tenho muitas experiências, mas não vi nem ouvi falar de um único saci conseguindo isso − ela tinha mostrados argumentos válidos, ainda assim o prof. Álvaro se mostrava convicto.
− Já ouve casos de sacis que conseguiam se transformar totalmente e se tornaram bastantes perigosos. Eles serviam de excelentes espiões. Sem falar na Cuca, embora maligna, seu talento é inegável – completou a ultima frase de forma tão ligeira que Abigail mal escutou – Eu sei que o que estou pedindo é difícil, mas pelo menos tente, ok?
− Tudo bem, entendo o quão importante é isso. Prometo que vou tentar até conseguir.
− Mesmo que não consiga nessa semana, não desista! Acredito no seu potencial, sei que vai conseguir.
Todos passaram dois dias descansando (tamanho era o cansaço), mas no terceiro já queriam explorar o planeta e Abigail começou também a praticar como havia prometido ao professor. Ela não havia contado aos amigos dessa tarefa extra, de modo que praticava o dia inteiro enquanto fazia qualquer outra tarefa sem que percebessem. Ela parecia apenas mais distraída que de costume ao que acontecia ao seu redor. Queria que fosse uma surpresa para seus amigos caso obtivesse êxito. Ela sabia que se contasse naquela semana, eles tentariam junto com a amiga e eles já estavam ainda mais cansados que ela. Tinha certeza que depois do descanso, teriam ainda mais tarefas exaustivas depois.
Antes de saírem da cabana para um passeio, o prof. Álvaro apareceu na porta e os chamou.
− Tenham muito cuidado. Não quero que se afastem muito ouviram? O que tem de belo aqui, tem também de perigoso. Vale sempre se lembrar disso – deu um tempo de silêncio e depois continuou – Voltem aqui na hora do almoço, vou preparar uma coisa bem gostosa para repor o vigor de vocês.
Eles se despediram do professor, que no momento estava ocupado consertando uma parte da cabana que foi destruída quando os meninos estavam aprendendo a lutar em diversas formas. Abigail (em forma de urso), sem querer, deu uma patada tão forte em um tronco de uma árvore, que acabou derrubando-a em cima da casa. O choque foi tão grande que destruiu uma parte e estraçalhou todos os ramos da árvore.
Para consertar, o professor teve de tirar a árvore com sua magia, fazendo-a levitar e cair em outro lugar. Antes dos meninos saírem, eles tiveram de ajudar o professor na limpeza e depois foram liberados. Para reconstruir a casa, o professor rapidamente derrubou mais uma árvore e transformou o tronco em tábuas de madeiras muito bem polidas, logo depois colou-as na casa por magia. Ele não se preocupou em replantar uma nova árvore, pois as fadas adoravam fazer isso.
Depois de caminharem por meia hora em linha reta, os meninos avistaram vários pomares, colheram algumas frutas que acharam saborosas no caminho e desfrutaram dos seus deliciosos sabores. Mais a frente, avistaram um rio com águas muito calmas e cristalinas, a margem era rasa, com pedras em formatos arredondados por toda sua extensão.
Enquanto Abigail colhia alguns frutos e praticava a transformação dos seus olhos, Miguel e Elisa ficaram maravilhados pela transparência e beleza das águas do rio e caminharam em direção a ele.
Não demorou muito e os dois já estavam com os pés na água. Sentindo aquela água morna e gostosa. Foi então que ouviram um canto mágico e belo, nenhum dos dois ouvira algo tão belo quanto isso na vida. O mundo todo ficou embaçado, os corpos mais leves e uma felicidade incontrolável irrompia de seus corações, de tal forma, que lágrimas brotaram de seus olhos.
Assim que o canto começou, algo peludo e pequeno saiu de um buraco no chão e voou para os tornozelos dos meninos. Começou a morder Miguel e Elisa tão furiosamente que em poucos segundos havia sangue escorrendo de seus pés e se misturando nas águas dos rios. Contudo nenhum deles sequer olhou para baixo. Não pareciam sentir dor alguma. Estavam enfeitiçados e continuaram a ouvir aquela linda melodia afundando cada vez mais no rio.
A água já batia na cintura, mas não pararam de caminhar cada vez mais para o fundo e o bichinho que antes estava mordendo os pés, agora estava voando e mordendo os braços dos garotos. Nessa hora, os meninos deram sinal de vida, ao virarem os rostos para um vulto que se formava na água. Esse vulto se aproximou cada vez mais, elevando metade do corpo para fora d'água.
🐇🐇🐇
Um pouquinho de ação, no meio de uma leve calmaria? 😉
Já sabem: gostou, dá um joinha. 🌟😘
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