Aniversário Turbulento
−Ta! Eu prometo – deu um sorriso como resposta e assim que entregou a carta à mãe, virou-se para o lado e pôs-se a dormir.
Há cerca de um ano, fazia mais um dia quente e ensolarado na pequena vila de Saci. Bernardo, um menino de cabelos curtos, estatura baixa, mas forte, esculpia uma pequena casa em um pedaço de lenha que roubou do estoque do pai (como o teto de sua casa estava com um buraco, seu pai passou o dia cortando lenha para consertá-lo e aproveitou também para substituir algumas madeiras podres do resto da casa). Bernardo prometeu para ele mesmo que iria ajudar o pai depois, mas naquele momento precisava terminar de esculpir o presente que iria dar de aniversário para uma certa amiga.
− É isso que o impediu de sair, Bê? Não tem coisa melhor para fazer do que esculpir um porco, não? − perguntou Gustavo em um tom zombeteiro. Um menino alto e meio magricela para um garoto da sua idade estava observando Bernardo tentando esculpir uma casa que lhe lembrava a de alguém.
− Não é um porco, seu palhaço! − respondeu Bernardo carrancudo − É uma casa, não notou?
− Tenha calma. Não precisa se irritar - respondeu o outro garoto aos risos.
− Falar é fácil. Não foi você quem passou a manhã toda aqui. Sem falar nas minhas mãos. Me cortei todo! Porcaria de faca cega!
− E por que todo esse trabalho? − Enquanto dizia isso, Gustavo pulou a cerca da casa do amigo e foi olhar de perto o objeto.
− Você é tapado? Hoje é o aniversário de Abigail. Pelo que sei Natasha e Juliana já sabem o que vão dar. E você?
− Eu também já sei, mas provavelmente nem precisarei dar nada. Aposto que não soube que Pedro da outra rua, desafiou Abigail para uma luta agora a pouco lá perto da floresta! Ela não tem a menor chance, apesar de ser mais ágil que nós, Pedro é um brutamonte. Ele quebrou o braço do amigo, porque o cara tinha ganhado dele numa corrida − comentou Gustavo − eu vim aqui para lhe chamar miolo mole.
− Por que não me avisou antes, Gustavo? Que droga, espero que a gente chegue a tempo − enquanto dizia isso, pôs seu presente no bolso da calça e correu para o encontro de Abigail com Gustavo ao seu lado.
Ao chegarem, se depararam com um bolo de garotos formando uma espécie de círculo em volta de um menino imenso e uma pequena garota. Os dois estavam com um pedaço de pau na mão e se estudavam. Bernardo conseguiu passar por uma brecha e chegar perto o suficiente para cochichar no ouvido de Abigail:
− Você está louca, Abi? − perguntou exasperado − Por que foi arrumar briga com esse cara?
− Eu não fui arrumar briga, Bernardo! − cochichou Abigail − Esse cara simplesmente perdeu sua flauta e me viu passar por aqui. Agora está me acusando de ter roubado a peça.
− Aquela flauta foi dada para mim pelo meu pai antes dele morrer. Você vai me devolver, nem que eu tenha que lhe deixar em pedacinhos! − urrou o menino.
− Eu já lhe disse que não peguei, idiota!
Ao terminar a frase, Abigail se esquivou de um golpe se jogando para o lado. Quando se levantou, mal teve tempo de fugir de outro golpe desferido por um dos amigos do garoto.
− Eu não preciso de ajuda de ninguém para espancar essa pirralha! Não se metam! − berrou o brutamontes a plenos pulmões e deu um soco no queixo do garoto que tentou ferir Abigail. O soco foi tão forte que o menino caiu desmaiado ao lado dos outros que o apararam antes que ele se estatelasse no chão. Abigail se perguntou como aquela criatura podia ter amigos. Na certa estavam com ele por medo ou para por medo nos outros.
− Vamos ver quem é a pirralha, gorila! − provocou Abi − Se eu vencer, nem ouse passar por essas bandas de novo, se não preza pela integridade dos seus dentes!
"Abigail ficou louca", pensou Gustavo, "Se ela continuar provocando esse cara, só vai piorar a situação!".
Pedro quebrou o pedaço de pau que estava em sua mão e tirou um punhal que escondia na sua roupa. Abigail largou também seu bastão e pegou seu pequeno punhal. Quem visse de longe, pensaria que estava vendo o gigante com uma faca tentando matar uma garotinha com um palito de dente na mão.
Juliana e Natasha tinham saído daquele tumulto há algum tempo, para procurar ajuda de algum adulto, mas não estavam encontrando ninguém por perto. Todos estavam se reunindo na praça para organizar a festa de aniversário da vila. Abigail nasceu no mesmo dia desse evento e por isso, nunca foi preciso que seus pais fizessem alguma festa de comemoração pelo seu aniversário. Aproveitavam esse tempo para resolver alguns problemas da vila.
Pedro começou a desferir violentos golpes com seu punhal, impossibilitando Abigail de contra atacar. Tudo que ela conseguia fazer era desviar dos poderosos ataques. Mas aquela dança durou pouco tempo, até que o garoto acertou um golpe na perna da menina. Apesar da dor excruciante, ela aproveitou para segurar o punhal na sua perna e fazer um enorme rasgo vertical com sua faca no peito do adversário. Deixando-o, incrivelmente, ferido e furioso. Ele afundou ainda mais seu punhal na perna de Abigail e retirou-o para desferir um novo golpe, agora na direção da cabeça, que foi parado com a mão da menina na lâmina, espirrando sangue para todos os lados, mas não se ouviu um único grito de dor.
Com um movimento rápido, Abigail girou a mão e puxou o punhal de Pedro. Logo em seguida acertou um chute na cara do menino, que acabou caindo ao chão desorientado. Quando os adultos vieram, viram que várias brigas haviam se formado em torno de Abigail e Pedro. Bernardo e Gustavo começaram a bater nos amigos de Pedro que tentaram agredir sua amiga.
Não foi fácil para os adultos separarem aquelas brigas tão violentas para conseguirem chegar até Abigail e Pedro e socorrê-los antes que se matassem. Porém ao chegarem aos dois, viram ambos caídos desmaiados. Pouco a pouco, foi possível apaziguar o lugar. Gustavo estava com um profundo corte no braço e dois olhos roxos. Quanto a Bernardo, este estava cheio de hematoma. Eram apenas dois do lado de Abigail contra cinco, mas conseguiram produzir alguns ferimentos nos adversários.
Os outros garotos que não tinham entrado na briga, haviam tentado desesperadamente separar os dois lados, mas não conseguiram sucesso algum até que a ajuda chegasse. Quando os adultos levaram Abigail e Pedro às pressas a casa mais próxima para tratar os ferimentos mais graves, alguns permaneceram no local para decidirem quais punições mais apropriadas para os garotos que participaram da briga e ouvir o relato de cada um.
Dez minutos foram o suficiente para que reunissem todos na praça principal, inclusive Abigail e Pedro, que apesar de muito feridos, haviam acordado. Arthur e Rose estavam em cima de um pedestal, os nove garotos estavam num meio de um grande círculo formado por todos da vila.
🐇 Alerta! Não experimente esse tipo de brigas em casa. Perigo de morte.
Se gostaram, já sabem, clica no joinha e ganha meu beijo virtual. 🌟😘🌟
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top