maquinações maquiavélicas

Eu não sei mais como lidar com isso, é algo que sobe e esquenta até que você fique completamente louco, insano, é algo que te leva a um estado tão assustador que te cega, te faz querer sumir, desaparecer do mundo, trocar de identidade, de número, de tudo, ser uma nova pessoa longe de tudo, é algo que faz você se fechar para proteger aos que estão ao seu redor, protege-los de você mesmo e de sua mente travessa.
É algo que te faz pensar que você só está confuso o tempo todo, porque afinal não é isso que todos dizem? E infelizmente você prefere deixar com que os outros te definam do que gritar quem você é, porque até você tem medo disso, porque você sabe que tudo o que você é, é tudo que te dizem para não ser, é tudo que acham que você não é, que você não faria, mas dentro da sua mente insana e doente você sabe exatamente quem você é, você sabe que faria tudo isso que dizem que você não faria e muito mais, você sabe porque só você sente aquele desespero ao sentir que está presa dentro de algum lugar, porque só você sabe o quão importante é para você não ter que se esconder nas sombras desse personagem ridículo que você mesmo criou para si e agora tem que manter, mas você sabe que no fundo, esse personagem já existiu em você em algum momento, mas agora as coisas mudaram, e você não pode simplesmente ser você, porquê? Porque você é errado, porque você nasceu errado, com defeito, e agora tem que esperar para enfim fazer tudo que você tem vontade de fazer, tudo aquilo você diz que não liga, tudo aquilo que te deixa aéreo pensando em como deve ser.
Eu não sei explicar, mas a cada dia que passa eu me sinto mais acuada, presa, muda, péssima.
A cada dia que passa, eu sinto que estou perdendo algo, talvez a mim mesma, me sinto sem tempo, sufocada.
Estou entrando no mar, indo cada vez mais fundo, a água já está no meu peito, estou ciente que não sei nadar, mas ainda assim continuo andando, até não dar mais pé, seguro o ar enquanto vou mais pro fundo, para onde ninguém possa me salvar, então solto o ar que queima meus pulmões, deixo a água entrar, vejo pequenas partes da minha vida, partes que me fizeram querer poder voltar atrás, os filmes na sala com a minha mãe, as risadas, momentos com meus amigos, meu pai bêbado explicando o funcionamento de coisas que eu nem sabia que existiam, minha vó reclamando e segundos depois rindo, a locura do dia a dia... e então as partes ruins, as brigas que presenciei desde pequena, discussões que eu sempre odiei... Eu vi a mim sentada no chão da cozinha segurando uma faca e chorando sozinha como de costume, me vi segurando uma lâmina de um apontador pela primeira vez, a sensação da lâmina em choque com a minha pele pela primeira vez, o alívio da dor, do desespero, do choro... Eu não consegui mais parar, eu me vi prometendo parar, e depois me trancando no quarto para fazer de novo e de novo e de novo, até que a dor fosse embora, até que não restasse nada a não ser o silêncio e o cheiro forte de sangue.
Então o cenário mudou, me vi em meu quarto um ano depois, segurando uma lâmina e cortando cada vez mais fundo, o sangue escorrendo e pingando no chão, o cheiro de ferro forte no quarto, me vi limpando tudo e indo dormir com lágrimas nos olhos.
Me vi um ano depois de novo, parando finalmente com os cortes, o que não ajudou em nada, vi como as coisas pioraram, não tinha ao que recorrer então noite após noite eu me encolhi e chorei até dormir.
Eu espernei e chutei a água, rezando para que as visões parasem, eu só queria esquecer tudo aquilo e partir, então de novo as boas começaram de novo, os abraços, os beijos, os risos, ele... Eu me despedi secretamente de todos, mas não me despedi dele, então entrei em desespero, eu queria voltar para me despedir, então eu escutei uma voz dizendo "não desista, lute" e foi aí que eu acordei do transe, olhei para as paredes sufocantes da sala, e voltei a atenção pro filme que estava passando enquanto minha mãe comentava sobre algo rindo, pisquei confusa, não era a primeira vez que maquinava minha morte imperceptívelmente, mas foi de longe a mais estranha e real, as sensações, as lembranças... pareciam real de mais.
Eu tinha que aguentar por ela, e vou ficar por ela não importa o quão despedaçada eu esteja, o quão estressante é manter esse personagem desgraçado, por ela eu vou tentar ficar mais um tempinho aqui, mas não para sempre, pelo menos até a poeira baixar,
Mas quem sabe né, até onde a vida pode nos levar, talvez o mundo me de um bom motivo pra ficar.

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