021| Você ainda me paga

Após aquela confusão no jogo, consegui falar com meu pai e ele já estava a caminho. Me dirigi até o vestiário já que precisava de um banho.

— Josh! — ouvi uma voz me chamar e me virei para trás.

— Ah, oi Yoon. — ela se aproximou de mim.

— Você sumiu depois da confusão, onde você foi? — agora isso, ter que ficar dando satisfação de tudo.

— Eu liguei para o meu pai, para ele avisar a tia da Any que ela havia desmaiado.

— Posso saber como raios seu pai conhece a tia daquela garota? — levantei as sobrancelhas.

Agora que eu me liguei que não contei nada da noite anterior para a Heyoon...

— Eles são amigos. — prefiro não prolongar essa história. — Agora se me der licença, eu preciso de um banho.

— Espera! — ela se jogou na minha frente. — Podemos sair hoje depois da aula?

— Não sei Yoon, eu...

— Por favor Josh. — disse me interrompendo. — Faz tempo que não saímos juntos, só nós dois. — suspirei.

— Tudo bem, você escolhe o lugar. — ela começou a dar pulinhos.

— Obrigada meu amor, te vejo na saída. — ela me deu um beijo e foi de encontro com suas amigas.

Tomei um banho e fui para a aula. Noah não estava na sala e já fazia um tempo que eu não via ele.

Esperei o fim da aula para mandar uma mensagem.

Mensagem On.

Você

Hey, onde você tá?

por que não veio a aula?

voltou pra casa?

a Any já está melhor?

me liga quando puder.

Mensagem Off

O dia passou e Noah voltou para a aula depois de um tempo. Me disse que viu meu pai quando saiu da enfermaria e que Any já estava melhor, só precisava de repouso.

Convidei ele para passar o final de semana lá em casa, ele aceitou alegando que tinha algo para me contar.

...

As aulas do dia acabaram e eu encontrei Heyoon na porta da escola me esperando.

Nós fomos em um parque que tinha próximo, ela disse que adorava ir lá quando era pequena.

Yoon passou o dia inteiro falando apenas dela, de como ela está feliz com o início das aulas, que o campeonato das líderes ia começar daqui 3 meses e precisava treinar muito para ganhar… Quando eu começava a falar ela me cortava se lembrando de algo.

Acho que foi isso que começou a perder o sentido do nosso relacionamento. Ela não me perguntava como foi meu dia, se eu estava bem… É como dizem, o começo do relacionamento é sempre perfeito, mas com o tempo se não cuidar ele acaba, o amor acaba.

Levei Heyoon para casa e depois segui para a minha.

Abri a porta de casa e ouvi um barulho de algo quebrando.

Entrei e vi Any parada na escada me olhando, acho que assustei ela... Espera, o que?

— Mas o que você está fazendo aqui? — pergunto confuso.

— Any o que acont... — meu pai saiu da cozinha e parou no caminho ao ver um prato quebrado na escada. — Você está bem? Se machucou? — ela negou com a cabeça. — Eu vou buscar uma vassoura para limpar essa bagunça, não se mexe. — meu pai saiu correndo.

— Você ainda não me respondeu o que está fazendo aqui? — fechei a porta e me aproximei dela.

— Seu pai e minha tia se casaram, agora moramos aqui. — ela disse se sentando no degrau da escada e eu arregalei os olhos.

— Como é? — ela começou a rir colocando a mão na barriga.

— Eu estou brincando... — disse tomando fôlego. — Minha tia teve que fazer uma viagem, não me disse quando volta, só pediu para o seu pai tomar conta de mim enquanto isso. — ia falar algo mas desisti…

Meu pai apareceu com uma vassoura e uma pá, recolheu os cacos do chão e Any terminou de descer as escadas.

— Oi filho, como foi seu dia? — me perguntou com a vassoura ainda na mão.

— Bom, fora o jogo que teve que ser interrompido. — olhei para Any, ela sentou no sofá e abaixou a cabeça.

— Eu esqueci de te avisar, mas a tia de Any teve que fazer uma viagem e ela vai ficar aqui até ela voltar, tudo bem? — assenti, mas na verdade não estava nada bem.

— Eu convidei o Noah para passar o fim de semana aqui, mas se for incomodar eu cancelo.

— Se for por minha causa não tem problema. — Any disse com a cara no celular. — Não quero atrapalhar nem nada.

— Você não atrapalha Any, é bom ter ares novos nessa casa. — disse meu pai sorridente. — Se para a Any está tudo bem, pode chamar o Noah sim. — saiu levando o lixo para fora…

— Obrigado pai. — digo alto.

Any seguiu sentada no sofá mexendo no celular e eu fui para o meu quarto. Não vou contar para o Noah que Any vai passar um tempo aqui em casa, é capaz dele querer vir amanhã cedo aqui me buscar para aula.

...

Fiquei um tempo deitado, até meu estômago começar a roncar. Estava com fome e achei estranho meu pai ainda não ter me chamado para o jantar...

Desci as escadas e comecei a ouvir risadas vindo da cozinha. Any não estava mais no sofá e eu comecei a sentir um cheiro de queimado… desci correndo e segui até lá.

— Meu Deus, o que aconteceu aqui? — perguntei enquanto meu pai segurava uma panela na mão e Any ria descontroladamente.

— Erick me descu... eu não sabia que... — ela não conseguia falar uma frase inteira sem rir no meio dela.

— Josh você pode me ajudar aqui. — meu pai apontou com a cabeça para o fogão e eu desliguei o fogo.

— Vocês querem botar fogo na casa? — Any soltou outra risada mais alta e vi seu rosto vermelho.

— Filho, é que Any não sabe cozinhar, então quando você subiu para o quarto ela veio aqui e eu perguntei se ela queria me ajudar. Juro que eu virei por dois segundos, quando voltei a panela estava pegando fogo e Any estava desesperada. — agora tudo faz sentido.

— Erick me desculpa, eu não sabia que se mexesse ele ia pegar fogo. — ela limpava as lágrimas do rosto de tanto rir.

— Tudo bem, a experiência foi boa. — ele jogou a panela na pia.

— E agora o que a gente vai comer? — ela se sentou no balcão frustrada.

— Vamos ter que pedir comida, alguma recomendação filho? — eles me olharam.

— Bom, que tal comida mexicana hoje? — meu pai abriu um sorriso.

— Comida o quê? — Any perguntou e eu juro que fiquei surpreso. Quem não conhece comida mexicana?

— Você nunca comeu comida mexicana? — negou. — Bem Any, então hoje será seu dia. — meu pai pegou o celular e foi para a sala fazer o pedido.

— Não é nenhum tipo de bicho, é? — comecei a rir.

— Bicho? — assentiu. — Não, eu não sei como explicar, só comendo para saber. — ela se levantou.

— Se for bicho e você estiver me enganando eu te mato. — apontou o dedo estreitando os olhos.

— Hm. — ela riu. — Quer assistir alguma coisa enquanto a comida não chega? — ela assentiu e fomos para a sala.

Liguei a tv e estava passando um filme. "Como eu era antes de você". Any insistiu para ver e eu apenas desisti.

Na metade do filme a campainha tocou e ela me olhou.

— O quê? Não, eu quero saber o final do filme. —  me olhou quando eu ameacei desligar a tv.

— A gente vai comer agora, depois você assiste. — ela cruzou os braços.

— Depois não vai estar mais passando Josh. — disse me olhando.

— Eu acho ele na internet para você, só vamos comer. — ela se levantou.

— Promete? — soltei uma risada fraca.

— Prometo. — ela sorriu. — Agora vamos que eu estou com fome. — ela passou na minha frente e se sentou na mesa.

Meu pai serviu a Any já que ela estava perdida. Ela começou a comer e disse que estava tudo uma delícia, que não tinha comido algo igual e que era realmente muito bom.

Devo admitir que ela é uma menina engraçada, e o que me deixou surpreso, me perguntou como tinha sido meu dia após a aula… ela realmente parecia interessada, mas eu só disse que havia ido ao parque.

Any provou de tudo que estava na mesa, meu pai queria fazer a experiência dela valer a pena então pediu muita coisa diferente. Até que ela foi onde não devia e acabou colocando um molho bem apimentado no seu taco...

— Tá queimando! — ela estava gritando de dor e eu não sabia se ria ou se ajudava.

Meu pai apareceu com um copo de leite e deu para ela beber. Ela estava chorando e respirando com a língua pra fora, parecendo um cachorro. Parei de rir em respeito a sua dor e dei um gole no meu refri.

— Você está melhor? — meu pai perguntou com a mão nas suas costas.

— Estou sim, é só que... ardeu muito mesmo. — ela começou a rir limpando o rosto.

— A gente não tinha provado esse molho, você pegou que eu nem vi. — meu pai parecia preocupado.

— Não se culpe Erick, eu sou muito curiosa, deveria ter perguntado antes de colocar na boca. — meu pai parecia mais tranquilo. Acho que ele não se perdoaria se Any tivesse uma reação alérgica ou algo do tipo enquanto estivesse sob sua responsabilidade.

— Muito bem, acho que chega de comida mexicana por hoje. — meu pai levou o prato de Any.

— Obrigada viu, estava realmente muito bom, tirando esse último molho. — nós começamos a rir.

Ela é uma pessoa legal, por incrível que pareça, Noah raramente erra nas suas amizades.

Decidimos terminar de ver o filme, quer dizer, Any insistiu para isso acontecer, disse que não ia me deixar dormir enquanto não soubesse o final.

Peguei meu Notebook e pesquisei o filme, por sorte ele estava na Netflix, então conectei na TV e começamos de onde paramos.

Any estava cada vez mais entretida no filme, tadinha, quando ela souber do final vai querer morrer...

O filme acabou e Any estava chorando descontroladamente...

— O quê? — ela dizia em meio ao choro. — Ele morreu?! Eu não acredi... — tapei a sua boca com a minha mão. Se meu pai nos pegar acordados estamos fritos.

— Não grita Any, meu pai vai nos matar se pegar a gente acordado. — tirei a mão da sua boca.

— Por que você não está chorando? Esse final foi muito triste. — ela limpava as lágrimas.

— Porque eu já assisti ele. — ela me olhou inconformada.

— Você sabia do final e não me disse?! — se levantou furiosa e eu decidi sair correndo.

Ela veio atrás e subimos as escadas correndo. Como meu pai não acordou com essa cavalaria eu não sei...

— Any, é sério, a gente vai acabar acordando o meu pai. — parei de correr e impedi ela de me bater.

— Tudo bem, dessa vez passa, mas você ainda me paga. — ela apontou o dedo na minha cara.

— Vai logo dormir garota, amanhã a gente tem aula e já são quase meia noite. — abri a porta do meu quarto.

— Josh? — ela me chamou e eu olhei. — Posso usar o banheiro? Estou com preguiça de descer as escadas. — dei risada e deixei passar.

Ela usou o banheiro e saiu do quarto logo em seguida me dando boa noite.

Me joguei na cama e quando me dei conta estava sorrindo… balancei minha cabeça e desliguei a luz do abajur.

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