Cap. 12 - Porque não disse antes?
Frederico segurava dona Florinda nos braços enquanto a abanava com um pedaço de papel que havia na mesa de centro perto dos sofás. A casa de número 71 não havia mudado muito. Ainda tinha as velhas cortinas brancas na janela, o sofá que já fora palco de muitas trapalhadas em nossa infância, a pequena televisão de dezoito polegadas na qual assistíamos e aos jogos do Pelé.
Dona Florinda continuava a mesma, apenas mais velha, mas parecia que os anos não tinham se passado como passaram a seu Madruga. Seu rosto ainda parecia juvenil e os bobes não estavam mais em seu cabelo agora curto. Aos poucos ela parecia recobrar a lucidez enquanto a porta se abria.
- O que está havendo aqui? – professor Girafales adentrava a casa com seu charuto na boca.
Quico o olhou vagamente e disse:
- Minha mãe surtou mais uma vez...
- E o que houve dessa vez? – ele perguntou.
Dona Florinda abria os olhos devagar e colocava a mãos no peito por cima do vestido florido.
- Aí... o que houve?
- Você desmaiou mamãe. – disse Quico solicito.
- Eu tive um sono tão estranho...
- Que sonho Florinda? – perguntou Girafales.
- Bem – Frederico se colocava de pé e a ajudava a se levantar – Sonhei que Quico entrava em casa e com esse garoto – ela aponta para mim. – Mas quem é você mesmo?
Ri.
O tempo havia feito grandes mudanças em mim era de se esperar que ela não me reconhecesse. Porque afinal eu tinha uma aparecia totalmente contraria da que tenho agora.
- Claudio dona Florinda. – disse em meio a um sorriso.
- Você me é familiar – disse ela.
Professor Girafales se postou ao seu lado abraçando-a, dragou um pouco da fumaça que expelia o charuto e alguns segundos depois se pronunciou.
- Esse é o Chaves dona Florinda. Lembra-se dele?
- Lembro, mas não se parece em nada. Você cresceu.
Ri brevemente.
- Mas me diga Florinda, como terminou seu sonho?
- Bem... O Quico entrava aqui e dizia que era gay.
- Mas eu sou mamãe...
Ploft!
E mais uma vez dona Florinda estava no chão. Após ser acudida novamente por Quico e pelo professor Girafales, dona Florinda começa a voltar à lucidez e olha para Quico como se estivesse desesperada.
- Não me diga que isso é...
- Sim mamãe. É a mais pura verdade.
Dona Florinda então abaixa a cabeça e se levanta e sai em direção ao pátio, se aproxima da velha escada e se encosta-se à velha parede onde Quico inúmeras vezes chorara em nossa infância e logo em seguida ela começa a chorar. Sem perder tempo professor Girafales se aproxima dela.
- Clama Florinda, não é para tanto.
- Mas meu filho é gay! Onde eu errei Girafales me diga! – falava ela exasperada.
- Florinda se acalme. Já foi explicado cientificamente que não é uma opção e muito menos uma escolha é algo genético. Quico sempre foi assim desde criança, só que sés desejos e anseios por homens másculos assim como eu só se manifestaram agora.
- Que?
Quico e eu rimos daquela situação. Sempre achei que o professor Girafales fosse do tipo que se ama de mais, penso eu que ele tem algo de "Narciso" um dia desse ele se apaixona por ele mesmo e pimba morre afogado na banheira.
- Mas quem você esta namorando Quico? Porque creio eu que para "sair do armário" tenha um bom motivo...
Levantei minha mão.
- Esse sou eu... – disse em meio a um sorriso.
- Oh não! Pela gentalha! – voltou a chorar dona Florinda.
- Se acalme Florinda se acalme. Você não sabe que chaves foi criado por uma ótima família da alta sociedade? Os Rodrigues?
- Os Rodrigues?
- Sim.
- Porque não disse antes. Venha Chavinho... Vocês devem estar com fome...
Frederico me olhou com um sorriso no rosto e eu o retribui. Parecia que havíamos voltado aos tempos de criança. E era até divertido ver dona Florinda nos empurrando para dentro de casa enquanto ia preparar um chocolate quente para nós e o professor Girafales nos fazia perguntas como se fossemos cobaias de algum experimento, após bebermos o chocolate quente, pedi oficialmente para namorar com Frederico e tendo professor ao seu lado explicando-lhe tudo ela permitiu que eu ficasse com ele. Então olhei para ele e me ajoelhei, seu rosto ficou vermelho.
- Aceita ser meu namorado?
Ele deu um largo sorriso.
- Você já sabe minha resposta.
Abri um largo sorriso e me aproximei dele beijando-lhe. Esse era o começo de nosso pequeno infinito.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top