Capítulo 1: Eu preciso de ajuda e você precisa de dinheiro
CAPÍTULO 1
"Você é um cara legal
E você está procurando por uma garota legal
Para se apaixonar por você, por toda a vida."
Bulow - Not a Love Song
Billy, o mecânico mais antigo do bairro, terminou de analisar o meu carro e tirou um pano de flanela do bolso, limpando as mãos sujas de graxa enquanto fazia uma careta que claramente indicava más notícias.
Más notícias para mim, no caso. Uma jovem de dezessete anos que vai precisar tirar dinheiro de algum buraco. Para ele, seria uma maravilha...
– Esse carro precisa de muitos reparos, Adel – falou, guardando o pano de volta no bolso do jeans surrado e ajeitando o boné em sua cabeça. – O motor está por um fio, a bomba de gasolina está estourada e teve uma pane elétrica. Fora a pintura... Ele realmente precisa de uma tinta, porque está horrível.
– Não está tão ruim assim... – murmurei, defendendo o meu carro e fazendo um carinho em sua lataria desgastada.
Billy riu e colocou as mãos na cintura, balançando a cabeça como se eu tivesse contado uma piada. Semicerrei os olhos ameaçadoramente e ele desmanchou o sorriso.
– Olha, menina, isso vai sair caro... – continuou. – Em torno de duas mil e quinhentas pratas.
Arregalei os olhos, baqueada com o valor, e respirei profundamente. Passei uma mão no rosto e senti meu coração apertar diante da possibilidade de nunca conseguir pagar por aquilo.
Merda, era muito dinheiro...
Billy me observou em silêncio por alguns segundos, pensativo.
– Posso fazer por dois mil para você – sugeriu. – Eu gostava muito do seu pai, era um grande amigo meu.
O sorriso que havia brotado em meu rosto desmanchou tão rápido quanto eu poderia dizer "Nem fodendo!".
Quinhentos reais de desconto eram um sonho, mas eu não iria aceitar isso "graças" ao cara que me largou sem nem ao menos olhar para trás.
Se o carro dos meus sonhos iria custar dois mil e quinhentos dólares para ser consertado, então era isso que eu iria pagar.
– Não precisa, eu vou arrumar o dinheiro – respondi decidida. – Darei um jeito.
– Tudo bem, basta ligar quando quiser que eu comece.
Assenti e ele foi para a sua picape antiga – porém mais conservada do que a minha amada lata velha –, sumindo pela rua e me deixando sozinha na garagem, em completo silêncio, enquanto olhava o meu Mustang 1967 com pesar. Sua pintura, que um dia foi vermelha, me encarava de volta. Opaca, arranhada e sem vida.
Aquele carro era o meu sonho de consumo desde a infância e eu finalmente o encontrei a um preço acessível. Minha mãe titubeou até decidir me dá-lo de presente, afinal, o carro estava tão horroroso que dava dó. Mas o preço estava excelente, porque era de um senhor que havia falecido há um tempo e seus filhos estavam loucos para se livrar do veículo.
Eu amava o meu carro. Ele ainda não andava, mal ligava, mas eu o amava. Iria arrumar o dinheiro para consertá-lo de alguma forma ou não me chamo Adeline Fox.
Entrei no Mustang, passando as mãos pelo meu bebê e admirando cada detalhe. Fiquei ali, ajustando a posição do banco e dos espelhos enquanto me imaginava dirigindo pelas ruas de Carmel.
Eu poderia percorrer a Pacific Coast Highway, admirar a encosta da Califórnia e me sentir como nos filmes bregas que amava assistir. Iria deixar meu rádio no último volume – do jeito que minha mãe odiava quando eu fazia no carro dela – e iria cantar a plenos pulmões.
Isso, é claro... Quando eu tiver dois mil e quinhentos dólares para consertá-lo.
Choraminguei para mim mesma, segurando o volante firmemente e encostando minha testa nele. Respirei fundo, mentalizando que tudo daria certo. Eu daria um jeito, tinha de haver alguma solução ou...
– De qual desmanche você tirou isso?
Sobressaltei e olhei para o lado, vendo Gabriel Lancaster apoiado com os cotovelos na minha janela e analisando meu carro minuciosamente com uma expressão enojada. Bufei irritada, ajeitando a minha postura no banco antes de responder:
– Não tirei de desmanche algum, esse é o meu carro.
– E isso anda?
Revirei os olhos, mas ele nem percebeu, pois começou a dar a volta no veículo lentamente enquanto observava cada detalhe com curiosidade. Ajeitei meus óculos no rosto e saí do carro, fechando a porta com cuidado. Gabriel percebeu e sorriu irônico. Cruzei os braços, esperando-o terminar a sua análise.
Por fim, ele parou na minha frente, apoiou o cotovelo no teto do carro e me olhou com seu sorriso presunçoso. Os olhos azuis me olhavam de cima, sempre com uma ironia que me irritava até os ossos.
– Poderia comprar algo muito melhor. Isso está horrível, Adel – provocou. – Só um milagre poderá salvar esse carro.
– O milagre se chama Billy, mas isso não é da sua conta – respondi irritada, dando-lhe as costas e saindo da garagem.
Tirei o controle do bolso do meu macacão jeans e o levantei no ar, indicando que iria fechar o portão da garagem. Gabriel sorriu lentamente, sem sair do lugar e me olhando como se duvidasse de mim.
Sorri de volta e ajeitei meus óculos no rosto, imaginando mil formas de matar aquele garoto irritante e provocador, enquanto apertava o botão. Quando as portas começaram a descer rapidamente, Gabriel arregalou os olhos e correu, se agachando para conseguir sair, quase sendo esmagado.
Ele apoiou as mãos nos joelhos, respirando com dificuldade, e me lançou um olhar cortante. Sorri satisfeita e guardei o controle no bolso novamente, enquanto voltava a andar em direção a minha casa.
– Você não vale nada, Adel Fox! – gritou.
Gargalhei de forma exagerada e, sem olhar para trás, apenas levantei uma mão no ar e lhe enviei o dedo do meio. Não sei qual foi a sua resposta, mas também não tinha interesse em saber.
Gabriel Lancaster já era insuportável apenas por morar ao lado da minha casa e eu ser obrigada a ver sua cara todas as manhãs, devido à janela do meu quarto ser bem de frente para a sua. Socializar com ele era um castigo muito grande para me submeter por livre e espontânea vontade.
Assim que entrei em casa, encontrei minha mãe, Katherine, na cozinha. Ela cozinhava algo enquanto conversava com Edward, nosso vizinho e pai de Gabriel.
Felizmente, Edward era uma pessoa legal. Eu não conversava muito com ele, mas precisava admitir que o cara nos ajudava muito. Desde que o meu pai foi embora, ele sempre nos auxiliava no que precisássemos. Se tornou alguém de confiança bem rápido.
– Como foi, filha? – mamãe perguntou, limpando as mãos em um pano de prato e deixando a panela de lado. – O que Billy disse?
Fui até a geladeira e peguei uma garrafa de água, enquanto fazia uma careta diante da sua pergunta. Edward me olhava com curiosidade de onde estava, apoiado na ilha da cozinha.
– Problema no motor, na bomba de gasolina e na parte elétrica – respondi, vendo suas expressões esperançosas murcharem lentamente. – Dois mil e quinhentos para consertar tudo.
– Meu Deus... – mamãe murmurou, levando uma mão à testa. – Adel, eu não vou conseguir te ajudar a pagar isso, já tive gastos demais com a compra do carro e o conserto da piscina...
– Relaxa, eu dou um jeito – respondi, bebendo um gole de água e apoiando minha cintura na bancada atrás de mim. – Vou procurar um emprego de meio período ou algo assim.
– Gabriel trabalha meio período em uma cafeteria – Edward falou, sorrindo abertamente com uma ideia que já me assustava antes mesmo de ser dita em voz alta. – Posso perguntar se há uma vaga disponível. É um lugar legal, ele adora trabalhar lá. Pode te ajudar.
Me imaginei trabalhando durante horas ao lado de Gabriel sem poder estrangulá-lo e isso não me animou nem um pouco, porém, era o melhor que eu tinha por hora. Apenas aceitei a ideia e Edward pareceu empolgado por poder me ajudar. Ele prometeu conversar com Gabriel hoje mesmo e me dar uma resposta em breve.
Me despedi dos dois e subi para o meu quarto, arrancando o macacão jeans e largando-o em um canto qualquer, angustiada com o calor que estava sentindo. Fiquei apenas de calcinha e camiseta, me jogando na cama e encarando o teto acima de mim.
Mesmo que a companhia não fosse agradável, eu torcia para que houvesse uma vaga na cafeteria. Céus, isso iria me ajudar muito.
Meu celular apitou e eu o peguei na mesa de cabeceira, sorrindo ao ver que era uma mensagem de Harper, minha melhor amiga. Começamos a conversar e, por hora, eu esqueci a aflição que sentia.
***
Harper fez um biquinho de tristeza, olhando-me com seus olhos cinzas e pidões. Revirei os olhos, sacudindo meu braço para que ela o soltasse, mas não adiantou. Quando queria algo, Harper McClean conseguia ser tão insistente quanto um cachorrinho querendo brincar.
– Eu já falei não – repeti. – Não farei aulas de surf só para te fazer companhia, Harper. Eu nem sei nadar!
– Mas é a única chance que tenho para fazer o Adrian me notar – lamuriou, agarrada ao meu braço enquanto andava ao meu lado até o bicicletário, deixando o prédio do colégio para trás. – Vai que eu me afogo e ele me salva?
Encarei Harper com minha melhor expressão recriminadora e ela revirou os olhos.
– Ok, esse exemplo foi péssimo e eu espero que não chegue a esse extremo... – resmungou. – Mas vai ser legal! É algo diferente, você iria gostar também.
– Ainda acho mais fácil você esbarrar nele em algum corredor e derrubar os seus livros. – Dei de ombros. – Se ele te ajudar a pegar os livros, é meio caminho andado até o seu tórrido romance clichê adolescente. Se ele não ajudar, esqueça esse cara.
– Não é tão simples assim, Adel! – falou, como se chamar a atenção de um cara tendo o rosto de boneca que ela possuía fosse um caso extremamente complicado. – Vem comigo, por favor...
– Tenho coisas importantes para resolver, Harper. Se eu estivesse à toa até aceitaria, mas realmente não posso.
Harper me olhou indignada, formando um "O" com seus lábios.
– Está me chamando de desocupada? – questionou.
Tentei manter a minha expressão séria, mas foi impossível. O sorriso que eu continha escapuliu pelos meus lábios enquanto eu respondia:
– Indiretamente, sim.
Harper me deu um tapa no braço e eu ri, vendo um sorrisinho brotar em seus lábios também. Finalmente chegamos ao bicicletário e eu peguei a chave na mochila, agachando-me para destravar o cadeado. Harper prendeu seus cabelos loiros em um coque no alto da cabeça e tirou seu cardigan roxo, amarrando-o na cintura.
– Eu vou indo – falou. – Nos falamos mais tarde?
– É claro, preciso saber se Adrian a salvou de uma onda perigosíssima e te olhou profundamente, enxergando-te como o amor da vida dele, enquanto te segura nos braços de forma protetora.
Harper me olhou entediada, claramente não achando graça alguma do meu deboche. Por fim, apenas se agachou ao meu lado e deu um beijinho na minha bochecha.
– Se cuida, Adel. Mais tarde ligo para contar como foi – dizendo isso, Harper saiu andando em direção a saída do colégio.
Destravei o cadeado e guardei a chave de volta na mochila. Assim que subi na bicicleta e me preparava para começar a pedalar, um carro preto e conhecido parou na minha frente, impedindo a minha passagem.
Quando o vidro abaixou, Gabriel colocou o cotovelo para fora da janela e me olhou com um sorrisinho nos lábios. Seus olhos estavam escondidos por trás dos óculos escuros. Uma garota morena estava sentada no banco de passageiro, me olhando com curiosidade por trás dele.
Era só o que me faltava...
– E aí, raposinha?
Fechei os olhos por três segundos, sentindo vontade de socá-lo por usar aquele apelido outra vez. Sinceramente, ele nunca cansava?
Fiz menção de virar a minha bicicleta para o outro lado e ignorá-lo, mas Gabriel deu ré com o carro e fui obrigada a parar novamente. Semicerrei os olhos, vendo-o rir com diversão.
– Se acalme, eu vim em paz. Meu pai disse que você está precisando de um emprego. Estou indo para a cafeteria agora, posso conversar com o meu chefe e indicar você.
Arqueei as sobrancelhas, surpresa.
– É sério?
– Claro, por que não? – respondeu, piscando um olho e sorrindo levemente. – Hoje à noite eu te dou uma resposta.
– Ok...
Sem falar mais nada, Gabriel fechou o vidro e foi embora. Eu quis perguntar se ele enfiaria a língua na boca daquela menina que estava ao seu lado antes ou depois do trabalho, mas era melhor ficar quieta.
Isso realmente aconteceu? Fácil assim? Sem joguinhos, provocações e piadinhas? Se isso era real, foi bem legal da parte de Gabriel.
Sorri, me sentindo um pouco mais animada. Evitaria criar expectativas, mas não poderia negar que estava feliz.
Pedalei de volta para casa com mais empolgação do que as minhas pernas aguentavam. Na última ladeira, quando minhas coxas começaram a queimar e minha respiração a falhar, percebi que a felicidade tinha limite.
Desci da bicicleta e continuei andando rua acima, empurrando-a ao meu lado.
***
Eu me empenhava em limpar o painel do carro com um limpador e um pano de flanela, esfregando cada cantinho com cuidado.
Era uma noite quente, o verão já queria dar as caras, então prendi meu cabelo de qualquer jeito e fui à luta. Os tapetes do carro estavam recém lavados espalhados pelo local e o interior do veículo estava totalmente aspirado.
Por fora poderia parecer uma lata velha, mas por dentro ninguém poderia negar que estava lindo e cheirosíssimo. Afinal, o interior realmente estava bem conservado, porque o antigo dono era muito caprichoso com o carro.
O exterior estava lastimável porque, após a morte do homem, seus filhos não se preocuparam em cuidar do veículo, que ficou meses largado debaixo de sol e chuva.
O que deveria ser considerado um crime, diga-se de passagem. Um carro tão bonito...
Eu ouvia o som dos grilos cantando no jardim da frente e a música baixa que tocava em meu celular. Cantarolava "Team", da Lorde, totalmente envolvida até escutar o som de passos se aproximando. Parei o que fazia e coloquei a cabeça para fora, espiando pela porta aberta e vendo Gabriel entrando na garagem.
Ele vestia apenas uma bermuda de moletom e chinelos. Seu peito desnudo capturou meu olhar, mas tratei de desviar rapidamente.
Deixei o frasco do limpador e o pano no banco de passageiro, limpei minhas mãos no short jeans e saí do carro, ajeitando os óculos no rosto. Gabriel parou na minha frente e colocou as mãos nos bolsos da bermuda, carregando um sorriso ao olhar para a minha cabeça.
Meus cabelos com certeza estavam horrorosamente desarrumados e embolados em um coque mal feito e eu suava devido ao calor, mas não me importei. Haviam coisas mais importantes para me preocupar e uma dessas coisas era:
– E aí, falou com o seu chefe? – perguntei ansiosa.
– Sim, conversei com ele... – respondeu devagar, num tom claramente cuidadoso demais para quem daria uma notícia boa. – No momento, ele não pretende contratar mais ninguém.
Meu sorriso murchou e eu suspirei, deixando meus ombros caírem enquanto me apoiava no carro. Passei uma mão na testa, olhando para o lado de fora da garagem. O que eu faria agora? Teria que ir ao centro de Carmel no dia seguinte, bater de porta em porta em cada comércio daquele lugar minúsculo, e implorar por um emprego. Não havia outro jeito.
– Mas eu estava pensando... – Gabriel falou, atraindo a minha atenção novamente. – Você precisa de dinheiro e eu preciso de ajuda.
– Em quê? Nos estudos?
– Não. – Ele jogou o peso de um pé para o outro, parecendo sem jeito. Seu olhar desviou do meu. – Tem uma garota que eu gosto há um tempo e não sei como chamar a atenção dela.
– É só abrir a boca e falar uma de suas asneiras, não tem como não notá-lo.
Gabriel me olhou entediado e eu dei um sorrisinho amarelo. Ele balançou a cabeça negativamente e continuou:
– É o seguinte: você é uma garota, certo?
– Tudo indica que sim.
– Portanto, sabe do que as garotas gostam e não gostam. Certo?
– Tudo indica que não...
– Tanto faz, alguma coisa você deve saber e vai poder me ajudar. – Suspirou. – Eu te pago em troca dos seus serviços.
Arqueei uma sobrancelha, confusa com toda aquela conversa. Gabriel queria me pagar para ajudá-lo a conquistar uma garota? Ele não parecia ter dificuldade com esse tipo de coisa, considerando a quantidade de meninas que eu via em seu carro toda semana.
– Isso parece muito errado... – respondi. – Por que eu faria isso?
– Porque eu preciso de ajuda e você precisa de dinheiro.
Era um bom ponto.
Suspirei e cruzei os braços, desencostando do carro enquanto cogitava seriamente aquela proposta.
– Eu não sou a pessoa mais adequada para isso, Gabriel. Nunca tive um namorado e não sou a garota mais romântica do mundo. Para ser sincera, acho isso uma perda de tempo.
– Namorar?
– Não, se esforçar tanto para namorar alguém agora. – Dei de ombros. – Estamos indo para o último ano do colegial, no próximo ano todos irão embora para a universidade.
Gabriel bufou e me olhou impaciente.
– Adel, eu quero os seus serviços e não a sua opinião – falou, me fazendo levantar as mãos em redenção. – Vai me ajudar ou não?
– É claro, um dinheiro fácil assim não se recusa. – Sorri abertamente, estendendo a mão para ele. – Eu te ajudo a fisgar o coração da pobre coitada e você me ajuda a salvar o meu carro. Não poderia existir acordo melhor.
Gabriel sorriu verdadeiramente, parecendo aliviado. Ele tinha um sorriso bonito. Era difícil vê-lo sorrindo daquela forma, sem o ar irônico de sempre.
Quando selamos o acordo, eu esfreguei minhas mãos uma na outra e o olhei em expectativa.
– E aí, quem será a vítima? – perguntei.
– Karen Baker.
Meu sorriso e expectativa morreram tão rápido quanto surgiram.
Ah, não. Karen Baker, não.
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