Capítulo 46 - Ódio declarado

- Aquele homem é um monstro! - bradou Janelle furiosa com o que Fiona acabou de contar.

- Depois do que ele fez é matá-lo! - rugiu Stephanie igualmente furiosa.

- Tenham calma meninas. - disse Françoise sentada na beira da cama, tentando acalmar as amigas. Depois disso virou-se para Fiona que permanecia deitada e afagou os seus cabelos cacheados. - Mas elas têm alguma razão, o que o duque fez consigo é horrível e pouco importa se é o seu marido ou não.

Fiona suspirou e agarrou a almofada enquanto Françoise continuava a acariciar o seu cabelo, com Janelle e Stephanie à sua volta.

- Por muito horrendo que possa ser não posso fazer nada para mudar. Ele é meu marido e tem plenos direitos sobre o meu corpo. - disse a duquesa com a voz por um fio.

Isto era uma realidade, uma mulher casada tinha o dever de ser submissa ao marido, tinha que lhe obedecer e tinha que permitir que ele reivindicasse o seu corpo quando bem lhe aprouvesse, tudo pela obrigação de dar herdeiros.

- Não pode permitir que ele a possua à força! - disse Stephanie irritada.

Fiona ergue-se e observa a dama com uma expressão vazia no rosto enquanto se apoia num cotovelo.

- Ele é muito mais forte do que eu, eu bem que barafustei e esperneei mas de nada serviu. Além disso eu não posso impedí-lo de fazer o que quer que seja, embora não tenha sido da forma mais correta ele veio ao encontro daquilo a que tinha direto, embora eu não o quisesse.

- Não pode conformar-se com isto Vossa Graça, ele não pode tratá-la desta maneira. - disse Françoise observando-a com atenção.

- E não me conformo, mas não tenho forças para lutar meninas, apenas tento viver os dias não pensando no inferno que vai ser a minha vida. - disse Fiona voltando a deitar-se.

As damas arrancaram Fiona da cama e prepararam-na para o dia que começava. As roupas e assessórios eram mais caros e luxuosos do que aqueles que usou até agora, e isso devia-se ao facto de ter subido de posição social, passou de condessa de Montbéliard para duquesa de Orleans. E como nova duquesa tinha que se apresentar como tal.

Enquanto isto no escritório de Oliver ele e o seu amigo de longa data, o marquês de Cannes Nicollas Dumont, encontravam-se numa conversa acesa.

- Tu possuiste-a à força?! Estás louco? - alvitrou Nicollas fitando Oliver.

O duque suspirou irritado e bebericou o conhaque que tinha no copo em mãos.

- Depois dessa não penses que a vais conseguir conquistar tão facilmente.

- Não é essa a minha intenção. - retrucou Oliver indiferente.

- Ai não que não é! - disse Nicollas em descrença.

- Olha tu pensa o que quiseres! - silvou Bernier engolindo o resto do conhaque num só gole.

Nicollas fitou o amigo enquanto ele pousava o copo e caminhava até à janela. Sabia que Oliver não fazia nada sem um motivo, por muito estúpido ou descabido que ele fosse, e de facto ficou curioso quanto ao motivo que o levou a elaborar uma marosca para tirar Fiona de Versalhes para se casar com ela.

- E o que pensas fazer agora? Porque se depois desta noite esperas ter um casamento normal e ameno então esquece.

Oliver nada respondeu, apenas refletia nas palavras do amigo pois sabia que ele tinha razão.

- Sinceramente não sei.

- Mas o que te deu para violares a miúda? Pois caso não saibas foi o que tu fizeste. - perguntou o marquês començando a tirar o duque do sério.

- Não sei! Não sei o que me passou pela cabeça para fazer aquilo! - explodiu Oliver voltando-se para Nicollas. - Estava possesso de desejo e fui incapaz de me controlar, e quando ela me rejeitou isso só piorou o meu estado.

Nicollas olhava para ele com um olhar divertido, depois desta ele que lhe dissesse que não a queria.

- Hum, e tu que não a queres. Imagina como seria se a quisesses. - provocou o marquês e o duque lançou-lhe um olhar mortífero.

A verdade era que Nicollas estava a adorar tirar o amigo do sério.

- Tu queres enervar-me Nicollas? - perguntou Oliver ameaçadoramente.

- Claro que sim! - respondeu o marquês jovial e o duque bufou irritado. Tinha que aprender a escolher as amizades.

Sairam do escritório e dirigiram-se ao andar de baixo, caminhavam lado a lado pelo corredor quando ouviram vozes femininas no corredor em frente, parados à escuta Oliver identificou as vozes de Fiona e das damas de companhia dela. Puseram-se à espreita e viram Fiona na companhia das damas a atravessar o corredor, a duquesa usava um vestido dourado com decote em barco e mangas justas, as saias tinham dois folhos bufantes de lado presos ao espartilho e folhos em renda e seda dourada com filigrana bordada à mão nas suas várias camadas. O cabelo estava preso num penteado alto com várias tranças e cachos presos ao longo do mesmo com três pequenos cachos soltos junto à nuca e plumas presas na lateral. Estava linda.

As quatro passaram por eles sem notarem a sua presença, quando Oliver fitou o amigo este olhava descaradamente para Fiona com um ar embasbacado e aparvalhado. Deu-lhe um tabefe na nuca despertando-o do seu transe.

- Para quê que foi isso?! - protestou Nicollas esfregando a nuca.

- Para ver se deixavas de olhar para a minha esposa com um cão olha para um osso! - retrucou Oliver e Nicollas deu um sorriso matreiro.

- Ui ciumento. - disse o marquês para provocar. O duque limitou-se a caminhar ignorando o amigo.

Sinceramente não sabia como era capaz de o aturar, mas nalgumas coisas que ele disse até tinha a sua razão, como por exemplo não ser capaz de manter um casamento harmonioso com Fiona depois da noite passada. Não sabia o que lhe passara pela cabeça ao fazer as coisas daquela maneira, mas depois de duas semanas de rejeições sucessivas por parte dela a verdade é que isso fê-lo soltar o seu pior lado, e temia não ser capaz de o conter.

Oliver era o tipo de homem que não gostava de ser contrariado nem desobedecido, e quando Fiona o desafiou dizendo que ele nunca lhe tocaria isso certamente não o agradou. Ela era uma mulher delicada mas que era capaz de tirar um homem do sério apenas com o ar da sua presença, e foi isso mesmo que ela fez.

Quando a viu pela primeira vez soube que ela teria que ser sua, um sentimento de posse assolou o seu corpo e o raciocínio lógico deu lugar ao impulso, mas quando descobriu que ela dormia com o rei sabia que não tinha como competir. Usou da inteligência e aproveitou as oportunidades quando estas surgiram, e com a aproximação amistosa que introduzira com ela pensou ser um bom primeiro passo para amenizar o que viria a seguir, mas estava redondamente enganado.

Ela odiava-o, agora ainda mais com certeza, e viu isso na sua expressão facial quando se sentou à mesa para o pequeno almoço. Ela mal olhava para si, e quando o fazia emanava um onda gigante de ódio e desprezo. Não a podia censurar quanto a isso pois estava no seu direito. Mas frustrava-se com isso, pois tê-la e ser desprezado e não tê-la era praticamente o mesmo.

Residência do cardeal, Bordéus...

Kira lia com deleite a carta que Catherine lhe enviara a contar as últimas novidades, e mais contente ficou ao ver que tudo correu como ela esperava. Agora Fiona estava fora de cena e Kira entraria para o próximo ato.

Na carta Catherine dava a entender a sua inimizade pela nova duquesa, confidenciou que estava de mudanças para Orleans para tomar o lugar de amante do duque e disse que tencionava esfregar essa posição na cara de Fiona sempre que pudesse. Embora essa informação lhe fosse totalmente irrelevante, ficou satisfeita por saber que tinha alguém tão empenhada em tornar a vida de Fiona num autêntico inferno como ela. E sabia que Catherine seria capaz disso.

Agora tudo na sua vida começava a tomar um rumo que lhe agradava, Fiona estava longe de Versalhes e Louis estava livre, mas em breve iria recebê-la nos seus braços e iriam governar juntos e finalmente formar um casal de verdade. Ansiava isso à muito tempo e finalmente iria concretizar-se.

Fitou de novo a carta e para as suas letras escritas com desleixo típico de alguém pouco instruído, ignorou essa parte e focou na parte em que dizia:

"... em breve estarei em Orleans para ser amante de Oliver, eu sei que Fiona o rejeitará no leito conjugal e estarei eu para remediar o assunto. Irei aproveitar esta oportunidade para esfregar na cara dela tudo o que fizermos, e garantirei que ela mesma nos veja vez ou outra para ver quem é capaz de proporcionar prazer a sério a um homem. Garantirei que a vida dela seja um inferno e não deixarei que ela tenha um momento de felicidade nesta casa."

A rainha sorriu diabolicamente com o conteúdo do parágrafo desejando ver ao pormenor o sofrimento da Fiona. Fitou novamente a carta sabendo que não tinha que se preocupar com a infelicidade da duquesa, visto ter encontrado a pessoa ideal para proporcioná-la.

- Espero mesmo que lhe enfernizes a vida cara Catherine. - disse ainda a observar a carta. - Agora, vou preparar o meu regresso a Versalhes, e mal posso esperar por isso.

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