Capítulo 37 - Ferro e pólvora


Louis, Fiona, Chadd e Anastácia foram levados para o exterior do recinto do palácio, nessa altura a corte e alguns membros do povo amontoavam-se para ver o que passava.

Fora dos portões do palácio estavam alguns dos colaboradores de Zac e Michel prontos a intervir quando lhes fosse permitido, já no interior do recinto do palácio o pandemónio estava formado. Os protestantes que agarravam no rei, no príncipe e nas damas fizeram-nos ajoelhar-se e o burburinho instalou-se entre os nobres e os plebeus.

- Nunca pensei que teria os meus irmãos aos meus pés, e gosto bastante da sensação de poder e superioridade. - disse Zac divertido com a situação. Louis e Chadd entreolharam-se com a mesma expressão impassível mas dura e fitaram as damas que derramavam lágrimas de aflição.

- Oh Fiona não chores, eu não queria ter de fazer isto mas tem que ser. - disse Zac com uma falsa careta de mágoa tocando no seu rosto.

- O mesmo vale para ti Anastácia. Não quero ver um rosto tão adorável banhado em lágrimas.

Mesmo tentando ser forte a verdade é que não dava para conter as lágrimas diante da perspetiva nítida da morte. Era um cenário de horrores, e ainda mais intimidante era pelo facto de haver tanta gente a ver e a comentar.

- Povo de Versalhes! Deveis querer saber o que se está a passar, e de bom grado eu vos esclarecerei! - começou o príncipe dirigindo-se ao povo como um patriota exibido. - O que se passa é que finalmente terei aquilo que o meu pai queria me deixar mas não pôde devido à tradição. Estou a referir-me ao trono da França. Louis tomou-o de mim por ser o primogénito mas isso vai acabar hoje.

Os presentes recomeçaram com o burburinho mas depressa calaram-se ao ver que Zac continuaria a falar:

- Quanto a Chadd apenas o elimino também para garantir que a coroa não me é usurpada por ele. Agora as damas serão sacrificadas pela ligação que têm aos meus irmãos: Anastácia porque é esposa de Chadd e Fiona... Porque é a amante secreta de Louis.

Expressões de surpresa ouviram-se pelo grupo após a menção da amante do rei, neste momento olhares de desdém e reprovação dos nobres atingiram-na como flechas bem afiadas e Fiona não pôde sentir-se mais humilhada do que já se sentia.

- Rameira! - gritou alguém que Fiona sabia bem ser da corte.

- Vadia!

- Porca!

E os insultos continuavam, porém somente as cortesãs se manifestavam, isto até Zac pedir silêncio novamente. Nessa altura Fiona chorava abundantemente totalmente humilhada. Louis olhava para ela desolado por tudo ter sido descoberto desta forma.

- Ela pode ser isso tudo mas não é uma prioridade. O caso de Louis e de Fiona de Montbéliard já dura há quatro meses se não me engano. Há cinco que Fiona cá está, e muito conveniente ter sido descoberto que ela era condessa de Montbéliard. O rei e a condessa, que bonito.

- Onde é que queres chegar com essa palhaçada toda?! - perguntou Louis irritado. - Já não basta quereres nos matar ainda tens que a humilhar!

- Tens razão, estou aqui a divagar. Vamos ao que é importante.

Zac fez sinal para que Louis fosse levado até a um poste de madeira onde foi amarrado de modo a não escapar. Fiona susteu a respiração enquanto ainda sentia os olhares em cima de si. Sentia-se agoniada e aterrorizada quando Zac expôs a arma reluzente e aproximou-se de Louis.

- Sabes que os sonhos torna-se realidade? - perguntou olhando para Louis com crueldade. - O meu está quase a concretizar-se, para isso basta eu usar esta arma com a finalidade para a qual foi fabricada.

- Eu até dizia que a minha morte iria pesar-te na consciência mas lembrei-me que isso não vai acontecer. Para além disso não podes sentir remorsos no coração visto que não o tens. - alfinetou Louis e Zac sorriu diabolicamente.

- Ora aí está uma grande verdade.

- Não te assusta o facto de que podes ser preso por assassinares o rei? Ainda por cima com tanta gente como testemunha? - perguntou Chadd.

- Quando Louis morrer o rei serei eu, e tenho a certeza que ninguém se atreverá a prender o futuro rei. - esclareceu Zac cheio de si.

- Presumo então que acreditas que a tua missão será bem sucedida é isso? - perguntou Louis calmo.

- Claro que sim! Olha bem para nós, é obvio que eu estou em vantagem! - disse Zac animado e em alto e bom som. - Vejam bem povo de Versalhes, o vosso rei todo poderoso prestes a morrer nas minhas mãos. Não estás com medo de morrer Louis?

- Uma pessoa não deve ter receio de morrer mas sim receio de matar. Um rei está disposto a morrer pelo povo seja em que circunstância for se esse for o caso. - respondeu Louis com voz grave e incisiva.

Zac fitou-o com uma falsa cara admirada, e divertia-o o facto de Louis ainda em desvantagem querer parecer corajoso.

- Olha ainda bem que não temes a morte, assim é da maneira que tornará tudo menos penoso.

E sem aviso prévio e espaço para qualquer reação Zac dispara sob a perna de Louis à queima roupa. Mas será que ele gritou de dor? Nada disso, sendo um osso duro de roer, Louis expressou uma careta de dor mas não expressou qualquer grito ou exclamação que mostrasse a dor latejante na perna alvejada.

Fiona solta um grito horrorizado quando Zac dispara sobre Louis, ele estava a agonizar com dores mas não dava o gosto a Zac de expressar a sua dor em palavras ou interjeições, algo que o desconfortou de facto.

A seguir Zac deu a ordem de amarrarem Chadd ao poste ao lado de Louis, Anastácia observa a cena aterrorizada e chorosa ao lado de Fiona que compartilha o mesmo sentimento, isto enquanto observa o sangue a escorrer pela perna de Louis através do buraco da bala.

- Enquanto Louis se arma em valentão e agoniza ali ao lado vamos tratar de ti maninho. - explicou Zac com um sorriso cruel e olhar sádico.

Fez com Chadd o mesmo que com Louis, disparou sob a perna exibindo um olhar sereno. Chadd urrou de dor mas calou-se em seguida, e tal como Louis, agonizava com a dor.

O cheiro a pólvora impregnava o ar causando náuseas a Fiona, olhava para Louis que tentava aguentar a dor esforçosamente com o corpo inclinado para a frente. E foi apenas um disparo, imagina quantos virão ainda.

Louis olhou para Fiona e ergueu-se aos ofegos encostando a cabeça ao poste de madeira ao qual estava preso. Era doloroso vê-lo daquela maneira, mas mesmo com dores Fiona via nos olhos do rei um pedido para manter a calma e uma garantia de que tudo ia correr bem. Mas não estava tão certa disso.

- Louis... - disse num sussurro chamando pelo amado.

- Caluda! - bradou Zac que disparou a arma na sua direção, acertando no chão a centímetros da sua perna. Soltou um grito enquanto chorava inclinada na direção de Anastácia.

Viu um homem encapuzado pegar num ferro e aquecê-lo na fogueira que fora acesa, na ponta do ferro estava um círculo com um x no centro de modo a permitir que este ficasse preso à vara principal. Quando a ponta ficou vermelha entregou-o a Zac que fitou os irmãos com o mesmo olhar sádico.

- Vamos lá dar continuidade a isto, já vos dei um tempo para se recomporem e foi mais do que suficiente.

Caminhou na direção de Chadd.

- Apenas para o Louis não ser sempre o primeiro. - explicou subindo a camisa expondo o braço do irmão.

Quando Chadd sentiu o ferro escaldante ser encostado no braço não conseguiu conter os gritos de dor ao sentir a pele a ser queimada. Os gritos dele vinham acompanhados dos da esposa ao ver a expressão de agonia no rosto do marido.

Zac fez mais um pouco de pressão sobre ele deleitando-se com o som dos gritos do irmão. Retirou o ferro observando a marca em carne viva no seu braço, e dirigiu-se a Louis após entregar o ferro ao homem encapuzado para o aquecer de novo. Mas em vez de ir até Louis virou-se de costas e caminhou até Fiona.

Pegou na condessa pelo braço e trouxe-a até perto do rei e do duque e fê-la ajoelhar-se, de lado para eles e de frente para si. Louis debateu-se para se soltar mas a dor na perna fê-lo parar. Com o ferro quente novamente em mãos encaminhou-se até Louis.

- Observa bem minha linda, e vamos ver se o teu amorzinho é assim tão forte e de fibra rija. - disse Zac levantando a camisa do rei expondo o seu abdómen e encostando lá o ferro.

Tal como Chadd ele não aguentou o ardor e urrou de dor, Zac sorria diabolicamente enquanto Fiona gritava para ele parar enquanto era segura por dois brutamontes, mas ele não parava.

- Ah agora já gritas, não és tão forte assim não é maninho?! - ironizou Zac.

- Pelo amor de Deus para com isso! - gritou Fiona desesperada.

Zac olhou para ela e sorriu docemente.

- O seu desejo é uma ordem minha bela dama. - disse e desencostou o ferro enquanto Louis recuperava o fôlego.

Olhou novamente para Louis, e este sentindo o olhar da dama fitou-a também. Vendo a expressão descolsolada no seu rosto deu um sorriso fraco tentando reconfortá-la, sem sucesso.

Vendo Fiona e Louis entreolhando-se Zac logo ficou furioso, não gostava nada do amor que deles emanava pois queria que fosse ele e Fiona, não ela e o seu maldito irmão mais velho.

- Vamos fazer uma pausa na tortura e mudar de alvo. - disse Zac fazendo os quatro fitá-lo. - Porém agora não será nada feito pelas minhas mãos.

Os quatro fitaram-no com olhares confusos mas tudo ficou esclarecido quando Michel pegou numa espada e, com a indicação de Zac, encaminhou-se até Fiona.

- Já deu para se perceber que Louis não é de ferro, agora vamos ver até onde ele aguenta a verdadeira dor. - explicou Zac fitando o irmão com um sorriso vitorioso.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top