Capítulo 16 - Votos de castidade leva-os o vento
Entrou de rompante no seu quarto apressando-se a fechar e trancar a porta logo depois. Levou as mãos ao cabelo e deu voltas e voltas ao quarto completamente alienada e nervosa com o que se passara à instantes atrás.
Como é que pode esquecer o facto de que ele era o rei? Pior, como pode se esquecer de que ele era casado e que a esposa era pior do que o demónio? Agora é que estava metida num sarilho, e dos grandes!
- E agora, e agora?! Quando ela souber, porque com certeza ela vai saber, vai esfolar-me, estripar-me, esquartejar-me e sabe-se lá mais o quê! Não! Ela não vai saber, basta agir como se nada tivesse acontecido, assim ela não descobre. - disse Fiona sem saber se acreditava ou não no que dizia.
Ainda estava alienada com o que aconteceu, foi tudo tão breve mas tão intenso. Não sabia o que pensar ou o que sentia, era tudo tão confuso que não era capaz de organizar as suas ideias e sentimentos, se é que os tinha. Nem isso sabia sequer!
Retirou o vestido e o espartilho, vestiu a camisa de noite e deitou-se puxando as cobertas até ao pescoço aconchegando-se a sí e à sua alma agitada.
No escuro do quarto, já com a roupa de dormir, Louis continuava inquieto a pensar em Fiona e no que aconteceu. E pensava ele que ela se mostraria recetiva às suas atitudes, ela até correspondeu quando a beijou, ouviu com deleite o seu arfar, os seus gemidos, e como ela o agarrava, tudo isto para ela no final o rejeitar e fugir. Será que ela se sentiu intimidada? Ou arrependida? Era tudo o que queria saber.
Desde que ela atravessou as portas do palácio que ele nunca mais teve nenhuma amante no seu quarto nem na sua vida, dispensou-as pois não queria nenhuma outra mulher quando já tinha uma na cabeça. Mas que Fiona não pensasse que desistiria só porque ela o afastou, porque sem dúvida alguma não o faria. Conseguia ser persistente quando queria algo e nunca desistia, e com certeza não era agora que iria mudar.
A sua apresentação na corte seria amanhã, com isso algumas coisas mudariam, se já aqui os homens a olhavam com cobiça então imagina como os nobres e cortesãos a olharão, olhá-la-ão como quem olha para uma deusa, uma jóia rara, um objeto valioso e exótico. Quem sabe se um deles acaba por encantá-la e cortejá-la? Ou por pedí-la em casamento? E se ela aceitar? E se não aceitar? Eram tantas as perguntas e não tinha resposta para nenhuma.
Não deixaria que nenhum homem pusesse as mãos em Fiona, nem que para isso tiver que cortar as mãos de todos os homens da corte, certamente que um homem maneta não serve para muita coisa. Riu com o seu pensamento mórbido, mas era algo a ponderar.
- Oh Fiona Fiona, não penses que te livras de mim, e vou descobrir o que se passa nessa cabecinha linda. - disse Louis deitando-se de barriga para cima preparando-se para dormir.
No meio da escuridão do bosque de Paris, Kira cavalgava silenciosamente por entre os arvoredos com a luz da lua a iluminar o caminho. Saiu do palácio silenciosamente pela calada da noite indo pelo ao bosque no sentido norte do rio Sena, ao encontro de alguém que já devia estar à sua espera.
Desceu do cavalo e prendeu a cela num ramo de árvore próxima, depois caminhou até a um casebre abandonado e mal iluminado. Dentro do casebre algumas velas tremeluziam e Kira retirou o capuz da capa, a cada passo que dava uma tábua de madeira do chão rangia causando-lhe arrepios.
- Está aqui alguém? - perguntou Kira.
Tudo o que ouviu foi o eco da sua voz.
- Está aqui alguém ou não? - perguntou novamente.
- Majestade. - disse um homem que usava uma capa vermelha sobre a túnica da mesma cor.
- Cardeal! Já pensava que não estava aqui.
- Lamento se a assustei e demorei a aparecer. - desculpou-se o cardeal.
- Não há problema, vamos logo ao assunto que nos trouxe aqui.
- Com certeza, mas porque se quis encontrar aqui neste lugar tão inóspito e isolado?
- Para garantir que ninguém nos ouça. Mas voltando ao assunto, o nosso plano não funcionou. A sua conversa com o rei não surtiu efeito pois ele continua irredutível quanto à questão de consumar o casamento.
- Então não funcionou hum. - disse o cardeal coçando a barba rala. - Então teremos que tentar outra tática para conseguí-lo.
- Teremos que tentar qualquer coisa, mas temos que ser cautelosos pois eu creio que Louis já começa a desconfiar de algo. - advertiu Kira. - O problema é o que faremos em seguida. Não tem nenhuma ideia?
Fitou a paisagem noturna lá fora, ouviu o barulho da água do curso do Sena e pensou por instantes.
- Para já não tenho nenhuma, mas podemos começar por garantir que o rei não tem mais nenhuma mulher na sua vida. A partir daí veremos qual o próximo passo. Usar a sedução é sempre uma opção.
- Mas neste caso não é, já tentei várias vezes mas ele dá-me sempre a indiferença e o desprezo. Sinceramente já nem sei o que fazer para salvar este casamento. - explicou Kira aborrecida.
- Mas ele não lhe deu o benefício da dúvida ou algo que lhe permita mostrar que está disposta a mudar e a mostrar-se uma boa esposa?
- Sim, disse que não anulava o matrimónio se eu me mostrasse mais bondosa com os criados. - cuspiu Kira com desprezo.
- Então faça-o. - disse o cardeal e Kira revirou os olhos. - Se mostrar um melhor tratamento para os criados o rei vê que está a mudar e talvez lhe comece a dar mais atenção.
- Não sei se conseguirei, terá que ser com um esforço descomunal. - disse Kira com nojo na voz.
- Não custa muito ser simpática, basta ser cortês e bem educada, a partir daí não será difícil. O próprio disse-me que se fosse necessário enviaria uma carta ao papa a solicitar a anulação, mas nós não deixaremos que isso aconteça.
Kira fitava o cardeal com curiosidade, era verdade que ele estava a ser recompensado pela ajuda que lhe fornecia, mas ficava curiosa como ele estava a levar esta questão a sério.
- Diga-me uma coisa eminência, e quero que seja totalmente sincero comigo. Porque me está a ajudar tão dedicadamente neste assunto?
Virou-se para a sua rainha e olhou-a atentamente, tão bela mulher não devia ser ignorada pelo marido, devia ter um homem que a tratasse como uma rainha e que lhe desse tudo o que ela merecia.
- Porque estou a ser bem recompensado pela ajuda que lhe estou a prestar e porque tenho total interesse neste assunto, pois se o casamento terminar vossa majestade terá que regressar a casa e eu não voltarei a ver tão formosa dama.
Kira deu uma risadinha com deleite e pôs-se a caminhar pela sala diminuta enquanto o cardeal a seguia com o olhar sem perder um único movimento seu.
- Ah vossa eminência, eu conheço-o muito bem e conheço a vossa fama. Sei bem que já quebrou os seus votos de castidade muitas vezes, e com várias cortesãs aqui da corte de Versalhes. - disse Kira virando-se de frente para ele e aproximando-se.
- Não pense que eu sou o único dentro da igreja católica que não foi fiel aos seus votos. - advertiu o cardeal.
- Sei que não. Vossa eminência é um mau exemplo para o Vaticano, mas pelo que ouvi é muito bom a dar prazer às damas.
O cardeal riu com deleite mas a postura de Kira não se alterou.
- Posso dizer então que tenho fama na corte. - disse satisfeito.
- Não se devia gabar, imagine que esta informação de algum modo chega ao Vaticano, isso não seria bom para sí, poderia ser destituído do cargo de Cardeal e até excomungado da igreja. - advertiu Kira e o sorriso quase abandonou o rosto do cardeal. Quase.
- Isso só acontecerá se alguém o comunicar, e creio que tal não vá acontecer.
- Reze por isso. Mas eu até compreendo os elogios das cortesãs, sois um homem na flor da idade, jovem, vivaz e eu até aprecio estas características num homem. - disse Kira com um olhar ardiloso. - E estou sempre disposta a novas experiências.
Se há coisa que ele nunca foi é burro, e percebe muito bem uma indireta ou frase com segundo sentido, por isso aproximou-se da rainha erguendo-a e colocando-a no sofá mais próximo. Com uma pressa invulgar apressou-se a erguer o vestido de Kira, a baixar o espartilho e a subir a sua túnica, preparado para proporcionar prazer a ambos num lugar onde certamente ninguém os escutaria.
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