Serena
9 Anos atrás.
Meu passatempo favorito era visitar a família Bass quando Chuck estava acompanhado de seu melhor amigo, mesmo que na maioria das vezes, eu não consiga me entrosar o suficiente para ser notada. Garotos tinham assuntos entediantes. Ainda assim, os olhos azuis de Nate Archibald faziam valer meus momentos de silêncio, eram suficientes para desestabilizar minha habitual falação. A Serena desinibida deixava lugar para uma Serena tímida e gaguejante, frustrante né?
No auge dos meus treze anos, Chuck já havia revelado — muito orgulhosamente —, a experiência de ter beijado algumas garotas durante suas aulas de teatro. Uma certa rotina era estabelecida nos momentos em que eu visitava o lar dos Bass: ficava o mais calada possível enquanto observava a interação entre Nate e seu violão, ou quando escutava atentamente as conversas que ele tinha com Chuck, fazendo o máximo para conseguir manter neutralidade.
Houve um dia em que cheguei para minha visita, e para minha surpresa, Nate estava sozinho na sala. A postura relaxada enquanto dedilhava as cordas do violão, mostrava que ele não havia notado minha presença. Aproveitei aquilo para absorver tudo que conseguiria de sua aparência fenomenal: O cabelo num tom de loiro escuro, diferente do meu loiro vivo, estava uma bagunça atraente, das várias vezes que suas mãos o despenteava. O corpo alto e magro, com alguns indícios de músculos cobertos pelas assíduas camisas pretas, jeans escuros e tênis. A luz de fim de tarde que batia na janela, refletia nos seus impressionantes olhos azuis. Isso sempre me fazia lembrar da última viagem à Cancun que fiz com minha família.
A voz rouca e suave que saiu dos lábios de Nate, me despertou da minha rigorosa inspeção a respeito de sua aparência. A música era desconhecida para mim, mas não fez diferença nenhuma, mergulhei em cada verso. Os olhos fechados do meu futuro-namorado-noivo-lindo-pra-cacete, demonstravam o quanto ele conhecia de cor cada nota do violão, e o ritmo preguiçoso deixou bem claro o quanto ele estava submerso num universo particular. Nate seria um cantor incrível, se decidisse seguir o caminho da música. Não tinha ideia sobre em que momento minha queda por ele se tornou cair de um penhasco, mas naquele instante, eu daria toda minha coleção de bolsas chanel por um beijo.
— Serena. — Nate falou, rápido demais. Assim que a música terminou, ele provavelmente notou que eu estava encostada no batente da porta, com os olhos fechados igual uma idiota. — Não te vi aqui.
— Hm... Acabei de chegar, não quis interromper. — Minha voz saiu incerta demais, era uma droga carregar todo esse nervosismo.
— Tudo bem, não se preocupe. Desculpe por te obrigar a ouvir esse agouro. — Ele deu uma risadinha enquanto colocava o violão encostado na parede. Nate estava bem mais alto desde que nos conhecemos, quando éramos crianças. Apesar da nossa diferença de idade, conseguíamos manter uma igualdade de tamanho, mas isso evidentemente, ficou para trás.
— É, hm.. Imagina, não precisa se desculpar. Eu gostei muito.
— Até parece. — Incerteza passou pelos seus olhos. Eu como fiel espectadora, sabia ler seus movimentos corporais e expressões faciais como ninguém, mesmo com os poucos diálogos trocados. — Vamos fingir que nunca escutou nada, ok?
— Não vou contar para ninguém então. — Nate soltou um suspiro aliviado ao ouvir minha resposta.
— Valeu, Serena. — Passou por mim e deu um tapinha no meu ombro. — Estou indo nessa, tenho compromisso daqui a pouco. Chuck está tomando banho, já deve descer. Tchau. — E se foi.
Podia até parecer uma conversa desinteressada ou sem relevância, mas para mim, aquilo era tudo. Eu estava guardando um segredo para Nate Archibald, ele confiava em mim para essa tarefa. Provavelmente pensaria em mim todas as vezes que quisesse cantar em algum lugar que não a solidão do próprio quarto, pois ficaria com medo de ter companhia como aconteceu hoje. Isso remeteria a mim, Serena Van Der Woodsen. Nate não tinha noção do quanto nosso relacionamento baseado em confiança e guardar segredos evoluiria para uma cerimônia de casamento ao pôr do sol. Ok, talvez não tenha sido tão importante para ele essa recente interação, mas a primeira opção segue sendo a que escolho me apegar.
...
— S, precisamos de uma opinião feminina. — Chuck falou. Ele e Nate estavam discutindo havia algum tempo, mas me distraí escolhendo um tom de batom ideal para usar no jantar de aniversário que minha mãe estava organizando.
— O que foi?
— Nate marcou um encontro com uma garota, mas quer ir usando esses trapos góticos, ele realmente não parece ser melhor amigo de Chuck Bass.
— Vanessa me conheceu usando essas roupas, Chuck. — Nate rebateu, mas meu cérebro ainda estava processando a ideia dele ter um encontro marcado. Com outra garota.
Eu realmente acreditava que todas as vezes em que Chuck falava sobre garotas e Nate não tinha esse tipo de novidade para contar, era porque estava afim de mim e não tinha coragem de falar sobre isso. Que tola.
— Ok, meu amigo. Esse olhão azul impressionou a Vanessa, mas vai precisar de mais para manter a opinião. Pode pegar alguma coisa no meu armário, estou dando passe livre.
— Sem chance, Bass. Não vou sair igual um almofadinha daqui, fora que seu cabelo deve ter mais gel que a loja de cosméticos do Superman.
— Pode caçoar a vontade, eu tenho uma lista de garotas que aprovam minha aparência. Você segue celibatário, acho que descobri a razão. — Chuck estava determinado a defender seus argumentos. Nate tinha o riso debochado de sempre. Meu coração despedaçado no meio dessa conversa toda.
— Não sou celibatário, apenas estava esperando uma garota legal, que eu conheça e que me conheça também.
— Esse papo não me convence. Se o ponto é conhecer, por que não saiu com a Serena nunca? Ela te conhece mais que sua mãe, pelo tempo que passa com a gente. — A pergunta de Chuck não foi séria, sobre sair comigo, era apenas para questionar a justificativa de Nate. Ainda assim, ele perguntou exatamente o que havia passado pela minha cabeça.
— É totalmente diferente. Serena é nossa amiga, além do mais, não faz o meu tipo. Sem ofensas Serena, mas somos bem incompatíveis, você já sabe disso. — Nate tinha o tom leve de sempre. Se fosse Chuck falando aquilo, não me abalaria. Como ele podia falar de compatibilidade se nunca me deu a oportunidade de conversar? Ok, oportunidades não faltaram, eu que sempre me retraí.
— Não ofendeu. — Eu era melhor atriz que Chuck, quando necessário. — Acredito que suas roupas não vão influenciar negativamente. Se estamos falando sobre conhecer o outro, mudar o estilo que gosta para agradar, seria um pouco desonesto. — Foram as primeiras palavras que consegui falar com convicção e sem gaguejar. O modo Serena Van Der Woodsen de lidar com decepções era sendo frio e indiferente. — Óbvio que depende do momento, essa roupa está legal para um encontro em lugar informal, como um cinema.
— Não vou aceitar sair perdendo totalmente dessa discussão. Arrume o cabelo então, Nate. — Chuck estava revirando os olhos.
— Não sei bem como fazer isso, e nem tente se oferecer para ajudar, Chuck. — Nate falou, receptivo à ideia de arrumar a bagunça em sua cabeça. Eu não mudaria um fio de cabelo, só conseguia imaginar minhas mãos ali. — Serena, você pode me dar uma ajudinha?
Droga de momento que aceitei ajudar a arrumar o cabelo de Nate. Ele estava sentado num banquinho no quarto de Chuck, com as pernas dobradas e abertas. Estávamos mais perto do que todas as vezes que consigo me lembrar, meus dedos trabalhavam com o gel e seus fios loiros. Tentava manter a concentração, mesmo com aquela respiração tão próxima e os olhos focados em mim. O resultado foi o mais perto de um topete arrumado, estava realmente incrível sem todo aquele cabelo no rosto.
— Valeu, Serena. Você é demais. — Nate falou, observando o reflexo no espelho.
— De nada. — Coloquei as mãos nos bolsos da minha saia jeans, tentando forçar um sorriso. — Espero que se divirta hoje. Tenho que ir para casa.
Minha casa uma ova, depositaria minhas frustrações na minha síndrome consumista. Estava me sentindo chateada por não ser o tipo de Nate, mesmo fazendo o máximo para estar impecável em todas as vezes que nos vimos. Mesmo que a aparência não seja o suficiente, estava aborrecida por não ter tido a chance de mostrar que poderia ser uma boa companhia de diálogos também. Perdi tempo demais tentando ser notada, e o pior é que não posso xingar Nate como se ele fosse um cara escroto, porque não era nada disso.
Oi gente, esse capítulo faz parte da fanfic Serenate que estou desenvolvendo, fica aqui como degustação. É um romance paralelo ao da Blair e do Chuck, então nossos atuais protagonistas estarão muito presentes nessa história também. Deixem a opinião, se tiverem ficado interessadas, escreverei com muito carinho!
xoxo, gossip girl.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top