3
Keiko
Estava crente que morreria ali, lutando para proteger minha irmã daqueles lobos, estavam tão prontos para atacar quanto eu. Não queria demonstrar, mas estava tremendo mais que gelatina e rezava para esse momento nunca chegar.
— Pessoal não queremos confusão. — A voz de minha irmã soa calma atrás de mim.
Além do medo, a sensação que tenho estando na frente desse lobo, é a mesma que tive na luta agora pouco e espero que não seja aquele cara. Assim que ele subiu no ringue, percebi que era como eu, apesar de me sentir intimidado por sua presença consegui dar uma surra nele. Porém, se for mesmo, agora me mata.
Ele é maior que os outros, de pelagem preta e os olhos tão escuros quanto os de minha irmã. Os demais, acredito que sejam seus betas, rosnam impaciente, enquanto que o alfa nos encara, até bufar e abaixar as orelhas. Fico um pouco mais aliviado quando percebo se transformar, a pelagem sumindo e tomar a forma humana, no instante que se ergue do chão me encarando com superioridade, confirmo minha suspeita. Como disse Ayla, é o monstrengo.
— Só pode ser brincadeira. — Ela resmunga.
— Por favor rapaz, volte a forma humana e conversaremos.
O cara é educado, chega ser estranho comparado com os que já esbarramos, mas faço o que pede. Sentindo meus ossos se contraírem com meu desejo e os pelos sumindo, me levanto já como um humano e o encaro.
— Então você é o ômega que estamos procurando a dois dias. — Constata.
Sua voz é autoritária, o cara é um pouco maior que eu e me sinto acuado. Olho para Ayla rapidamente que está atenta nos betas que também se transformam, todos eles estavam no salão de luta, por Selene, preciso ser mais cuidadoso.
— Olha cara, nós já estávamos indo embora. — Me apresso em dizer. — Só estamos de passagem.
— Vieram de onde? Quem são? Fugiram da alcateia?
Sua pose é descontraída apesar dos braços cruzados, seu olhar alterna entre mim e minha irmã, ela resmunga pelas várias perguntas e a encaro repreendendo. O que menos precisamos agora é que ela de uma de bocuda e nos coloque em mais encrenca.
— Nós não temos alcateia, só viajamos pelo mundo. — Digo.
— Certo, posso saber seus nomes?
Ele tomba a cabeça prendendo sua atenção em Ayla, a encaro e está envergonhada. Não é a primeira vez que ele age assim perto dela, me coloco em sua frente e uma de suas sobrancelhas se erguem para mim.
Não nego que minha irmã tem uma beleza extravagante, só que ele está passando dos limites com esse monte de encaradas. A garota é tudo o que tenho então não é à toa que me coloco na frente dela em qualquer ocasião e até mesmo quebrar o nariz de um humano.
— Sou Keiko e essa é minha irmã, Ayla.
— Me sigam.
Simplesmente diz em um tom eminente e se vira sumindo por entre as árvores, me viro para Ayla que está surpresa. Em meus pesadelos eu já estaria morto e minha irmã sendo usada para um ritual maluco de magia e não isso.
— É sério isso? Eles nos cercam e depois só diz "me sigam"?
Pergunta exasperada sem se preocupar que ainda estamos cercados.
— Ayla, por favor. Já poderiam ter nos matado. — Tento soar calmo. Apesar de meu lobo querer estar seguindo o cara, meu lado humano está crente que é uma armadilha.
— Está mesmo querendo ir atrás dele?
Ela se afasta com os olhos arregalados apontando para o cara. Nem eu sei como reagir a isso. Queria pegar nossas coisas e dar o fora, encontrar outro lugar para nos esconder e dormir em paz.
— Vocês não têm outra opção, nenhum lobo solitário consegue desobedecer a um Alfa Supremo. Andem logo que estão me fazendo perder o jantar.
Não consigo conter meu espanto com a nova informação.
— Alfa supremo? Co-como assim?
Um cara loiro que estava só de bermuda e assim como todos tem bom preparo físico, bate a mão no rosto e bufa, depois me encara como se eu fosse um alienígena.
— Podemos fofocar enquanto caminhamos. — Aponta o caminho.
— Keiko não podemos simplesmente ir.
Minha irmã rebate, só que a curiosidade fala mais alto. Me apresso em pegar nossas mochilas e seguir o cara loiro que toma a frente, estico minha mão querendo deixar Ayla mais próxima a mim, só que ela não está perto. Paro e olho para trás, onde ela me observa de boca aberta e olhos arregalados.
— Ayla você não costuma agir assim. — Digo com desgosto.
— E nem você obedece ao que estranhos te mandam fazer. — Rebate.
— Garota, anda logo!
O cara loiro que estava bem longe volta, visivelmente irritado com todo esse show e para piorar, minha irmã cruza os braços apoiando o peso do corpo em uma perna com puro olhar de deboche.
— Por que essa loba está sendo tão teimosa? — Pergunta ao meu lado.
— Ela não é loba. — Digo o encarando e fica surpreso.
— Mas vocês são irmãos!
— É uma longa história.
— Ah pelo amor da Deusa Selene, ele vai me pagar caro por me fazer bancar a babá!
Não me atentei em perguntar o nome dele, só corri atrás quando andou apressado até minha irmã, se abaixou a pegando pelas pernas jogando-a em seus ombros. Eu não deveria rir, mas não me aguentei com os gritos, socos e xingamentos que ela proferia enquanto caminhávamos, sem contar os outros que não perderam a oportunidade de achar graça.
Ao contrário do que pensei quando todos nos cercaram, estamos sendo bem tratados. Sem sangue, torturas e mordidas.
— Keiko, eu juro que assim que ele me solta, você é um homem morto!
— Calminha aí garota, nem todos são bem-humorados com forasteiros na vila.
Minha irmã fica o resto do caminho em silencio, o rapaz sempre tomando cuidado para que nenhum galho ou mato a tocasse e eu sempre de olho em seu rosto, recebendo seu olhar magoado.
— Pensei que nos matariam. — Puxo assunto. — Alias, como se chama?
— Me chamo Dante e por incrível que pareça, nosso Alfa acredita que são pessoas de bem, estamos de olho em vocês desde quando entraram na cidade, só queríamos ter certeza quem era o invasor.
— E não se importam por receberem dois estranhos?
— Você é um de nós, Luigi nunca nega ajuda a quem precisa e tá na cara que precisam. Claro que se fossem inimigos ou aprontassem, já teriam virado o jantar.
Não o questiono mais. Depois de andar em meio a várias arvores, começo a enxergar várias casinhas iguais enfileiradas, parecidas com aquelas que o governo constrói, só que maiores e parecem aconchegantes. O espaço é enorme e literalmente no meio da floresta, onde os humanos não chegariam com facilidade e se eu tivesse explorado mais, talvez encontrasse. Minha atenção se volta para as pessoas que comem, bebem, dançam e conversam animadamente ao redor de uma fogueira, tem até alguns transformados deitados tranquilamente. Por mais que a ocasião seja delirante, estou me sentindo confortável e eufórico com isso, é a primeira vez que algum lobo nos leva a uma alcateia, forçadamente, mas ainda assim.
Quando Dante solta minha irmã, ela me da um soco no braço e não reclamo. Não consegui ignorar a ordem que me foi dada, nunca nos deparamos com um Alfa e de repente tem um Alfa Supremo na nossa frente. É outro nível.
— Fiquem tranquilos que ninguém irá ataca-los, primeiro Luigi irá ter uma conversa formal com vocês antes de decidir o que fazer. Estamos fazendo um belo churrasco ali, se alimentem bem.
Dante assim como os outros vão para a fogueira, encaro Ayla que está encarando tudo ao redor, um pouco maravilhada até.
— Vamos ficar perto da fogueira?
Meu coração se aperta quando ela nem me olha, mas concorda. Minha intenção não era coloca-la em risco e espero que depois de uma boa conversa, entenda que não consegui revidar.
A pego pela mão, a contragosto dela e a puxo para perto da fogueira, deixo nossas mochilas encostado em um dos vários troncos e nos sentamos no mesmo. Fico desconfortável com todos nos encarando, até a risada sessou um pouco, depois de longos minutos, esqueceram que estávamos ali.
Minha barriga roncou e ter um belo churrasco sendo feito na sua frente com cheiro tentador, só dificulta as coisas. Perifericamente vejo alguém se aproximar, ao me virar para ver melhor, é Luigi, o Alfa Supremo. Dou um sorriso nervoso que ele não corresponde e sem pressa, se aproxima de um dos grandes espetos e corta vários pedaços de carne, depois se volta para nós. Agachado a nossas frentes, percebo o olhar intenso e curioso que direciona a minha irmã, mas ela vira o rosto tentando parecer indiferente.
— Por que não consigo sentir seu cheiro?
— Ninguém pode. — Respondo antes dela.
Ayla se vira para mim indignada.
— Quer contar que perdi um dente com oito anos também?
Ralha comigo e a repreendo. Não entendo como minha irmã que sempre foi contra ser respondona e briguenta, se tornou essa criatura reclamona e o pior que nem consigo ficar incomodado pelo fato dele flertar com ela na minha cara.
Luigi não rebate, apenas sorri de canto e se afasta depois de me entregar o prato.
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