Trinta e oito
— Guardas, prendam esse homem agora mesmo! — ordenou o rei com toda a sua autoridade e ira apontando em direção a Phil, cujo olhar demonstrava a surpresa diante de um flagrante de duvidosa interpretação.
A cena avistada pelo rei, pelo príncipe herdeiro e por ao menos uma dúzia de soldados só piorou a partir do momento em que a princesa, com as roupas e cabelos desalinhados, colocou-se de pé adiante do homem, disposta a protegê-lo a qualquer custo. Os braços abertos indicavam que ela não daria um passo dali.
Philip, por sua vez, ergueu-se atrás dela apoiando-se levemente em sua espada, disposto a assumir toda a culpa e poupar Flora de uma cena que deixaria a situação ainda mais constrangedora.
— Prendam-no! — o rei gritou mais uma vez, deixando claro de que a filha não seria um empecilho, fazendo com que seus homens se movessem em direção ao casal.
— Não se atrevam! — a princesa declarou puxando inesperada e bruscamente a espada da mão de Philip, erguendo-a em direção aos guardas do pai. — Nenhum passo a mais.
É claro que nenhuma das partes presente naquele cômodo esperava reação tão dramática por parte da princesa. Os soldados, que haviam se adiantado, pararam imediatamente, esperando instruções. Não que Flora representasse uma verdadeira ameaça para algum deles ali. O modo como ela empunhava a arma deixava claro de que ela não tinha a mínima ideia do que estava fazendo. Contudo, era a princesa diante deles e havia um pequeno conflito em jogo. Ninguém queria ser condenado por ferir a filha do soberano.
Phil, por sua vez, estava surpreso demais para reagir.
— O que estão esperando, seus frouxos? Se for preciso prendam a princesa também! — o rei, indignado por ver sua filha em um estado tão degradante, pouco pensou no peso de suas palavras.
Percebendo a firmeza contida na voz e postura do rei, três dos homens se dispuseram a cumprir a ordem. Seria extremamente fácil desarmar a mulher e o acusado em questão permanecia atrás, imóvel, não oferecendo nenhuma resistência diante da ameaça de uma prisão.
Flora, compreendendo que sua intimidação fora insuficiente para fazê-los se afastar, desesperou-se por um instante ao imaginar Philip, ferido, sendo levado a um calabouço sem qualquer sinal de misericórdia.
— Não ousem se aproximar ou eu... Ou eu... — E sem pensar nas consequências de seus atos, num gesto de desespero, virou a lâmina afiada da espada em sua direção, encostando-a em seu pescoço enquanto segurava o cabo com força, tentando esconder as mãos trêmulas. Dessa maneira, ela sabia, mexeria com um lado obscuro do pai. — Ou eu terei o mesmo fim que minha mãe.
É claro que a tensão tornou o ambiente inquietante para todos, que se mantiveram imóveis e em silêncio. Fergie, que assistia tudo com a mente trabalhando a mil, tentou conter a emoção da lembrança do fim trágico de sua mãe e tocou o ombro do pai.
— Mande-os sair! Pelos raios da alvorada, majestade! Poupe-nos de mais exposição — ele aconselhou ao pai, numa súplica reprimida.
O rei, com os olhos vermelhos em fúria, ordenou, então, que todos os soldados saíssem do aposento, logo depois de dar ordens expressas para que nenhuma palavra sobre os acontecimentos fosse dita, sob pena de sentença de morte aos envolvidos.
Quando, por fim, estavam apenas Phil, Flora, Fergie e o rei no quarto, a princesa respirou aliviada.
— O senhor vai me ouvir, pai. Não permitirei que condene um homem inocente — ela disse em tom de quem estava disposta a fazer qualquer coisa para que a verdade fosse revelada.
— Largue essa espada, agora mesmo! Eu deveria deserdá-la nesse minuto, sua menina mimada e inconsequente! — o soberano gritou impaciente, adiantando um passo em direção a ela.
— Eu não me importo! — Flora respondeu. — Mas o senhor ouvirá a verdade e não punirá um homem honrado como Philip!
— Honrado? — o rei zombou olhando os dois dos pés a cabeça, parando seu olhar na capa caída ao chão. — Não vejo honra nenhuma aqui, pelo contrário.
Flora sentiu o impacto da ira irrompendo dentro de si. Ainda estava abalada e parecia que seus sentidos ficavam cada vez mais turvos e as pernas não queriam mais sustentar o peso de seu corpo fragilizado. Então, sentiu uma mão vinda por trás, tocando a sua e, lenta e gentilmente, forçou-a a abaixar a espada.
— Não precisa fazer isso, alteza — Phil expressou com calma enquanto tomava a espada das mãos dela. — Está tudo bem, não se preocupe. Posso cuidar dessa situação.
A jovem estava exausta física e emocionalmente. Rendeu-se ao cuidado de Phil e largou a espada nas mãos dele, esfregando o rosto em seguida. Não podia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Nunca imaginara que sua vida sofreria tamanho impacto em tão poucos dias.
Phil guiou a mulher até a poltrona instruindo-a a se sentar, em seguida guardou a espada na bainha presa à cintura e, mesmo sentindo dor, ergueu a postura como podia e encarou os homens sabendo de suas responsabilidades.
Foi quando Fergie surpreendeu a todos, adiantando-se em direção ao nosso herói.
— Quem o senhor pensa que é para desonrar minha irmã na nossa própria casa depois de ser acolhido em nossa festa? O senhor é uma vergonha para seu Reino e não é digno de carregar o título que possui!
Flora pensou em reagir. Não podia acreditar que seu irmão, seu querido e compreensivo irmão pudesse estar adiantando-se contra o homem que lhe salvara da desgraça. Não! Fergie não! Quando ele se aproximou de Philip e colocou-se cara a cara, ela fez menção de se levantar, e como se o Phil estivesse prevendo uma reação da princesa, ergueu a mão deixando claro que ela não deveria intervir.
— O senhor manchou a honra de minha irmã, única princesa de Ach, humilhando-a na minha frente, de meu pai e de nossos homens. Terá que consertar isso — Fergie declarou com uma firmeza na voz jamais vista por nenhum dos presentes do quarto. Depois levantou o dedo até o rosto de Philip. — Ou me enfrentará em um duelo mortal. Daqui não sairá vivo, ao menos que seja por cima do meu cadáver.
— Fergie! — o rei interviu enraivecido. Ele não podia permitir que seu único herdeiro se colocasse em tão perigosa situação. — Retire o que disse, agora mesmo! Não haja como um tolo, seu idiota!
— O que está dito, está dito, o que está feito, está feito. Ou o Sr. De Baruch casa-se com Flora, ou eu serei o responsável por zelar por sua honra, cobrando-o com vida — Fergie olhou no fundo dos olhos do guerreiro —, a minha ou a dele.
O leitor, nesse momento, deve estar se questionando sobre como a ferida no braço de Philip e os sinais de que algo de errado havia acontecido naquele quarto pudesse ter passado despercebido aos olhos dos presentes. A resposta é simples. O rei estava muito envolto em suas próprias emoções — e talvez levemente alterado pelo álcool —, depois de uma noite tão complexa, que mal quis avaliar a cena, agindo por impulso, guiado por sua própria teimosia, como costumava fazer. Fergie, por sua vez, estivera o tempo antecedente de sua reação observando ao redor. A espada real jogada no chão do quarto, a pequena desordem local e a aparência do casal deixou claro para ele que não se tratava de um caso de libertinagem. Mas o momento lhe pareceu ideal para resolver de vez certas questões. Parecia que o destino conspirava em favor de sua irmã e ele não seria tolo para desperdiçar tal oportunidade.
— Não seja ridículo, Fergie — Flora atreveu-se a desobedecer ao pedido de Phil para não se intrometer. A ideia de que um possível duelo tirasse a vida de um dos dois homens a quem ela tinha tanta afeição a impediu de ficar quieta. — Isso não é necessário, veja o que está fazendo!
— Estou fazendo aquilo que qualquer irmão faria após ver sua irmã indefesa e até então inocente ser corrompida por um homem mal intencionado. Ou ele se casa com você, ou conhecerá a fúria da minha lâmina!
Flora ergueu-se, mas antes que pudesse falar ou agir, viu o pai adiantar-se em direção ao filho.
— Fergie! — o rei interviu puxando o herdeiro pelo ombro com certa medida de violência. — Você sabe tão bem quanto eu que a Flora está prometida ao príncipe de Goi.
Fergie não desviou o olhar ameaçador de Philip ao responder o pai, ainda que fosse o rei quem estivesse exigindo dele uma mudança de comportamento.
— O que eu sei é que o senhor negou o pedido de Henry hoje, na frente de todos os homens do salão. — Só então o príncipe de Ach voltou-se ao rei. — Flora não está comprometida e isso torna o escândalo porvir ainda pior.
— Eu neguei! — esbravejou o rei. — Neguei porque aquele moleque me irritou com suas insinuações medíocres se atrevendo a me humilhar diante de todos os convidados. Mas você sabe muito bem que serei obrigado a voltar atrás e permitir o casamento. Você não pode comprometer sua irmã com outro homem, conhece os motivos.
Fergie ignorou a fala do pai, mas o encarou com firmeza.
— Quando a notícia de que minha irmã foi flagrada a sós em seus aposentos nos braços desse homem correr pelo reino, terá sua vida arruinada para sempre. Nem mesmo o príncipe de Goi estará disposto a se casar com ela estando mal falada. Não podemos arriscar.
— A notícia não se espalhará! Eu mesmo tomarei providências para que nenhum dos guardas dê com a língua nos dentes, e matarei todos caso não cumpram com minhas ordens.
— Claro! — Fergie riu apresentando um traço de ironia nos lábios. — Ingenuidade do senhor, crer que isso será suficiente para resguardá-la. A notícia da morte dos soldados após a fofoca se espalhar apenas confirmará os "boatos” que logo circularão por todos os corredores do palácio, posteriormente pelas ruas de Ach.
Houve um pequeno silêncio. Flora estava abismada com aquela discussão. Sentiu o suor escorrer por sua testa e estava prestes a ter uma crise de ansiedade. Phil permaneceu calado, buscando sabedoria para dizer as palavras certas, no momento certo. Sabia que corria o risco de por tudo a perder se agisse no impulso. Aprendera em sua vida que quem reflete antes de falar evita muitos dissabores e sofrimentos.
O rei, sentindo-se pressionado pelo argumento do filho, irou-se mais e falou mais uma de suas insensatezes baseada em seus caprichos autoritários.
— Então eu mato todos eles, agora mesmo, antes que tenham a chance de dizer uma palavra sequer.
— Pai! — Flora murmurou horrorizada tornando a sentar-se. — Matar sua guarda pessoal? Homens inocentes? Oh! Pela barba do grande sábio! Vocês não estão ouvindo, muito menos agindo com clareza. Há uma explicação para tudo isso!
Fergie, percebendo o crescente estado de aflição de sua irmã e temendo que ela colocasse tudo a perder, adiantou-se.
— Matar bons homens insuspeitos para encobrir o escândalo seria insensato, além de fomentar outro tipo de fofoca que buscaria respostas para tal execução inusitada e sem explicação. — Fergie balançou a cabeça em negativa, afastando aquela ideia absurda. — O Sr. De Baruch deverá casar-se com Flora e por um fim a qualquer chance de que tal história chegue aos lábios do povo, e remediar antecipadamente com o matrimônio, caso elas cheguem.
Ignorando qualquer reação do pai, cobrou com o olhar e a postura uma resposta do guerreiro. Phil sabia que era a hora de dizer algo e assim o fez.
— Embora tenha a consciência limpa de que nada fiz propositadamente para desonrar a princesa, sou um cavalheiro e um homem que compreende seus deveres diante dos acontecimentos cuja aparência fora de fato duvidosa. Sendo assim, estou disposto a fazer o necessário para corrigir o mal entendido que se estabeleceu entre nós.
Flora sentiu uma onda de emoções, como uma descarga de choque percorrendo o seu corpo. Suas mãos agarraram-se à poltrona enquanto ela tentava entender exatamente o significado das palavras proferidas por Philip.
Ele estava mesmo disposto a se casar com ela? E ela, como reagiria a tal suposição?
— Contudo — Philip continuou após limpar a garganta, ciente do que estava fazendo —, antes de fazer qualquer acordo...
O guerreiro virou-se em direção a Flora e encontrou um par de olhos assustados. Vacilou por um momento, pensando que, embora ele não tivesse nenhuma oposição em relação ao que estava sendo cobrado de si, ela talvez não estivesse disposta a seguir com aquele plano. E se essa não fosse a vontade dela, ele estava certo de que sacrificaria sua vida em prol da liberdade da princesa. Não a forçaria a viver em Or como... Como sua esposa.
Embora estivesse comovida demais com tantas informações de uma só vez, Flora notou a pergunta estampada na expressão do guerreiro. Quando ele olhou em direção ao pergaminho em cima da mesa, cujo convite do rei Chesed estava expresso, compreendeu exatamente por qual resposta Phil esperava. Sim, ela já havia se decidido, abandonaria sua vida, seu título e estava disposta até mesmo a fugir para chegar ao novo reino e recomeçar. Por isso, ela apenas maneou a cabeça deixando claro de que ela estava de acordo, de que ela desejava uma nova vida em Or, mesmo a despeito de que aquilo significasse deixar para trás seu passado.
Philip recebeu a afirmativa de Flora com uma alegria reprimida e não teve tempo para perscrutar o impacto de tal afirmação em sua alma, voltando-se notavelmente ao rei e ao príncipe herdeiro.
— Proponho casamento e peço a mão de sua filha, senhor — disse diretamente, sem mais rodeios.
— Isso é impossível — o rei respondeu entre dentes sem esconder seu estado cada vez mais colérico.
— Então teremos um duelo — Fergie declarou levando a mão até a espada.
— Papai! — Flora implorou vendo o iminente confronto que ceifaria uma vida preciosa. — Por favor...
— Você sabe, Fergie, o que significaria para Ach romper com a aliança estabelecida há tantos anos com Goi. Não posso permitir que a princesa se una a outro homem. É necessário garantir o matrimônio com Henry para sustentar nossa estabilidade. Nosso povo pode passar fome se esse casamento não acontecer — relatou o rei.
Fergie, cuja determinação era livrar sua irmã de um casamento infeliz e entregá-la aos cuidados de Philip, mudou completamente a postura e sentou-se em uma das poltronas ao lado da irmã.
— Isso é algo que pode ser discutido. Pelo que compreendi, o Sr. De Baruch não possui qualquer posição em Or, ele é um Guibor, cunhado e amigo íntimo do herdeiro ao trono. Podemos firmar uma nova aliança através desse matrimônio e nos vermos livres de uma vez por todas de nossa dependência a Goi e a seus governantes tolos. — Fergie repousou a mão nos braços da poltrona. — Sinceramente? Não pretendo manter negociações com o idiota do Henry após ele assumir o trono, muito menos desejo ver minha irmã presa a um homem tão sem escrúpulos apenas para garantir algo que, na verdade, desejamos nos vermos livres.
Com a nova postura de Fergie, Flora relaxou um pouco e Phil sentiu-se livre para se sentar, compreendendo que aquela conversa ainda renderia antes que ele obtivesse a mão da princesa.
— Se eu der a Flora em casamento a outro homem que não seja o príncipe Henry, não teremos condições de pagar nossa dívida, Fergie — o rei, um pouco mais calmo, disse. — E, sem exportar alimentos, nosso povo perecerá pela fome que se instaurará por cada canto do reino.
Fergie encarou Philip que se mantinha quieto, pensando sobre as revelações que aconteciam naquele momento. Pouco se interessava sobre relações políticas e arrependeu-se por não ter prestado mais atenção em algumas conversas sobre o assunto. Precisava ser sábio quanto ao que estava sendo colocado.
— Sr. De Baruch, é de conhecimento geral que Or possuiu grande domínio nos mais modernos métodos de cultivo. Acredito que tal experiência compartilhada poderia ser de grande valia para nosso povo, principalmente quando a união for selada entre o senhor e minha irmã. Se mudarmos a maneira como vemos nosso plano de alimentação, podemos produzir ao invés de importar de Goi com altas taxas — Fergie disse. — Desde a grande tempestade que nos assolou, perdemos a capacidade e o interesse dos cidadãos em cultivar a terra.
— Sim, isso pode ser conversado — Phil respondeu com sinceridade.
— E creio que o dote pago pela mão de nossa irmã seja suficiente para saldar parte da nossa dívida com Goi, pai. Dessa maneira, podemos levantar outros recursos e findar de vez com tal obrigação cuja exploração tem sido cada vez maior.
O rei encarou Philip.
— O senhor possui recursos? Sabe o valor da mão de uma princesa?
— Posso imaginar — Phil disse. — Mas isso também não será problema.
Flora prendeu a respiração. Philip estava mesmo disposto a se casar com ela, mesmo sabendo das imposições que viriam? Será que havia sentimentos, ou era apenas benevolência em seu favor?
— Majestade, creio que poderemos chegar a um acordo vantajosos para ambos os reinos. — Philip alegou. — Já mantemos alianças pacíficas entre nós desde o fim da Guerra de Qualah, e Or está pronto para auxiliar Ach em suas dificuldades em troca de alguns benefícios que podem nos oferecer. As cláusulas podem ser discutidas. — Lembrou-se do pequeno relatório obtido com Jasper a cerca do possível golpe de Henry para derrubar o pai e imaginou que tal relato poderia ajudar na tomada de decisão do rei. — Tenho, inclusive, algumas informações privilegiadas acerca de Goi, cuja mão tem pesado sobre o seu reino. Acredito que o momento é ideal para um novo acordo, com novas perspectivas.
Fergie estava muito satisfeito com o rumo daquela conversa, principalmente quando percebeu, na expressão do pai, que ele estava bastante tentado a ceder.
— Isso é extremamente desejável para nós. — Fergie afirmou. — Há tempos que nos vemos dependentes de Goi e temo pelas bizarrices vindouras quando Henry assumir o trono. Quanto antes nos desfazermos de tal compromisso, melhor nos será, pai. E uma aliança com um reino tão importante como Or nos garantirá estabilidade, além de unirmos força militar, prevenindo assim qualquer ameaça de ataques por parte de reinos inimigos, como Acher. Veja bem, no final, esse casamento é desejável e será um livramento para nós.
O rei, devo ressaltar, estava cansado das constantes exigências vinda de Goi, sempre ameaçando mudar os termos do pacto feito entre os dois soberanos quando ainda jovens. A ideia de acabar com toda aquela tensão e se ver livre de Henry no futuro foi o que mais pesou em sua decisão. Naquele instante, ele pouco se importou com as vantagens sugeridas por Fergie através da aliança feita com Or.
— Teremos um casamento — o rei disse e olhou Philip com frieza assim que ele se colocou de pé. — Enfim, o senhor conseguiu exatamente o que desejava. Não se deu por satisfeito quando neguei pela primeira vez, traiu-me pelas costas procurando uma maneira nada digna de conseguir atingir seus objetivos.
Flora arregalou os olhos tentando entender as palavras do pai enquanto ainda lidava com a ideia de que acabara de ser prometida a Philip.
— Estou exausto! — o rei declarou deixando claro sua condição. — Essa noite já me ofereceu aflições suficientes, desejo deitar em minha cama e me render ao descanso. Mandarei prepararem um quarto para o senhor. Amanhã pela manhã nós nos reuniremos, firmaremos nosso acordo e estabelecerei o preço do dote. Por hora, vocês estão noivos.
E sem dizer mais nada, virou-se para se retirar do quarto, exigindo que Philip o acompanhasse.
Nosso herói evitou encarar a princesa. O que estava feito, estava feito, mas ele sabia que havia muito a ser dito, e aquele não era o momento certo. Fez uma reverência rápida para a sua agora noiva, depois para Fergie e seguiu atrás do rei.
Fergie se levantou bastante satisfeito com o desfecho de tudo aquilo. Flora fez o mesmo, ainda incrédula com tamanha confusão que resultou em seu noivado com o homem a quem ela evitara alimentar qualquer esperança de união. Eram muitas informações para uma noite só! Precisaria repassar todas as ocorrências daquele dia para entender o novo curso trilhado de sua vida. Mal percebeu o irmão desejando-lhe boa noite e só compreendeu que ele estava partindo, quando caminhou em direção à porta.
— Fergie! — Flora gritou de súbito, fazendo com que o irmão se virasse para ouvi-la. — Philip está ferido, precisa de cuidados.
— Providenciarei para que o médico o veja, não se preocupe.
— Fergie... — ela murmurou mais uma vez. — Ele não me desonrou. Henry esteve aqui e...
— Eu sei, minha irmã — ele respondeu com um leve sorriso.— Reconheci os sinais da luta, embora nosso pai seja tolo o suficiente para não perceber que deve muito mais ao senhor Philip do que imagina.
— Mas... Eu não entendo...
— Às vezes, Flora, o destino conspira ao nosso favor e não podemos desperdiçar a chance que nos é oferecida. Agora, descanse. Mandarei Amelie para te ajudar. Amanhã será um novo dia e você verá tudo com uma perspectiva diferente. Tenha uma boa noite.
E ele se retirou sem mais explicações.
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