Epílogo
— Preparada? — Phil indagou com a mão ainda repousada na maçaneta.
— Ansiosa! — Flora respondeu apertando as duas mãos em frente ao corpo. — Mas, sim, preparada.
Phil olhou mais uma vez para a mulher responsável por fazer seu coração bater acelerado e com os lábios curvados em um sorriso, virou a maçaneta, abrindo a porta do enorme casarão.
— Por favor, Sra. De Baruch, conheça seu novo lar. — Ele apontou para o lado de dentro da casa fazendo uma pequena mesura quando ela passou por ele.
Flora adiantou os passos e seus olhos passearam pelo saguão de entrada. Era grande, mas aconchegante. Nada comparado ao que estava acostumada, uma vez que o Palácio estava longe de parecer um lar como aquele que Philip a oferecia. Reparou os poucos móveis e recordou-se de que seu agora marido havia alertado-a da necessidade de mudanças. Estava bastante claro, até mesmo para ela, que eles estavam ultrapassados para a época. Mas, mesmo sem entender porque, ela achou cada um deles maravilhoso e pensou por um momento se realmente gostaria de fazer alguma mudança.
Enquanto andava pelo saguão, Philip conversava baixinho com o único funcionário presente no local. O mordomo, com toda sua habilidade em fazer-se não notado, rapidamente saiu para cumprir as ordens do patrão, deixando o casal às sos.
— Venha, quero te mostrar meu lugar preferido da casa — ele disse estendendo a mão para ela.
Flora aceitou a mão de seu amado e mais uma vez teve aquela incrível sensação de sentir o calor da pele dele. Ele a puxou para mais perto e, de mãos dadas, com sorrisos no rosto, caminharam até o jardim de inverno que ficava anexado à sala de visitas principal.
— Quando criança, eu dizia que aqui era meu refúgio, minha floresta particular, onde eu treinava como lutaria contra dragões — ele falou com o olhar nostálgico, recordando-se de tempos passados tão felizes. — Naquela época esses arbustos me pareciam um pouco maior do que de fato são.
Flora, depois de olhar com displicência pelo jardim, voltou-se ao seu marido. Estava encantada demais com tudo que vivera até ali e não conseguia desviar-se da alegria de pertencer a Philip, agora para sempre.
A cerimônia de casamento havia acontecido naquele dia, e Philip estava certo quando a alertou sobre a demora na comemoração. Depois de toda a tradição de casamento e assinaturas de contratos, a festança rendeu por toda a tarde, com muita dança, comida e alegria. Foi maravilhoso, ela precisava admitir. Como par quase que exclusivo de Phil, teve a oportunidade de admirar a animação e entusiasmo dele nas danças tradicionais. Ele exalava felicidade e isso a deixava ainda mais apaixonada.
Também pôde ter o prazer de ver Amelie, cuja presença Fergie fez questão de garantir, criando todo um plano para que ela pudesse acompanhar todos os detalhes de perto, desfrutando da festa como qualquer convidado, e tudo isso sem que o rei pudesse perceber os sentimentos do príncipe herdeiro. A verdade é que Fergie não apenas queria agradar sua irmã, mas a si mesmo, uma vez que aguardava, ansioso, pelo dia em que teria a jovem como sua companhia, ao seu lado, merecendo todas as honras de uma rainha.
O rei George também esteve presente, e como bom político que era, passou a maior parte do tempo buscando travar relações que lhe importavam do que comemorando a união de Flora com Philip. Se bem que o discurso feito em homenagem aos noivos pareceu o de um pai realmente preocupado com a felicidade de sua filha, agradecendo ao Sr. De Baruch por proporcionar a ela um novo lar tão bom quanto o que ela tinha em sua proteção.
A festa tinha sido perfeita, como Flora esperava, mas a vedade era que ela não via a hora de estar a sós com Philip e desfrutar de sua companhia sem todo aquele barulho e olhares em sua direção. Poderiam, enfim, estarem a sós sem medo de qualquer situação imprópria.
E olhando para ele ali, contando sobre seus sonhos de criança, sentiu o amor transbordar por todo o seu ser e, sem premeditar, uma lágrima de felicidade escorreu por sua face. Philip ainda apontava para alguns lugares, contando de alguma peripécia, quando voltou-se a ela e se surpreendeu ao encontrar sua esposa com um sorriso iluminado e olhos brilhantes molhados por lágrimas.
— O que foi, Flora? — ele questionou confuso, sem ter certeza dos sentimentos dela naquele instante.
— Você é o homem mais incrível que já conheci, Philip De Baruch. — Flora deu um passo até ele e repousou as mãos no ombro dele. — Eu amo você e estou infinitamente feliz por saber que viveremos juntos até a morte. E criaremos nossos filhos aqui, como uma família de verdade. E eles serão tão preciosos como o pai, se escondendo em arbustos e treinando para enfrentar dragões.
Philip puxou Flora para mais perto e sentiu a felicidade no ápice quando ela aceitou sua aproximação e enlaçou seu pescoço.
— E eu sou o homem mais sortudo de todo o reino... — Ele acariciou o rosto dela, que fechou os olhos quando sentiu o contato da mão dele em sua pele. — Não, de todos os reinos que existem! Não sou merecedor de uma mulher tão maravilhosa como você, Flora De Baruch.
E calmamente ele uniu os lábios de ambos, sendo recebido com todo o amor e entrega que Flora estava pronta para dar.
E ali eles provaram o amor verdadeiro em todas as suas facetas.
O destino fora irremediável ao unir aqueles dois de maneiras misteriosas, tramando habilmente para que corações se encontrassem e se conectassem. E a — não mais desacertada — princesa nunca estivera tão segura de sua felicidade futura como quando os lábios deles se uniram selando de vez aquela união.
.....
Flora permaneceu viajando com Philip e Jasper até a chegada do primogênito, Aron. Com o nascimento de Jasmin, Philip mudou efetivamente seu cargo e passou a atuar como principal estrategista de Or. Seu título de guibor provou-se bastante insignificante quando precisou lidar com as emoções dos oito filhos que Flora concebeu.
Sua amada esposa ficou conhecida no povoado como Dra. De Baruch e teve muito o que colocar em prática seus dons de curandeira, principalmente quando o filho mais novo, o espuleta Meah caiu do cavalo e teve sérias lesões, ao mesmo tempo em que a pequena e doce Amarilis sofria de uma gripe fortíssima que quase a levou a morte.
Jasper, anos mais tarde, assumiu as funções anteriores de Philip, e assim como seu antigo mestre, designou-se a permanecer solteiro para cumprir melhor com suas responsabilidades — até o dia em que conheceu sua atual esposa em uma de suas viagens.
A despeito das baixas de alguns mensageiros, a missão de Or permaneceu funcionando ativamente, uma vez que o rei sempre tinha um plano pronto para que seus pergaminhos continuassem a encontrar pessoas escolhidas.
O plano de Henry contra o próprio pai foi descoberto e ele teria sido duramente punido se o rei de Goi não tivesse sofrido um ataque do coração e falecido antes mesmo que os conselheiros do reino pudessem interferir na coroação do príncipe herdeiro. Conseguindo o que queria, Morgana tornou-se, não amante, mas esposa de Henry, assumindo o trono como rainha. Dizem as más línguas que era ela quem governava de verdade, e o reino de Goi sofreu duramente nas mãos de governantes imprudentes por anos, até que rei e rainha foram mortos em uma emboscada cuja autoria não foi sequer investigada. Um dos conselheiros assumiu o reino quebrado, uma vez que Henry não possuía herdeiros legítimos. Conta-se que ele foi o rei mais infiel de todos os tempos, perdendo apenas para a infidelidade da própria esposa, que costumava usar o seu leito para conseguir todos os seus desejos e favores.
O reino de Ach foi amplamente beneficiado com a aliança com Or. Em alguns anos conseguiram recuperar a economia e a produção do reino. O rei George, vendo todo o progresso, sentiu-se, inclinado pelo orgulho, grandioso demais e, desejoso da independência, desfez a união com Or e assim permaneceu, sozinho, até sua morte. A aliança só foi retomada quando Fergie assumiu o trono, trazendo de volta para Ach a prosperidade crescente.
Fergie casou-se no mesmo dia de sua coroação. Amelie, que a princípio foi recebida com certo receio por sua falta de jeito em meio a nobreza, acabou por se tornar a rainha do povo, aumentando a popularidade à medida em que ajudava seu marido e rei a governar o reino pensando no povo.
Adrey tornou-se o principal capitão do exercíto do rei. Infelizmente, a senhora Darcy faleceu antes que pudesse testemunhar a ascensão de seus filhos.
O reino inimigo de Acher preparou um grande ataque, anos depois, quando viu seu rei e governantes caírem por terra depois de uma guerra comandada pelos então reis Fergie e Queves. Todo o território de Acher foi dominado pelos reinos aliados e entregue na responsabilidade de Ach, que nomeou novos governantes para aquelas terras tão necessitada de mudanças. O trabalho seria longo.
Or continuou a prosperar e a crescer diante da sabedoria de seus governantes.
Philip e Flora, após o nascimento de seu último filho, fizeram uma última viagem para comemorar seus dezoito anos de casamento, deixando seus filhos ao encargo da tia e de suas cinco babás. Contudo, perceberam, tardiamente, que não eram mais tão jovens e ágeis como antigamente. A ideia era atuar como mensageiros em um povoado de Ach, recordando-se de quando se conheceram. Fizeram uma longa parada na cabana de Philip, que àquela altura Flora já conhecia a história. O lugar, adquirido pelo nosso herói para uma fuga em seu maior momento de rebeldia, tornara-se importante ponto de descanso de mensageiros e abrigara diversos viajantes a caminho de Or. E ali, mais uma vez, recebeu o casal apaixonado, que mesmo depois de tantos anos ainda sentiam seus corações conectados.
FIM
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