Tons de escarlate

02h37 da madrugada
(Sem informação do local)
25 de março

      Um lugar escuro, com algumas velas para iluminá-lo em candelábros de ouro nas paredes, a cama coberta por colchas e colchas cor vinho, desci da cama e admirei a decoração rústica e medieval, era como se eu estivesse em um palácio, dentro do quarto de uma princesa. Que viagem é essa, meu Deus? Eu enlouqueci de vez? Então, comecei a me lembrar do que havia acontecido. Lembrava de ser arrastada, carregada por... Morcegos? Sim. Aquilo tudo era real, ou era mais um sonho que se realizaria? Olhei para a porta de madeira, a maçaneta de ouro sendo aberta. Dejá Vú
     
      O homem velho, de cabelo grisalho apareceu, caminhando elegantemente com seu terno preto. Seus olhos azuis luminosos. Ele mexia os dedos ligeiro, dois anéis tilintando ao se tocarem, um de ouro e o outro de prata, um barulho persistente. Caminhei na direção do homem, porém, me deparei com um espelho enorme, encrustado em diamantes nas laterais e no comprimento. Me aproximei do espelho de vidro fosco, do lado oposto. Ergui a mão esquerda institivamente e toquei o vidro, fazendo-o refletir a mim no ato. Eu estava linda,  meu cabelo tão comprido e brilhante, vermelho escarlate, meus olhos tão dourados como ouro, minhas pintas sapecadas pelo nariz, minha pele alvíssima, eu vestia um vestido longo cor escarlate, decotado. Meus lábios rosados e cheios. Me surpreendi ao ver aquela mulher no espelho, que eu ainda achava ser uma garota. O homem grisalho surgiu atrás de mim, estremeci no seu toque. Ele inspirou profundamente e sorriu, um riso malicioso e cruel. Vi seu semblante enegrecer no vidro, veias nigérrimas surgirem em seu rosto pálido, senti medo. Seus olhos luminosos e assustadores penetrando os meus.
- Você é puro veneno para nós. Diga-me, humana, -vi presas afiadas e longas - porque?
Meu coração acelerava cada vez mais, em puro pânico. Seus dedos escorregaram pelo meu ombro e eu senti repulsa. Ele trouxe em sua mão uma faca pequena, dourada.
- Exatamente como seus olhos. - Ele aproximou a faca do meu pescoço, fiquei altiva institivamente. Tremia. - Responda-me. - Ele disse, friamente.
  Ele apertou a faca no meu pescoço e uma gota de sangue desceu, me desesperando ainda mais.
      - Eu não sei de nada. Nem sei o que estou fazendo aqui, você é um péssimo anfitrião. - Eu estava entrando na onda medieval, isso parecia agradá-lo. Ele retirou a faca do meu pescoço e se recompôs.
      - Terei que concordar com você, humana. Que falta de educação a minha, deixe-me reconpensá-la com um... Agradável "tour" pelo meu humilde palácio. - Embora seu ironismo fosse notório, ele parecia se divertir com aquilo, como se fosse um jogo.
      Vampiro estrategista de merda! Ele abriu a porta, me dando passagem e a fechando logo em seguida. Havia uma escadaria de mármore, candelabros nas paredes, e flores agarradas ao corrimão. Meus pés doíam, eu não era muito amante de salto, preferia um bom tênis, principalmente quando se tratava de descer uma escada tão grande. Em um lugar normal, eu estaria soando, mas minha pele parecia nem transpirar, o ar era frio, mas não o suficiente para me fazer tremer, só a presença daquele homem se encarregava disso, apesar do meu esforço em parecer dura e inamedrontável, essa palavra existe?
       - O senhor vai me guiar pelo palácio e nem vai me dizer seu nome? - Eu estava curiosa, apesar dos apesares.
      Ele sequer virou para me responder. Apenas virou, me levando para outro lado.
      - Me chamo Kaden. - Ele disse. Comecei a ouvir um barulho, vozes, pessoas falando, taças batendo.
      Festa? Ele me conduziu por uma sala, com retratos nas paredes, cada um mais assombroso que o outro. Não me atrevi a dar um pio, a fazer perguntas, embora elas estivessem me engasgando.
        Ele abriu uma outra porta, maior, de dois folhos. Pude ver quando todos pararam, se viraram para mim, centenas de olhos azuis me encarando. Senti medo, pavor. Kaden se curvou para mim, esticando a mão.
      - Me concede esta dança? - Seus olhos brilhavam, vazios de alma.
      - Não há música. - Me ouvi dizer.
      Neste momento, quem quer que estivesse com instrumento, anuciou o começo de uma dança. Aceitei a mão dele, sem mais desculpas. Ele me guiou pelo salão, onde abriam passagem para nós passarmos. No teto, onde  lustres imensos iluminavam o salão, havia a pintura que narrava o apocalipse, mas no lugar dos anjos, haviam pessoas normais, vivendo, totalmente alheias à realidade que agora eu conhecia, me lembrei da sala cheia de retratos, com demônios matando inocentes de diferentes formas e depois, bebendo seu sangue, em sinal de vitória. Kaden posicionou sua mão na minha cintura, bem marcada graças ao vestido.
       - Eu não sei dançar. - Usei mais uma desculpa clichê.
       - Sabe aprender, isso basta. - Retrucou, sério.
       Começamos a bailar pelo centro do salão, me surpreendi ao notar que ele tinha razão. A melodia soava assustadora e arrepiante. Vi vários deles, dos vampiros com taças nas mãos que continham um líquido vermelho... Era sangue! Senti cada pelo meu eriçar, meu coração bater forte, o pânico me dominar por completo, quando eu me encontrei nos braços do Kaden, me segurando com habilidade, suspirei de medo. Ele me pôs de pé, olhando nos meus olhos, tentando enxergar o mais profundo da minha alma. Acariciou minha bochecha, com um brilho malicioso no olhar.
      - Vocês humanos são tão previsíveis... Meros porcos correndo sem direção, alheios ao mundo, ao sol que tanto giram ao redor. Sua espécie é a mais hipócrita de todas... O que tem a dizer, humana? - Ele dedicou sua atenção ao pequeno colar de sangue que ele que ele fez no meu pescoço com sua faca dourada.
       - Eu tenho nome. - Falei, ousada, atraindo seus olhos desumanos.
       - Então, diga. - Sua voz me desafiava, tanto quanto seu olhar.
       - Skyla - Falei, o mais frio possível.
       Ele parecia indignado e ao mesmo tempo, admirado. Ele sorriu, mostrando suas presas afiadas que me causavam um frio na espinha. Pensei em um milhão de coisas terríveis que poderiam acontecer, mas ele apenas me deu as costas, indo conversar com uma mulher alta, magra como palito e pálida feito papel. E eu me achava anorexa, perto dela eu sou uma baleia. Me virei imediatamente, precisava encontrar a saída daquele lugar. Me deparei com vários deles no caminho, mas segui, entrando por uma outra porta que eu nem sabia aonde ia dar. Depois andar sem parar por um corredor e descer uma escada, encontrei um jardim, com arbustos altos de onde vinham as flores que teimavam em invadir o palácio.
      - Devia estar na festa no grande salão. Meu pai vai procurar você. - Me direcionei ao autor do enunciado, me sentindo mais tranquila ao ver Miguel.
       - Miguel? - Falei, pois era a única coisa que eu conseguia dizer.
       Ele fraziu o cenho, sério.
      - Miguel é meu irmão. - Ele disse, calmamente.
      - Se você me dissesse seu nome, eu não precisaria te chamar por um que não é seu. - Falei, um tanto ressentida.
        A luz da lua brilhou, sua pele assumiu um bronzeado estonteante, seus olhos verdes como água, o cabelho lhe cobria a testa, o vento soprou, revelando um peitoral lindo, perfeito, os gominhos bem como imaginei. Nunca fui atraída por caras tão definidos assim, mas o que eu sentia estava além de atração física, bem além. Ele de repente, estava tão próximo...
       - Cadriel. - Ele sussurrou no meu ouvido e logo se transgormando nos pássaros noturnos, adentrando na escuridão, onde eu não podia ver.
       - Cadriel... - Testei e a sonoridade me pareceu boa, me deixando completamente absorvida por um sentimento estranho e perturbador, que me deixava sem ar, sem forças para resistir.
       Kaden logo apareceu, me convidando a entrar de novo no palácio. Aceitei, pois não havia para onde ir e a saída daquele lugar já não me parecia tão urgente. Pelo menos, não naquele momento.
     

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