Virgínia

 Assim que percebeu estar assumindo uma forma mais corpórea a autointitulada rainha do baile correu para a escola, seria mais correto dizer que ela flutuou, mas a rainha é que fazia as regras então ela estava sim correndo, só que sem tocar o chão. Se tivesse um corpo físico ela com certeza seria proclamada a rainha do baile, afinal quem poderia competir com sua beleza e graça? Resposta óbvia: ninguém.

Chegou na escola no exato instante que os mortos-vivos começaram a se banquetear com os corpos dos estudantes, talvez ela tenha passado um tempinho furiosa por não poder ter uma plateia adequada para sua coroação, tentou até chutar alguns daqueles corpos podres, mas é claro que seus pés atravessaram. Ela também não conseguiu pegar a coroa, apesar de estar se tornando um pouco mais física, por assim dizer.

Vagando pelos corredores não demorou muito para encontrar o banheiro em que os três jovens estavam presos, demorou menos ainda para deduzir quem estava causando as rachaduras na parede para levantar o telhado.

— Wow, wow, wow! — Virgínia gritou assim que atravessou a porta do banheiro com certa dificuldade, maldita matéria — Por favor não derrube o teto na cabeça dos meus súditos queridinha, isso seria desagradável ou pior, talvez desarrumasse o cabelo que eu passei vinte anos mantendo!

Os olhos dos três pareciam prestes a saltar fora do rosto, mas a menina paranormal se recuperou rápido do choque, assumindo uma posição defensiva.

— Quem é você?

Abrindo um sorriso estonteante, Virgínia fez uma pequena mesura.

— Virgínia, rainha do baile, por que?

— Sou Lia, o baile acabou, caso não tenha percebido — a aberraçãozinha, como Virgínia pensou, semicerrou os olhos — Você não está viva não é? É um espírito vagante?

— Eu SOU a rainha do baile, isso é o que importa.

Virgínia sentiu uma tremenda vontade de estapear Lia, já que esta última continuava a tentar abrir uma saída na parede da escola. Será que a paranormal não tinha cérebro?

— Você não vai conseguir fazer isso! — a rainha do baile gritou novamente e ouviu os mortos começarem a forçar a porta do banheiro — Francamente...

— Meu irmão é o talentoso com essas coisas, a precisão dele é quase cirúrgica...

Então, pela primeira vez naquelas duas décadas desde a sua morte, a fantasmagórica Virgínia sentiu um fio de lembrança flutuar por sua mente, uma lembrança além da coroa. Ela tinha uma irmã, uma versão muito melhor dela mesma. Sentiu o coração afundar um pouco em tristeza, lembrou que sabia como era se sentir inferior e então a clareza veio à tona.

— Se você abrir um buraco nessa parede com certeza vai morrer, eu vi quando os mortos caíram e posso sentir que do lado de fora há muito mais deles. Nós vamos por baixo, há um túnel embaixo de um desses... ali. — apontou a fantasma.

— Isso? — Lia chegou perto do lugar apontado e começou a procurar, logo abaixo de uma das pias do banheiro havia quatro peças de piso que não estavam firmes, afastou-se e arrancou os quatro usando telecinese, ao contrário do esperado havia terra e não argamassa.

Gael mantinha a porta fechada, ele não parecia exatamente bem, mas Gina estava ainda pior. Se não saíssem dali logo os zumbis forçariam a porta até arrebentar e mesmo querendo Lia não poderia lidar com todos eles, não restava outra opção.

— Onde esse túnel vai nos levar?

— O que está esperando? Abra a passagem rápido! — Virgínia falou com tanta urgência que os poderes de Lia agiram instantaneamente, explodindo o chão de dentro pra fora e expondo a passagem, lançando terra por todo o banheiro, Gina engasgou com o susto.

Passagem não era muito grande e tinha pelo menos dois metros de profundidade, Gina e Gael passaram com certa dificuldade enquanto Lia mantinha a porta fechada.

— Assim que você entrar no túnel exploda a entrada entendeu? Senão eles vão nos seguir — a própria fantasma não sabia de onde estavam vindo todas aquelas informações, mas agradeceu ao único ser a quem podia atribuir aquilo, ela mesma, talvez todas as suas memórias estivessem voltando.

A paranormal foi a última a descer pelo buraco, teve que manter a porta fechada usando seus poderes, quando perdesse o contato visual seria impossível controlar a porta. Desceu pela entrada já sentindo sua mente queimar, havia um preço a pagar por forçar tanto sua mente, mas estava disposta. Assim que se afastou da borda ela se concentrou o máximo que pode, expandiu seus sentidos por toda a área do banheiro e puxou com toda a força que lhe restava, o chão desabou em sua frente com um estrondo e ela também desabou exausta. Não soube dizer por quanto tempo ficou desmaiada, mas a primeira coisa que viu ao acordar foi o rosto de seu irmão.

***

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