Lilith
Cansada não era uma palavra adequada para descrever o estado de Lilith, apesar de todas as coisas que ela já havia feito naquela noite. De assustar criança a se perder num labirinto de palha, ela havia tentado tudo.
Tudo de novo, diga-se de passagem, todos os anos naquele mesmo maldito dia ela voltava para fazer as mesmas malditas atividades ridículas nos mesmos lugares, até que era divertido, mas será que ninguém tinha um pingo de criatividade naquele lugar?
Se ela tivesse um corpo estaria fisicamente cansada, mas não tinha. Então, para demonstrar todo o estresse, sua forma astral (ou seja lá qual for o nome que você dê) ficava oscilando e ela fingia estar fisicamente cansada. Como? Arrastando-se, lânguida, pelas ruas da cidade durante a noite e falando sozinha. Aquilo rendia um pouco de energia de pavor.
— Vamos querida, não seja tão dura consigo mesma... — estava olhando o próprio reflexo num espelho e conversando, sem as oscilações ela parecia bastante humana, uma belíssima humana jovem de cabelos e pele escura — Você até criou uma reputação. Quem vem pegar às crianças quando são desobedientes? Lilith, os pais dizem. Quem ataca os sonhos dos homens infiéis? Lilith, as esposas dizem. Você é importante para eles, seja importante para você.
Oh, aquele pequeno encontro consigo era suficiente para energizá-la por todo o resto da noite, ela era maravilhosa, por que estava cansada mesmo?
Sentou-se na varanda de uma casa qualquer, havia uma vela acesa, um prato de comida e um copo com água numa mesinha. Ela pegou o copo e levantou a altura dos olhos, displicente, desviou o olhar para a porta de vidro, sabia que uma criança estava observando então deixou o copo escorregar e levantou. Metade de sua forma atravessou a mesa e ela ouviu um grito dentro de casa, saiu dali gargalhando.
Arrancou uma flor do jardim, sim ela podia realmente tocar nos objetos. Quando nasceu ela era um agito, uma meio-demônio telecinético especialmente habilidosa. Quando morreu seu dom permitiu que ela influenciasse o mundo material, poderia facilmente se passar por uma humana se não fossem as oscilações em sua imagem.
Não muito longe dali o relógio da torre badalou a décima nona hora daquele dia, ela se dirigiu para lá, não tinha nada para resolver lá é claro, mas visitar antigos lugares é sempre bom.
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