• Capitulo 28 •

Josh Beauchamp

As coisas estavam realmente estranhas, é muita coisa misturada que não consigo entender. A todo momento via algo nela que me deixava desfocado por segundos, seja seu sorriso, seu cabelo caindo e ela toda hora tendo que prender, sua voz explicando algo... Tudo! Estava ficando cada vez mais difícil.

Assim que terminamos, Jade veio avisar que o jantar ia sair em trinta minutos, ou seja, nada para fazer até lá.

Any ficou encarando aquela televisão desligada e não conversamos sobre nada.

— Você gosta de estrelas? — Any por fim quebrou aquele silêncio.

— Nunca me preocupei em olhar não. — ela riu.

— Vem, quero te mostrar um lugar. — saiu do sofá e seguiu até o lado de fora.

A piscina ficava bonita quando iluminada de noite, deixava o ambiente agradável.

Any deu uma grande volta nos jardins e parou logo atrás da casa.

— Sobe. — apontou para uma escada. Eu fiquei confuso, mas acabei subindo.

A casa era grande, ou seja, parecia que as escadas não iam ter fim nunca. Assim que cheguei me virei para trás e estendi a mão para Any que pegou terminado de subir.

— Bem vindo ao meu lugar de paz, bom, pelo menos um deles. — disse sorridente olhando o céu.

No momento que olhei minha boca abriu vendo aquela imensidão. O local estava com a iluminação baixa, o que deixava as estrelas ainda mais bonitas.

— Any, isso é... — parei de falar ainda olhando admirado.

— Lindo. — olhei ela. — Eu sei. — sorri.

(N/A e ela nem estava falando das estrelas... Keiscaraa Kkkkk)

Any se deitou em uma pequena inclinação que tinha ali e eu fui ao seu lado.

— Por que me trouxe aqui? — pergunto curioso.

— Você disse que tinha algo te sufocando. — virou a cabeça me olhando deitada. — Meu pai me dizia: "Quando as paredes ao seu lado estiverem se fechando, localize a primeira coisa que não tem fim". — sorriu encarando o céu novamente.

Olhando novamente aquela imensidão, notei meu corpo mais relaxado. É como se estivesse só eu ali naquele momento, sem ninguém ao meu lado, ninguém para me dizer o que fazer ou como fazer.

Vendo isso agora notei um grande erro no meu crescimento. Havia algo ali, tão simples que só olhando me faria desligar de tudo, mas eu agi por impulso e me afundei em festas, tudo porque alguém sempre me convencia a ir e nunca me impedir.

— Sabe Josh. — virei minha cabeça olhando Any que ainda admirava o céu. — Você é um garoto que vive uma vida que muitos ali queriam ter. — voltei a olhar o céu. — Será que um dia vai me contar porque não é feliz? - suspirei.

— Minha vida é uma droga Any.

— Não fala isso. — continuei a olhar o céu. — Você tem uma casa, amigos... — neguei interrompendo ela.

— Não falo disso. — virei meu rosto e ela me olhava. — Escolhi o pior caminho achando que seria mais fácil, tomei decisões estúpida, destruí sua vida...

— Não. — me interrompeu. — Josh você estava longe de destruir minha vida. — cobri meu rosto respirando fundo. — Olha pra mim. — segurou minha mão e eu encontrei seus olhos.

— Como você consegue ser tão boa Any? — abriu um pequeno sorriso. — Dar uma segunda chance é como querer receber outra bala, porque a primeira não te matou. — negou ainda segurando minha mão.

— Dar uma segunda chance é mostrar que alguém pode sim mudar. — suspirei. — Você já deve ter notado que não tem foto minha com uma mulher. — assenti.

— Na verdade, seu pai me contou uma coisa. — ela riu.

— Já sabia que ele tinha falado algo quando deixei aquela mesa. — rimos. — Mas é isso, sou adotada.

— Você não precisa falar disso. — assentiu. — Mas se quiser... — digo porque realmente quero saber como eram as coisas.

Any soltou uma risada e eu olhei nossas mãos que ainda estavam juntas.

— Do que me falaram, fui deixada no orfanato assim que nasci. — levantei as sobrancelhas surpreso. — Nasci no Brasil inclusive.

— Sério? — pergunto sorridente. — Adoro músicas de lá. — ela riu.

— É melhor que saiba as traduções. — rimos. — Enfim, cresci lá e vivi até meus cinco anos.

— As vezes eu queria ter vivido em um orfanato. — digo encarando o céu.

— Sua vida pode não ser boa como diz Josh, mas lá eu vivi a pior fase da minha vida. — suspirou. — Com meus quatro anos comecei a ser zoada no local, brincavam com minha cor de pele, falavam que meu cabelo era duro... — cerrei meu punho esquerdo e olhei para ela.

— Sinto muito por isso. — sorriu sem mostrar os dentes e desviou o olhar.

— Lá eu era agredida de duas formas, verbalmente e fisicamente. Mas vou te falar que me doía mais ouvir um "Nunca vão te adotar pelo cabelo que tem" do que apanhar e ser jogada no chão. — apertei sua mão de leve e ela voltou a me olhar.

— E quem trabalhou lá? Não fazia nada? — negou.

— Não podia sonhar em abrir a boca que era ameaçada. Rebeca era o nome da menina. — voltou a olhar o céu. — Acredita que ela tinha 10 anos? — arregalei os olhos.

— Não brinca? — assentiu rindo.

— Ela me desenvolveu um grande trauma. Toda vez que alguém se aproxima de mim de uma forma agressiva automaticamente vejo ela. — senti meu peito apertar.

— Você sentiu isso quando te prensei na parede, não foi? — digo me lembrando do seu choro e ela murmurou um "uhum" me fazendo fechar os olhos irritado comigo mesmo. — Sinto muito mesmo. — minha voz saiu fraca.

— Quando completei cinco anos compraram um bolo e eu nem consegui tocar nele. — olhei ela com a vista embaçada pelas lágrimas. — Achava que aquele tormento não ia acabar nunca, que ia viver ali até meus dezoito. — fechei meus olhos e uma lágrima escorreu.

— Foi quando ele apareceu? — abri meus olhos.

— Sim. — vejo um sorriso se formar. — Ele tinha 26 anos. Foi fazer uma doação para o lugar e me viu agachada em um canto sozinha. Lembro até hoje dele perguntando "Qual sua idade pequena?" Lembro que fiz um cinco com a mão e ele disse surpreso "Tudo isso?" — escuto sua risada e sorrio.

— Ele era casado na época? — negou. — Como foi o processo de adoção?

— Lembro de pouca coisa, sei mais agora porque ele me contou. Meu pai disse que me viu e se apaixonou no mesmo instante, mas me lembro de estar com medo. — me olhou. — Me comunicaram que eu estava sendo avaliada para adoção. Alberto me disse que é mil vezes pior uma adoção quando se é solteiro, porque se aparecesse um casal querendo me adotar, a prioridade provavelmente seria deles.

— Entendo.

— Foi uma longa jornada, papelada e mais papelada. Me lembro de algumas vezes estar sentada em uma mesa e algumas pessoas fazendo perguntas diversas. — suspirou. — Meu pai foi recusado uma vez, mas ao que parece ele tentou de novo. No fim isso durou quase dois anos. — arregalei os olhos.

— Ele parece gostar muito de você. — sorriu.

— Ele me dá toda a atenção que pode, não só porque prometeu ao juiz, mas porque me ama. Nós nos mudamos pra cá quando eu tinha 7 anos, desde então meu pai me colocou na escola onde o período era de manhã, assim tomávamos café juntos e tínhamos o fim da tarde e a noite juntos. — assenti.

Se parar para analisar nossa vida não é tão diferente, ambos sofremos agressões durante o crescimento, não que isso justifique nada, mas Any teve sorte de ter sido adotada por ele.

— Desculpa perguntar isso, mas você nunca teve… vontade de saber quem são seus pais de sangue? — pergunto receoso.

— Nem um pouco. — suspirou. — Alguém que me abandonou sem ao menos pensar nas consequências não merece minha atenção, sou feliz com meu pai. — sorri.

— Você é mais forte do que imagina Gabrielly.

— Experiência de vida ou por que chutei suas bolas? — gargalhei alto.

— Consideramos os dois. — me levantei e soltei nossas mãos, que por incrível que pareça ainda estavam juntas. — Obrigado por me contar, sei que isso deve ser pessoal.

— Na verdade, nem tanto. — sorriu. — Não tenho vergonha da minha vida, pelo contrário, me orgulho muito. — assenti.

Ficamos em silêncio por um tempo e logo vi ela se encolher quando um vento mais forte bateu. Retirei meu casaco e olhei ela.

— Josh, não precisa. — neguei e joguei por cima de seus ombros.

Meu rosto ficou próximo do seu e eu senti meu coração disparar. Minha única vontade era beijá-la, alisar seu rosto e mostrar que eu realmente mudei, que ela mesmo sem perceber fez isso.

Nossos rostos se aproximaram, mas antes que pudessem se encostar o celular dela tocou...

Vai achando que a vida é um morango KKKKKK

Xoxo - Sun⭒

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